Vamos colocar um exemplo prático então: O Atheist abriu o tópico "Fora da Caridade não há Salvação" com um artigo que ele dizia "explicar muita coisa". Esse "explicar" era era só um achismo dele ou a experiência em si pode ser considerada válida cientificamente?
Há um método claro, há resultados mensuráveis e comparáveis, há meios de repetir e fazer variações do experimento e das observações.
A experiência tem portanto valor científico.
E mais: Se pudéssemos repetir a mesma experiência com 1 milhão de pessoas, de diversas culturas diferentes, seria certo e positivo que os mesmos resultados seriam obtidos, sem uma única exceção sequer?
Claro que não seria "certo e positivo", pelo menos não antes de se fazer tal experiência.
Alguém ficaria chateado se eu colocasse em dúvida a credibilidade dos pesquisadores, no sentido em que eles poderiam ter manipulado as experiências? Quem mais realizou aqueles testes?
Talvez alguém fique, não sei, mas não vem ao caso. Se os resultados não puderem ser verificados independentemente então não há valor científico nem credibilidade neles.
Vejam bem, eu não estou colocando em dúvidas nada. Eu creio na credibilidade dos pesquisadores e na honestidade da exposição dos resultados. Mas se eu quisesse levar o meu ceticismo ao extremo para evitar que o meu ponto de vista prevalecesse, eu o poderia. Quem perderia com isso? Somente eu mesmo.
Isso não é "extremo" ceticismo, é apenas uso legítimo do direito de questionar resultados de experimentos alheios.
Não entendi a parte do "quem perderia com isso".
Parece que você está nos convidando a estar abertos para uma credulidade que você considera moderada, supostamente uma alternativa mais saudável para o "extremo ceticismo". Me desculpe se entendi mal.
Se isso foi realmente o que você quis dizer, bom, tenho de insistir mais uma vez que não é assim que funciona. Ciência não é a mesma coisa que socialização e apoio mútuo.
A ciência perde quando o questionamento sensato é evitado, não quando ele é buscado e exercido.
E vocês, o que dizem sobre o artigo? É científico ou não?
Pode em tese ser fraude, trote ou um experimento mal conduzido.
Mas como os resultados da ressonância magnética podem ser verificados em experimentos similares independentemente, então é provável que seja sim um trabalho com valor científico. A fonte foi citada, o teor integral do artigo pode ser obtido, a metodologia pode ser consultada e reproduzida. Não é preciso confiar na palavra ou seriedade dos pesquisadores ou do articulista, pois é possível (e recomendável,
principalmente se os resultados tem alguma importância ou, melhor ainda, uso prático) repetir o experimento e realizar variações que permitam expandir, corrigir e refinar as hipóteses envolvidas e os resultados observados.
Se é, que garantias tenho que poderão ser repetidas com êxito em qualquer circunstância?
Nenhuma. Mais um motivo para que se façam experimentos de verificação.
Se não é, por que foi usado como evidência de que a caridade é interesseira?
O artigo não diz isso, nem foi esse o objeto da pesquisa; era um estudo sobre motivação, decisões e ativação correspondente de áreas do cérebro.
Caridade e
interesse são conceitos bem mais abstratos e não são usados pela neurologia.
O estudo
sugere que certos mecanismos neurológicos estão estreitamente relacionados ao que se costuma chamar de caridade, e também que certas sensações que podem ser consideradas interesseiras estão ligadas a esse impulso. É uma observação interessante e que sugere pesquisas adicionais, e pode (ou não) ter muita aplicação prática futura no tratamento de certas psicopatologias.
O que esse estudo não faz é dizer que caridade é interesseira, muito menos que é isso o que sempre acontece. Isso já é extrapolação para outro nível conceitual e outras disciplinas bem distantes da neuroquímica.
Em outras palavras, o estudo
é evidência de que a motivação do que se chama de caridade é em última análise autocentrada, "egoísta". Mas não faz juízos de valor a esse respeito (nem deveria), e não é mais do que o passo inicial para provar (ou contestar) essa conclusão.
Tanta cautela pode ser frustrante para quem gosta de certezas e respostas imediatas, reconheço, e é inevitável que tenhamos nossas convicções pessoais bem além do que a certeza científica autorizaria. Isso é natural e não é em si um problema, desde que tenhamos clareza do grau de confiabilidade de nossas convicções.
E, claro, que estejamos prontos a aceitar que os fatos se sobrepõem às convicções.
Se estudos posteriores, verificados várias vezes, mostrarem que os resultados deste citado pelo Atheist estão equivocados ou incompletos, então os ajustes são feitos, sem remorso ou constrangimento. Isso é completamente normal e parte natural do processo de busca da verdade científica; mas não é algo feito
arbitrariamente; quaisquer conclusões obtidas devem ser validadas pelos resultados experimentais ou vistas com desconfiança, independentemente dos apegos emocionais que possam existir.