Dado que a economia de mercado requer consumo a fim de manter demanda para emprego humano e promover crescimento econômico, existe um incentivo estrutural para reduzir o uso de recursos, a perda de biodiversidade, a emissão global de poluição e contribuir para a crescente necessidade de melhorar a sustentabilidade ecológica no mundo atualmente?
Não sei. Não sei nem se concordo com a premissa, "a economia de mercado requer consumo a fim de manter a demanda para emprego humano e promover crescimento econômico". Eu não vejo isso como "objetivo" da economia de mercado. O objetivo é o "mercado" em si. Que não "requer" consumo, apenas "será" em boa parte do tempo. O emprego é mais um efeito colateral das pessoas quererem coisas do que uma necessidade a que o mercado é solução. É mais o contrário, o emprego é uma solução comum para as demandas do mercado.
O objetivo não é o consumo nem empregos, mas o lucro e acúmulo. Mas para se alcançar este objetivo dentro do livre mercado, é necessário/essencial tanto o consumo constante como um nível mínimo de empregos. Não vejo outra forma de se alcançar o objetivo. Crescimento populacional e a pressão constante para se manter competitivo, são outras variáveis que pesam.
Novamente, acho que não. Me parece um caso de "falácia patética", a atribuição de intenções e objetivos a uma "personificação" do mercado. "O mercado" não tem "objetivos", ele mesmo. Meio como a ecologia, ou a cadeia alimentar, não tem "objetivos". Os objetivos estão no nível "micro" que constitui o "sistema" todo. No caso do mercado, as pessoas têm demandas de produtos e serviços, satisfeitas na base de trocas. É isso. Não tem uma "cabeça" maior que pensa, "precio de um consumo constante, e de um nível mínimo de empregos, para alcançar o meu objetivo". Serão os "micro" objetivos das pessoas que poderão ter alguma tendência nessa direção. Tendência a preferir opções mais baratas da mesma coisa, e do outro lado, a reduzir os custos de produção, e comumente tentar vender "mais".
Lucro e acúmulo são objetivos de todos que desejem conforto e segurança em qualquer "sistema" que se imagine (o que será "todo mundo" exceto talvez monges beneditinos e ideologias parecidas). Se não objetivo individual das pessoas livres, objetivo declarado do governo que tenta impor um planejamento central do abastecimento da população.
("Central", ou cibernético-algoritmico multi-core neo-democrático laser plus)
O principal incentivo para redução de uso de recursos, perda de biodiversidade, etc, é as pessoas desejarem tais coisas, seja individualmente, ou "como um todo" (promovendo desde ações espontâneas nesse sentido, até fazendo pressão por mudanças políticas mais determinantes). O "mercado" em si colocado no meio deverá ser "incentivo" a isso na medida que as conseqüências ruins dessas coisas estiverem se manifestando na vida das pessoas, ou conforme estiver mais visível no horizonte.
Aqui você apela para a moral particular. Mas apelos moralistas nunca resolveram questões estruturais.
Não vi nenhum "apelo moral".
A intenção foi meramente descrever a natureza humana. As pessoas começarão a se mover mais para evitar, contornar ou resolver problemas na medida que forem afetados por eles, ou que anteciparem isso como futuro próximo.
Seria apenas isso que hipoteticamente faria as pessoas se mobilizarem para mudar bruscamente para qualquer "sistema" de alternativa completa ao mercado que se conceba, na medida que as pessoas vissem esse destino como inevitável da liberdade/possibilidade de se poder trocar coisas que se queira menos por coisas que se queira mais.
Mas me parece mais provável que a tendência seja que antes de todos ou mesmo grupos menores pularem num barco com uma idéia revolucionária cybertech messiânica 3000, vão antes, pelo mesmo princípio, se mobilizar por mudanças menos radicais que se limitem a tentar frear apenas o que for mais diretamente relacionado com o problema corrente ou previsto.
As pessoas em sua grande maioria nunca irão deixar de usar algo que lhe garante o sustento e qualidade de vida, como um carro por exemplo, que tanto lhe dá conforto como pode ser usado como ferramenta de trabalho, só por que ajuda a conservação ecológica, a menos que o que garanta a sua sobrevivência imediata seja não comprar o carro ou que tenha outra alternativa para se sustentar e ter conforto. Outra coisa que atrapalha esta moralização do consciente é todo esforço marqueteiro no sentido contrário, de fazer as pessoas comprarem coisas, devido a necessidade estrutural do lucro advindo do comércio em massa. Mesmo diminuindo-se espontaneamente o consumo, diminuem empregos e investimento, o que paralisaria o sistema econômico.
É, por aí. No máximo eventualmente vêm regulações estatais, a contra-gosto de alguns lobbies e até de boa parte da população, que vão mais ou menos gradualmente provocando mudanças nessas linhas. Para a ação mais "espontânea", apenas raramente as pessoas farão as coisas por consciência pessoal. Por exemplo, etanol pode ser menos poluente, mas a preferência por ele se dará principalmente por vantagem no preço, quando for o caso.
Teremos "sorte" se as coisas forem indo para o brejo gradualmente o suficiente para que os aspectos danosos do meio de vida encareçam gradualmente e sejam trocados por alternativas mais baratas, e teoricamente menos nocivas. Com sorte, ativistas e o governo "catalizam" isso, fazendo da coisa um processo menos sofrido do que o ritmo "natural" de ir para o brejo. Com azar, o governo e ativistas/lobbyistas agravam a coisa, ou a outros problemas.
Em suma, conscientização e apelos morais nunca resolveram as questões, no máximo amenizam em alguns casos.
...então, a solução é o totalitarismo cibernético? Criamos a Skynet /matrix, e ligamos no modo "proteja a humanidade deles mesmos, permissão para matar garantida"?
Em um sistema econômico em que as empresas procuram limitar seus custos de produção a fim de maximizar lucros e permanecer competitivas contra outros produtores, qual é o incentivo estrutural existente para manter os seres humanos empregados, no despertar de uma condição tecnológica emergente, onde a maioria dos trabalhos podem ser realizados de forma mais barata e eficaz através da automação de máquinas?
Provavelmente não há. Geralmente, se houver um meio de produção mais barato acessível, esse será o preferido, e se procurará implementá-lo tão logo for economicamente compensador o investimento. O mais próximo de incentivo ao contrário são imposições protecionistas e o apelo a "valores" como em de "missão da empresa", que pode preferir se colocar ou ser obrigada a se colocar (por menor capital inicial) nesse tipo de "nicho". "Compre de NÓStm. Nós valorizamos o trabalho humano. Por que trabalhamos com amor". Etc. Não estou sugerindo que isso será provavelmente algo que funcionará para manter a produção largamente estagnada em uma tecnologia obsoleta, é apenas o tipo de incentivo possível que imagino. Análogo ao apelo a orgânicos ou produção local de alimentos ou coisas em geral.
E não acha que isto implicará em problemas para a permanência por muito mais tempo do sistema de livre mercado, devido ao desemprego tecnológico? Certamente outros trabalhos serão criados, mas não acha que será em quantidades muito menores do que o necessário?
Eu mal vejo o mercado como um "sistema", como disse, não é nada além de um "sistema de trocas", algo que beira o inevitável. O "sistema" com potencial de problema não é diretamente esse, mas as cadeias de produção/abastecimento que cresceram a partir disso, e que hoje sustentam virtualmente a toda a população mundial.
Eu não sei no que vai dar, não estou dizendo que vai tudo ficar bem. Talvez a coisa mais próxima de um freio "estrutural" que eu perceba nisso seja o efeito de deflação do desemprego em massa, que poderá fazer até mesmo a produção mais automatizada perder o valor, na medida que não há "demanda efetiva" (dinheiro para pagar) para uma produção tão massiva, por sua vez barateando produção em menor escala, que talvez seja mais barata de se produzir por pessoas pobres do que por máquinas de alta tecnologia. Novamente, friso que não estou dizendo que será algo "bonito" ou "eficiente".
Talvez haja algum malabarismo ou algo mais óbvio e seguro em matéria de intervenção menos radical para prevenir isso (se é que seria assim), ou, talvez, não se dê assim por algum motivo que falho em ver no momento, ou ainda, talvez iniciativas espontênas de comunidades mais auto-sustentáveis criem um amortecimento natural a esse problema. Talvez os movimentos de "consumo local" sejam já algo nessa direção. Talvez eventuais comunidades de hippies comunistas high-tech sejam uma variação disso, se de fato virem a existir.
Num sistema econômico que, inerentemente, gera estratificação de classes e a desigualdade no geral como os efeitos da “violência estrutural”, um fenômeno, observado por pesquisadores de saúde pública, que mata mais de 18 milhões por ano, gerando uma vasta gama de malefícios tanto sistêmicos, como distúrbios comportamentais, emocionais e físicos, podem ser minimizados ou até mesmo removidos?
Novamente não concordo com as premissas, nem com as adjetivações. Novamente a melhor resposta é que a liberdade econômica grossa porém largamente se correlaciona com melhores níveis de vida, inclusive para os mais pobres.
Ironicamente essa imagem é de alguém que está denunciando isso como vilania do Bill Gates.
Esse gráfico da redução mundial da pobreza deve se correlacionar largamente com "crescimento econômico", não o contrário, com pessoas encontrando alternativas, como se esperaria dessa visão de mercado inerentemente destrutivo.
Abaixo, demonstração da influência psicológica negativa de se viver numa sociedade estratificada e desigual no acesso aos recursos.
OK, não estou negando isso*. Novamente, seria mais um ponto a favor de liberdade de mercado, que tem alguma correlação positiva com menor desigualdade, e, no mínimo, com menor pobreza absoluta, que já é um belo de um começo (supondo que os danos da desigualdade não sejam mais preocupantes do que os da pobreza objetiva em si).
* embora também seja consideravelmente cético quanto a muita coisa "mainstream" em ciências sociais. "Não negar" = "pode bem ser isso, deve ser verdade em algum grau, ainda que não me surpreenda nada se houver significativo exagero ou completa fabricação a motiviada por viés ideológico", e não, "ok, essa é mesmo a realidade, sem dúvidas"