Este texto abaixo é uma boa descrição sobre feminismo partindo de um anti-feminista:
Feminismo e falsa dicotomia
É preciso ser feminista para defender a igualdade de gênero?![](http://fugereurbemblog.files.wordpress.com/2013/12/feminismo.jpg?w=600&h=355)
Como movimento ideológico, o feminismo intitula-se como porta-voz da igualdade de gênero. Mas será que essa definição basta para defini-lo? Tal questionamento se dá pelo fato de que, ao definir-se dessa forma, o feminismo incorre ao uso de uma falsa dicotomia.
Falsa dicotomia ou falácia do “preto ou branco” é uma falácia retórica que consiste em apresentar a ideia de que somente duas respostas ou posicionamentos são possíveis em uma determinada questão, quando, na realidade, existem outras possibilidades que permanecem omitidas. Em geral, os dois posicionamentos apresentados por quem utiliza a falácia costumam ser dois opostos extremos dentro de uma linha de raciocínio.
Vejam, por exemplo, o que a escritora Clara Averbuck afirma em um texto publicado em seu blog na página da Carta Capital intitulado “
Feminismo para Leigos“:
“Feminismo não prega ódio, feminismo não prega a dominação das mulheres sobre os homens. Feminismo clama por igualdade, pelo fim da dominação de um gênero sobre outro. Feminismo não é o contrário de machismo. Machismo é um sistema de dominação. Feminismo é uma luta por direitos iguais.”
“Então se você diz “não sou feminista, acho que todos deveriam ser tratados igualmente e ter os mesmos direitos” você está dizendo, exatamente: ‘não sou feminista, mas sou feminista'”.
Apesar de “feminismo” ser definido como não sendo o equivalente contrário de “machismo”, as definições que Averbuck dá aos termos deixa transparecer que ambos são pensamentos opositores: “o feminismo é contra o machismo”. Se isso for considerado dentro de uma situação dicotômica, chega-se, ainda, à afirmação: “quem é contra o feminismo é machista”.
O texto tem, inclusive, um teste para averiguar se o leitor é feminista, com perguntas do tipo “Você concorda que uma mulher deve receber o mesmo valor que um homem para realizar o mesmo trabalho?” ou “Você concorda que uma mulher não pode sofrer violência física ou psicológica por se recusar a fazer sexo ou a obedecer ao pai ou marido?“, dentre outras, que reforçam a ideia de que alguém ser favorável à igualdade de gênero e à liberdade da mulher é, de fato, feminista – e, consequentemente, a de que alguém que proclame-se contra o feminismo seja contra uma ou ambas as coisas. Entretanto, creio que essa abordagem não é, de todo, verdadeira.
Ora, se um movimento é, de fato, defensor da igualdade de gênero, é lógico considerar que alguém que se oponha a esse movimento é contra essa igualdade proclamada. E é nesse ponto que o questionamento inicial se detém: discordar do feminismo – ou não ser feminista – é ser contra a igualdade de gênero? A resposta é: NÃO. E o motivo disso é o fato de a definição do feminismo, “movimento que luta pela igualdade de gênero”, estar incompleta…
Feminismo não é simplesmente “luta por igualdade de gênero”. Feminismo é a luta por igualdade de gênero baseando-se na premissa da opressão histórica da mulher pelo homem. Tal especificação é de total relevância pois permitirá que se possa pensar a questão de maneira mais ampla: é possível ser a favor da igualdade entre gêneros, mas não de acordo com a proposta feminista? Pois, se a luta por igualdade parte de uma visão que não considera a mulher como única vítima (ou o homem como único agente) da desigualdade – possibilidade não considerada por quem acusa de ser contra a igualdade alguém que se diz não-feminista -, isso faz cair por terra a dicotomia de que “ou se é feminista ou se é contra a igualdade” (ou “machista”, como mais comumente se afirma).
Mais realista – e talvez mais honesto – seja este texto da socióloga Marília Moschkovich,
“Por que alguns homens “feministas” não falam sobre as questões das mulheres?“, publicado em seu blog pessoal, que traz outro teste, um pouco diferente, para averiguar o “grau de feminismo” do leitor. Reproduzi a imagem com e teste abaixo (não sei se a Marília Moschkovich é a autora do teste, o texto não deixa claro. Ah, e o “disvantagem” já estava assim
![Razz :P](../forum/Smileys/default/icon_razz.gif)
).
![](http://fugereurbemblog.files.wordpress.com/2013/12/fluxogramas-feminismo-2.jpg?w=700&h=900)
Pode-se perceber, então, que a questão é mais complexa que a simples luta por igualdade. Se a luta contra a desigualdade é pautada na premissa de que ambos os gêneros sofrem desvantagens e que ambos devem protagonizar a discussão em uma luta por igualdade, ela não necessariamente será classificada como feminista (podendo, inclusive, sofrer retaliação de quem se intitula como tal), já que o feminismo é, por definição (e aqui eu aprofundo a definição dada anteriormente), um movimento pelos direitos das mulheres, com foco nos problemas das mulheres, tendo somente a elas como protagonistas e com o pressuposto de que elas são as oprimidas no sistema de poder controlado e criado para empoderar apenas ao sexo masculino. A expressão “male tears“, com cunho pejorativo, já deve ter sido dirigida a qualquer um que tenha tentado apresentar problemas masculinos em um debate feminista, sob a alegação de estar “roubando o espaço feminino”. (E, se querem saber, foi justamente na terceira resposta – “desvantagens iguais de jeitos diferentes” – que o “não-feminismo” deste que vos escreve ficou comprovado).
Embora os textos considerados acima não sejam os únicos a tratarem do tema nem sejam conclusivos para se chegar a um consenso sobre a definição da ideologia feminista, creio que foi possível perceber, afinal, o porquê de dizer que alguém é “machista” ou “contrário à igualdade de gênero” pelo fato de discordar do feminismo ser uma falsa dicotomia, sabendo que alguém pode defender a igualdade de gênero sem enxergar a mulher como única vítima do processo histórico e, ainda, dispondo-se a ouvir e discutir problemas enfrentados pelos homens. A visão baseada na dualidade “mulher oprimida X homem opressor” é, obviamente, uma visão maniqueísta, tal como a maioria das visões que originam falsas dicotomias, e o problema dos maniqueísmos é que eles são baseados em uma estrutura fixa para definir o bem e o mal, podendo – e quase sempre acabando – por produzir uma forma de preconceito reacionário que tenta se justificar na ideia de “reação do oprimido”. Grupos pela igualdade com protagonismo masculino, por exemplo, são muitas vezes rotulados arbitrariamente de “misóginos” ou “machistas”, tão grande é vínculo que a palavra “homem” tem, entre grupos feministas mais radicais, com termos negativos como “opressão”, “violência” ou “estupro” (sobre o uso do termo “machismo” como palavra-chave de tática do espantalho, falarei algo futuramente).
Por fim, acho que este meme de autoria desconhecida que encontrei vagando pelo Facebook é bem apropriado quando se usa falsa dicotomia contra alguém que discorde do feminismo…
Assim como o autor do texto acima, ao responder o fluxograma, eu parei na terceira questão; Pergunta -
"Quem esta em maior desvantagem em desigualdade de gênero?"Além disso, mesmo que chegasse ao fim do fluxograma, ainda não acho que seria suficiente para se classificar alguém como feminista, eu já parei na premissa fundamental do feminismo colocada na metade do texto, que diz que o
"Feminismo é a luta por igualdade de gênero baseando-se na premissa da opressão histórica da mulher pelo homem." Eu não acredito que a mulher tenha sido durante toda a história oprimida pelo homem. E outras pessoas que pensem na mulher como em desvantagens na maioria das áreas, e pensando que ações devam serem tomadas para resolver isso, mesmas essas pessoas podem recusar esta premissa, logo, elas, assim como eu não poderiam serem classificadas como feministas por este motivo.
E eu ainda não o sou pelo motivo da terceira questão acima, e seria mesmo na quarta, pois acredito que algumas desvantagens são inatas, naturais e mesmo saudáveis, como o fato de homens serem naturalmente melhores em atividades técnicas, e mulheres naturalmente melhores em atividades sociais, e em desvantagens na atividades em que o outro sexo é naturalmente melhor. Algo pode ser feito para diminuir esta desvantagem, mas não é necessário que seja feito, e esta desigualdade natural, por ser inata, não me parece possível de ser completamente extinta, por isso algo não precisa ser feito se o objetivo for a igualdade plena, até porque estas diferenças são em certo sentido, saudáveis.
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