Euler,
eu de fato tenho um certo problema de síntese e já admiti várias vezes. Estou tentando melhorar, vamos ver se consigo agora. Mas não houve nenhum ad hoc, apenas o desenvolvimento de algumas ideias.
Basicamente o desenvolvimento do argumento de que você estaria fazendo duas avaliações equivocadas: uma de natureza ética, e outra objetiva.
A primeira quando você fez uma condenação moral ao fato do Brasil manter esse acordo com Cuba. E a outra a afirmação de que o objetivo real do acordo seria "transferir recursos públicos para Cuba".
E o que eu procurei demonstrar é que você foi levado a estes dois equívocos por influência dos seus vieses ideológicos. E então procurei mostrar como estes vieses ideológicos surgem, como trabalham na nossa cabeça, principalmente apresentando exemplos de contradições.
Mas sou realmente culpado de me alongar demais. O que é diferente de apelar para ad hocs, porque toda a argumentação do post se desenvolve no fluxo de construir e embasar a tese central.
Eu acho interessante, mesmo, você citar as relações de escravidão no interior do brasil, dado que o que a justiça caracteriza como trabalho escravo, entre outras coisas, são a "servidão por dívida" e " trabalho forçado (manter a pessoa no serviço através de fraudes, isolamento geográfico, ameaças e violências físicas e psicológicas)", comum tanto nas relações de escravidão dos nossos fazendeiros, quanto nas "relações de trabalho" entre os médicos cubanos e o regime cubano. Se considerássemos, ainda, que dos 2500 reais que eles recebem do regime Cubano, eles só podem gastar menos de 1000 reais aqui no Brasil, sendo que o restante, cerca de 1300 reais, fica retido em Cuba, teríamos mais um agravante que seria as precárias condições de vida que alguns médicos são submetidos por culpa desse contrato de trabalho abusivo imposto pelo regime de Cuba, já que nem todas as prefeituras têm dinheiro para arcar com a estadia, transporte e alimentação de médicos cubanos, e, por isso, alguns médicos são obrigados a se sustentarem com 1000 reais por mês.
Sobre isso eu teria que repetir todos os meus "ad hocs". Esta é uma analogia muito forçada, ideologicamente influenciada, com a qual a própria Organização Internacional do Trabalho, se preocupa muito com esse problema, não concorda.
Pedro, o único que está tentando justificar ideologicamente a escravidão, ou se preferir, a "Semi-escravidão" que caracteriza as relações de trabalho entre os médicos cubanos e o regime de Cuba, é você. É você quem diz "É, mas no socialismo, todo individuo deve à sociedade, pois é dela que eles tiram seu sustento", ou coisa do tipo, e não eu. Os seus Ad Hocs contra mim não vão ter nenhum efeito prático. É sério, eu não me importo com o que os americanos fizeram ou deixaram de fazer, para de inferir pensamentos ou opiniões que eu não tenho, você não me conhece. Não sabe quem eu sou, não sabes o que eu como de manhã, nem o que eu gosto de ouvir, nem o que eu faço para me divertir, e nem que horas eu vou dormir a noite. Eu acho graça de toda essa encheção de linguiça tua, mas para mim é só isso, encheção de linguiça. Não é como eu vá ter uma reflexão profunda depois de ler essa suas críticas, porque eu não vou ter. A carapuça não me serve.
Cara, eu só trouxe um exemplo claro, para embasar minha argumentação, de como julgamentos que parecem objetivos na verdade são muito mais influenciados por visões ideológicas do que as pessoas gostariam de crer. Não teve nada a ver com você se importar ou não com o que os americanos fazem, se você é contra ou a favor do Vietnam. A função do exemplo é mostrar uma situação análoga a que em determinados contextos alguém descreveria como trabalho escravo, não é considerada trabalho escravo. E isso vai depender do discurso ideológico condenando a primeira e justificando a segunda, embora objetivamente sejam idênticas. E só para lembrar, pra você ver que não há ad hoc e que eu sei onde estou querendo chegar, isto foi a propósito do que você postulou no comentário que eu estava respondendo.
Exatamente na sua primeira frase: a de que não interessava discutir o discurso ideológico envolvido, e sim a definição objetiva de escravidão. Aí, se você perceber dentro desse contexto, vai enxergar o sentido da coisa: o exemplo referido está demonstrando que nem mesmo pra você e pra ninguém, existe isso de "definição absoluta" fora do sistema de valores adotado e construído por uma particular ideologia.
Então fez a pergunta provocativa para suscitar a reflexão: porque ninguém nunca qualificou soldados americanos no Vietnam como escravos, se a definição de escravidão, como você afirmou, pode ser tão direta o objetiva?
Viu só?
Ideologia pura.
Mas isso é que eu estava demonstrando: é ideologia pura.
Eu sei muito do que acontece em Cuba, e não estava dizendo que Cuba é um paraíso e nem fazendo apologia do socialismo. Aliás, no post digo claramente que considero este sistema inviável.
Mas você está com tremenda má vontade com meus argumentos, por isso prefere não entender. O que é normal em discussões que se arrastam assim. Principalmente sobre política.
Não era uma defesa de Cuba ou do socialismo. Eu só estava mostrando como perante o arcabouço ideológico socialista o tipo de julgamento que você está fazendo ( sobre o status do trabalhador cubano ) é sem sentido. Assim como há um arcabouço ideológico que leva as pessoas a verem milhões de soldados serem mandados para uma gerra para defender grandes interesses econômicos como um dever para com a pátria, e não trabalho escravo.
Em síntese: o erro é que você está usando o seu referencial ideológico para qualificar o que acontece em uma sociedade estruturada sob outro referencial ideológico. E este é um erro que as pessoas percebem facilmente quando vem de lá pra cá, e um socialista aponta coisas que ele considera absurdas e inaceitáveis em uma democracia capitalista.
Existem evidências de que nosso valores sociais não são um mero constructo social, pois surgiram e se desenvolveram durante a evolução de nossa espécie, sendo também compartilhado por outros animais sociais:
Isso ocorre dentro de um vasto "range" de possibilidades morais e a longa História está aí para provar. Apresente o código de Hamurabi para qualquer homem ocidental moderno e ele ficará chocado.
Poxa, depois daquele vídeo do jornal da Band, e desse teu texto, fica até vergonhoso você insinuar que é justo eu quem tem algum antolho ideológico...
Cara, se você está se referindo ao vídeo do post do Entropia, apenas sugiro que você leia com atenção e cabeça aberta o post que eu respondi a ele, onde demonstro minuciosamente que uma pessoa que conseguiu ser ludibriada por aquela reportagem e chegar, a partir dos fatos apresentados na matéria, a conclusão que o objetivo do programa Mais Médicos era "transferir recursos públicos para Cuba", essa pessoa não está com antolhos ideológicos. Tá é completamente cega mesmo.
Voilá.
Não é que você descobriu rápido porque, e principalmente, os governos petistas financiavam obras nesses países? Seria isso algum projeto criminoso de poder, como diria o Villa?
Sim. E espero que tenha servido para você descobrir também.
Porque no post anterior você repetia a ladainha de muitos outros de que o objetivo "era transferir recursos para ditaduras bolivarianas". Uma crença ideologicamente construída e que não parece ter nenhum embasamento quando você não examina seletivamente os fatos.
Sim, parece que agora você entende. Espero. Financiavam porque recebiam propina, algo que aconteceu não só em governos petistas. Financiavam para encher os bolsos, e para arrumar dinheiro para continuar no poder o que significa continuar a encher os bolsos.
Poxa, bicho, quase que você chegou lá. Uma pena, mesmo, que alguém tão inteligente não veja que esses esquemas não eram meros casos ordinários de corrupção, mas sim uma rende de interfinanciamento entre o governo petista e republiquetas para se manterem no poder. Isso não é ordinário Pedro, isso é sofisticado, requer a participação (comprovada pela lava-jato) de muitas pessoas importantes e graúdas, de grandes empresários e de muitos políticos de diferentes países. Não seja tão cego assim...
Mas eu não estou sendo cego. Não há nada aí que eu não veja.
Os esquemas eram sofisticados, eram grandes, mas quando digo que era "ordinária" corrupção me refiro ao objetivo ordinário da corrupção que é receber dinheiro. Receber dinheiro para permanecer no poder e receber mais dinheiro.
Cego não, mas míope é quem conseguiu ver nisso uma conspiração olaviana para implantar a Grande URSAL no continente.
É isso que eu questionei. É isso que os dados que apontei questionam.
O objetivo do texto é oferecer um contraponto a essas opiniões extremamente positivas de que o sistema Cubano é uma maravilha, e para isso, pasmem, ele cita e até dá links para essas matérias extremamente otimistas sobre o sistema Cubano, como, por exemplo, esses aqui: [1],[2],[3]
Aliás, a tese do autor é a de que os três fatores para que Cuba tenha um alto desempenho no ranking da OMS não são indicativos da qualidade do sistema de saúde Cubano. Os três fatores, neste caso, são: Alto número de Médicos, baixa mortalidade infantil e alta expectativa de vida. A parte que eu linkei do Texto é sobre a razão de Cuba ter tantos médicos, resumida nesta parte do texto:
Mas na sua citação não havia nenhum link ou referência. Apenas afirmações gratuitas.
Por sua incrível lógica, deveríamos financiar o uso da fosfoetalonamina porque alguns pacientes que a usaram, também a aprovaram.
Me desculpe mas agora você forçou a barra. E mostrou, para provar mais uma vez a minha tese, o quanto você está ideologicamente inclinado a crer que os médicos cubanos são uma porcaria.
A minha lógica não é incrível mas a sua pretensa analogia é surpreendente.
Tente trabalhar então com a seguinte analogia: Em vez de "porque ALGUNS pacientes aprovaram", suponha que você fez uma pesquisa com 14 mil pacientes que trataram câncer com fosfoetalonamina e eles deram NOTA 9 para esse tipo de terapia. Qual você acha que seria a chance, realisticamente falando, de um mero placebo receber esta altíssima aceitação em um universo tão grande de pacientes pesquisados?
Responda honestamente. Se a sua ideologia o permitir.
A própria natureza do contrato. Os médicos cubanos foram contratados como médicos Intercambistas, como estudantes. Foi um meio que o governo Brasileiro teve para que os médicos cubanos burlassem o revalida, pois estando aqui na condição de médicos intercambistas, tudo o que eles precisam para atuarem no país é um Registro do Ministério da Saúde. Antes, havia a necessidade de que o médico intercambista comprovasse a habilitação profissional para exercício de medicina no exterior (Art 7), no entanto, Dilma fez novo decreto em que esse atestado de habilitação de medicina no exterior não fosse mais necessário, bastando que o ministério da saúde emitisse o registro.
Suspeito, não?
Não. Porque conforme já demonstrei no post ao Entropia, a contratação de médicos cubanos foi feita a toque de caixa, já que o programa foi sabotado pelos médicos brasileiros. Então isso pode ter sido um mero detalhe para desburocratizar e agilizar a operação.
Pode ser também que, por serem treinados em um paradigma de Medicina bastante diferente, os médicos cubanos não se saíssem bem no nosso exame. O que pode muito bem significar quem um médico brasileiro também teria a mesma dificuldade se submetido a alguma espécie de "revalida" cubano.
Houve época em que os dentistas brasileiros, que eram os profissionais deste tipo mais solicitados e bem pagos em Portugal, considerados pelos próprios portugueses muito melhores que os próprios profissionais de lá ( a exemplo do que ocorreu com os médicos cubanos aqui ) também tiveram este mesmo problema quando Portugal quis exigir uma espécie de "revalida" destes profissionais.
Talvez seja só a sua tendenciosidade te levando a ver tudo que parece corroborar sua ideologia como suspeito.
Deixa eu deixar mais claro pra ti, que por cegueira (ideológica?) não viu uma certa palavrinha:
SÓ HÁ UM MEIO OBJETIVO DE TESTAR A QUALIDADE DOS PROFISSIONAIS CUBANOS.
Entendeu agora?
O restante do teu post o entropia já respondeu por mim.
Mas o alto nível de aprovação massiva dos pacientes é um meio ainda mais objetivo, uma vez que já demonstrei porque sua analogia descabida com a aprovação da pílula do câncer por uma meia dúzia não se sustenta.
Euler,
Eis a questão objetiva e que eu já coloquei em uma linha do tempo no post que escrevi ao Entropia.
1 - Criaram um programa Mais Médicos e um edital para que profissionais brasileiros se candidatasse às vagas.
2 - Dependendo de para onde iria, o total de proventos poderia chegar na época a 30 mil reais.
3 - As vagas poderiam ter sido preenchidas quase exclusivamente por brasileiros, se assim quisessem. Mas em vez disso organizaram, via redes sociais, um esquema de sabotagem ao programa.
4 - Ao que parece, eles viram que o governo Dilma tinha uma boa verba para investir em saúde e estava disposto a pagar razoavelmente bem, mas para que médicos atendessem populações carentes e sem acesso a tratamentos. Porém eles não queriam ir para estes lugares e então acharam que seria uma boa ideia sabotar o programa, porque assim talvez o governo gastasse todo esse dinheiro contratando estes mesmos médicos brasileiros para ficaram em Ipanema, Av. Paulista, Praia da Boa Viagem no Recife, em Florianópolis, Goiânia, etc... Ou seja, acharam que iriam sabotar o programa para depois pegar estes empregos sentados no pudim.
5 - Apenas 11% das vagas foram preenchidas e aí o jeito foi trazer os cubanos. Veja bem, se um brasileiro custava 30 mil reais para mandar a certos lugares, quanto custaria um médico americano ou alemão? O cubano saía por 10 mil indo até pro Acre mesmo que o Acre nem exista. Além disso não se pode negar que poder contratar por atacado com a agência cubana seria infinitamente mais simples que lançar editais no exterior para atrair individualmente milhares de médicos. Caso houvesse dinheiro pra isso. Então, tecnicamente, parecia uma solução muito razoável e a experiência comprovou que sim. Mas o maior
pecado é que esta solução foi do PT, então é claro, por razões ideológicas não poderia nunca ser boa. Assim como a Lei Rouanet tem que ser uma porcaria ( apesar de ser do Collor ), o Paulo Freire tem que ser um débil mental apesar de ser o terceiro intelectual mais citado em monografias acadêmicas NO MUNDO na área de Humanas, e assim por diante...
6 - Porém, no meio dessa birrinha de interesses políticos, existem pessoas reais com histórias reais e problemas reais, dramas reais, como os que você pôde ler na reportagem que eu citei. E o programa Mais Médicos foi uma necessidade para todas estas pessoas, e muitas agora estão preocupadas com as incertezas do futuro. E o prognóstico realmente não é bom.
7 - Então o que o Bolsonaro fez foi uma tremenda sacanagem. Porque, como você mesmo disse, com ou sem Mais Médicos, Cuba vai continuar lá do jeito que está, pelo menos até quando o regime puder se manter e não é o Brasil que está sustentando Cuba. Mas eram os médicos cubanos que estavam fazendo a diferença na vida não de milhares, mas de milhões de pessoas.
8 - Um psicopata indiferente como Bozo faz seu jogo de cena para seu eleitorado de fanáticos. Os bolsobobos aplaudem.
E milhares de pessoas morrem por falta de assistência médica básica.
É uma imbecilidade, e foi isso que eu tentei demonstrar com o que você considerou ad hocs.
Que as objeções de natureza objetiva não se confirmam: os médicos estão fazendo um bom trabalho e a população expressa nível alto de satisfação.
As objeções morais são casuísticas e hipócritas, principalmente porque os que fazem muita força para criar argumentos morais parecem ter muito pouco apreço pela qualidade de vida de tantas pessoas afetadas.