OBSOLESCÊNCIA DESNECESSÁRIA: COMPETITIVA E PLANEJADA
Quando pensamos em obsolescência, muitas vezes consideramos as rápidas mudanças tecnológicas ocorrendo no mundo de hoje. De tempos em tempos parece que nossos dispositivos de comunicação e de processamento, ou seja, nossa tecnologia computacional, passam por um rápido desenvolvimento. A "Lei de Moore", por exemplo, que demonstra, essencialmente, como o poder de processamento dobra a cada 18-24 meses, foi estendida a outras aplicações tecnológicas semelhantes, trazendo luz à forte tendência geral de avanço científico. [297]
No entanto, quando se trata da produção de bens, duas formas de obsolescência (eventual) ocorrem hoje que não são baseadas na evolução natural da capacidade tecnológica, mas, sim, resultado de (a) a estrutura artificial e competitiva das regras do sistema de mercado, juntamente com (b) o impulso orientador da "eficiência" de mercado em busca de volume de negócios e lucros recorrentes.
A primeira (a) poderia ser chamada de "obsolescência competitiva (ou intrínseca)". Esta é a obsolescência resultante da natureza competitiva da economia, já que cada entidade produtora se comporta de forma a manter uma vantagem diferencial em relação a outra, reduzindo as despesas de produção, a fim de manter o preço "competitivamente" baixo para o consumidor. Esse mecanismo é chamado, tradicionalmente, de "custo-benefício", e tem como resultado produtos relativamente inferiores no momento mesmo em que são produzidos. Essa necessidade competitiva permeia cada etapa da produção, consequentemente, há uma redução da eficiência técnica ao longo do tempo pelo uso de materiais, meios e projetos mais baratos.
Imagine, hipoteticamente, levarmos em conta todos os requisitos materiais para, por exemplo, criarmos um carro buscando maximizar a sua eficiência, durabilidade e qualidade da forma mais otimizada estrategicamente, com base nos próprios materiais - e não no custo deles. [298] O ciclo de vida do carro, então, seria determinado apenas pelo seu desgaste natural, tendo como foco deliberado um design de atualização dos atributos do carro quando estes se tornassem obsoletos ou danificados por circunstâncias decorrentes do uso natural.
O resultado seria um produto projetado para durar, reduzindo assim o desperdício e, invariavelmente, aumentando a eficácia de sua utilidade. É fato que muitos no mundo hoje acreditam que é isso o que, de fato, acontece no desenho e produção dos bens, porém, isso simplesmente não é a realidade. É matematicamente impossível que qualquer empresa competitiva produza, estratégica e tecnicamente, o melhor bem numa economia de mercado, já que o mecanismo de "custo-benefício" garante uma produção abaixo da ideal.
A segunda forma (b) de obsolescência é conhecida como "planejada", e esta técnica de produção que estimula o consumo cíclico ganhou destaque no início do século XX, quando o desenvolvimento industrial avançava em eficiência a um ritmo acelerado, produzindo produtos melhores mais rapidamente. Na verdade, não havia só uma necessidade de incentivar que o público em geral comprasse mais [299], o problema resultante de um aumento da longevidade e da eficiência geral dos bens também estava desacelerando o consumo. Mais uma vez, o fenômeno "mais com menos" estava despontando rapidamente.
Ao invés de permitir que a vida útil de um bem fosse determinada pela sua capacidade natural, com a intenção lógica de uma lei natural de que ele existisse por tanto tempo quanto possível, dados os recursos limitados de um planeta finito e um interesse natural em economia de energia, materiais e recursos humanos, as corporações decidiram que seria melhor criar sua própria "vida útil" para os bens, inibindo, deliberadamente, eficiência. [300]
Na década de 1930, alguns até mesmo quiseram tornar obrigatório que todas as indústrias, de forma legal, decidissem os ciclos de vida útil não pelo estado natural da capacidade tecnológica, mas pela simples necessidade contínua de trabalho e aumento do consumo. Na verdade, o exemplo histórico mais notável deste período foi o cartel da lâmpada Phoebus, na década de 1930, onde, em um tempo em que as lâmpadas eram capazes de durar até cerca de 25.000 horas, o cartel forçou todas as empresas a restringir a vida útil das lâmpadas para menos de 1000 horas para garantir compras repetidas. [301] Hoje, todos os principais fabricantes têm a estratégia de limitar os ciclos de vida dos bens com base em modelos de marketing de consumo cíclico, e o resultado não só gera um desperdício repreensível de recursos finitos, mas também um desperdício constante de trabalho humano e de energia. Fora da dinâmica da economia de mercado, é extremamente difícil argumentar contra a necessidade de um desenho otimizado das mercadorias. Infelizmente, a natureza da eficiência de mercado não permite por padrão tal eficiência técnica.
http://umanovaformadepensar.com.br/eficiencia_de_mercado_vs_eficiencia_tecnica