Observei, desde as longas exposições do grande Montalvão acolitadas pelo Gorducho, seguidas pelas farpas inteligentes do Giga e a defesa estoica, concisa e elegante, mas contundente do Buck, uma constante:
- o desconhecimento encoberto pelo verniz de uma cultura refinada.
Aliás, essa é única interpretação que cabe. Pensem em outras possíveis...
Cabem outras interpretações sim, caro amigo, como veremos a seguir...
Sem pretensão ou arrogância, apenas para mostrar que minhas respostas não estarão jamais fora das bases conceituais da DE adianto aos amigos que o meu conhecimento do assunto me permite detectar, pontualmente os equívocos.
Que bom, para todos nós, né? Conseguir facilmente detectar erros de apreciação dos críticos é para poucos. A questão que fica é a seguinte: será que essa identificação de erros realmente é uma identificação de erros? Vamos conferir...
Comecemos assim: [foi dito:] O Judaísmo, apenas após a cabala, a qual aflora com força na Idade Media, incorpora o conceito de reencarnação.
Errado.
O Zohar é considerado como um dos trabalhos mais importantes da Cabalá, no judaísmo. E faz parte dos livros que seriam canônicos para os judeus.
Trata-se de comentários místicos sobre a Torá (os cinco livros de Moisés) escritos em aramaico e hebraico.
E aqui a coisa se resolve pois o conceito de palingênese já se encontra na Torá.
O que está fazendo, companheiro, é explicar a coisa certa por linhas tortas. Parece farofa de farinha com areia...
Vamos aos fatos.
Primeiro: as origens da cabala são nebulosas. A expressão passou a ser usada por volta do século XI. Há quem identifique textos cabalísticos já no século II, mas essa antiguidade é controversa. Os cabalistas são mais taxativos: regridem a origem da seita aos primórdios da cultura hebraica, sob a alegação de que o conhecimento era transmitido oralmente. O que é curioso, pois os judeus já produziam literatura religiosa provavelmente desde o início do 1º reinado, talvez até mesmo antes. Era, pois, de esperar que houvessem documentos cabalísticos desse período, mas ele não existem...
O fato é que a cabala sempre foi uma seita dentro do judaísmo, sem deixar influências marcantes.
O Zohar tem uma história curiosa. Um judeu espanhol, no século XII, declarou ter achado o manuscrito perdido, que teria sido escrito no 2º século. Entretanto, logo ficou claro que o material era contemporâneo à “descoberta”, e tudo indica que o autor fora quem alegou tê-lo achado: críticos perceberam que o estilo do texto era comum à gramática espanhola daquele período.
Então, mesmo levando em conta a melhor das hipóteses o Zohar não poderia ser livro canônico para os judeus, pois é escrito tardio, bem depois de definidos os livros canônicos: ele é uma leitura mística-esotérica do pentateuco, este sim considerado canônico. O pentateuco é o conjunto dos cinco livros iniciais da atual Bíblia, cuja autoria é tradicionalmente atribuída a Moisés, mas provavelmente escrito séculos depois da morte do Patriarca.
Durante o tempo de Jesus o pentateuco era interpretado pelos chamados doutores da lei. Havia 3 grupos que cuidavam de traduzir as mensagens contidas nesses livros: os fariseus, saduceus e, em menor escala, essênios. Nesse período não há referências a Cabala, nem a outro grupo místico que fizesse leitura particular dos textos. Se houve foi de pequena expressão e não ficou registrado.
Então, Spencer, acerte suas informações:
1 - O Zohar não é tido como canônico pelo judaísmo tradicional;
2 - é obra provavelmente elaborada no século XII.
Para muitos dos judeus de hoje, a reencarnação, não importando em que sentido usemos a palavra desde que implique em renascimento da alma, pre existente, essa reencarnação era um mito. Mas os estudos rabínicos, muito difundidos em textos e blogs na net, baseados no Zohar esclarecem o assunto, apontando sua origem desde a Torá.
O trecho acima enegrece sua declaração de que tem conhecimento e pode apontar os erros de seus críticos: nada do que diz corresponde à realidade. A literatura primitiva dos judeus (que inclui o pentateuco e os livros proféticos) quase nada fala a respeito da vida além, e nada a respeito de reencarnação. Textos baseados no Zohar constituem leitura restrita e bem posterior às obras as quais se aplicam.
Alguns autores espíritas insistem em descobrir “sentidos reencarnatórios” em certas passagens do Antigo Testamento. Um desses ostenta o pomposo título de “professor de hebraico”, chama-se Severino Celestino da Silva. Creio que seja uma de suas fontes de referência. Se for, anote um conselho gratuito: mude sua fonte. Esse senhor, contraditando suas credenciais, profere absurdos nos quais talvez nem ele próprio acredite...
Conclusão, para o judeu esclarecido, que era o caso de Nicodemos, fazia sentido, sim, Jesus estar mencionando reencarnação.
Engana-se: justamente por ser um judeu esclarecido, Nicodemos, nem de longe, cogitou da hipótese reencarnacionista. Insisto: o conceito não estava presente na mente dos judeus naqueles dias. Isso pode ser facilmente constatado: confira se no texto do Novo Testamento (grafado em grego) circulam palavras de índole palingenética.
Se a conversa entre Jesus e Nicodemos fosse de natureza reencarnacionista o doutor da lei não responderia pasmado quando o mestre lhe disse: “necessário vos é nascer de novo”. Ele prontamente entenderia e retrucaria mais ou menos assim: “eu sei que precisamos viver várias vidas até ficarmos purificados”, e a partir daí Jesus acrescentaria os ensinamentos complementares que pretendesse.
Caso Nicodemos cogitasse de reencarnação não caberia a pergunta que fez: “como pode um homem voltar ao ventre de sua mãe sendo velho?”, pois ele saberia como funcionava o processo multividas . Quem conhece reencarnação não lança esse tipo de pergunta...
Para interpretar a conversa sob a égide da reencarnação os espíritas fazem malabarismos interpretativos admiráveis. Mesmo assim só convencem a quem conheça superficialmente os textos.
"O conceito de guilgul (reencarnação) é originado no judaísmo, sendo que uma alma deve voltar várias vezes até cumprir todas as Leis da Torá.
http://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/2881933/jewish/Reencarnao.htm
http://judaismoeliberdade.blogspot.com.br/2013/05/a-reencarnacao-no-judaismo.html
Convém indagar: quando e como o “O conceito de guilgul” se originou no judaísmo. A resposta a esta indagação pode nos poupar longas discussões...
Então, meu caro analista Montalvão, o conceito da palingênese vem desde a Torah e não a partir da Cabala, ok.
Interessante que mesmo que vc admita, nada muda neste debate. Nem seus pontos de vista e nem os meus.
Nada muda, pode ser, mas a conversa pode continuar até acharmos um ponto de esclarecimento, embora possa se alongar mais que o desejado.
Sua alegação de que o “conceito da palingênese vem desde a Torah” não está bem fundamentada, foi apenas afirmada, mas não demonstrada. Explique, para começar, como que textos que não versam sobre a vida além podem conter referências à reencarnação? Pode ser um bom começo para chegarmos a um acordo entenditivo...