O pior da cantada de rua é às vezes sua inconveniência: como o Barata frisou, são vários homens que te dirigem a palavra com a mesma conversinha mole: "bom dia, rainha!", "nossa, que saúde, em?", "dona, a senhora faz uma caridade hoje?", "delícia!"...Pra uma mulher bonita, mesmo achando que isso é um elogio à sua beleza, tem hora que cansa, enche mesmo.
Como mulher, eu tenho duas opiniões sobre cantadas de rua:
1ª: pode ser aceitável, como um bom dia, ou um sorriso, é uma homenagem que os homens em geral fazem à beleza, quase sem pensar, poderia até dizer por imposição biológica: mais cantadas, mais oportunidades para o coito, mas achar que todos os homens pensam assim é bobagem;
2ª: pode ser execrável, como um olhar que desnuda (já se sentiram despidos com os olhos?), como uma tentativa de contato físico não autorizada, ou ainda com o emprego de palavras grosseiras e via de regra de baixíssimo calão, que não cabe reproduzir aqui;
Bom senso não se vende em lojas, e educação tem que ser estimulada, mas proibir cantadas de rua e/ou criminalizá-las não resolveria nada, pois homens como o Skeptikós e o Huxley não deixariam de cantar mulheres na rua, ainda que proibidos por lei.
No país de Gerson e do "farinha pouca meu pirão primeiro", o entendimento dos limites entre assédio e cantada ainda está muito longe de acontecer...