Porque o inferno foi feito para os outros. Deus é amor, deus é pai, deus nos fez imperfeito, deus nos conhece, deus sabe nossos motivos, nossas fraquezas, deus perdoa. Deus justifica tudo, basta querer. Afinal, cada um tem sua própria versão de deus. Quantos crimes hediondos, já não foram/continuam sendo praticados em nome de um deus, uma religião, uma ideologia? E quantos crimes menores, mas tão perversos quanto não são cometidos a todo instante, por religiosos, uns contra os outros, inclusive, na disputa entre o melhor deus, o deus verdadeiro, a religião verdadeira? E quanta incompreensão, discriminação, intolerância, julgamentos apressados, irrefletidos, demonstradamente incorretos, mas mesmo assim exaustivamente repetidos, não se vê a todo instante?
Já abordei este assunto uma vez, talvez vc se recorde: a diferença entre crença religiosa e fé é imensa. A primeira é como fazer parte de um grupo sem saber porque realmente se está ali... algumas socialidades, convivência agradável, mais desencargo de consciência através de orações e liturgias, e por ai... os mais exaltados saem em pregação, por vezes violenta. Cobrem-se de cinzas e fazem jejuns mortificantes. O remorso é a marca dessas almas pois se alimentam dos mesmos erros que condenam no semelhante.
A outra, a FÉ, é completamente diferente.
Ouso dizer e perdoe se para desenvolver a tese venha a parecer pretensioso, mas a clareza assim o exige:
A FÉ é apanágio de pessoas sensíveis, inteligentes; as mentes simples ou ignorantes têm crenças.
Se vc crê, de fato, é porque raciocinou, refletiu, estudou, e sobretudo observou. Então essa fé integra seu modo de ser, faz parte de sua personalidade.
Seus pensamentos e opiniões sofrem sua influência e de igual modo sua conduta e hábitos.
Este tipo de crente não se destaca em nenhum ambiente porque não traz rótulos nem ademanes e, notável nele é apenas o esforço para se corrigir dos erros que por muito tempo ainda levará consigo.
Os religiosos tradicionais são maioria, é fácil serem reconhecidos.
Céticos e ateus frequentemente se escandalizam com a incoerência de suas pregações em relação ao seu comportamento. Há exceções, claro.
Não me lembro. Não devo ter participado desse debate ou dessa parte do debate. Mas conheço bem esse discurso. Como disse, não escondo o que penso, então tem sempre um religioso ou um fervoroso tentando me convencer da importância de se ter uma fé, ao menos, fé em deus, no deus deles, claro. Aquele que concebo a possibilidade de existir, que, pela lógica, não pode ser onipotente, como não tem serventia para eles, não serve. Tem que ser um deus contraditório. Eu não consigo, explico que as coisas precisam fazer sentido para eu por fé, mas e,eles não se conformam. Raramente, muito raramente mesmo, infelizmente, alguém se comporta como o Rafael, por exemplo: eu acredito nisso por causa daquilo, mas é só minha opinião, cada um tem a sua. O ateísmo ou, para ser mais preciso, o apateísmo, soa como uma ameaça, mas não para a ordem pública e sim para o conforto psicológico delas. O meu conforto psicológico, é claro, não importa. Nesse ponto elas costumam a começar se auto exaltarem, sua bondade, caridade, compaixão, inteligência, sensibilidade, enfim, vestem o manto sagrado. Aí eu explico que também tenho essas mesmas qualidades, pois tive uma criação baseada na empatia, com exemplos práticos e tal. Então nesse ponto, normalmente, não necessariamente com essas palavras, elas costumam insinuar que se deus não existe, você sabe. E acho que já sabe também onde isso vai parar. E sabe o que é mais interessante? Eu nunca abordo esse assunto. Apenas respondo quando me perguntam. Jamais irei, por exemplo, entrar num fórum religioso para debater a importância do ceticismo, insinuando que a fé é nociva, pois justifica barbáries, exaltando as supostas qualidades do ceticismo. Acho uma pena, como já disse, que as pessoas gastem tanto tempo, energia e dinheiro com um fardo tão pesado e desnecessário, na minha opinião, é claro, mas é a escolha delas. Eu não tenho nada a ver com isso. Tenho muito o que melhorar ainda antes de sair por aí querendo melhorar os outros. Agora, se me convidam a debater, a não ser que esteja sem tempo ou paciência na hora, então peço desculpas e mudo de assunto, eu aceito!