Era uma adolescente com problemas psiquiátricos. Sofreu por conta das atitudes da família, é claro. O que eu não acho certo é torná-la uma mártir por conta do seu ateísmo e de suas atitudes aparentemente politizadas. O preconceito matou na mesma medida em que uma vítima de bullying se mata. Todos estão aproveitando para atacar a religião, como os ateus adoram fazer, mas eu acho que o buraco é BEM mais embaixo. Há religiosos preconceituosos e há religiosos moralmente fantásticos. O problema é como a pessoa absorve essas influências. Bom, a não ser que haja indicações explícitas de que o fiel deve ser preconceituoso e pregar o ódio.
Não acompanhei o caso, nem tenho interesse, não sei quantificar o quanto preconceito ao ateísmo foi um fator muito significativo ou se poderia ter acontecido o mesmo com alguém muito mais "normal" (tendo a pensar que sim), mas me parece que é algo que alguns ateus até no fundo gostaram, justamente por terem uma mártir. Algo um pouco parecido aconteceu com a morte do Steve Jobs, que correram para dizer que "morreu por causa da medicina alternativa".
Uma coisa que acho que também deveriam considerar é o quanto o"culto" de auto-vitimização pode contribuir com essas coisas, em vez de preconceito propriamente dito.
Na maior parte do tempo o preconceito, especialmente contra os ateus, não é algo muito direto, e acaba sendo uma questão de escolha focar a atenção nisso em vez de em outras coisas, sobre tudo mais que existe na vida além de "não crer em deuses". Não deve faltar textos por aí de ateus se lamuriando do terrível preconceito que sofrem e blablablá. Mas deve ser apenas um em cem que tenta passar uma perspectiva mais saudável de que não é o fim do mundo, que não crer em deuses é só um aspecto insignificante da sua identidade, e que não crer em deuses não interfere com a vasta maior parte de tudo mais que existe na vida.
Certamente as coisas serão mais difíceis para ateus militantes/"politizados" que fazem questão de manifestar seu ateísmo aos quatro ventos, do que àqueles que não dão mais importância a isso do que dão a não acreditar em astrologia ou em Saci (apesar de freqüentemente usarem essa comparação). Para adolescentes especificamente, ainda dependentes dos pais, isso pode fazer toda a diferença entre uma convivência saudável nesses anos, e algo mais traumático, conflitos e sofrimento desnecessários, evitáveis com um pouco de diplomacia, em vez de militância. Ou até mesmo ficar "no armário", simplesmente, já que não é uma dificuldade muito maior do que ter que participar de certas formalidades no trabalho e na escola. Claro, você pode escolher se revoltar contra isso também, ser um punk anti-conformista e revoltado por causa de trajes formais, horários rígidos, e uniformes. Não acho que vai trazer benefício algum, exceto a vendedores de artigos e acessórios punks.