Não obstante este triste caso, vemos menos negros em qualquer área do setor público onde admite-se por concurso (= contratação por mérito) do que seria esperado caso a discriminação racial fosse fato predominante no setor privado.
Mas vê-se mais, muito mais, negros no setor público (onde se exige mérito) do que negros no setor privado. O que explica essa disparidade, senão racismo?
Não há o equilíbrio automático que você epera por inúmeros outros fatores, mas já há mais negros que a média do setor privado, o que evidencia que o racismo - mesmo que não seja a coisa extravagante que a palavra sugere - se faz sentir no setor privado.
Fosse a discriminação por raça rotina, e não em menor grau, como estou sugerindo, veríamos entre concursados do setor público uma presença muito maior de negros do que a que existiria no setor privado.
E proporcionalmente é assim que é mesmo.
Não vejo advogados negros quando vou ao fórum, mas tem lá 3 escreventes negros (entre os 9: + de 30%), sendo relativamente bem remunerados (R$ 2.500,00 por mês). Não vejo UM funcionário negro nas agências do Banco Real e do Banco Itaú, que contratam por currículo, mas tem lá, na Caixa, que contrata por concurso, uma grande porcentagem de funcionários negros.
E não está nada claro que o fato de a média dos negros ser bem mais pobre que a média dos brancos seja conseqüência de um racismo atual. Surge a pergunta: por que a média dos negros continua sendo bem mais pobre que a média dos brancos mesmo todos sendo iguais perante a lei há muito tempo?
Está escrito num pedaço de papel que todos são iguais perante a lei, e você clama pelo poder que isso teria de mudar a realiadade, mas está aqui neste tópico defendendo, mesmo que parcialmente, um peudodireito de discriminação privada.
Todos são iguais, todos são homens, não existe negro, branco, asiático, índio, só existem
homo sapiens, não existe o pseudo direito de discriminar IGUAIS.
Acaba a discussão.
Penso que isso é reflexo não de um racismo que persiste há séculos, mas da falta de mobilidade social que sempre existiu aqui. Ora, mobilidade social só ocorre onde há razoável liberdade econômica e onde patrimonialismo e corrupção existem em graus pequenos.
O Brasil nunca foi um país que se destacou por isso. Só com isso há desenvolvimento e mobilidade. Com falta de mobilidade, não surpreende a persistente disparidade econômica entre as raças.
Os fatores se somam. Como eu disse, o racismo e a hipossuficiência econômicas são processos que se auto-alimentam.
Não há a KKK no Brasil, mas há a hipocrisia racista arraigada culturalmente, que é muito mais nociva.
Está aí um ótimo exemplo de como a discriminação institucionalizada gera revolta. Toda época de vestibular tem manifestação anticotas que acaba em pancadaria.
Antes você comentou que seu ponto não era tanto a discriminação em si, mas mais a liberdade de divulgá-la. Até imaginei uma empresa que só contrata pessoas de uma etnia sem admitir ser racista e você disse que não acharia tal empresa passível de sanções.
Não, não, não.
O Direito Penal não é um instrumento de moralidade. Não há pena sem previsibilidade legal, nem pode haver previsibilidade legal de ações genéricas. O Direito Penal num Estado Democrático de Direito é um Direto da CULPABILIDADE e não há como aferir a culpabilidade de alguém que não a externaliza, de modo que não sou idiota de ficar pregando punições a pensamentos.
Ora, como pode me acusar de defender o "racismo institucionalizado" se meu ponto difere do seu unicamente no que se refere à legalidade da externalização da discriminação?
Exatamente pelo que disse acima e pelo não menos importante fato de que a nossa sociedade é construída sobre os princípios da liberdade, da igualdade e da fraternidade, e se auto-intitula pluralista.
Se fosse "racismo institucionalizado" o que eu defendo, também seria o que você defende.
E o que eu defendo?
Mas racismo institucionalizado é a lei diferenciar as pessoas pela cor da sua pele (cotas e estatuto da "igualdade").
Instituir tal tipo de cotas pela cor da pele é exatamente legalizar a discriminação.
Qual a diferença entre um empresário dizer: "negro, aqui você não entra" e uma universidade dizer "branco, nessa porcentagem de vagas você não entra"?
Como você pode ser contra as cotas raciais e ser a favor da discriminação aprovada no mundo privado? São a mesma merda.
Quando se fala em "favorecer" os negros não vejo nenhum conformista fiel devoto do dragão invisível que regula o mercado falar "deixa quieto que o mercado há de se auto-regular".
Auto-regulação do mercado pressupõe um estado pequeno que não se meta em coisas deste tipo.
Auto-regulamentação do mercado pressupõe que os indivíduos sejam autômatos sem paixão que obedeçam aos postulados dos capitalistas utópicos.