Pergunto de outra forma: como convencer a maioria das pessoas a abrir mão de suas propriedades privadas para embarcar numa aventura coletivista? Ou ainda: como convencer os outros a abrir mão de seus sucessos pessoais para o sucesso de utópicos inconformados com seus próprios insucessos?
1) A maioria das pessoas não são proprietárias de meios de produção (ainda mais se considerarmos os médios e grandes meios de produção);
Mas são proprietárias de bens, imóveis, automóveis, móveis, que conquistaram através do trabalho, herdaram, ganharam, não importa e, por mais que você possa dar pouco valor a pequenas conquistas, para seus proprietários são tão ou mais valiosas que os meios de produção para os médios/grandes empresários e não querem terceiros dando pitacos em suas vidas. Não é como se 100% das riquezas estivessem nas mãos de 1% da população, como os planejadores querem fazer parecer. Nem como se o nível de desigualdade fosse aceitável - por culpa, na minha opinião, mais do estado que não permite o dawinismo (óóó!!!) entre os capitalistas (ah!) do que por força destes.
2) A medida que mais e mais empregos forem sendo extintos pela automação e IA não será preciso convencer praticamente ninguém para que haja uma mudança drástica na organização social e econômica, pois a própria evolução deste sistema já fará ruir a organização atual;
A solução terá que ser democrática, para funcionar.
3) Mais e mais pessoas simples serão ultrapassadas pelas máquinas e pela IA, simplesmente mais e mais pessoas serão comparativamente perdedoras em relação às máquinas inteligentes, portanto não faz muito sentido falar em “convencer os outros a abrir mão de seus sucessos pessoais”
Precisamos sim nos focar nessa possibilidade, mas com cautela - tenho por princípio olhar com ceticismo tudo que parece bom de mais para ser verdade. Idem para o catastrofismo que quase sempre tem alguma motivação obscura. O fato é que, no Brasil, pelo menos, 80% dos empregos é gerado pelo micro/pequeno empreendedor, para os quais automação, no momento, é ficção futurista. E não nego que o quadro possa se reverter, fazendo os pequenos negócios desaparecem, lojinhas, mercadinhos, padarias, oficinas e prestação de serviços em geral - mas uma revolução preventiva não me parece uma boa ideia.
Seria mais ou menos como “convencer o João de que a máquina X é melhor do que ele". Isso não será preciso ser objeto de convencimento, será simplesmente um acontecimento a se conformar.
As calculadoras são melhores que os matemáticos e eles não desapareceram. Certamente que muitas atividades vão desaparecer, como vem acontecendo ao longo da história, podendo ou não ser que surjam outras, mesmo com a automação, paralelas a essa. Não sabemos e por isso mesmo, não devemos nos precipitar, mas parar, pensar, sentar e debater, para promover, se for o caso, uma revolução espontânea por ação dispersa, evitando, dessa forma uma revolução planejada, atendendo a interesses de indivíduos ou grupos e não da sociedade.