Isso é irrelevante para o debate. O que se discute aqui é a definição de escravidão, e não a ideologia que a sustenta.
É mais relevante do que você percebe. E você talvez não perceba porque ideologia é algo tão relevante que a sua ideologia o faz perceber da forma como você percebe. Faz com que você perceba algumas coisas e outras não, que você perceba algumas de forma exagerada e outras de forma muito atenuada. Sua ideologia te dá muitos pesos e muitas medidas para serem aplicadas à cada situação, porque a sua ideologia te põe lentes para que você só possa enxergar o mundo através destas lentes. E a função destas lentes é classificar automaticamente os fatos como bons ou ruins, morais ou imorais, dependendo primordialmente de que lado estão os protagonistas dos fatos. Porque a sua ideologia fez você dividir o mundo em mocinhos e bandidos, e agora, para manter o mundo assim, maniqueisticamente organizado, você precisa destes óculos que fazem ver todos os atos dos "bandidos" como sendo maus, e tudo que os "mocinhos" fazem parecendo moral ou pelo menos justificável de alguma maneira.
A OIT, um organismo da ONU, se preocupa muito com trabalho escravo. Tem observadores que monitoram, pesquisam, investigam e produzem relatórios sobre pessoas trabalhando em condições consideradas de escravidão ao redor do mundo. A OIT faz denúncias e pressiona governos, mas a OIT, ao contrário de você, não considera que existam pessoas trabalhando em regime de escravidão em Cuba ou para o governo de Cuba. O que você acha que o leva a ver escravos cubanos que a OIT não consegue enxergar?
Por outro lado, em 2017, o presidente Michel Temer publicou uma portaria alterando as definições de trabalho escravo que haviam sido estabelecidas em outra portaria de 2003, por influência do Partidos dos Trabalhadores, quando então o Sr. Luís Inácio Lula da Silva era o presidente da república. E segundo a própria OIT, essa portaria de 2003 colocava o Brasil como referência mundial no combate ao trabalho escravo. Mas as medidas de Temer retrocediam todos os avanços na luta contra o trabalho escravo e a exploração infantil. E não foi apenas essa portaria que ele tentou passar sem sucesso: segundo denúncias Temer retirou 70% dos recursos que eram destinados ao combate do trabalho escravo.
https://www.revistaforum.com.br/auditores-denunciam-temer-retira-70-dos-recursos-de-combate-ao-trabalho-escravo/Na época Temer tava fazendo qualquer negócio para escapar de uma manobra política que tentava o seu impeachment, e este foi um dos muitos exemplos de efeitos colaterais nefastos que ocorrem quando uma democracia não é madura o suficiente para impedir ao acesso ao poder por meio desse tipo de manobra política. Algo que eu critiquei aqui quando se usou o mesmo tipo de articulação para o impeachment da Dilma, e até profetizei algumas das óbvias consequências hoje concretizadas, mas os maniqueístas ideológicos, incluindo você, interpretavam minhas considerações como a defesa de um petista a um governo do PT.
Porque a cabeça do maniqueísta ideológico não consegue trabalhar fora desse sitema binário. Mas taí o Bozo como consequência do movimento pelo impeachment, ele trazendo junto um monte de lixo do qual só se viu ainda a ponta do iceberg. Quando certamente hoje estaríamos elegendo um governo, se não mais decente, pelo menos não tão incivilizado. E ainda de quebra salvando o PT do desastre total que seria arcar com todas as consequências da irresponsabilidade que gerou a crise, mas em vez disso renovando o fôlego do partido que conseguiu a preferência de 45% dos eleitores, um milagre que a Dilma não poderia ter feito mas que o impeachement foi capaz de realizar.
Mas a pertinência de eu estar mencionando aqui a portaria que o Temer tentou passar, tem a ver na verdade com o grupo ao qual ele estava tentando agradar em troca de apoio. E você deve saber muito bem que eram os ruralistas, justamente um dos grupos que mais investiu na campanha do Bolsonaro e com o qual ele mais se comprometeu. E não é que foi essa gente que, aproveitando-se do Temer na corda bamba, pressionou o cara para facilitar a exploração do trabalho considerado análogo ao escravo no Brasil? E de lambuja a exploração do trabalho infantil também.
Isso sugere ( mais do que sugere! ) que essa gente não só não se importa muito com exploração de mão de obra escrava como inclusive são responsáveis por esse tipo de crime e ainda ficaram muito contrariados com a administração petista prejudicando seus ganhos e negócios.
Foi para estes escravagistas que o Bozo deu o ministério da agricultura e de brinde o do meio ambiente. E se a sociedade não ficar vigilante (assim como os organismos internacionais), eles vão tentar de novo com o Bozo a facilitação para real exploração de verdadeiro trabalho escravo.
Há pessoas no Brasil reclusas em fazendas afastadas que quanto mais trabalham mais devem ao patrão. E às vezes nestas fazendas existem capatazes armados. Mas o Ronaldo Caiado, muito consciente do que está fazendo, chantageia o Michel Temer pra poder dificultar o combate a este tipo de crime. O mesmo Ronaldo Caiado que sobe na tribuna para protestar indignado contra a exploração pelo regime castrista dos médicos cubanos!
E você agora é capaz de parar pra se perguntar porque você percebe com muito mais dificuldade que o seu presidente eleito, e também o seu presidente em exercício, servem a interesses de pessoas que literalmente exploram trabalho escravo? Quando pra você é muito fácil engolir um discurso que converte uma relação de trabalho que só eufemisticamente ou hiperbolicamente poderia ser designada de "escravo", em literal escravidão?
Porque a resposta para isso é ideologia. Ideologia está sendo mais do que relevante para você definir escravidão de forma a ver Cuba como um Estado escravocrata, talvez até nos moldes da Roma Antiga.
Em algum momento os EUA tiveram meio milhão de soldados no Vietnam lutando para manter no poder um regime militar corrupto de extrema direita contra o desejo da população local. Estes soldados recebiam um soldo mensal mas não podiam rejeitar o trabalho, não podiam fazer greve ou negociar o valor do pagamento e nem questionar as condições de trabalho e o tempo de serviço que lhes era determinado. Por que nunca lhe passou pela cabeça que a definição de escravidão, que você está discutindo e acredita não ter nada a ver com ideologia, poderia ser ainda com mais justeza aplicada a estes milhões de recrutas americanos obrigados a servir na guerra?
A resposta é: porque existe um discurso ideológico que justifica esse tipo de trabalho compulsório como um dever para com a pátria, que é correto por isso e por aquilo, e bla bla bla, e você já tomou como normal e como verdade. Então note que mesmo pra você nem a definição de trabalho escravo é absoluta, dependendo apenas das condições "per si" das relações de trabalho, mas depende da interpretação ideológica destas referidas condições.
Agora já podemos examinar a analogia proposta pelo JJ: não procede, porque Cuba está estruturada com um outro modelo de sociedade, fundamentado em um sistema de valores diferentes justificado por seu próprio discurso ideológico. Não faz nenhum sentido a comparação com o MaCdonalds.
Em Cuba o Estado é obrigado a lhe dar moradia. A sociedade não pode simplesmente deixar alguém dormindo na calçada e dizer "se vire, não é problema meu!". Em compensação o Estado pode colocar duas famílias estranhas na mesma casa, porque se não é aceitável que a sociedade deixe alguém sem moradia, não é aceitável que alguém, tendo espaço na moradia que lhe foi concedida, deixe uma outra família desabrigada. Em Cuba o Estado é obrigado a lhe dar todo o tratamento de saúde que o cidadão precisar, a prover creche para todas as mães, a dar toda a Educação que um cidadão tiver capacidade de ter, até a pós-graduação. Em Cuba o Estado tem de lhe garantir emprego e renda. Em compensação, trabalho é entendido como um serviço em prol da comunidade, e não apenas um meio do indivíduo tentar alcançar objetivos pessoais. Ideologicamente é interpretado não só como um direito, mas também um dever, assim como democracias capitalistas constroem discursos ideológicos que justificam o dever de defender a pátria como soldado.
Mesmo quando este "defender a pátria" signifique bombardear com napalm camponeses miseráveis a milhares de quilômetros das fronteiras da pátria... E não passa pela cabeça de ninguém classificar isto como trabalho escravo.
Na ideologia socialista é dever da sociedade lhe dar trabalho e em contrapartida é dever do cidadão exercer um trabalho que seja útil à coletividade. O trabalho é considerado um direito no sistema socialista, direito garantido na constituição, enquanto que para outras ideologias o trabalho é uma opção. Mas por ser um direito nesse sistema há a contrapartida de ser também um dever. O dever de um trabalho em prol da sociedade que lhe garante este direito.
Pessoalmente não acho que este sistema seja viável porque a experiência já demonstrou que não é. Pra saber se algo vai funcionar ou não é fácil: construa e depois veja se funcionou. Mas avaliações de natureza ética e moral não são tão simples; estas dependem do sistema de valores adotados. E estes, por sua vez, são completamente construções ideológicas.
Mas há também aquele outro aspecto das ideologias, a que me referi lá no começo, que é o de fazer com que os crentes destas religiões se tornem desapercebidamente tendenciosos nos seus próprios julgamentos de natureza ética e moral. O sistema de valores pode ser um só, mas o indivíduo ideologicamente influenciado o aplica de maneiras distintas para situações semelhantes. E esse duplipensar é fundamental para você se manter fiel à sua religião ideológica, porque mesmo que um sistema de ideias - ideologia - tenha 100% de coerência interna (coisa que nunca acontece) não é possível e/ou desejável viver de forma tão coerente.
Por exemplo: os europeus queriam os valores cristãos que os afastavam das barbáries da civilização romana. Mas desejavam também as riquezas dos povos colonizados. A única possível solução foi tornar, não o sistema de valores cristãos ideologicamente construído, mas as interpretações deste sistema de valores, flexíveis o suficiente para sempre aplicadas muito diferentemente à situações deveras semelhantes.
Assim também você o faz.
Você diz que
"Bolsonaro quis acabar com o financiamento do regime Cubano". Aqui subentende-se que seja uma justificativa moral para a decisão do Bolsonaro. Pois Cuba seria uma ditadura malvada e o Brasil enviando um dinheiro que evita que milhares de cubanos morram de fome está desumanamente ajudando a manter a ditadura malvada, que evidentemente colapsaria antes se o nosso governo - por razões humanitárias, é claro - estivesse fazendo tudo ao seu alcance para matar o máximo de cubanos de fome.
Mas pra começar, eu até hoje não vi nenhuma prova razoável de que o governo tenha tido intenção de financiar ditaduras no exterior. A motivação para essa crença parece ser completamente ideológica, porque nós não vimos interesse do PT nem em financiar o bolivarianismo aqui dentro. Por que então em Cuba ou Venezuela? E especificamente sobre o
Mais Médicos você deve se lembrar que nossos médicos calhordamente tentaram sabotar esse iniciativa do governo, e só então surgiu a ideia de trazer médicos de Cuba. E por ser a única opção economicamente viável para trazer médicos de fora.
Sobre a acusação do BNDES estar sendo usado para financiar o bolivarianismo... bom, eu tive a curiosidade de pesquisar e o que descobri deve ser decepcionante para certos dogmas ideológicos, tanto que os dados que eu já linkei aqui no CC duas vezes, inclusive para um PDF com um relatório anual do próprio BNDES, foram seletivamente ignorados. Porque tem alguns detalhes que estão deixando de contar nessa maracutaia do BNDES:
1 - Já acontecia antes do Lula. Já acontecia no governo FHC, o próprio relatório anual de prestação de contas do BNDES prova isso.
2 - O dinheiro não ia só para projetos em países bolivarianos, mas foram liberados financiamentos para muitos outros países também.
3 - Quase toda essa grana era usada para pagamento de empresas brasileiras, a maioria delas envolvidas na lava-jato.
Quer dizer, se alguém ligar os pontinhos sem usar ideologia, provavelmente vai descobrir só mais um caso ordinário de corrupção Com empresas brasileiras, a maior parte empreiteiras que aparecem na lava-jato, pagando propinas para o governo liberar financiamentos do BNDES que viabilizavam projetos no exterior onde coincidentemente eram estas empresas brasileiras as beneficiadas que recebiam os pagamentos.
Mas retomando a interessante questão do duplipensar ideológico... então Bolsonaro quis acabar com o financiamento da ditadura cubana. Ah, então tá justificado. Não podemos admitir que o Brasil envie nem um centavo que ajude a economia de países que não são completamente santos. Nem que pra isso seja preciso deixar uns 8 milhões de brasileiros sem assistência médica. Imagine!, a coerência moral acima de tudo. E devo supor que, por coerência, isso deva se aplicar a empresas não santas também.
O curioso é constatar que o tipo de pessoa que fica indignada com o Brasil contratando médicos de Cuba não fica incomodada com Bolsonaro levando a embaixada para Jerusalém. E vice-versa. Quem fica indignado com esse caso da embaixada não se importa em ter médicos cubanos aqui. O incomum é alguém estar a favor tanto de contratar médicos cubanos quanto de transferir a embaixada. Ou ser contra ambas as coisas ao mesmo tempo. E quando a pessoa é a favor de ambas, ou é contra ambas, geralmente se trata de alguém ideologicamente alienado.
Será que é só uma estranha coincidência, algo aleatório? Ou a ideologia fazendo com que a pessoa faça avaliações morais muito diferentes para situações semelhantes?
Israel não tem nada de santo. E a ambição de anexar territórios ocupados, até expulsando suas populações, não tem nada de moral. E os métodos utilizados para atingir estes objetivos são muitas vezes execráveis. É estratégia do Estado israelense tornar a vida das populações nos territórios ocupados um verdadeiro inferno, com suas forças policiais e militares sistematicamente praticando todo tipo de violência e violação de direitos de forma covarde. Torturas são praticadas, prisões ilegais, assassinatos, famílias são postas na rua sem indenização para suas casas serem demolidas... tudo em uma escala que Cuba jamais poderia igualar. Mas estranhamente, o tipo de pessoa que acha correto deixar parte da nossa população sem médico usando da justificativa moral de não apoiar uma ditadura, é o mesmo tipo de pessoa que não vê problemas em Bolsonaro usar o Brasil para dar um apoio implícito a uma violenta política colonial e ilegal de anexação de territórios.
E o que é pior: na transferência da embaixada nenhum brasileiro ganha nada com isso. Nenhum brasileiro vai ter um único médico de graça para poder levar o seu filho. Pelo contrário, Bolsonaro arrisca interesses comerciais que somam a até 10% do superávit da balança comercial do país.
E se algum fanático religioso da sua religião ideológica acha que o quadro que eu descrevo é propaganda árabe, pode conferir em centenas de depoimentos de israelenses coletados por ONGs israelenses, como a Breaking The Silence. No site há milhares de relatos e testemunhos chocantes.
https://www.breakingthesilence.org.il/Mas se você deseja um testemunho ainda mais insuspeito, eu sugiro o documentário
The Gatekeepers do diretor israelense Dror Moreh, com o depoimento de nada menos que 6 ex-dirigentes do Shin Bet, serviço de segurança interno israelense que atua diretamente nos territórios ocupados. Um deles chega a dizer com todas as letras que a política de Israel se equivale ao que era feito pelas forças de ocupação nazistas.
"Escute, neste preciso momento em que falamos, estão duas patrulhas do Exército em Hebron, na Cisjordânia, em operações que designamos por "deixar que eles [palestinianos] sintam a nossa presença". Os soldados andam pelas ruas, entram em qualquer casa, ao acaso, acordam a família, se estiver a dormir, separam os homens das mulheres, revistam o lugar sem dar qualquer explicação e, à saída, lançam granadas, disparam para o ar e prosseguem a missão, para incutir o medo e o sentimento de perseguição; é sempre assim, 24 horas por dia, sete dias por semana, desde a Intifada de 2000, com o único objectivo de prolongar a ocupação."
https://www.publico.pt/2013/02/24/jornal/dror-moreh-fez-um-documentario-para-salvar-israel-26098670Por que, coincidentemente, para quem se identifica como de direita, as violações de Israel parecem bem menos graves, ou até inexistentes, que violações do regime cubano? Não teria nada a ver com Israel ser a direita e Cuba a esquerda? Ideologia não está pesando nada para este duplipensar?
Como exemplo, pense no texto que você pinçou para citar, pondo em dúvida a qualidade do médico cubano. Mesmo devendo saber que esse é um assunto altamente ideologizado e por isso mesmo frequentemente tratado com muita desonestidade. O articulista faz uma série de afirmações sem apresentar uma única referência para confirmação. Mas, atente para o detalhe que o próprio título do artigo reconhece que o sistema de saúde cubano tem a fama de ser de qualidade. Se pelo menos essa fama existe, por alguma razão veio a existir. E de fato há zilhões de referências positivas e até extremamente positivas sobre o sistema de saúde cubano, mas você vai pinçar exatamente uma opinião contrária, onde o autor não fornece uma única referência para embasar qualquer das suas afirmações, mas este texto se torna a sua verdade, uma opinião mais confiável mesmo se existir uma maioria discordante.
E não há nenhum viés ideológico nisso?
Você poderia ter, ao contrário, se baseado nesta matéria, por exemplo:
"Médicos cubanos atendem melhor do que brasileiros", dizem pacientes...
A funcionária pública Maria Cecília de Lima Antão, 36, já havia perdido as esperanças. Por quatro meses, ela passou por diversas consultas para descobrir a causa de uma infecção renal que lhe fez engordar dez quilos em quatro dias e que a prendia em casa em razão das tonturas. Nem a internação de 30 dias em dois hospitais do Recife decifraram o que um médico estrangeiro desconfiou após uma única conversa com Maria: há meses ela sofre de lúpus e fibromialgia.
"O atendimento foi muito diferente, melhor do que qualquer médico brasileiro com quem já me consultei", diz Maria, que passou a ser cuidada por uma equipe de médicos cubanos do programa Mais Médicos. "Nem amigos meus também médicos conseguiram diagnosticar [minhas doenças]."
A comparação entre médicos cubanos e brasileiros não parte apenas da funcionária pública de Ribeirão, cidade a 82 km do Recife. Quando questionados, os pacientes entrevistados pelo UOL disseram preferir os profissionais de Cuba, que até o final do ano deixarão o Brasil após o fim do acordo de cooperação entre a ilha caribenha e o Brasil.
Em 2014, a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) informou que os médicos cubanos receberam nota 9 dos usuários do Mais Médicos em uma pesquisa que entrevistou 14 mil pessoas em 700 cidades do Brasil.[/b]
Maria Cecília ficou sem diagnóstico até ser atendida por um médico cubano
Maria conta orgulhosa que, em pouco tempo, o novo médico cubano conquistou toda a família, a começar pela sua mãe, que contraiu chicungunha. "Eles vão do fio de cabelo ao dedo do pé. Examinam tudo, perguntam tudo e atendem a gente a qualquer dia e horário."
Longe dali, em Colônia Leopodina (a 119 km de Maceió), a dona de casa Josicelia Maria da Silva, 36, desconfiou quando precisou levar seu filho a um médico cubano. "Fiquei com medo de não entender o que ele falava. Mas ele atendeu superbem, passou o exame e acertou o diagnóstico", diz. "Antes, os médicos só perguntavam o que o menino sentia, não examinavam e já passavam remédio. Eu gostei mais do cubano do que os da minha nacionalidade, e não sou só eu que falo, mas todos da comunidade."
"Salvou meu pai de um implante"
Morador de Igarassu, região metropolitana do Recife, Carlos Roberto de Araújo, 64, se livrou de uma cirurgia por pouco. Com artrite reumatoide, ele aguardava uma vaga no hospital para fazer um implante de prótese nos dois joelhos. "Foi aí que o doutor Arnaes Albriza [cubano] o atendeu", conta o filho, o autônomo Anderson de Souza Araújo, 34.
"Primeiro ele reavaliou os exames, tirou alguns remédios que meu pai usava e o fazia piorar e nos comunicou que era possível tratar com medicação injetável. Em uma semana a situação do meu pai mudou. É até emocionante falar sobre isso... Hoje meu pai anda sem precisar da ajuda de ninguém. E sem precisar da operação!"
O autônomo gosta de falar sobre "o lado humano" dos médicos estrangeiros. "Já cheguei a procurá-lo à meia-noite e ele me atendeu com boa vontade."
Ele conta que seu pai ainda andava quando iniciou o tratamento com profissionais brasileiros. "Por anos ele pagou médicos caros mesmo sem ter condições, mas o quadro do meu pai só fez piorar. Daí chega um médico de Cuba e em uma semana nos mostra que é possível viver bem. Eu não aceito mais entregar meu pai nas mãos dos nossos médicos."
A história de Araújo lembra a da aposentada Maria de Lourdes da Silva, 85. Com dores nos joelhos, ela começou a ser atendida por um médico cubano, que notou nos esquecimentos da idosa a possibilidade de que ela sofresse com o mal de Alzheimer. Os exames confirmaram o diagnóstico.
"Antes dele, levamos minha avó a outros médicos e ninguém nunca falou de Alzheimer. A diferença no atendimento é enorme em comparação com brasileiros", diz a neta e recepcionista Jannayra Silva Cavalcante, 33. "É uma dedicação que todos nós admiramos. Ele pode vir aqui em casa a hora que quiser. É de casa. Os outros médicos por aí não fazem caso pelo paciente."
Os moradores de Ouro Branco (a 237 km de Maceió), no sertão de Alagoas, só contam com um pronto-socorro na cidade vizinha de Santana do Ipanema, a 40 km de distância. Foi com alívio que a cabeleireira Ana Paula Limeira, 47, recebeu o único médico cubano que atende os moradores da cidade de 10 mil habitantes.
Carlos Madeiro/Colaboração para o UOL
Posto em Ouro Branco, Alagoas: apenas um médico cubano e pronto-socorro a 40 km
"Os cubanos fizeram uma diferença muito grande para a gente. Hoje, só ouvi lamentações [sobre o retorno dos médicos a Cuba]. As pessoas se perguntam o que vão fazer quando seus filhos ficarem doentes."
Maria Cecília --a que foi diagnosticada tardiamente com lúpus e fibromialgia-- mal consegue acreditar no rompimento de Cuba com o Mais Médicos. "A fibromialgia dói os ossos. Você acorda com dor de cabeça e com os órgãos todos doendo. É muito sério. Sem essa equipe, me vejo de mãos atadas, porque foi a única com a qual eu pude contar."
Aí você acha que a única maneira de aferir a qualidade do serviço prestado por estes profissionais é o Revalida. Mas o Revalida você sabe que não vai ser feito.
Será que a sua religião ideológica não está te deixando ingênuo? Sim, porque você acha que foi por causa do Revalida que Cuba chamou seus médicos de volta?
O pessoal do Bozo faz 3 exigências:
1 - Não pagar mais um centavo ao governo cubano.
2 - Médicos poderem trazer suas famílias.
3 - E o revalida.
Ora, eles não são tão ingênuos e sabem que a primeira exigência já era o bastante para tirar os cubanos daqui. Mas fazem mais duas sabendo que diante da primeira as outras se tornam irrelevantes. Não dá para enxergar a retórica nisso aí? Porque tá muito na cara.
Aí dizem: vejam, Cuba não abre mão de roubar seus médicos escravos, de fazer suas famílias de refém e não aceitam que seus médicos sejam testados porque isso é uma prova que são de péssima qualidade! Por isso esta ditadura malvada está deixando nossos pobres desvalidos sem assistência médica. Sim, porque é Cuba a responsável por isso, e não nós.
E você cai direitinho. Se o PT usasse uma retórica tão chulé quanto essa você não ficaria mais esperto?
Olha só, dava para acrescentar um quarto item na lista de exigências.
4 - Que todos os médicos cubanos passem a torcer pelo Flamengo.
Aí eles poderiam dizer que os cubanos tiraram os médicos por 4 motivos: o dinheiro, os familiares, o revalida e antipatia pela nação rubro-negra. Fez sentido pra você? Pronto, tá provado que os cubanos não podem ser aprovados no revalida e também odeiam o Flamengo.
Mas o que te garante que se a exigência fosse só o Revalida, Cuba não teria aceito? Porque você parece ter sido facilmente convencido disso:
Só há um meio objetivo de testar a qualidade dos profissionais cubanos, que é, justamente, aplicar sobre eles o revalida, mas o regime cubano não quer isso. Aliás, os médicos cubanos são os únicos profissionais estrangeiros que não precisam desse teste, mesmo eles sendo a maior parte dos médicos estrangeiros. Isso é um escândalo e mina ainda mais a confiança que se tem dos ex-governos do PT com esse programa de transferência de renda para Cuba.
Veja só: "SÓ HÁ UM MEIO DE TESTAR", e ainda acrescenta, "MAS O REGIME CUBANO NÃO QUER".
Mas a UFMG fez uma pesquisa que entrevistou 14 mil usuários do programa Mais Médicos em mais de 700 cidades, e os médicos cubanos receberam nota média 9 dos pacientes. Mas isso pra você não pode ser usado como indicativo, só o Revalida que evidentemente diante da exigência número 1 jamais eles se dariam ao trabalho de fazer mesmo...
Nota nove... Imagina que nota dariam os usuários do SUS em uma pesquisa.
E não há nenhum viés ideológico trabalhando nessa sua cabecinha, né?
Veja só:
A contratação de médicos cubanos também se deu por vieses ideológicos parecidos. Não se seguiu como política pública com base em uma relação custo/benefício, mas como um meio do governo brasileiro transferir dinheiro publico para o regime cubano. Bolsonaro quis acabar com isso, e não com o fim do programa, mas o regime de Cuba não gostou muito da ideia e decidiu mandar de volta para casa seus médicos. Se Bolsonaro conseguir resolver o problema, seja dando asilo a esses médicos, seja importando mais médicos de outros países ou contratando médicos daqui, estaremos numa situação melhor do que a que estávamos antes.
Diz isso sabendo que o governo primeiramente tentou de tudo para fazer o Mais Médicos só com profissionais do Brasil, que não foi possível, e que o profissional cubano sai por um custo infinitamente menor do que se tivesse que trazer médicos da Alemanha ou EUA (que não viriam de qualquer forma), a não ser que em vez de cubanos você prefira médicos do Togo ou da Micronésia ou qualquer destes pseudo-países que vão levar a embaixada para Jerusalém juntamente com o Brasil. Aí talvez saísse pelo custo de um cubano... E mesmo diante destes fatos você está totalmente convencido de que o único e real objetivo do programa Mais Médicos é só transferir dinheiro público pra Cuba.
E você acha mesmo que seu sistema de valores e as conclusões a que você chega não estão sendo mesmo influenciados por nenhuma ideologia?
O que Bolsonaro fez foi uma sacanagem. E sem exagero vai significar o desalento para milhares de famílias. Eu estava errado nas minhas contas: são mais de 8 mil médicos cubanos e um médico atende a mais mil pessoas. Portanto serão mais 8 milhões de brasileiros diretamente prejudicados. E sem os médicos a quem essa gente dava nota 9, tenta adivinhar qual será o número do partido no qual eles vão votar em 2022?
Não dá para engolir essa de Moral x Utilitarismo. O Bozo vai botar embaixada em Jerusalém, o Brasil mantém relações comerciais com todos os países do mundo, ajudando a economia destes países independentemente do que façam interna ou externamente. No Brasil opera qualquer tipo de empresa, como a Nike, que explora mão de obra infantil na Indonésia, e se quisessem colocar restrições por um motivo como esse os liberais seriam os primeiros a chiar e chamar de hipocrisia. O Brasil leiloa poços de petróleo para empresas que trabalham para desgraçar a humanidade, financiando campanhas mentirosas de desinformação sobre o aquecimento global e também políticos corruptos.
Só o que é imoral é propiciar assistência médica a milhões de pessoas a um custo acessível.