Isso é uma cantada/ importunação ofensiva ao pudor? (Dá um leve toque, de um segundo de duração, no braço de uma jovem)..."Olá. Meu nome é Antoine. Queria dizer que você é muito bonita. Eu preciso trabalhar esta tarde, mas será que você pode me dar seu telefone? Eu ligo mais tarde, e nós podemos tomar alguma coisa juntos em algum lugar”. Se a mulher recuar, é dito: “Que pena, não é o meu dia de sorte. Tenha uma boa tarde”.
Leonard Mlodinow, no seu livro Subliminar, descreveu um experimento de Psicologia para descobrir o efeito do toque na influência social. Diz que foi feito um experimento em que “três atraentes rapazes franceses” abordaram de forma aleatória 240 jovens que avistaram andando sozinhas e fizeram propostas a todas usando as palavras mostradas no parágrafo anterior. Resultado? A porcentagem de sucesso era de 20%:
N. Guéguen, "Courtship compliance: The effect of touch on women's behaviour". Social Influence, v.2, n.2, 2007, p. 81-97.
A taxa de sucesso parece alta, levando em conta que, em qualquer lugar do mundo ocidental, a porcentagem de mulheres que são solteiras e não namoram pode ser muitíssimo inferior a 100%. Lembro que li em algum lugar que, no Brasil, a porcentagem de mulheres solteiras que não namoravam era (um pouco) inferior a 40%.
Se o que eu descrevi no primeiro parágrafo for cantada, então eu sou 100% a favor do direito do homem dar cantada sem levar multa, ser preso ou sofrer qualquer outra sanção da lei. Uma lei, como a que se viu defendendo aqui, poderia ser chamada de “lei da proibição da paquera com abordagem direta”. É claro que uma mulher pode não gostar do seu elogio ou galanteio. Paciência, o mundo não gira em torno do umbigo de quem, mesmo não sofrendo qualquer agressão física ou verbal, nunca quer sentir algo que poderia ser interpretado como um leve estresse ou um leve desconforto. Criminalizar alguém que não faz qualquer agressão física ou verbal é tirania pura e simples. Isso é assim porque é comum que um homem que faz uma abordagem direta de paquera numa mulher não faça isso com intenção de importunar. A questão é que, para muitos homens (a maioria, provavelmente), uma boa aparência física feminina é suficiente para ele se sentir atraído por uma mulher. Em outras palavras, dado que beleza feminina é um bem relativamente escasso, ela é um traço suficiente para considerar uma mulher uma ótima candidata a alguém que ele julga querer ter algum tipo de relacionamento íntimo. Por razões evolutivas que o forista Buckaroo Banzai já descreveu, com a mulher, EM MÉDIA, as coisas não funcionam bem assim. Sendo assim, não é por acaso que muitas – a maioria, talvez – não conseguem enxergar a abordagem direta de certos homens com relativa tranquilidade. Todavia, muitas mulheres entendem esse aspecto da psicologia masculina e/ou também se sentem interessadas quando um estranho de boa aparência as abordam de forma direta (talvez, elas sejam as que são mais parecidas com os homens no quesito de atração pela aparência). Se algo é crime só porque importuna uma mulher, então deveríamos inventar, por exemplo, a lei da proibição do “convite para sair depois de 5 minutos de conversa com alguém que acabou de conhecer”. Afinal, já vi homem dizer que algumas mulheres se sentem bem importunadas com esse ato descrito entre aspas na frase anterior.
Muitos homens julgam que a abordagem direta de paquera tem uma vantagem óbvia. Afinal, permite que se verifique com rapidez o interesse da mulher – mais especificamente, se há um forte interesse. Quem quer conversar por uma hora e descobrir que não vai rolar nada? Ademais, uma abordagem mais rápida permite que se faça um número assombroso de tentativas numa única noite, significativamente mais do que se fosse feito abordagens mais lentas. E, como foi visto, um experimento de psicologia de 2007 sugere que esse tipo de abordagem mais direta não é tão ineficaz quanta muita gente imagina.