CARTA ABERTA AO BRASIL
Ou “Como desviar a atenção se comportando como vítima do sistema direitista".

Eles passarão, eu passarinho.
Mário Quintana
Nada como uma citação para posar de intelectual injustiçado.
Dizem, no Brasil, que as decisões do Supremo Tribunal Federal não se discutem, apenas são cumpridas.
Nem sempre, dependendo do assunto é possível recorrer em uma Corte externa, mas no geral a resposta é "sim", as decisões devem ser cumpridas, mesmo porque a população cansou de perder ações no STF de maneira imoral, incluindo a correção da poupança nos diversos planos econômicos, a atualização das aposentadorias, etc, sempre decididas em favor do Estado.
Devem ser assumidas, portanto, como verdades irrefutáveis.
Não se trata de uma "verdade irrefutável" e sim de um veredito em face das evidências, muitas vezes influenciado por interesses diversos.
Discordo.
Alguém esperava algo diferente?
Curiosidade: Qual seria a opinião deste senhor caso o condenado fosse o senhor Eduardo Azeredo ou qualquer outro membro do PSDB?
Reservo-me o direito de discutir, aberta e democraticamente com todos os cidadãos do meu país, a sentença que me foi imposta e que serei obrigado a cumprir.
O cavalheiro tem todo o direito de discutir sobre o assunto, inclusive discordando do STF.
Estou indignado. Uma injustiça monumental foi cometida!
Concordo. Eu também estou indignado.
Pessoas na sua condição deveriam pegar no mínimo 30 anos sem direito a redução e ou revisão de pena e não 12 anos e que em menos de 4 anos já estarão livres para dar novos golpes.
A Corte errou.
Ainda não. A pena que será aplicada deveria ser muito maior.

A Corte foi, sobretudo, injusta. Condenou um inocente.
E onde estaria ele?
Condenou-me sem provas.
Maldito STF que não conseguiu mostrar as filmagens das falcatruas em HD, acrescidas de uma declaração de próprio punho, contendo a assinatura do dito cujo tida como "verdadeira" (presencial) em cartório, sob a observação de pelo menos 20 testemunhas. Todas do PT, de preferência.

Com efeito, baseada na teoria do domínio funcional do fato, que, nessas paragens de teorias mal-digeridas, se transformou na tirania da hipótese pré-estabelecida, construiu-se uma acusação escabrosa que pôde prescindir de evidências, testemunhas e provas.
O cidadão assina, como avalista, empréstimos milionários em um banco privado em que não foi dada uma só garantia real por eles e que só foram quitados no começo de 2012, e cujo destino nunca foi satisfatoriamente esclarecido pelos envolvidos, e ainda acha que a sociedade não estranharia tal fato?
Sem provas para me condenar, basearam-se na circunstância de eu ter sido presidente do PT. Isso é o suficiente?
Aqui o cavalheiro começa a usar o clichê do complô contra o seu partido, que é tão corrupto como o Democratas, o PMDB e o PSDB.
É o suficiente para fazerem tabula rasa de todo uma vida dedicada, com grande sacrifício pessoal, à causa da democracia e a um projeto político que vem libertando o Brasil da desigualdade e da injustiça.
Ou seja, a corrupção e o desvio de caráter podem ser esquecidos, desde que a pobreza seja reduzida. Eu jamais esperaria tal argumento do senhor.
Pouco importa se não houve compra de votos.
É claro que não houve compra de votos, afinal é muito comum e previsto em lei, fazer empréstimos e captar recursos públicos para distribuí-los para políticos de outros partidos.

A tirania da hipótese pré-estabelecida se encarrega de “provar” o que não houve.
O golpe foi meticulosamente planejado para não deixar 'rastros'. Mas como não há crimes perfeitos, ocorreram tantas coincidências que apenas alguém ingênuo ou cooptado não conseguiria distinguir tal manobra.
Pouco importa se eu não cuidava das questões financeiras do partido. A tirania da hipótese pré-estabelecida se encarrega de afirmar o contrário.
Eu respondo por todos os atos de meus funcionários feitos em nome de minha empresa por causa da responsabilidade solidária prevista no Código Civil vigente desde 11 de janeiro de 2003. Porquê este cavalheiro não responderia da mesma forma pelo seu partido em relação aos atos de seus dirigentes?
O senhor clama para não ser punido por tal previsão legal? Então que o mesmo seja aplicável para todas as pessoas em condições semelhantes.
Pouco importa se, após mais de 40 anos de política, o meu patrimônio pessoal continua o de um modesto cidadão de classe média.
Em que momento o STF acusou o cavalheiro em tela por "enriquecimento ilícito" ou por "apropriação pessoal de dinheiro público"? Nenhum!
Então é inócuo querer desviar o foco da questão, que nunca paassou pelo patrimônio pessoal do cavalheiro.
Esta tirania afirma, contra todas as evidências, que não posso ser probo.
Não, esta "tirania" afirma que o senhor deveria ter sido sempre probo.
Nesse julgamento, transformaram ficção em realidade. Quanto maior a posição do sujeito na estrutura do poder, maior sua culpa.
É a responsabilidade solidária, é a responsabilidade solidária...
Se o indivíduo tinha uma posição de destaque, ele tinha de ter conhecimento do suposto crime e condições de encobrir evidências e provas. Portanto, quanto menos provas e evidências contra ele, maior é a determinação de condená-lo.
Está reclamando? Então experimente do próprio veneno que nós do setor privado sentimos dia-a-dia no trato com o Estado.
Trata-se de uma brutal inversão dos valores básicos da Justiça e de uma criminalização da política.
"Criminalização da política"?
NÃO. É a (vã) tentiva de por alguma moralidade no sistema político brasileiro, percebido como um dos mais corruptos entre os países de médio e grande porte do mundo, e do qual o senhor é peça visceral, tanto para o bem como para o mal.
E o senhor deveria ter denunciado e ajudado a promover modificações neste sistema.
Esse julgamento ocorre em meio a uma diuturna e sistemática campanha de ódio contra o meu partido e contra um projeto político exitoso,...
A maioria da população é absolutamente indiferente aos partidos. Somente quem sofreu alguma campanha de difamação petista é que tem ódio deste partido. E todos aqueles que conhecem um pouco de Gramsci sabem como funciona o
modus operandi do PT, de sua vertente tipicamente stalinista.
que incomoda setores reacionários incrustados em parcelas dos meios de comunicação, do sistema de justiça e das forças políticas que nunca aceitaram a nossa vitória.
Eis um comportamento típico de esquerdista panfletário, sempre com uma teoria conspiratória pronta para ser sacada de um dos bolsos (o mesmo em que colocaram dinheiro público desviado?).
A vitória de vocês é uma fraude travestida de "êxito" porque em nenhum momento vocês aplicaram o programa de governo original (1980). Uma boa parte da base de sustentabilidade dos governos petistas e de seus “êxitos” e êxitos é anterior, incluindo a Constituição de 1988, o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Proer, as agências reguladoras, o novo Código Civil; que foram, aliás, todos boicotados pelo seu partido de maneira criminosa (Ooopppsss! Maneira criminosa? De novo?). E isto não impede que eu (e qualquer pessoa de bom sendo) reconheça os avanços trazidos pelo seu partido, tanto para a economia como para a sociedade.
E é patético (e triste) ler este cavalheiro afirmando que foi vítima do sistema de justiça quando foi o seu partido que escolheu 8 dos 11 ministros do STF. Ou seja, não deu para manipular o STF em um caso tão sensível para o PT?
Nessas condições, como ter um julgamento justo e isento? Como esperar um julgamento sereno, no momento em que juízes são pautados por comentaristas políticos?
Qual juiz está sendo conduzido por comentaristas políticos (de direita é claro, porque se fossem de esquerda, clamando pela absolvição, aí não teria problema)?
Pelo que eu ouço das pessoas em geral, este cavalheiro terá sorte de não ser linchado se sair às ruas, o que seria, afinal de contas, uma injustiça pelo seu passado político-partidário.
Além de fazer coincidir matematicamente o julgamento com as eleições.
O senhor está errado.
Porquê não comentas sobre todas as medidas protelatórias feitas pelos seus advogados para tentar a prescrição de alguns dos crimes?
Mas não se enganem. Na realidade, a minha condenação é a tentativa de condenar todo um partido, todo um projeto político que vem mudando, para melhor, o Brasil. Sobretudo para os que mais precisam.
Se o projeto original do PT tivesse sido aplicado hoje estaríamos disputando com Cuba e a Coréia do Norte o título de economia centralizada mais destruída e fantasiosa do planeta.
E já postei em inúmeros tópicos, sobre os problemas macroaconômicos do Brasil, incluindo o crescimento enorme da dívida pública, a volta de uma inflação com curva ascendente, o aumento enorme na contratação de custos fixos por parte da União, etc.
Mas eles fracassarão. O julgamento da população sempre nos favorecerá, pois ela sabe reconhecer quem trabalha por seus justos interesses. Ela também sabe reconhecer a hipocrisia dos moralistas de ocasião.
Dupla falácia:
Ad populum e apelo à compaixão.
Retiro-me do governo com a consciência dos inocentes.
Não envergonhe os
reais inocentes e assuma os seus erros, as responsabilidades e os ônus do cargo que ocupava.
Não me envergonho de nada.
Que novidade...
Continuarei a lutar com todas as minhas forças por um Brasil melhor, mais justo e soberano, como sempre fiz.
Eu acho que o senhor já fez isto de forma correta. Mas foi há muito tempo. E espero que volte a faze-lo, após uma profunda reflexão e autocrítica.
Essa é a história dos apaixonados pelo Brasil que decidiram, em plena ditadura, fundar um partido que se propôs a mudar o país, vencendo o medo.
Pura retórica esquerdista combinada com clichês petistas dos anos 80 e 90. E apenas lembrando que vários fundadores e ou membros honoráveis deste partido foram expulsos ou dele saíram envergonhados pelos rumos que os seus companheiros deram para a legenda, como Hélio Bicudo, Marina Silva e Heloísa Helena.
E conseguiram. E, para desgosto de alguns, conseguirão. Sempre.
Talvez o Brasil não seja um país amaldiçoado para que isto aconteça, porque este seria o caminho para um "totalitarismo disfarçado".
E já que ele abriu o ensaio como uma citação, eu fecho a minha crítica apresentando outra, mas de Shakespeare:
Não há noite suficientemente longa e tenebrosa que não encontre o amanhecer.
Editado:
Depois de muito refletir, eu modifiquei algumas palavras porque as considerei por demais "pesadas", principalmente por conta de um passado bastante respeitável da pessoa em tela. Ou seja, continuei crítico, mas procurei não ser injusto.