Eu não conhecia esta abordagem de colocar seres humanos e todas os seres em um mesmo grau de evolução.
E não é disso que se trata. Não é que todos os seres vivos estejam em um mesmo grau de evolução; é que não há condição de compará-los sem cair em franca arbitrariedade ou se ater a critérios óbvios e específicos (por exemplo, alguns são vertebrados e outros não).
A comparação biológica que Popper utiliza para embasar a falseabilidade é bastante objetiva e nada arbitrária. A linguagem humana é superior e um produto da fisiologia da espécie. É uma comunicação sem igual entre os seres vivos.
Acho estranho você citar Popper agora. Este assunto não parece ter muito a ver com ele. Pode citar alguma obra ou texto específico para eu me orientar melhor sobre o que ele pensa neste campo?
Estranho é não citar Popper, já que o tópico é sobre ele. E o assunto tem tudo a ver, já que ele usa esse argumento biológico para embasar a falseabilidade. Tem um link no post inicial, que é o texto que estou usando como referência para o tópico.
O ser humano não faz fotossíntese melhor do que as plantas, não sobrevive sem nutrição melhor do que os vírus, não se regenera como as planárias, não respira na água como os peixes, não tem doze tipos de cones (células sensíveis a cores) como alguns animais. Por mais orgulho ou gratidão que se possa ter pelo que PODEMOS fazer, é um fato bastante objetivo que muitos outros seres vivos tem vantagens específicas sobre nós.
Isso sim é critério irrelevante.
Poder se sustentar sem predar outros seres vivos, sobreviver a traumas físicos severos e em uma variedade de ecossistemas e perceber o mundo com riqueza de informação são critérios irrelevantes para decidir qual espécie é "mais evoluída", mas a capacidade de criar tecnologia é um critério relevante?
Como chegou a essa conclusão?
A tecnologia é um meio e não um fim.
Na economia, a tecnologia é o estado atual de nosso conhecimento de como combinar recursos para produzir produtos desejados (e nosso conhecimento do que pode ser produzido).
E veja que tem muitos biólogos utilizando conceitos econômicos na biologia, como na teoria do altruismo recíproco na sociobiologia. Outra abordagem é o entendimento de que as espécies lidam com a relação de custos/benefícios na luta pela sobrevivência.
E a economia é a melhor descrição da espécie humana no sentido de luta pela sobrevivência.
Popper faz a analogia entre a resolução de problemas na comparação da ameba com Einstein. O que significa que podemos resolver problemas complexos e com planejamento futuro, através principalmente da aquisição do conhecimento, só possível devido a nossa comunicação superior.
Ahn, e o que isso tem a ver com o assunto?
Esse é
o assunto. É a razão de ser do tópico, conforme o post inicial. Com base nisso que é estabelecida a diferença qualitativa para mais (superioridade) do ser humano.
A ameba e muitos outros animais atuam de maneira imediata, com a resolução de problemas do momento. O instinto se difere da racionalidade por isso. Instinto é agir por impulso, racionalidade é avaliar a situação e escolher a melhor alternativa. A nossa espécie consegue resolver problemas de maneira muito mais complexa, sempre se adiantando, buscando o conhecimento.
Sim, é verdade que a relação do ser humano com o conhecimento é (por enquanto) única no mundo. Esse não é um ponto controverso (como já foi levantado...). Mas quando e como isso se tornou sinônimo de "espécie mais evoluída"?
Desde que Darwim escreveu a teoria da evolução. O que não existe é o contrário. Não é igual nem menos. Somos a espécie mais adaptada do planeta.
(...)
3) é uma complexidade orgânica maior do que a de outro ser vivo usado para comparação
4) idem a 3), mas tomando como referência a capacidade de raciocínio e abstração em vez da complexidade orgânica
A capacidade de raciocínio e abstração, e toda a cognição, estão relacionados a nossa composição orgânica. É o monismo de Dennett, mente como processos do cérebro. O que significa uma maior complexidade orgânica.
5) idem a 3), pelo critério de chances de sobrevivência da espécie ao longo do tempo até um futuro distante
O que está relacionado com a capacidade de resolução de problemas.
Também está relacionado com o grau de necessidade de suporte externo, bem como com a probabilidade da espécie CRIAR problemas para si própria. E nesses quesitos a humanidade é simplesmente um desastre. Não chega nem perto da maioria dos animais, e leva uma surra daquelas de organismos unicelulares.
Sim, as relações intra-específicas foram também fundamentais para a evolução da espécie. O surgimento de problemas nas relações entre os indivíduos da espécie necessita de soluções. E por isso também que o nosso cérebro se desenvolveu tanto.
Só não acho certo a palavra criar problemas. Não é algo intencional e sim conseguência das relações entre os indivíduos. Nós criamos soluções, buscamos sempre a melhoria para a continuidade da humanidade. Mas podemos errar, como no caso do progresso econômico que tivemos, prejudicando a natureza.