Eu queria viver nesse mundo colorido de vocês, onde racismo, machismo e homofobia não existem e não prejudicam as pessoas, onde todos são iguais e as oportunidades são as mesmas, onde todos são bem tratados e as reclamações são vitimismo e "coisa de esquerdista".
"Ahhh, ninguém disse que não existe", mas qualquer reclamação é minimizada, qualquer tentativa de melhora é vista como ruim. Tão simples fazer parte da parte privilegiada e poder palpitar sem sentir os efeitos.
As oportunidades nunca vão ser as mesmas pra ninguém. Que tipo de argumento é esse? Mulheres sofrem preconceito e ganham menos que homens, mas não recebem cota em vestibular. Gordos sofrem preconceito, bullying interminável no colégio, não sendo incomum o suicídio#, e não recebem cotas. Homossexuais sofrem preconceitos, bullying interminável no colégio, não sendo incomum o suicídio*, e não recebem cotas. A lista continua e é enorme.
Ninguém está negando que exista preconceito, o que está sendo discutido é a validade dessa política de cotas raciais como meio de combater isso. Já foi colocado aqui: não ajuda. É basicamente um "premio de consolação", algo completamente inócuo, e que, por tabela, prejudica outras pessoas da mesma classe social do cotista racial e ignora, convenientemente, um infindável número de grupos/minorias que também sofrem preconceitos, tão ou piores que os negros.
É basicamente uma política populista e só serve para que pessoas como você, de alguma forma, se sintam bem consigo mesmas e consigam dormir à noite, pois se você é rico e tem mais que a maioria da população, pelo menos você pensa que, desta forma, está lutando por justiça por uma minoria escolhida a dedo por você e, portanto, não precisa se sentir mal por tudo o que tem. Deve ter um nome para isso.
E "parte privilegiada"? Possivelmente eu já contei aqui no fórum que, durante toda a minha adolescência, eu só não passei fome porque minha vó pôs comida na nossa mesa. Ficar sem luz era normal, pois não havia dinheiro para pagar essa conta. Passei mais de seis anos sem ter dinheiro para comprar uma única peça de roupa. Isso me marcou tanto que, até hoje, que tenho mais condições, eu não costumo comprar roupas. Só possuo duas calças jeans, sendo que uma está um pouco rasgada, e meus casacos de inverno são os mesmos do meu ensino médio até hoje. Então quando você fala "parte privilegiada", eu não faço ideia do que você está falando. Eu posso nunca ter sido seguido em shopping (pelo menos nunca notei, apesar de que, do jeito que eu me vestia na época, não seria surpresa) ou nunca ter sido parado em blitz, mas nada nunca foi fácil pra mim, não. E, apesar de ter frequentado escola pública, nunca usei cotas, e digo com sinceridade, ficaria completamente revoltado se, na época, tivesse prestado um vestibular e minha vaga tivesse sido dada para alguém que fez menos ponto que eu, só por uma questão de cor de pele.
A vida não é fácil pra ninguém, Barata. E esses "critérios" que vocês citam para o "merecimento" de cotas raciais são, para ficar no mínimo, rasos, além de hipócritas, como já mencionado diversas vezes nesse tópico. Se vocês querem se sentirem bem, doem para a caridade ou façam trabalhos voluntários, mas não apoiem essa política injusta com esses critérios "ingênuos".
*https://en.wikipedia.org/wiki/Suicide_of_Tyler_Clementi
*http://www.queerty.com/billy-lucas-15-hangs-himself-after-classmates-called-him-a-fag-one-too-many-times-20100914
*http://www.mibba.com/Articles/People/3937/September-Suicides/
#http://www.ibtimes.com/ashlynn-conner-10-allegedly-commits-suicide-because-bullying-369832
#http://jezebel.com/5920605/a-14-year-old-girl-killed-herself-after-getting-bullied-about-her-weight