"Ó, Estradivário a esse preço, só na minha mão. E aproveita agora que daqui a pouco já tem outro dono. Não tem tempo de ir atrás de consultoriazainha não, parça, e nem precisa, né? Isso aqui é responsa, legit, 100% original, eu nem ia tentar te enganar vendendo uma rabeca do Paraguai, né? Sei que você não é trouxa. O negócio aqui é na base do respeito. Olha, para ver como sou legal, fecha comigo agora mesmo e eu baixo de 30 mil para 23 mil, mas tem que ser agorinha mesmo. Mais tarde já não vou ter mais ele".
Há "transações" que chegam a um nível de avacalhamento tão grande que depois de passada a indignação acabam virando piadas.
A maior importadora brasileira de instrumentos artesanais só vende instrumentos falsos. Não é a maioria, são todos falsos.
Uau, qual é a importadora?
Falso no sentido de vender um instrumento com a assinatura de Fulano mas que na verdade foi fabricado por Beltrano?
Ela vende instrumentos "de autor Fulano", sendo que na verdade é feito em uma oficina chinesa onde o Fulano apenas coordena a fabricação e mal põe a mão nos instrumentos. Outra parte dos produtos são comprados de fábricas chinesas e têm só a etiqueta interna trocada, sem sequer modificarem o verniz ou os acessórios removíveis (cravelha, queixeira, etc.). É engraçado porque o modelo mais popular entre estudantes no Brasil é o modelo de fábrica Eagle VK-544, que tem um conjunto bem característico de acessórios e também uma coloração de verniz bem típica. E aí eu sempre vejo instrumentos "do autor Fulano" com exatamente o mesmo verniz e o mesmo conjunto de acessórios desse Eagle VK-544. E meus amigos luthiers confirmam a identificação com os detalhes mais minuciosos, é exatamente o mesmo instrumento com a etiqueta trocada.
Não vou dizer o nome da importadora aqui, no máximo por MP.
Eu poderia passar horas contando essas histórias absurdas. Tem outro caso clássico do mesmo falsário que eu citei anteriormente que vendeu para o ator da Globo o instrumento de luthier que não existia. Esse mesmo cara tem um site onde vende os instrumentos, onde ele coloca descrições falsas, mas bem específicas. Por exemplo: "Violino Guarnierius Cannone de 1742", violino Steiner "Edward de 1912"","Violino Stradivarius Betts de 1704, etc." Essas identificações não apenas descrevem a autoria e o ano, mas definem um instrumento único. Não existem dois Guarnierius Cannone de 1742, não existem dois Stradivarius Betts de 1704, e assim por diante.
Posto isso, o fato é que havia um determinado instrumento anunciado no site com essas mesmas características. Não me lembro mais qual era a descrição, mas era algo nesse estilo "Violino Fullanus King de 1857". Acontece que por algum "bug" no site ou coisa parecida, por coincidência dois compradores se interessaram por esse mesmo instrumento simultaneamente e o site concretizou a compra para ambos, ao invés de concretizar apenas para o primeiro e bloquear para o segundo. Diante disso, nosso herói falsário não se abalou e vendeu um "Violino Fullanus King de 1857" para cada comprador, mesmo diante da limitação de só existir um no planeta. Aparentemente os dois compradores nunca se encontraram para falar sobre seus instrumentos, para felicidade do estelionatário.