Êta assunto polêmico da porra
Pilotos e governo divergem sobre segurança da pista de CongonhasProblemas seriam pista lisa e muito curta.
Infraero diz que acidente da TAM não tem relação com a pista.
Fabio Schivartche Do G1, em São Paulo
A principal reclamação dos comandantes das aeronaves é que
a pista está muito lisa -"um sabão", dizem. Eles argumentam que foi justamente a falta de atrito que levou um avião da empresa Pantanal a derrapar na segunda-feira (16), um dia antes do acidente com o avião da TAM.
A Infraero nega que
a pista principal de Congonhas tenha problemas. E diz que ela estava liberada no dia do acidente (a última terça-feira), mesmo sob chuva, porque apresentava condições adequadas de pouso e decolagem.
Um sinal das recentes dificuldades que os pilotos enfrentam para pousar em Congonhas são os comunicados por rádio que recebem da torre de controle nos dias de chuva: "Livre pouso:
pista molhada e escorregadia".
Dizem também que, por precaução, solicitaram à Infraero horas antes do acidente da TAM uma nova verificação das condições da pista.
Os pilotos apontam ainda problemas crônicos de Congonhas, como o fato de a pista ser curta (tem 1.940 metros de extensão), ter um tráfego aéreo muito intenso (o que aumenta a pressão sobre o piloto nas manobras de pouso e decolagem) e
não haver "grooving" (ranhuras na pista que ajudam a escoar a água e reduzem a chance de os aviões deslizarem em dias de chuva).
"
Tenho ouvido reclamações intensas dos pilotos nas últimas semanas", disse ao G1 Carlos Camacho, diretor de segurança de vôo do Sindicato Nacional dos Aeronautas. "
Congonhas é internacionalmente conhecida como uma pista crítica, principalmente nos dias de chuva. É por isso que defendemos desde março de 2006 que se interdite o aeroporto sob chuva", afirma Camacho.
A reportagem do G1 conversou com três pilotos que semanalmente pousam e decolam de Congonhas. Eles não quiseram se identificar por temer retaliações das empresas, mas relataram as dificuldades em operar nesta pista -principalmente após a reforma, entregue em 29 de junho deste ano.
Um deles contou que nos últimos dias está tentando tocar com as rodas de seu avião antes do ponto em que tocava até o ano passado. Assim, ele consegue um espaço maior para frear a aeronave com mais segurança. "
Não sei o que fizeram, mas a pista parece mais lisa do que antes", afirmou.
A Infraero (empresa do governo federal que administra os aeroportos brasileiros) rebate as críticas dos pilotos com dados técnicos. Diz que
a pista está bem melhor após a reforma e muito mais segura. "Corrigimos e melhoramos a declividade da pista", afirma Armando Schneider Filho, superintendente de engenharia da Infraero.
Atrito em CongonhasO ponto principal nesta discussão se dá em relação ao chamado "coeficiente de atrito" da pista. É uma medida que revela na prática o quanto o asfalto de Congonhas resiste (e por reação o quanto ele impulsiona) ao toque com os pneus dos aviões que estão decolando e aterrissando.
Num pouso, em que estão operando o reverso (as turbinas em direção oposta ao do deslocamento) e o freio do avião, é o atrito entre o asfalto da pista e a borracha do pneu que ajuda a aeronave a parar.
Os índices aceitos internacionalmente para o coeficiente de atrito estão entre 0,42% e 0,50%.
Segundo a Infraero, Congonhas tinha, antes da reforma, índices muito próximos aos mínimos exigidos. E após a reforma teria passado a obter índices bem maiores.
Na última quinta-feira, por exemplo, o coeficiente de atrito na pista principal de Congonhas foi, em média, de 0,70%. É maior do que o exigido, mas menor do que o proposto pela própria empresa antes da reforma.
Em comunicado divulgado pela Infraero à imprensa em outubro do ano passado, está escrito que um dos objetivos da reforma era "melhorar as condições operacionais aumentando o coeficiente de atrito na pista" para um índice de 0,80%.
Segundo Schneider, da Infraero, a meta de 0,80% será atingida em breve.
Opinião de especialistasMas especialistas no assunto entrevistados pelo G1 questionam a posição do governo.
Argumentam que a pista está mais lisa por causa principalmente do material usado no recapeamento e da falta de manutenção. E dizem que a tendência da pista com o uso é emborrachar ainda mais, o que reduziria o coeficiente de atrito -diferentemente do que afirma Schneider.
Cada avião deixa mais de 1 kg de borracha de seus pneus na pista em cada pouso. E essa borracha vai "tapando" as rugas do asfalto, deixando-o mais liso -e conseqüentemnte mais escorregadio. Como Congonhas recebe mais de 700 vôos diários, o acúmulo dessa borracha se dá em um curto espaço de tempo.
A última vez que o aeroporto recebeu um tratamento para "desemborrachar" a pista foi no final do ano passado. Utilizou-se, na ocasião, um texturizador de pista: o uso de um jato de granalha de aço que remove a borracha do pavimento.
"Como o movimento em Congonhas é muito grande, é preciso desemborrachar a pista com mais assiduidade", disse um especialista no setor -que inclusive já trabalhou para a Infraero- que prefere não se identificar.
Outro técnico que já trabalhou em obras anteriores na pista de Congonhas disse que o tipo de asfalto usado em Congonhas tem um coeficiente de atrito adequado quando o tempo está seco. "Mas se chover fica muito liso. E há estudos internacionais mostrando que para alguns tipos de pavimento a pista molhada reduz muitas vezes o coeficiente de atrito", afirmou.
Schneider rebate novamente essas críticas. Diz que as medições são feitas em pista seca e molhada. Para tanto, os técnicos aspergem água no asfalto antes de fazer a aferição. "E só vamos fazer nova texturização da pista quando for necessário. Não é o caso agora", afirmou o superintendente de engenharia da Infraero.
Sobre a falta de "groovings" na pista, Schneider diz que já estava previso no cronograma a instalação dessas ranhuras nas próximas semanas.
http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL73439-5605,00.htmlCongonhas precisa de 0,80% de atrito por causa do pouco espaço para frenagem?