A pergunta que não quer calar:
A preferência universal por traços nórdicos cumpre que função adaptativa? Qualquer explicação que use a seleção natural e não responda a essa pergunta de forma científica não passa de explicação vazia. Como já disse um especialista em Filosofia da Biologia “para descobrir porque uma característica evoluiu é preciso identificar que funções adaptativas elas atenderam entre os hominídeos”.
Equívocos da Psicologia Evolutiva Popular. DAVID J. BULLER. Scientific American Brasil (81) Fev/2009, pág. 62.
Pelo que li do artigo do tal de Frost, o fundamento para se justificar a suposta “seleção da preferência universal pelos traços nórdicos” pode ser resumido essencialmente nisso:
“Not surprisingly, these attributes are also favored by sexual selection. If mate
competition is relatively weak, sexual selection focuses primarily on visible markers of
mate quality, i.e., signs of health, youth, or fecundity. As mate competition intensifies,
the focus will shift to purely eye-catching features. The sex in excess supply must vie for attention, and success will depend on being noticed (Darwin, 1936 [1888], pp. 567-924).”
Ou seja, os “traços nórdicos” são puramente atraentes porque foram selecionados naturalmente. E porque eles foram selecionados naturalmente? Porque eles são puramente atraentes. Existe uma alternativa a essa tautologia? Pode ser...Tipo, coincidentemente, as preferências por TODOS os traços faciais e cores de olhos e cabelos dos nórdicos entraram nas sociedades de diferentes continentes pelo modelo de “nordicismo platônico”. Vejam:
“
Os parceiros devem ser escolhidos por fornecerem benefícios fenotípicos imediatos ou por fornecerem genes que aumenta o desempenho dos genes.”
Fonte: STEARNS, S. C. & HOEKSTRA, R. F.
Evolução: uma introdução. São Paulo, Atheneu, 2003, p.184.
“
O modelo dos bons genes afirma que a exibição indica algum componente da aptidão do macho. Um defensor dos bons genes diria que coloração brilhante nos machos indica ausência de parasitas. [...]
A evolução pode travar num circuito e retroalimentação positiva.
Outro exemplo que explica caracteres sexuais secundários é chamado modelo de seleção sexual desenfreada (runaway sexual selection).
R. A. Fisher propôs que as fêmeas pudessem ter uma preferência inata por algum caractere masculino mesmo antes que ele aparecesse na população. As fêmeas então iriam acasalar com os machos em que o caractere aparecesse. A prole desses acasalamentos teria tanto os genes para o caractere e quanto para a preferência por ele. Como resultado, o processo continua como uma bola de neve aumentando até que a seleção natural o ponha em cheque.”
http://biociencia.org/option=com_content&task=view&id=102&Itemid=47#Sele%C3%A7%C3%A3o%20NaturalComo já disse um forista:
Simplesmente não há conexão causal entre os "fatos" aí, sem que haja isso que você diz ser um espantalho.
Não é possível que meramente do surgimento dos "traços nórdicos" por seleção natural/sexual no norte e leste da Europa resulte numa tendência às "pessoas que herdaram esses traços tendem a ser vistas como mais bonitas na maioria das sociedades".
[...]
Da mesma forma que a evolução da tolerância à lactose em algumas populações não fará com que os adultos em todo o mundo tendam a gostar de iogurte. Eles podem já gostar por ser meio inerente a gostar de leite quando bebês, ou podem vir a gostar por contato e assimilação cultural. De outra forma, seria "evolução telecinética".
EXATAMENTE! A implicação automática do "nordicismo platônico" (uma preferência por padrões nórdicos antes mesmo destes existirem nos nórdicos propriamente ditos) que o Buckaroo mencionou não era nenhum espantalho, a menos que se responda ao desafio proposto por David Buller no artigo da Scientific American Brasil.
Mais um excerto do artigo de Frost:
“In the most comprehensive of these studies, Cunningham et al. (1995) assessed
mate-choice criteria among men of different ethnic backgrounds: Taiwanese, White
Americans, Black Americans, and recently arrived Asian and Hispanic students. All of
them perceived a female face to be more attractive if it had high eyebrows, widely spaced
large eyes with dilated pupils, high cheekbones, a small nose, a narrow face with thin
cheeks, a large smile, a full lower lip, a small chin, and a full hairstyle.”
“[...] testa alta, olhos grandes e bem afastados, nariz pequeno, queixo estreito, lábios cheios. Cunningham
especulou que a aparência infantil em mulheres aumenta a sensualidade para os homens porque estimula seu instinto protetor, ao mesmo tempo que transmite a ideia de submissão, ou pelo menos, docilidade. [...] As idéias de Cunningham eram interessantes, mas simplificadas demais.Os homens são mais complexos que sua hipótese previa.
Por exemplo, o psicólogo evolutivo David Buss, da Universidade do Texas em Austin, realizou uma pesquisa em 37 culturas, cujos indivíduos disseram não ter qualquer preferência por mulheres mais jovens que eles próprios.
Para eles, a juventude e traços infantis eram aspectos que eles consideravam até indesejáveis. Muito mais apreciados eram sinais da face que expressavam maturidade, ou status de adulto.”
Fonte:
Beleza Nota 10. BERNHARD FINK, KARL GRAMMER E PETER KAPPELER Scientific American Brasil (58) Mar/2007, pág. 80.