Na verdade, a expressão "karma" vem sendo utilizada de forma incorreta no meio espirita. E por incrível que pareça, não apenas pelos leigos, mas também por incautos autores.
"Karma" é um conceito utilizado no budismo e hinduismo e por pouco realmente se pareceria com a Lei de Causa e Efeito do Espiritismo, exceto por um importante e vital aspecto: o "karma" é puramente determinista, ou seja, acreditam os hindus e budistas que seus efeitos são absolutamente inalteráveis.
Se os efeitos são inalterados, joga-se por terra a Lei do Livre Arbítrio. Enquanto no Karma o sujeito que pratica o mal em vida anterior tem o "castigo" em vida atual, na Lei de Causa e Efeito em conjunto com o livre arbítrio, o mal que o indivíduo pratica em outra vida "pode" ter uma consequência X que por sua vez "pode", por mérito moral, ser alterada.
Sendo assim, são conceitos incompatíveis, dando sustentação ao equívoco de seu uso.
Ademais, o conceito de "karma" sõ pode ser entendido com o de "darma". Enquanto um seriam as punições, no outro temos as recompensas. No entanto, estranhamente no meio espírita, dado o desconhecimento, só se utiliza o "karma". Mas, ora, a lei de causa e efeito abrange TODAS as consequências.
Tão séria e determinista é a natureza do "karma" e do "darma", que a sociedade hindu se baseia formalmente neles para promover a estratificação social. Ou seja, na India e demais países hindus, se o individuo nasce pobre ou doente, isso se deve ao "karma". Ele, então, se torna um "pária", ou cidadão de quinta categoria, que não tem acesso aos beneficios sociais mais amplos. E, com o agravante: consoante com o conceito de "karma", esta pessoa não pode alterar seu "status quo" nestas socieades. Quem é pária é pária pelo resto da vida.
Então, também por conta da discriminação que o conceito de "karma" produz, é uma insensatez trazê-lo para o Espiritismo. O erro do leigo é desculpável, mas o equívoco de certos autores é sério, pois demonstra, além de pouca coerência com nossa doutrina, revela ainda parco conhecimento e desrespeito pelas religiões hindu e budista.
Vale a pena anotar ainda o fato de que Kardec, como toda a Europa, já conheciam as doutrinas orientais ao seu tempo. Se ele não utilizou em momento NENHUM a expressão "karma" é porque já conhecia os equívocos e suas incompatibilidades com a nova e libertária doutrina que ele compilava dos Espiritos Superiores.
O karma aprisiona o espírito - a lei do livre arbítrio o libera pelo mérito. Não há porque, portanto, confundirem-se as coisas.