Se descriminalizar e regulamentar o consumo, fabricação e comercialização de todas as drogas ou pelo menos das principais, o número de presos cairia bastante e talvez não fosse necessário a construção de mais presídios.
É bem provável mesmo, pois a quantidade de prisões relacionadas ao tráfico de drogas é enorme. A notícia seguinte é antiga, mas o percentual não deve ter diminuído, é bem possível que até aumentou:
19 de novembro, 2001 - Publicado às 17h55 GMT
Droga é motivo de 60% das prisõesIsabel Murray, de São Paulo
Dos mais de 100 mil presos condenados no Brasil, apenas 4% são mulheres. E de cada grupo de 100 dessas mulheres, 60 estão envolvidas no tráfico de drogas.
Elas são as chamadas "mulas", transportam a droga, como foi o caso de Ivani Liepreman, de 37 anos, que está há dois anos na penitenciária feminina de Belo Horizonte.
"Eu deixei me envolver por drogas. Eu vendia, e depois passei a usar", afirma Ivani. "Aí me envolvi mais profundamente. Quando você só vende, você tem controle, quando passa a usar, tudo desmorona."
Para o sociólogo Guaracy Mingardi, pesquisador da Unesco para o tráfico de entorpecentes, o problema aumentou devido à crise econômica.
Tráfico machista
O sociólogo explica que no narcotráfico há funções que normalmente são assumidas pelas mulheres, como conversar com os compradores e misturar a pasta base com o bicarbonato.
De acordo com o sociólogo, há machismo até mesmo no tráfico de drogas. "Assim como no resto do mercado de trabalho, elas acabam ganhando menos", diz ele.
Entre as mulheres presas pelo tráfico de drogas, o arrependimento parece ser uma constante
"Meus filhos não estudaram quatro anos, saiu no jornal, ficaram sendo chamados de filho de marginal, filho de traficante... ", conta chorando Daisy Fernandes Martins, de 58 anos, que está na penitenciária feminina de São Paulo.
Trabalho
O ponto em comum entre as presidiárias é dizer que foi a necessidade que as levou ao tráfico.
"Eu queria montar um trailer para trabalhar por conta própria porque sempre trabalhei pros outros. Pensei, vou vender droga, para fazer uma casinha, montar um trailer", disse Maria da Penha Rodrigues, de 53 anos, que está no presídio feminino de Belo Horizonte. "Mas fui presa e tem 4 anos que estou aqui."
Maria da Penha não reclama das condições de vida do presídio. Ela afirma que se tem trabalho, o tempo passa mais rápido.
No presídio feminino de Belo Horizonte, há várias oficinas de trabalho: para a confecção de sinos decorativos, costura, etiquetagem e mala direta.
Não há dúvidas de que o trabalho é a forma preferida de se amenizar o período passado dentro dos presídios femininos.
Gastos no presídio
Três dias trabalhados equivalem a um desconto de um dia na pena. Em São Paulo, 90% das presas trabalham, ganhando salários entre 180 e 220 reais.
O dinheiro é normalmente gasto com produtos de higiene e beleza, como papel higiênico e cremes.
As presas também pagam por guloseimas, como balas, chocolates e bolos, que normalmente não fazem parte das refeições no presídio.
Mas a maior parte dos salários vai para as famílias, que formam uma longa fila do lado de fora do presídio no dia do pagamento para receber o dinheiro.
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2001/011115_prisaodrogas.shtml