Quer enfatizar de novo a colocação. Não é que um fungo não possa destruir bactérias e invadir o seu nicho. Não se discute isso.
O que proponho é que a Seleção Natural não explica isso, pois o fungo, e.g, note bem, se reproduz MENOS que uma bactéria. Todos os outros mecanismos como variação gênica, mutação neutra, isolamento geográfico acabarão formando seres mais complexos de MENOR SUCESSO reprodutivo.
Já perdi a conta de quantas vezes disse isso nesse tópico.
"Sucesso reprodutivo" é medido dentro de uma mesma linhagem, organismos competindo num mesmo nicho (ou explorando os mesmos recursos de forma que eles tem que ser divididos entre eles) e local.
Se você coloca uma linhagem de bactérias em duas placas de petri separadas, elas podem se alimentar de uma mesma coisa, e uma delas se reproduzir vinte vezes mais rápido que outra, que, enquanto estiverem isoladas, a que se reproduz vinte vezes mais devagar continuará existindo lá, numa boa, e no mesmo ritmo, enquanto não surgirem variantes que se reproduzam mais rápido dentro daquela placa. Você pode ainda dobrar a velocidade da reprodução de outra placa, e a placa das lerdas continua na mesma situação, não vão morrer por "telepatia".
Se você coloca na mesma placa, então sim, eventualmente as mais rápidas devem esgotar os recursos das mais lentas, até que as substituam.
Mas mesmo isso é o tipo de situação que exige a ressalva "todas as outras variáveis permanecendo as mesmas", o que muitas vezes não será o caso na natureza. A linhagem de reprodução mais lenta talvez possa ter defesas/ataques ativos aos seus concorrentes, ou ter evoluído defesas a outros organismos locais, ou ainda, a reprodução vertiginosa da segunda pode talvez exaurir os recursos e conduzir à própria extinção, significando que em habitats isolados onde ela não tenha colonizado, a variedade mais lenta continuará existindo, e talvez até venha a ocupar os habitats previamente exauridos pela variante mais apta -- isso provavelmente é um mecanismo parecido com o da tendência à germes patógenos gradualmente se tornarem menos virulentos.
Colocando isso "no mundo real", não faz sentido você comparar bactérias com fungos, a menos que se esteja falando de espécies de ambos que de fato competem pelos mesmos recursos, no mesmo habitat, de forma que o consumo de uma represente menos para outra.
Existem casos em que isso ocorre, é uma espécie de "lei" ecológica que não haverá duas espécies no mesmo nicho, no mesmo habitat, não por muito tempo. Uma ou extingue a outra, ou uma delas (ou ambas) divergem adaptativamente para explorar modos de vida em que não tenham concorrência tão acirrada com a outra espécie. Também é o caso com "espécies invasoras", que podem fazer justamente isso, algumas vezes tendo efeitos até mais dramáticos, afetando mais de uma espécie "concorrente", bem como espécies que preda ou outras espécies colateralmente afetadas.
Mas simplesmente não é o caso que "bactérias" ocupem todos os nichos, "bactérias" não ocupam nem todos os nichos de bactérias, e daí umas linhagens têm diferentes adaptações e sucesso reprodutivo em diferentes habitats, mesmo que isso represente uma redução no sucesso reprodutivo numérico/absoluto. É como viver em placas de petri separadas, ou tendo fontes de sobrevivência não aproveitadas pela espécie que se reproduz mais rapidamente.
Quanto a IDEIA de progresso em direção aos seres mais complexos, isso se repete no prefácio do O Que é a Evolução, de Ernst Mayr, Rocco, 2009, escrito por Jared Diamond, pág. 12.
Este livro está sendo lido por mim agora, demandará tempo, portanto alguma ausência é porque estou lendo este o Evolução do Mark Ridley.
Eu não sei exatamente o que Dawkins, Mayr, Diamond pensam sobre "tendências ao progresso". Desconfio que seja nas linhas do que falei, embora eles possam simplesmente estar errados, não importa o quão "figurões" eles sejam, nunca há concenso total em todos os detalhes, e sempre há aqueles presos a noções equivocadas/arcaicas.
A "tendência ao progresso" é algo que não existe de forma universal e meio "mágica", como um ímpeto interno dos organismos, mas, no que se puder dizer que existe (e aqui tem toda a questão de "margens de erro" e diversas classificações possíveis), vem da "universalidade do processo", que, algumas vezes favorece acúmulos "locais" de complexidade, que se acumulam em váriados graus. Não sempre "quanto mais, melhor," e também abre espaço para tantas outras (ou mais) reduções de complexidade.
Tirando verdadeiros excêntricos, e não creio que Dawkins, Mayr e Diamond estejam/estivessem entre eles, a diferença que deve existir é apenas de grau (a partir de assunções/palpites diferentes de quão relevantes seriam acréscimos de complexidade em aptidão nas linhagens, e repercussões ecológicas, criando novas "pressões seletivas" em outras linhagens), e não algo que realmente colocasse na mesa expectativas lamarckistas de tendência universal ao progresso.
Passive versus active trends in the evolution of complexity. Organisms at the beginning of the processes are colored red. Numbers of organisms are shown by the height of the bars, with the graphs moving up in a time series.
http://en.wikipedia.org/wiki/Evolution_of_biological_complexity