Os sistemas divergentes precisam ser vencidos quando esses usufruem da totalidade de suas forças e liberdade, sem nenhum tipo de constrangimento. Os debates e as divergências entre os grupos, portanto, é coisa normal. O que não é normal é que eles se atirem pedras. A verdade precisa ser proferida, e não defendida.
Como funciona isso? Como é que é preciso haver "vitória", ao mesmo tempo que "a verdade precisa ser proferida, e não defendida"? O que isso significa afinal?
Até evidência em contrário vou considerar como palavra de ordem, lema motivacional sem um significado verdadeiro.
Eu me referi à defesa apaixonada, que toma uma ofensa à doutrina ou aos pontos de vista como uma ofensa pessoal e que partem para o bate-boca ou até mesmo para processos judiciais para impedir uma crítica que tenha sido considerada ofensiva. Talvez haja até uma palavra melhor do que "defesa" para expressar essa idéia, mas não estou encontrando. A doutrina espírita não precisa desse tipo de defesa. Claro que ela precisa da defesa argumentativa, que foi onde eu disse que "a verdade precisa ser proferida". É que há duas conotações para a palavra "defesa", uma boa e uma ruim, e quando eu disse que a verdade não precisa ser defendida, eu me referi à defesa na conotação ruim, que descrevi acima.
Allan Kardec uma vez escreveu que "o ridículo só mata o que é realmente ridículo", pois caso contrário, ele se volta contra quem o derramou. Somente o obeso se ofende por ser chamado de "gordo", porque se ele for magro, o ridículo se volta para quem o chamou de "gordo" (caso não estivesse brincando, claro).
Por exemplo, você afirmou que o Espiritismo encoraja a atitude de tentar sufocar a oposição, quando eu disse que o máximo que o Espiritismo reclama pa si é o direito de pensar à sua maneira, e que recomenda que os grupos espíritas façam o mesmo. Ora, o Espiritismo é uma doutrina codificada. Tudo que ensina está escrito e é de domínio público, para espíritas e não espíritas. Hoje é possível baixar da internet todas as obras de Kardec e, portanto, é possivel possuí-las todas sem gastar um centavo e não há como manifestar ignorância. Então é fácil: basta citar aqui o trecho dos textos de Kardec que fazem apologia a tais atitudes de sufocar a oposição. Eu já coloquei um trecho onde Kardec afirmava que quanto mais se multiplicassem os grupos menores, melhor seria para os estudos e que os grupos deveriam buscar unidade de vistas. Não está escrito lá para atirar pedras no outro grupo que pensa diferente, nem para odiá-los, nem para processá-los, etc... Portanto, o que deve fazer é trazer uma citação que contradiga isso, caso o contrário, o ridículo se volta contra você mesmo, e para mim já há uma satisfação de que todos possam ver isso. Por isso eu não preciso me fazer de ofendido e sair numa defesa apaixonada.
Sob o ponto da verdade, só há duas opções. Ou vocês estão certos sobre o que dizem da doutrina espírita (incestuosa, racista, autoritária, impositiva, avessa à renovação, imoral, e outros adjetivos que já ouvi), ou estão errados. Li um dia alguém que escreveu que eu jogo só na defensiva. Ora, e eu preciso jogar no ataque se todos os dias eu vejo manifestações de ignorância pública e espontânea a respeito da DE, e que vão se transformar em ridículo e em vergonha em futuro próximo? Eu só preciso deixar demonstrado que as acusações são vãs e o ridículo imediatamente se volta contra quem proferiu a calúnia, ainda que o caluniador mesmo não perceba. Só os tolos é que não percebem que foram refutados e se acham ilesos só porque não sofreram ataque direto algum em seu sistema de crenças, ou porque obtiveram a aprovação de uma maioria condescendente, ou ainda porque não se sentiram obrigados a se retratarem publicamente. Eu me rio sozinho... Se não se retratam hoje, se retratarão amanhã.
Mas enfim, ou vocês estão certos ou errados. Se estão certos, eu não deveria ficar ofendido contra quem tenta me abrir os olhos; isso seria dar um tiro no próprio pé. E se estão errados, fazem papel de tolos e eu tenho mais motivos para rir do que me sentir ofendido, pois todos, sem exceção, envergonhados, terão que admitir em futuro próximo que estavam errados. Certa ou errada a crítica, ou até a ofensa à doutrina, não há motivos sérios para se sentir ofendido; a menos que se queira implicitamente dar razão à crítica, como no caso do obeso chamado de "gordo".
E há também um inegável fato empírico: praticamente todos os casos em que já vi espíritas levantando a voz para defender a "honra doutrinária", para mover processos contra alguém que disse que a doutrina era demoníaca ou satanista, eles próprios são os maiores deturpadores da doutrina. Para me unir a eles e mover um processo contra quem quer que seja por difamação da doutrina espírita, eu precisaria mover um processo contra eles próprios para que parassem igualmente de deturpar os princípios doutrinários. Como não sou a favor nem de uma coisa nem de outra, fico na minha, me limitando a argumentar porque penso que a crítica é equivocada ou mentirosa. Os falsos irmãos e/ou os amigos inábeis fazem mais mal à doutrina do que um inimigo declarado.
É nesse sentido que eu disse que a verdade deve ser proferida, mas não defendida.