As aptidões mais destacadas em certa encarnação podem ser abafadas na seguinte visto que o objetivo é o desenvolvimento em múltiplas áreas, uma de cada vez, por certo.
Meu caro, visto a reencarnação não disponibilizar evidência de que a sina humana seja esse imaginado vaivém, de lá para cá e daqui pra lá, se é que me entende, ela tem o “efeito arroz”, quer dizer, pode misturar com qualquer ideia que, com jeitinho, dá certo!
.
Sendo, pois, “ideia arroz” as multividas podem ser adaptadas à vontade do freguês para explicar o que bem se queira.
.
Então você diz que a cada existência pode se desenvolver “uma área”, creio que está propondo que numa vida o sujeito se inclina para a música, noutra a força física, na seguinte a engenharia, depois as letras, adiante a medicina... assim ad infinitum... isso está mais ou menos afinado com a codificação, conquanto Kardec apresente duas explicações para esse “abandono”, como se verá a seguir.
.
Ocorre que essa alegação contraria o senso comum! Basta um lépido exame da média dos seres para se constatar que, NA ÚNICA VIDA QUE EFETIVAMENTE SE CONHECE, as coisas não funcionam assim!
.
Aliás, devo ressaltar a afirmação anterior: só conhecemos uma única vida! Se houvesse outras teríamos que, de algum modo, lembrá-las. A ausência de recordações é forte indicativo da ilusoriedade dessa suposição!
.
Tirante os extremos, onde se situam, dum lado os dotados de genialidade; de outro os prejudicados em habilidades e cognição, na média, as pessoas desenvolvem várias destrezas durante a existência. Você, Jung, pode se autoavaliar e descobrirá que ostenta variados talentos, conhece muitos mistérios e ciências... Então, por que a reencarnação teria por finalidade incrementar uma única “área”? Eu me tomo por exemplo e digo-lho que sou um reencarnado fracassado, visto que tenho notável gosto por música e ansiei nascer dotado de sensibilidade nessa arte sendo, no entanto, canhestro musicalmente, tanto como instrumentista quanto no canto, e sofro muito por isso. A reencarnação tem um grande débito para comigo... ou terei de aceitar que estou sendo castigado por ter feito coisa feia de que não recordo? Pode ser que numa vida passada, no séc. XVIII, em crise, quebrei meu piano de cauda e o joguei pela janela justamente no momento em que uma grávida passava pelo local, levando-a a óbito...
.
Imaginemos F. Chopin reencarnado e com toda a vocação para a música, novamente. Não quereria mais nada... viveria assim indefinidamente... A questão não é que a criatura precise dominar as inúmeras áreas do conhecimento, da ciência, da arte mas, sim, envolver-se com grupos sociais diferentes onde se lhe depare novos desafios de convivência.
.
Pois é, sua reflexão mostra o “efeito arroz” de que falei! Na idealização que apresenta, Chopin não reencarnaria músico porque precisava desenvolver outras capacidades (ou “áreas”), quem sabe o grande pianista não estaria vivendo no Complexo do Alemão aprendendo a lidar com armas contrabandeadas e em lugar de apertar teclas apertasse gatilhos? Tudo é possível...
.
Há quem fale em “evidência científica da reencarnação” citando genialidades e a doutrina, confira:
.
“As principais evidências científicas da reencarnação são:
Gênios Precoces, são crianças prodígios, que desde a mais tenra idade mostram possuir conhecimentos de tal ordem à respeito de temas os mais diversos que seria impossível explicá-los sem a certeza de que viveram antes.
- Amadeus Mozart tocava piano aos 3 anos e violino aos 4 anos sem nunca ter visto um [?!].
- Pierino Gamba foi maestro aos 11 anos.
- Pascal, matemático francês discutia matemática e geometria aos 12 anos.
- Miguel Angelo, com a idade de 8 anos, foi dispensado pelo seu professor de escultura porque este já nada mais tinha a ensiná-lo.
.
Kardec, examinando a questão pergunta aos benfeitores como entender este fenômeno [Livro dos Espíritos - questão 219] e eles dizem: 'Lembrança do passado, recordação anterior da alma." (Reencarnação, Evidências e Fundamentos – Centro Espírita Celeiro de Luz).
.
.
A explicação acima acha arrimo em Kardec, conforme expressa o LE (no trecho que segue vê-se a ingenuidade de Rivail ao apresentar elucidação espiritista para coisas que achavam serem inexplicáveis por outras vias):
.
219. Qual a origem das faculdades extraordinárias dos indivíduos que, sem estudo prévio, parecem ter a intuição de certos conhecimentos, o das línguas, do cálculo, etc.?
.
“Lembrança do passado; progresso anterior da alma, mas de que ela não tem consciência. DONDE QUERES QUE VENHAM TAIS CONHECIMENTOS? O corpo muda, o Espírito, porém, não muda, embora troque de roupagem.”
.
220. Pode o Espírito, mudando de corpo, perder algumas faculdades intelectuais, deixar de ter, por exemplo, o gosto das artes?
.
“Sim, DESDE QUE CONSPURCOU A SUA INTELIGÊNCIA OU A UTILIZOU MAL. Depois, uma faculdade qualquer pode permanecer adormecida durante uma existência, por querer o Espírito exercitar outra, que nenhuma relação tem com aquela. Essa, então, fica em estado latente, para reaparecer mais tarde.”
.
221. Dever-se-ão atribuir a uma lembrança retrospectiva o sentimento instintivo que o homem, mesmo quando selvagem, possui da existência de Deus e o pressentimento da vida futura?
.
“É uma lembrança que ele conserva do que sabia como Espírito antes de encarnar. Mas, o orgulho amiudadamente abafa esse sentimento.”
.
a) - Serão devidas a essa mesma lembrança certas crenças relativas à Doutrina Espírita, que se observam em todos os povos?
.
“Esta doutrina é tão antiga quanto o mundo; tal o motivo por que em toda parte a encontramos, O QUE CONSTITUI PROVA DE QUE É VERDADEIRA. Conservando a intuição do seu estado de Espírito, o Espírito encarnado tem, instintivamente, consciência do mundo invisível, mas os preconceitos bastas vezes falseiam essa idéia e a ignorância lhe mistura a superstição.”