O que se seque é um protesto e uma proposta.
Estou cansado de queimar a mufa com esse nosso idioma complicado. É bem verdade que desse mal não padece só o Português; mas se os ingleses não se importam com tantas incoerências fonéticas, se os alemães acham lindo cada palavra ter dez consoantes para uma vogal, se os chineses querem ter o trabalho de memorizar milhares de ideogramas, isso é problema deles.
O que sei é que nós podemos resolver o nosso.
E o problema do Português está na ortografia. Quanta complicação desnecessária! Uma língua, é claro, nasce e evolui espontaneamente com os usos, mas a codificação da linguagem, ou seja, a escrita, deveria ser tarefa de engenheiros e não de pessoas que se formaram em Letras justamente porque não tinham competência para passar em um vestibular para exatas.
O resultado está aí: toda esta confusão.
É verdade que os falantes também inventam coisas muito confusas: ninguém explica porque quando as pessoas dizem "pois sim!" estão na verdade querendo dizer "De jeito nenhum! NÃO!", mas quando dizem "pois não" isso significa... "SIM"!
A dupla negação que nunca equivale a uma afirmativa também é esquisita. Quando o sujeito diz "Eu NÃO vou fazer NADA!" ele realmente está querendo dizer que vai fazer exatamente aquilo que está dizendo que não vai fazer. Ou seja, nada.
Mas isto não é nada comparado à bagunça que os gramáticos fazem. São tantas reformas ortográficas... mas pra quê!, se nunca consertam a coisa?
Portanto me propuz demonstrar a essa gente que a questão é de fácil solução. Facílima. Eles é que não enxergam.
Para começar aboliria todos os acentos. Acentuação é só um estorvo inútil, em 99,99% dos casos nós não precisamos de acentos para saber a pronúncia tônica de palavras que já conhecemos e pronunciamos corretamente no dia a dia. Por outro lado em 99,99% das vezes precisamos do corretor ortográfico para acentuar corretamente.
Ou então decorar 30 páginas do último Novo Acordo Ortográfico dispondo sobre dezenas de regras sem sentido completamente arbitrárias.
Os acentos diferenciais também não se justificam. Quando alguém lê "o baiano subiu no coqueiro para pegar o coco" já está bem óbvio que um baiano não se deu ao trabalho de escalar uma árvore para coletar excrementos.
Além do mais é comum que palavras tenham diferentes significados e nem por isso precisamos de convenções ortográficas para identificar cada um destes significados. Basta o contexto para você saber se deve sentar no banco ou depositar o seu dinheiro nele.
Porém a maneira mais eficiente de simplificar a Língua Portuguesa seria simplesmente redefinir o nosso alfabeto e as atribuições das letras.
Muitas letras diferentes são usadas para denotar o mesmo fonema e às vezes a mesma letra que em determinada palavra representa um som, em outra palavra pode estar indicando outro.
Tomemos como exemplo o som de S:
Além do próprio S ainda usam o C, o X e o Z com a mesma finalidade. E por causa desta complicação ainda tiveram que inventar o cedilha.
Não obstante o mesmo C que faz som de S em VOCÊ faz som de K em CASA.
Eis o nosso alfabeto:
A – B – C – D – E – F – G – H – I – J – K – L – M – N – O – P – Q – R – S – T – U – V – W – X – Y – Z
E como ele deveria ser:
A - B - D - E - F - G - I - J - K - L - M - N - O - P - R - S - T - U - V - X - Z
Emagrecido das desnecessárias letras C, H, Q, W e Y.
O que mudaria:
C - Desaparece. O C é usado para indicar som de S ( como em FAÇA ) ou som de K ( como em COISA ). Se já existem o S e o K então para quê o C? E com isso nos livramos também do cedilha.
G - Passa a denotar apenas som de GÊ mesmo. Nos casos como de VIAGEM em que G faz som de J obviamente seria substituído pelo próprio J.
GU é extinto para os casos onde o U não é pronunciado, como em GUERRA. Mas seria mantido somente em palavras como AGUENTO.
H - Extinto. Não tem razão de ser. Ou representa um som mudo, como em HOJE ( e a própria ideia de "som mudo" já é ridícula ), ou se junta com outra letra para formar um som que poderia ser melhor denotado alguma outra letra. Como em CHÁCARA, que poderia muito bem ser XÁCARA.
H também é usado com L e N em palavras como ILHA e ESTRANHO. Passaríamos então a escrever ILIA, como em FAMÍLIA ( qual o problema? ) e o som de NHÁ, NHÕ, etc, seria simplesmente abolido da língua falada. O que seria muito bem vindo por todos os estrangeiros que tentam aprender o Português ( de fato toda esta reforma seria muito bem-vinda! ). Em vez de ESTRANHO falaríamos ESTRANO, e alguns poderiam estranhar um pouco no começo mas logo se acostumariam. Ronaldinho passa a ser Ronaldino. Nada demais, se ele tivesse nascido na Espanha chamariam de Ronaldito.
J - Substitui o G onde ele é usado para fazer som de J.
K - O K ganha importância e é restituído ao seu legítimo papel de representar seu próprio som. CASO QUENTE passaria a ser um KASO KENTE.
L - Fica restrito ao som de L. Nas palavras onde ele é desviado para fazer som de U já existe pra isso o próprio U. É muito mais PREVIZIVIU que esta seja a ortografia desta palavra.
N - Pelo motivo óbvio de existir o M deixa de representar som de EM. Por que se escreve ONTEM? De OJE em diante passaria a ser OMTEM.
Q - Mais um letra desnecessária do nosso alfabeto.
S - Não faria mais som de Z como em CASA.
W - Sua irrelevância não precisa ser explicada e o Waldemar que se dane.
X - Substitui o CH e não é mais usado para representar som de S ou Z. Como em EXPERIMENTO EXECRÁVEL, que seria muito mais logicamente grafado como ESPERIMEMTO EZECRAVEU.
Y - Mesmo caso do W. Só serve pra pobre estragar a vida dos filhos inventando nomes como KEYRRISOM e KLEYDINELSON.
Um K, um W ou um Y é garantia de que você nunca vai encontrar seu nome na latinha.
Z - Deixa de fazer som de S.
E por fim os múltiplos e malditos usos dos porquês.
Por que tantas maneiras de se escrever os porquês? Por quê?! Sei bem por que motivo, certamente porque as classes dominantes apreciam o pedantismo de dominar estas filigranas gramaticais como uma forma de expressar sua posição superior na sociedade.
Mas isso acabaria com a reforma, todos escreveriam o mesmo e único PORKE e pronto!
Além de simplificar a vida de todos nós ainda haveria vantagens adicionais nesta reforma.
Nosso país possui taxas vergonhosas de analfabetismo e analfabetismo funcional. Com essa nova ortografia simplificada uma criança seria alfabetizada em uma semana. Um adulto em um mês!
Além disso, se você observar bem, já é mais ou menos assim que os adolescentes escrevem na internet. E é desse jeito que as pessoas semi-analfabetas escrevem também.
Ora, com essa revolucionária reforma dispensaríamos o trabalho, o tempo e o gasto de educar toda esta gente. Todo o povo se tornaria imediatamente culto, lendo e escrevendo um Português correto e perfeito. Uma meta que o MEC não almejaria alcançar nem nos próximos cem anos.
Com o intuito de motiva-lo a se juntar a mim nesta cruzada pela cultura e por uma vida mais descomplicada apresento alguns clássicos da Língua Portuguesa, demonstrando como ficariam muito mais simples e acessíveis com a ortografia simplificada.
Os Luziadas, de Luis Vas de Kamoes.
As armas e os baroes asinalados,
ke da osidentau praia Luzitana,
Por mares numka damtes navegados,
Pasaram aimda alem da Taprobana,
Em perigos e geras esforsados,
Mais do ke prometia a forsa umana,
E emtre jente remota edifikaram
Novo reino, ke tamto sublimaram.
Livros e Flores, de Maxado de Asis.
Teus olios sao meus livros.
Ke livro a aí melior,
Em ke melior se leia
A pajina do amor?
Flores me sao teus labios.
Omde a mais bela flor,
Em ke melior se beba
O balsamo do amor?
ERRATA: Que vergonha! Sou analfabeto na minha própria ortografia. Não é "balsamo", o correto seria bausamo.