Repito: ela mostrou o truque na frente de todo mundo naquele outubro de 1888.
Então a motivação dela e o fato de ter voltado a vida de medium depois disso perdem a importância
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Ingenuidade, meu caro Fenrir. Sua e daqueles que não investigaram a fundo o por que de Margareth se voltar contra um trabalho de anos, que lhe conferiu recursos, fama e visibilidade. Teria que haver um motivo, ou vc acredita que sem mais nem menos ela procuraria a mídia por uma questão de consciência.
Ela e qualquer médium, deste tipo, conhece a fundo os mecanismos da trapaça, inclusive para evitar escorregar num deles e ser surpreendida por especialistas.
Pois foi o que ela fez... uma trapaça manjada, penso eu.
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Jung com F, fiquei um tanto desconcertado: Maggie trapaceou ao confessar ou ao desconfessar? Ou em ambas ocasiões?
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Você acusa o Fenrir de não investigar condizentemente o motivo de Margareth ter execrado a mediunidade, consequentemente, supõe-se que sua distinta pessoa o tenha feito, sendo assim, por que não apresenta o resultado da averiguação que realizou?
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Mais ainda me destrambelhou as ideias sua afirmação: “Ela e qualquer médium, deste tipo, conhece a fundo os mecanismos da trapaça”! Ora, se qualquer médium “desse tipo” conhece meios de trapacear (o que inclui Chico Xavier), como saber quando recorrem ao expediente safado ou estão sendo sinceros (mesmo que errados)? Essa constatação, de que medianeiros sabem simular conscientemente, não seria um tiro mortal na ideia de que falecidos falem com vivos? Pense bem: considerando que qualquer médium pode vir a fraudar e, considerando que o espiritismo não tem meios de testar a sinceridade do médium, a dúvida atroz cai sobre a crença como um véu de incertezas! Como saber se se está diante de sincera tentativa de acessar o além ou sendo vitimado por esperta malandragem? Relembre o caso da D. Lucia, a médium que informava número de telefone, endereço, CPF...
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De qualquer modo, a questão que interpõe merece reflexão: por que Maggie (Margareth) cuspiu no prato em que comia? É certo que espíritas explicarão defensivamente visando resguardar a autenticidade da doutrina, embora, e esse ponto é importante frisar, não vejo razão para que se empenhassem tanto, pois o espiritualismo das Fox difere do espiritismo. Conquanto o ponto em comum, ou seja, a comunicação entre vivos e defuntos, seja a raiz da crença, a partir daí as diferenças só crescem, tanto nas comunicações quanto nas “verdades” reveladas. Veja, por exemplo, o caso da reencarnação, na qual espíritas acreditam com a mesma firmeza com que católicos creem na Imaculada Conceição e espiritualistas repudiam qual testemunhas de Jeová renegam a cruz!
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Então, bastaria aos kardecistas alegarem não terem nada a ver com a malandragem das irmãs, visto que a codificação trata de revelação espiritual provinda de outra fonte, que não o Rosma... Quer dizer, mesmo que o mascate e suas médiuns formem uma fraude (e formam!), o ensino promanado dos mortos restaria preservado!
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Viu como advogo em favor da causa?!
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Só que os adeptos de Kardec já empenharam louvores ao pioneirismo das Fox, agora não dá mais para consertar...
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Vou dar minha opinião a respeito.
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As moças sabiam que fraudavam! Isso é mais do que evidente, no entanto, havia nelas uma esperança de que, de algum modo a espiritualidade se manifestasse de verdade, mas não com elas! Esse ponto é abordado por Weisberg em trecho que postei (e você não questionou, suponho que tenha concordado com a autora) e que repriso em parte (vou abreviar ao máximo na esperança de que leia com a atenção que parece não ter dado anteriormente):
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As opiniões sobre Kate e Maggie variam, claro (assim como variam quanto aos médiuns de hoje). Há desmistificadores — dentre os quais alguns, não todos, são mágicos e historiadores — que se encantam com ou abominam as irmãs como mais um exemplo de charlatanice numa sociedade tão impregnada dela.
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As controvérsias em torno das irmãs Fox explicam-se em parte pela freqüente alteração de sua história ao longo dos anos: há muitas possibilidades e versões.
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PARA OS ESPIRITUALISTAS, A SAGA TEM A RESSONÂNCIA DE UMA HISTÓRIA SAGRADA, QUE AJUDA A ILUMINAR AS ORIGENS OU, AO MENOS, UM ASPECTO DE SUA DURADOURA FÉ.
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Outros consideram a história das irmãs curiosa porque pode ser lida como uma história de fantasmas clássica, ou porque ela desencadeou um questionamento tão vasto da natureza da vida após a morte. Outros, ainda, interessam-se por descobrir como as meninas poderiam ter enganado a todos com falsas manifestações de espíritos.
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À medida que o interesse internacional pelo espiritualismo continuava crescendo, também crescia o número de grupos organizados dedicados à investigação sistemática de fenômenos paranormais, como a percepção extrassensorial. Um dos mais importantes, a Sociedade de Pesquisas Psíquicas, conhecida pela sigla inglesa SPR, foi fundado em 1882 na Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Seus notáveis fundadores incluíam Henry Sidgwick, professor de filosofia em Cambridge; sua esposa, Eleanor, que mais tarde fundaria uma escola secundária para moças, também lá; o irmão de Eleanor, Arthur Balfour, futuro primeiro-ministro da Inglaterra; e William Barrett, que ensinava física no Royal College of Science, em Dublin.
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A sra. Sidgwick lembrou-se de ter conhecido Kate em 1874, durante uma sessão em que a médium “obteve uma palavra escrita numa folha de nosso próprio papel, debaixo da mesa, com uma luz que considerei suficiente para a leitura de letras impressas comuns”. Porém, a sra. SIDGWICK SUSPEITOU QUE KATE TIVESSE ESCRITO A PALAVRA COM O PÉ — UM TRUQUE COSTUMEIRO ENTRE MÉDIUNS CHARLATÃES.
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SOB OS AUSPÍCIOS DA SPR, A SRA. SIDGWICK VOLTOU A TESTAR KATE UMA DÉCADA DEPOIS, SEM DETERMINAR NADA DE CONCLUSIVO, MAS OBSERVANDO QUE A MÉDIUM ÀS VEZES PARECIA FAZER PERGUNTAS TENDENCIOSAS, MAS ATRIBUÍRA AS COINCIDÊNCIAS AOS ESPÍRITOS. A sra. Sidgwick admitiu que as batidas de Kate eram “peculiares — bem diferentes das que uma pessoa pode produzir por si mesma batendo com os pés”. Porém, logo em seguida, ela retirou até mesmo essa afirmação. Depois de ler o relatório feito trinta anos antes pelos médicos de Buffalo, em 1851, ELA PONDEROU QUE AS BATIDAS “PECULIARES” DE KATE, AFINAL DE CONTAS, PODERIAM TER SIDO CAUSADAS POR ESTALOS DOS DEDOS DOS PÉS.
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Nos Estados Unidos, Maggie também se viu enredada em uma nova série de investigações organizadas. [...]Em novembro de 1884, pouco depois da morte do filantropo, Maggie teve um encontro com os membros desconfiados e assustadores da Comissão Seybert na residência do seu diretor, Horace Howard Furness, na Filadélfia. De acordo com a transcrição, as batidas nas duas noites foram erráticas, assim como as respostas às perguntas.
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“Acredito que a senhora comunga inteiramente conosco do desejo de ter esse fenômeno investigado”, disse ele a Maggie, que lhe garantiu que sim. Ela se recusou, fatigada, a afirmar que os sons vinham do outro mundo ou que eram independentes de sua pessoa; observou apenas “que cada qual julgue por si mesmo”.
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Depois de ouvir batidas fracas e pancadas fortes, Furness colocou a mão sobre o pé de Maggie e anunciou jubilante: “Isso é o mais maravilhoso de tudo, sra. Kane. Eu sinto claramente as batidas em seu pé. Não existe nenhum sinal de movimento nele, mas há uma pulsação incomum.” CERTO DE QUE MAGGIE PRODUZIA AS BATIDAS, MAS SEM SABER SE ELA O FAZIA CONSCIENTE E DE PROPÓSITO, ELE A CONVIDOU PARA UMA TERCEIRA SESSÃO, MAS ELA RECUSOU ALEGANDO PROBLEMAS DE SAÚDE E ACRESCENTANDO EDUCADAMENTE QUE FICARIA FELIZ EM VOLTAR QUANDO SE SENTISSE MAIS FORTE. MAGGIE NUNCA VOLTOU. Sua atitude ao longo do processo foi de plácida condescendência.
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A matéria do repórter sobre as irmãs, publicada no dia seguinte sob a manchete “MÉDIUM RENOMADA DIZ QUE OS ESPÍRITOS NÃO RETORNAM JAMAIS”, consistia em uma longa entrevista com Maggie, na qual ela atingiu diretamente Leah e a falecida Margaret Fox.
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Suas palavras foram: “Quando o espiritualismo começou, Katie e eu éramos meninas, e essa senhora idosa, minha outra irmã, fez de nós seus instrumentos. Mamãe era uma mulher tola. Era uma fanática. Eu a chamo de fanática porque ela era honesta. Ela acreditava nessas coisas.
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Para surpresa do repórter, Maggie demonstrou as batidas que ele ouviu debaixo da mesa, do lado de fora da porta e através do chão.
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— Como a senhora faz isso? — perguntou ele com um toque de admiração.
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Ela lhe disse que manteria sua explicação em segredo até a noite em que desse sua conferência. Porém, fez questão de dizer que era tudo um truque, devolvendo-lhe a pergunta com uma piscadela: “Espíritos... não é fácil de enganar?”
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Momentos antes de confundi-lo com as batidas, Maggie colocou-o diante de um estranho paradoxo. Embora ela soubesse como produzi-las — aparentemente fazia isso desde a infância —, seu próprio conhecimento e habilidades não eram a fonte de sua descrença. Ela só tinha certeza de que os espíritos não retornavam porque tentara insistente e inutilmente contatá-los. Como as pessoas que vinham às suas sessões, ela também buscava essa fé; ela a desejara desesperadamente como consolo depois da morte de Kane.
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“Ora, eu já explorei o desconhecido tanto quanto a vontade humana permite”, esbravejou ela. “Fui até os mortos para tentar obter deles um pequeno consolo. Não consegui nada com isso, nada, nada.”
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E para aqueles que afirmam ter frequentado a DE e ainda assim se tornaram céticos, querendo com isso dizer que a experiência não foi suficiente para consolidar a crença eu pergunto, qual a razão do afastamento? [...]
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Afastamentos se dão por motivos variados: há quem encontre em outra ideia religiosa maior amparo para seus anseios; há quem chegue à conclusão de que religião seja uma maneira de amenizar conflitos pessoais, sem ter algo de efetivo a oferecer; há quem simplesmente conclua que seja perda de tempo cultiva almejos transcendentais, etc. O fato é que quando há meios de conferir a validade do discurso religioso a verificação dá retorno negativo! E o espiritismo não fica atrás, aliás, as alegações do espiritismo estão entre as que melhor permitem aferição de seus postulados.
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Cogitações religiosas que jogam para o além a fluição de uma nova existência e afirmam as ações da divindade no mundo de forma vaga, incerta, qual o caso do cristianismo, estas não permitem a investigação objetiva do que prometem (como bem diz o hino: “a cada passou vou me aproximando daquele lar que Cristo prometeu...”). Resta ao fiel agarrar-se à esperança de que esteja no caminho certo! O espiritismo, entretanto, é religião que assevera quase plena interação entre dois mundos! Embora os de cá não possam passar para lá à vontade, pois têm que esperar a morte para tal, os de lá passam para cá quando bem queiram!
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Então, mesmo sendo os entes comunicantes invisíveis suas ações na natureza seriam detectáveis e comprovariam acima da dúvida razoável que estão presentes e operantes! Estaríamos, portanto, no melhor dos mundos dentro da seara espírita!
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Mas, oh tristeza! Quando se busca provas concretas da ação dos espíritos tudo o que se encontra são emoções, garantias pessoais, depoimentos do tipo “eu vi, eu falei, eu senti”, nada que possa ser corroborado por experimentos fiscalizados e confirmadores das afirmações prolatadas pela agremiação... eis o paradoxo: o espiritismo que seria a melhor maneira de demonstrar o transcendental esbarra nas mesmas dificuldades de qualquer outra religião quando instado a dar provas de atuação dos mortos entre os vivos!
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Enfim, sem provas só incertezas... aliás, sem provas a prova está dada: mortos não comunicam!