Quanto do crescimento do índice de assassinatos entre 1983 e 2003 é representado por mortes entre membros de gangues e do crime organizado e quanto é representado por incidentes entre cidadãos comuns?
A conclusão de que "160.000 vidas foram salvas" pode ser mais do que falaciosa (non sequitur), pode ser uma mentira deliberada.
Eu não sei de onde foi tirada esta estimativa ( 160 mil ), a matéria só diz "segundo estudos". Mas se as taxas de homicídios no país citadas são fidedignas, então parecem indicar que a restrição ao porte de armas evitou muitas mortes entre 2003 e 2015. É uma conclusão lógica que para ser refutada necessitaria de dados específicos apoiando tal refutação, porque o raciocínio natural aplicado ao exame das estatísticas, sugere que um percentual muito significativo dos crimes com armas de fogo não estava relacionado à gerras entre gangues e latrocínios.
E que raciocínio natural é esse?
Se temos uma taxa de 36,1/100 mil em 2003, antes do estatuto, e agora a taxa cai para 29,9, sendo razoável supor que nos últimos 15 anos a criminalidade comum, profissional, aumentou absurdamente, isso não parece indicar outra coisa senão que boa parte daqueles 36 assassinatos por 100 mil habitantes não decorria da criminalidade comum.
Certo? A menos que se prove o contrário, a taxa de assassinatos relacionados ao crime profissional deve ter crescido de 2003 pra cá, portanto deveria ser inferior aos 29,9 por 100 mil atuais. Inferior quanto? Não saberia dizer e também não sei como fizeram a estimativa referida na matéria, mas suponha, por exemplo, que fosse uma taxa de 25 por 100 mil: isso significaria que a maior parte dos 11,1 assassinatos para cada 100 mi hab. ( diferença entre 36.1 e 25 ) estava mesmo relacionado ao porte generalizado de armas por pessoas comuns.
https://g1.globo.com/politica/noticia/taxa-de-homicidios-no-brasil-aumenta-mais-de-10-de-2005-a-2015.ghtmlSe tanto o gráfico do IPEA, apresentado no link acima, quanto os dados da matéria do El País, forem confiáveis, então o que vemos é que apenas dois anos após a vigência do estatuto ( que não desarmou ninguém, só estringiu o porte ) a taxa de homicídios despenca de 36,1 para 26. Uma redução de cerca de 28%. Se a média anual estava em torno de 50 mil mortes em 2003, isso representaria 14 mil vidas salvas em 2005, ou cerca de 28 mil vidas entre 2003 e 2005.
Essa inferência é bastante imprecisa e necessitaria levar muitos outros dados em consideração, porém em linhas gerais o raciocínio faz todo sentido, e, portanto, a princípio a estimativa referida pelo artigo não é absurda.
Independentemente até de dados, é bastante razoável supor que muitas mortes patéticas, como essa registrada no vídeo abaixo, tenham sido evitadas pelo simples fato de pessoas em um momento de cabeça quente não estarem portando armas.
Se o jornalista ou os autores do citado estudo tinham motivações para mentir... não sei. Mas o evidente é que nesse debate pró e contra desarmamento a maior motivação econômica ( e por conseguinte o investimento ) só pode estar do lado do lobby da indústria armamentista, que até financia campanhas de uma bancada de parlamentares dedicada a defender seus interesses. E pode muito bem estar financiando porta-vozes e ativistas como o Sr. Benê Barbosa também.
Um lobby que não prima pela honestidade intelectual nos seus argumentos, chegando ao absurdo de propor que o estatuto do desarmamento tem por finalidade velada desarmar o povo para a implantação de uma ditadura, com comparações historicamente pouco confiáveis com Hitler e Stalin. Além de disseminar deliberadamente várias outras mentiras desse tipo.
Então posso deduzir, de forma inequívoca, que a população em geral não quer que o 'estatuto do desarmamento' seja revogado porque 70% de um percentual de 5,1% de pessoas que podiam se manifestar, em uma votação sobre posse de armas por uma guarda municipal, disseram que eram contra?
Sem dúvida não se pode deduzir de forma inequívoca. Por isso mesmo a matéria cita o fato sem fazer essa dedução.