Não existe nada sobrenatural, ou antinatural ou anatural, seja em sentido religioso ou mesmo puramente humanista. Como já escrevi, para que algo esteja fora do que é natural, tem que ser um sistema totalmente fechado - isolado - com entropia zero, ou seja, que nunca perca energia em sua conversão, mas isto viola a segunda lei da termodinâmica, ou seja, é impossível. Outra forma de estar fora do natural é se este algo não é feito de matéria/energia, com forças físicas diferentes atuando como conhecemos, o que até hoje nunca foi detectado, então podemos dizer pelo menos por enquanto que não existe tal coisa.
Portanto, o debate deve deixar de lado esta questão de natural ou não natural, pois 1 - não existe nada fora do natural e 2 - apelar pra isto chama-se falácia naturalista
Falácia naturalista e naturalismo moral: do é ao deve mediante o quero Adriano Naves de Brito
Centro de Ciências Humanas da Unisinos. brito@unisinos.br
RESUMO
O objetivo deste texto é discutir alguns argumentos contra a aceitação da falácia naturalista. Pretende-se mostrar aspectos que parecem corretos na argumentação dos que recusam aquela falácia, e, a despeito de seus acertos, demonstrar que estão fundamentalmente errados. O eixo para este desfecho é a reformulação da falácia em termos da recusa da implicação entre o ser e o querer. Espera-se, assim, tornar mais claras as relações - e a ausência delas - entre verdade e moral, bem como abrir espaço para a defesa de um naturalismo moral não comprometido com a existência de fatos morais. Este texto está dividido em cinco partes. Na primeira, apresenta-se a falácia naturalista de acordo com Moore; na segunda, distingue-se essa entre as formulações de Moore e de Hume; na terceira, apresentam-se objeções à interdição da passagem do "é" ao "deve" e se formulam respostas a essas objeções; na quarta, reapresenta-se o problema da interdição entre "é" e "deve" e se focaliza uma solução alternativa a ele mediante o querer; e, finalmente, na quinta parte, elaboram-se algumas conclusões acerca do naturalismo e do realismo na moral.
Palavras-chave: Falácia naturalista, Naturalismo moral, Realismo moral, Controvérsia é-deve
Introdução
A falácia naturalista, segundo a formulou Hume (1738-40), apresenta a demonstração, por redução, ao absurdo da pretensão de concluir juízos de valor a partir de juízos fácticos. Em termos gerais, a conclusão é a seguinte: do ser não se segue nenhum dever. Moore (1903), em seu Principia Ethica, explora a separação entre os planos do dever e do ser e, mediante o auxílio da análise da linguagem, pretendeu ter finalmente resolvido os mais importantes problemas éticos. Embora a distinção entre juízos constatativos e juízos morais seja amplamente aceita, e isso, sem dúvida, se deve à força da analítica da linguagem como método em filosofia, a interdição da implicação entre premissas factuais e uma conclusão normativa têm sido frequentemente questionada pelos defensores do tipo de naturalismo moral que advoga haver fatos morais. Afinal, em que sentido, se algum houver, as pretensões de verdade de juízos sobre o mundo objetivo podem se converter em pretensões de justificação de juízos morais?
O que se objetiva com este texto é discutir alguns argumentos contra a aceitação da falácia naturalista. Pretende-se mostrar aspectos que parecem corretos na argumentação dos que recusam aquela falácia, e, a despeito de seus acertos, tentar mostrar que estão fundamentalmente errados. O eixo para este desfecho é a reformulação da falácia em termos da recusa da implicação entre o ser e o querer. Espera-se, assim, tornar mais claras as relações - e a ausência delas - entre verdade e moral, bem como abrir espaço para a defesa de um naturalismo moral não comprometido com a existência de fatos morais.
Este texto está dividido em cinco partes. Na primeira, apresenta-se a falácia naturalista segundo Moore (1903); na segunda, distinguem-se entre as formulações de Moore (1903) e de Hume (1739-40) para a falácia naturalista; na terceira, apresentam-se objeções à interdição da passagem do "é" ao "deve" e dá-se respostas a essas objeções; na quarta, reapresenta-se o problema da interdição entre "é" e "deve" e apresenta-se uma solução alternativa a ele mediante o querer; e, finalmente, na quinta parte, elaboram-se algumas conclusões acerca do naturalismo e do realismo na moral.
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