Autor Tópico: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor  (Lida 34120 vezes)

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Offline Moro

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Re: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor
« Resposta #275 Online: 13 de Fevereiro de 2009, 22:01:23 »
hã hã
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Re: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor
« Resposta #276 Online: 13 de Fevereiro de 2009, 22:05:34 »
Menos confronto, mais debate de pontos de vista.

De preferência, se ambos os lados colocarem argumentos novos na mesa, em vez de reiterar posições.

Offline Luis Dantas

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Re: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor
« Resposta #277 Online: 13 de Fevereiro de 2009, 23:19:23 »
Como eu disse, a moral é uma necessidade, ela é uma invenção sem a qual as sociedades humanas não seriam possíveis. Mas um mundo de barbárie é tão racional quanto um mundo de moral, no sentido que a razão não é boa e nem má (ou, em outras palavras, a razão não é moral). O nazismo é um bom exemplo de uso da razão para encontrar uma forma eficiente de produzir barbárie.

É complicado argumentar usando o Nazismo como exemplo, você sabe.  Muita carga emocional e muita gente tentando projetar de tudo e mais um pouco para cima desse exemplo específico.  Poderia-se argumentar por exemplo que o Nazismo em si não produziu barbárie, mas sua ruína, sim.

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A razão é um meio para se chegar a um objetivo, e é nesses objetivos que reside a moral. Escolher como objetivo um ambiente de confiança e segurança, você disse, é desejável - mas não racionalmente desejável.

No meu entender, é sim racionalmente desejável.  Mesmo no seu argumento abaixo me parece haver uma alegação de que não seria a única forma racional, não de que não seria racional.

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Fugir da dor e buscar o bem-estar não é uma escolha racional, é um reflexo instintivo, tanto que qualquer animal irracional preferirá o prazer à dor - pense em uma comunidade de formigas: elas não vivem em harmonia porque fizeram um pacto social e concluiram racionalmente que deveriam seguir um código de conduta pela sobrevivência da colônia - elas nunca tiveram essa opção. Nós também não - a vida em sociedade antecede cronologicamente o despertar da razão, podemos até descobrir aí a origem da transcendência dos nossos valores morais: ela está em nossa própria programação genética, em vez de em nossa razão.

Sem dúvida, de um ponto de vista evolutivo, certos instintos que "parecem" escolhas morais são apenas instintos mesmo.

No entanto, não vejo como isso implicaria em que a moral não seja racional.  É apenas evidência de que a origem de certas atitudes consideradas morais não foi racional.

Veja que os instintos não são de uma forma geral morais.  Por exemplo, não há um instinto humano de fidelidade conjugal, que eu saiba; pelo contrário, é uma escolha tão voluntária que pelo que sei algumas culturas não tem esse valor moral.  Valores morais dependem muito mais da cultura do que de instintos, o que para mim evidencia que são sim guiados pela razão (e inclusive se distorcem junto com esta).


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Mas esse é um assunto periférico, voltando à definição de religião em termos de fé (transcendência vs. superstição):

Segundo a minha definição de religião, em termos de fé supersticiosa, é claro que se uma 'religião' se emancipa totalmente dessa modalidade de fé, da extrapolação e da exacerbação mística, por definição ela deixa de ser religião. Pode se tornar então uma filosofia. Um religioso moderado e realista permanece religioso se ainda carregar consigo elementos de crença baseada puramente na fé - ele pode ser racional em questões do cotidiano, como ética e ciência, mas permanecer religioso, por exemplo, admitindo que crê em deus ou vida após a morte sem provas.

Eu tento ver como isso seria na realidade, e tenho de dizer que acho muito difícil de imaginar.  Você teria algum exemplo concreto?  Alguém que deixou a religião pela filosofia?

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Pode ser, porém, que a pessoa pense e conclua racionalmente, por exemplo, que Deus existe, ou que vida após a morte existe - nesse caso creio que já teríamos um livre-pensador, talvez um filósofo (eu me limito a dizer talvez porque no momento não precisamos definir exatamente o que é filosofia, basta para a discussão por enquanto saber quando alguém deixa de ser religioso). Acredito que para a definição que proponho de religião pesa menos o conjunto de crenças em si do que a forma como uma pessoa chega a elas, se racional ou por fé.

Então no seu entender a fé e a razão são necessariamente opostas?
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Offline uiliníli

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Re: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor
« Resposta #278 Online: 13 de Fevereiro de 2009, 23:41:44 »
É complicado argumentar usando o Nazismo como exemplo, você sabe.  Muita carga emocional e muita gente tentando projetar de tudo e mais um pouco para cima desse exemplo específico.  Poderia-se argumentar por exemplo que o Nazismo em si não produziu barbárie, mas sua ruína, sim.

Pode-se tomar qualquer outro exemplo. A própria ciência militar é um exemplo de o como a razão pode ser usada para causar o máximo de mal. E nenhum estrategista militar conclui simplesmente que matar as outras pessoas é irracional e vira pacifista. Isso porque nem a razão não leva diretamente para o bem e nem para o mal, ela leva para onde você quiser. Ela é uma ferramenta.

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A razão é um meio para se chegar a um objetivo, e é nesses objetivos que reside a moral. Escolher como objetivo um ambiente de confiança e segurança, você disse, é desejável - mas não racionalmente desejável.

No meu entender, é sim racionalmente desejável.  Mesmo no seu argumento abaixo me parece haver uma alegação de que não seria a única forma racional, não de que não seria racional.

Não entendi o que você quis dizer com o trecho em itálico.

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Sem dúvida, de um ponto de vista evolutivo, certos instintos que "parecem" escolhas morais são apenas instintos mesmo.

No entanto, não vejo como isso implicaria em que a moral não seja racional.  É apenas evidência de que a origem de certas atitudes consideradas morais não foi racional.

Veja que os instintos não são de uma forma geral morais.  Por exemplo, não há um instinto humano de fidelidade conjugal, que eu saiba; pelo contrário, é uma escolha tão voluntária que pelo que sei algumas culturas não tem esse valor moral.  Valores morais dependem muito mais da cultura do que de instintos, o que para mim evidencia que são sim guiados pela razão (e inclusive se distorcem junto com esta).

Eu não vejo cultura e genética como pólos opostos, na verdade são duas coisas que se complementam. A cultura está limitada pelas restrições de nossa biologia, não existe cultura que se alimente da luz ou que pregue o assassinato ritual de todos os recém-nascidos. nenhuma cultura assim teria sobrevivido até os dias de hoje. A moral varia de cultura para cultura, mas o que varia de uma para a outra é aquilo que não é absolutamente essencial para a sobrevivência. Sendo o homem um animal social, que depende da vida em sociedade para sobreviver, não deve haver nenhuma cultura cuja moral seja claramente um empecilho à manutenção da própria sociedade. Dessa lógica podemos tirar universais morais, como a condenação do homicídio, por exemplo, o exemplo mais trivial. E a condenação do homicídio, entre outros fatores morais, deve ser bem anterior ao surgimento da cultura, pois nossos ancestrais já viviam em sociedade bem antes disso. Efetivamente, você deve estar ciente de que existem estudos científicos que mostram que algumas espécies de macacos já têm certo senso moral, não? Se você não estiver a par eu procuro para você depois. Bom, acho que isso mostra que se não toda a nossa moral, uma boa parte dela (e certamente a parte mais importante) não está fundamentada na razão, mas em nosso estilo de vida. Se em vez de seres sociais fossemos predadores territorialistas, seria moral para nós lutar contra quem invadisse nosso território e matar a prole de fêmeas para elas entrarem no cio novamente.

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Mas esse é um assunto periférico, voltando à definição de religião em termos de fé (transcendência vs. superstição):

Segundo a minha definição de religião, em termos de fé supersticiosa, é claro que se uma 'religião' se emancipa totalmente dessa modalidade de fé, da extrapolação e da exacerbação mística, por definição ela deixa de ser religião. Pode se tornar então uma filosofia. Um religioso moderado e realista permanece religioso se ainda carregar consigo elementos de crença baseada puramente na fé - ele pode ser racional em questões do cotidiano, como ética e ciência, mas permanecer religioso, por exemplo, admitindo que crê em deus ou vida após a morte sem provas.

Eu tento ver como isso seria na realidade, e tenho de dizer que acho muito difícil de imaginar.  Você teria algum exemplo concreto?  Alguém que deixou a religião pela filosofia?

No parágrafo seguinte eu estava falando especificamente sobre os religiosos moderados, acredito que boa parte dos católicos não-praticantes se enquadra aí. A troca da religião pela filosofia (ou livre-pensamento) eu citei no parágrafo abaixo, e um exemplo concreto disso seria eu mesmo, em um dos meus estágios iniciais de desconversão.

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Pode ser, porém, que a pessoa pense e conclua racionalmente, por exemplo, que Deus existe, ou que vida após a morte existe - nesse caso creio que já teríamos um livre-pensador, talvez um filósofo (eu me limito a dizer talvez porque no momento não precisamos definir exatamente o que é filosofia, basta para a discussão por enquanto saber quando alguém deixa de ser religioso). Acredito que para a definição que proponho de religião pesa menos o conjunto de crenças em si do que a forma como uma pessoa chega a elas, se racional ou por fé.

Então no seu entender a fé e a razão são necessariamente opostas?

Sim. Isso não quer dizer que pessoas de fé não usem a razão também, mas não creio que se possa usar a fé e a razão ao mesmo tempo. Tentar conciliar a fé e a razão implica necessariamente em escravizar a razão pela fé, a fé reina e governa.

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Re: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor
« Resposta #279 Online: 13 de Fevereiro de 2009, 23:44:51 »
Agnóstico, eu não sou budista. Então não adianta apelar para o seu red herring.

Para o agnóstico, alguém que defenda a causa homossexual é necessariamente um deles?

Offline Moro

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Re: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor
« Resposta #280 Online: 13 de Fevereiro de 2009, 23:51:31 »
Fé e razão não são compatíveis. Elas podem coincidir em uma instância qualquer, mas será apenas coincidência. Por exemplo, eu posso por algum motivo ter fé que a terra é redonda e que gira ao torno do sol, mas seria uma coincidência com a realidade do fenômeno, já que a fé não se baseia em métodos nem qualquer parcimônia que possa ser aceitável.

A moral não é racional nem irracional. É um sistema que sofre influência da emoção, racionalidade, preconceitos, cultura... inclusive qualquer fator genético que auxilie na definição de nosso comportamento. Discutir sobre o que ela é/"não é" é um bom começo para não chegar a lugar algum...

Podemos racionalizar diversos componentes da moralidade a ponto de, facilmente, tornar a religião inútil e contraproducente em relação a quem pode se dar ao luxo de não precisar de um atalho (ou rua sem saída) para interpretar os acontecimentos a sua volta (nem que não seja capaz de interpretá-lo). Podemos viver sem nos confundir com conceitos como por exemplo "verdadeira justiça", e a partir disso questionar qualquer fundamento prático possível para o funcionamento da mesma. Podemos ignorar verdadeira paz, e não seguirmos receitas para atingi-las que vão nos fazer apenas perder tempo...

Sem religião, o mundo fica mais claro. A mente fica mais clara. Estamos completamente sozinhos, mas isso é fantástico.
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Offline uiliníli

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Re: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor
« Resposta #281 Online: 13 de Fevereiro de 2009, 23:59:59 »
Citação de: Luis Dantas
No entanto, não vejo como isso implicaria em que a moral não seja racional.  É apenas evidência de que a origem de certas atitudes consideradas morais não foi racional.

Não discorri muito sobre isos no último post:

Como eu disse antes, a razão é um meio para se alcançar algum objetivo e esses objetivos é que podem ser morais ou não. Fazer uma vacina ou uma bomba de hidrogênio são objetivos em polos opostos do espectro moral e ambos são alcançados por meios racionais. O nosso estilo de vida de animais sociais impõe que tenhamos certos padrões de comportamento. O nosso objetivo louvável é o de preservar a espécie, mas isso não é escolha nossa. Nós estamos condicionados a nos comportar segundo padrões morais não porque concluímos racionalmente que devemos, mas porque nossa sobrevivência depende disso. Não é à tôa que já evoluímos com uma certa bagagem de instintos morais, sentimos culpa, vergonha, temos empatia... mas tudo isso é muito rudimentar, não nos desobriga de pensar racionalmente uma moral melhor. Mas...

Mas por mais que pensemos racionalmente uma moral mais sofisticada, não podemos desenvolver nenhuma ideia sobre premissas básicas. Que premissas básicas escolhemos? Não seria possível eu escolher como premissa moral obter o máximo de vantagem pessoal possível para mim mesmo? Não há nada de irracional nisso. Ou eu posso escolher como premissa a existência de um Deus que vê tudo, lê pensamentos e pune quem faz coisas que ele considera erradas. Ou posso escolher como premissa que todo ser humano é igual em dignidade. Ou que todo ser vivo é igual em dignidade. Ou que só os homens brancos são iguais em dignidade, os negros e mulheres não. Inevitavelmente eu tenho que sair de alguma premissa e essa premissa será incomprovada (qualquer dúvida, pergunte a Gödel). Como justificar racionalmente um axioma em vez de outro?

Offline Moro

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Re: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor
« Resposta #282 Online: 14 de Fevereiro de 2009, 00:02:58 »
Agnóstico, eu não sou budista. Então não adianta apelar para o seu red herring.

Para o agnóstico, alguém que defenda a causa homossexual é necessariamente um deles?

Ok, comecei a achar depois da estatísticas de um homem só, da superioridade dos seres budistas e outras. Se você diz que não é, acredito.
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Offline Luis Dantas

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Re: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor
« Resposta #283 Online: 14 de Fevereiro de 2009, 00:14:14 »
Pode-se tomar qualquer outro exemplo. A própria ciência militar é um exemplo de o como a razão pode ser usada para causar o máximo de mal. E nenhum estrategista militar conclui simplesmente que matar as outras pessoas é irracional e vira pacifista. Isso porque nem a razão não leva diretamente para o bem e nem para o mal, ela leva para onde você quiser. Ela é uma ferramenta.

"Nenhum" é pegar desnecessariamente pesado... além do mais, na minha opinião você está confundindo condicionamento mental com razão.  

Razão, racionalidade, é entre outras coisas a capacidade de exercitar a abstração para prever eventos que não chegaram a acontecer a partir de outros que já são conhecidos.  Um general que decide mudar o rumo de sua vida e se tornar pacifista não é algo impossível de acontecer - e é também um evento que pode sim ser perfeitamente racional.

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(...) Não entendi o que você quis dizer com o trecho em itálico.

Você apresentou um exemplo de atitude que é no seu entender racional.  Mas se você mesmo diz que a razão pode levar a várias direções diferentes, então esse exemplo não é evidência de que outras atitudes seriam necessariamente menos racionais, correto?


Citar
Sem dúvida, de um ponto de vista evolutivo, certos instintos que "parecem" escolhas morais são apenas instintos mesmo.

No entanto, não vejo como isso implicaria em que a moral não seja racional.  É apenas evidência de que a origem de certas atitudes consideradas morais não foi racional.

Veja que os instintos não são de uma forma geral morais.  Por exemplo, não há um instinto humano de fidelidade conjugal, que eu saiba; pelo contrário, é uma escolha tão voluntária que pelo que sei algumas culturas não tem esse valor moral.  Valores morais dependem muito mais da cultura do que de instintos, o que para mim evidencia que são sim guiados pela razão (e inclusive se distorcem junto com esta).

Eu não vejo cultura e genética como pólos opostos, na verdade são duas coisas que se complementam. A cultura está limitada pelas restrições de nossa biologia, não existe cultura que se alimente da luz ou que pregue o assassinato ritual de todos os recém-nascidos. nenhuma cultura assim teria sobrevivido até os dias de hoje. A moral varia de cultura para cultura, mas o que varia de uma para a outra é aquilo que não é absolutamente essencial para a sobrevivência. Sendo o homem um animal social, que depende da vida em sociedade para sobreviver, não deve haver nenhuma cultura cuja moral seja claramente um empecilho à manutenção da própria sociedade. Dessa lógica podemos tirar universais morais, como a condenação do homicídio, por exemplo, o exemplo mais trivial. E a condenação do homicídio, entre outros fatores morais, deve ser bem anterior ao surgimento da cultura, pois nossos ancestrais já viviam em sociedade bem antes disso. Efetivamente, você deve estar ciente de que existem estudos científicos que mostram que algumas espécies de macacos já têm certo senso moral, não? Se você não estiver a par eu procuro para você depois. Bom, acho que isso mostra que se não toda a nossa moral, uma boa parte dela (e certamente a parte mais importante) não está fundamentada na razão, mas em nosso estilo de vida.[/quote]

Não necessariamente.  Macacos tem algum grau de raciocínio, afinal.  Nada prova a priori que seja um grau insuficiente para sustentar escolhas morais.

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Se em vez de seres sociais fossemos predadores territorialistas, seria moral para nós lutar contra quem invadisse nosso território e matar a prole de fêmeas para elas entrarem no cio novamente.

No entanto, seria contraproducente, e portanto irracional.  E em boa parte por isso essa não é uma atitude moral na maioria das culturas.


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No parágrafo seguinte eu estava falando especificamente sobre os religiosos moderados, acredito que boa parte dos católicos não-praticantes se enquadra aí. A troca da religião pela filosofia (ou livre-pensamento) eu citei no parágrafo abaixo, e um exemplo concreto disso seria eu mesmo, em um dos meus estágios iniciais de desconversão.


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Pode ser, porém, que a pessoa pense e conclua racionalmente, por exemplo, que Deus existe, ou que vida após a morte existe - nesse caso creio que já teríamos um livre-pensador, talvez um filósofo (eu me limito a dizer talvez porque no momento não precisamos definir exatamente o que é filosofia, basta para a discussão por enquanto saber quando alguém deixa de ser religioso). Acredito que para a definição que proponho de religião pesa menos o conjunto de crenças em si do que a forma como uma pessoa chega a elas, se racional ou por fé.

Então no seu entender a fé e a razão são necessariamente opostas?

Sim. Isso não quer dizer que pessoas de fé não usem a razão também, mas não creio que se possa usar a fé e a razão ao mesmo tempo. Tentar conciliar a fé e a razão implica necessariamente em escravizar a razão pela fé, a fé reina e governa.

Então pelo visto estamos usando as mesmas palavras ("religião" e "fé") para descrever coisas distintas.
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Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline Luis Dantas

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Re: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor
« Resposta #284 Online: 14 de Fevereiro de 2009, 00:16:38 »
Como justificar racionalmente um axioma em vez de outro?

Pela análise das consequências conhecidas e prováveis.
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Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline uiliníli

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Re: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor
« Resposta #285 Online: 14 de Fevereiro de 2009, 01:32:52 »
"Nenhum" é pegar desnecessariamente pesado... além do mais, na minha opinião você está confundindo condicionamento mental com razão.  

Razão, racionalidade, é entre outras coisas a capacidade de exercitar a abstração para prever eventos que não chegaram a acontecer a partir de outros que já são conhecidos.  Um general que decide mudar o rumo de sua vida e se tornar pacifista não é algo impossível de acontecer - e é também um evento que pode sim ser perfeitamente racional.

Não estava me referindo á exceção, mas à regra. O fato de não ser a maioria dos generais que vira pacifista só mostra que a razão não nos leva clara e evidentemente à moral. A moral é antes uma escolha a priori que procuramos embasar racionalmente.

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Você apresentou um exemplo de atitude que é no seu entender racional.  Mas se você mesmo diz que a razão pode levar a várias direções diferentes, então esse exemplo não é evidência de que outras atitudes seriam necessariamente menos racionais, correto?

Sim, é possível chegar a outras escolhas tão racionais quanto, o problema é estabelecer um critério racional para decidir qual das escolhas usar.


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Não necessariamente.  Macacos tem algum grau de raciocínio, afinal.  Nada prova a priori que seja um grau insuficiente para sustentar escolhas morais.

Agora você está invertendo o ônus da prova.

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Se em vez de seres sociais fossemos predadores territorialistas, seria moral para nós lutar contra quem invadisse nosso território e matar a prole de fêmeas para elas entrarem no cio novamente.

No entanto, seria contraproducente, e portanto irracional.  E em boa parte por isso essa não é uma atitude moral na maioria das culturas.

Repare que eu especulei se fossemos predadores territorialistas. Nós não somos. Por isso esse estilo de vida não é adequado para nós. E o que venho tentando explicar é que não por um juízo racional que as culturas seguem a esses princípios morais mais básicos, mas por eles terem sido favorecidos na evolução. E como expliquei melhor em meu outro post, mesmo quando procuramos sofisticar e siistematizar a moral, seja pela religião ou seja pela filosofia, ainda precisamos partir de alguns axiomas que não podem ser demonstrados racionalmente, nossa moral então é escolhida a priori, a razão vem depois. Veja por exemplo um dilema que nos separa, o vegetarianismo: eu acredito que é errado se matar um ser humano para comer, você acha que é errado matar qualquer animal para comer. A escolha entre limitar a aplicação da moralidade ao ser humano ou estendê-la aos animais é arbitrária, tanto eu quanto você escolhemos nossa ética a priori, todos os argumentos racionais vieram depois. Você viu o meu tópico sobre enquadramento na área de filosofia? Tem a ver com isso.


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Então pelo visto estamos usando as mesmas palavras ("religião" e "fé") para descrever coisas distintas.

Enquadramento de novo :lol:

Offline Luis Dantas

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Re: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor
« Resposta #286 Online: 14 de Fevereiro de 2009, 01:52:59 »
"Nenhum" é pegar desnecessariamente pesado... além do mais, na minha opinião você está confundindo condicionamento mental com razão.  

Razão, racionalidade, é entre outras coisas a capacidade de exercitar a abstração para prever eventos que não chegaram a acontecer a partir de outros que já são conhecidos.  Um general que decide mudar o rumo de sua vida e se tornar pacifista não é algo impossível de acontecer - e é também um evento que pode sim ser perfeitamente racional.

Não estava me referindo á exceção, mas à regra. O fato de não ser a maioria dos generais que vira pacifista só mostra que a razão não nos leva clara e evidentemente à moral. A moral é antes uma escolha a priori que procuramos embasar racionalmente.

Esse seu argumento supõe que a maioria dos generais use habitualmente da razão para tomar esse tipo de decisão, e que seus modelos tenham espaço para a opção pacifista.  Não acho essa uma premissa suficientemente demonstrada.

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Você apresentou um exemplo de atitude que é no seu entender racional.  Mas se você mesmo diz que a razão pode levar a várias direções diferentes, então esse exemplo não é evidência de que outras atitudes seriam necessariamente menos racionais, correto?

Sim, é possível chegar a outras escolhas tão racionais quanto, o problema é estabelecer um critério racional para decidir qual das escolhas usar.


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Não necessariamente.  Macacos tem algum grau de raciocínio, afinal.  Nada prova a priori que seja um grau insuficiente para sustentar escolhas morais.

Agora você está invertendo o ônus da prova.

Será?  O exemplo dos macacos não me parece muito rigoroso e delimitado de um ponto de vista científico.  No meu entender estas são especulações apenas.  Além disso, foi você que afirmou que macacos não tem razão suficiente para sustentar escolhas morais.  Acho que é essa afirmação que precisa de prova, não o meu questionamento.


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(...) Repare que eu especulei se fossemos predadores territorialistas. Nós não somos. Por isso esse estilo de vida não é adequado para nós. E o que venho tentando explicar é que não por um juízo racional que as culturas seguem a esses princípios morais mais básicos, mas por eles terem sido favorecidos na evolução.

Vou gostar tanto quando souber que você leu um pouco de Peter Singer, Gabriel. :)

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E como expliquei melhor em meu outro post, mesmo quando procuramos sofisticar e siistematizar a moral, seja pela religião ou seja pela filosofia, ainda precisamos partir de alguns axiomas que não podem ser demonstrados racionalmente, nossa moral então é escolhida a priori, a razão vem depois. Veja por exemplo um dilema que nos separa, o vegetarianismo: eu acredito que é errado se matar um ser humano para comer, você acha que é errado matar qualquer animal para comer.

Isso não está completamente correto.  Em circunstâncias típicas, sim, acho errado abater animais para comer.

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A escolha entre limitar a aplicação da moralidade ao ser humano ou estendê-la aos animais é arbitrária, tanto eu quanto você escolhemos nossa ética a priori, todos os argumentos racionais vieram depois.

Não penso que seja assim.

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Você viu o meu tópico sobre enquadramento na área de filosofia? Tem a ver com isso.

Não muito bem.  Eu tenho dificuldade com esses assuntos.  E certamente não vejo conexão com o assunto aqui, que é até bem trivial por comparação: estamos simplesmente escolhendo conceitos úteis para "fé" e "religião".


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Então pelo visto estamos usando as mesmas palavras ("religião" e "fé") para descrever coisas distintas.

Enquadramento de novo :lol:

Escolha semântica, visando a clareza de definição de conceitos.  Não tenho por que usar uma definição que não tem qualquer uso prático - e essas definição pejorativas de fé e religião não tem uso prático algum.  Pelo contrário, só servem para preservar mal-entendidos e preconceitos.

"Religião" como "fonte de alienação" e "fé" como "superstição" são apenas insultos, caricaturas e distorções, e se levados seriamente levam a questionamentos constrangedores como, por exemplo, se Martin Luther King tornou-se em algum momento um pastor batista não-religioso, ou se deveríamos escolher uma nova palavra para expressões como "fé civil" e "fé no meu trabalho".
« Última modificação: 14 de Fevereiro de 2009, 01:57:47 por Luis Dantas »
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« Resposta #287 Online: 14 de Fevereiro de 2009, 02:05:09 »
Esse seu argumento supõe que a maioria dos generais use habitualmente da razão para tomar esse tipo de decisão, e que seus modelos tenham espaço para a opção pacifista.  Não acho essa uma premissa suficientemente demonstrada.

O que pretendia argumentar é justamente que não há espaço para a opção pacifista. Não é óbvio que razão conduza á moral e você mesmo matou a charada do porquê: os modelos assumidos não necessariamente lavam a isso. A escolha moral é realizada a priori, você primeiro decide se quer ser general ou pacifista.

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Será?  O exemplo dos macacos não me parece muito rigoroso e delimitado de um ponto de vista científico.  No meu entender estas são especulações apenas.  Além disso, foi você que afirmou que macacos não tem razão suficiente para sustentar escolhas morais.  Acho que é essa afirmação que precisa de prova, não o meu questionamento.

E como é que eu vou provar uma negação? Toma que o ônus é seu :P  E se o exemplo dos macacos causa tanta polêmica, beleza, vamos falar de abelhas então. Por que uma abelha não sai matando a outra? Elas podem não ter uma moral muito desenvolvida, mas existem coisas que você não vê em uma colônia de abelhas ou de formigas, como um membro matando o outro, isso porque a seleção natural as moldou assim.


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Vou gostar tanto quando souber que você leu um pouco de Peter Singer, Gabriel. :)

Você pode tentar me convencer, estou aberto a sugestões de leitura :P

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E como expliquei melhor em meu outro post, mesmo quando procuramos sofisticar e siistematizar a moral, seja pela religião ou seja pela filosofia, ainda precisamos partir de alguns axiomas que não podem ser demonstrados racionalmente, nossa moral então é escolhida a priori, a razão vem depois. Veja por exemplo um dilema que nos separa, o vegetarianismo: eu acredito que é errado se matar um ser humano para comer, você acha que é errado matar qualquer animal para comer.

Isso não está completamente correto.  Em circunstâncias típicas, sim, acho errado abater animais para comer.

Ainda temos uma diferença de valores.

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A escolha entre limitar a aplicação da moralidade ao ser humano ou estendê-la aos animais é arbitrária, tanto eu quanto você escolhemos nossa ética a priori, todos os argumentos racionais vieram depois.

Não penso que seja assim.

E como você pensa?

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Você viu o meu tópico sobre enquadramento na área de filosofia? Tem a ver com isso.

Não muito bem.  Eu tenho dificuldade com esses assuntos.

Então já que você me sugeriu Singer, deixa eu te sugerir Pinker :ok:

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Escolha semântica, visando a clareza de definição de conceitos.  Não tenho por que usar uma definição que não tem qualquer uso prático - e essas definição pejorativas de fé e religião não tem uso prático algum.

Eu já penso diferente, acho que a sua definição torna a distinção entre religião e filosofia muito vaga.

Offline Luis Dantas

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Re: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor
« Resposta #288 Online: 14 de Fevereiro de 2009, 02:21:15 »
Esse seu argumento supõe que a maioria dos generais use habitualmente da razão para tomar esse tipo de decisão, e que seus modelos tenham espaço para a opção pacifista.  Não acho essa uma premissa suficientemente demonstrada.

O que pretendia argumentar é justamente que não há espaço para a opção pacifista. Não é óbvio que razão conduza á moral e você mesmo matou a charada do porquê: os modelos assumidos não necessariamente lavam a isso. A escolha moral é realizada a priori, você primeiro decide se quer ser general ou pacifista.

Hmm? O pacificismo existe.  Modelos beligerantes podem ser transcendidos.  Não é a razão que nos leva a fazê-lo?

Só porque militares geralmente desconsideram o pacifismo, não se segue de forma alguma que ele não seja racional.  Apenas que não é habitual ou natural para a maioria dos militares.

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(...) E como é que eu vou provar uma negação? Toma que o ônus é seu :P

Não vai, e por isso, na falta de um bom motivo em contrário, eu tenho o direito de duvidar dela.

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E se o exemplo dos macacos causa tanta polêmica, beleza, vamos falar de abelhas então. Por que uma abelha não sai matando a outra? Elas podem não ter uma moral muito desenvolvida, mas existem coisas que você não vê em uma colônia de abelhas ou de formigas, como um membro matando o outro, isso porque a seleção natural as moldou assim.

Um exemplo com animais que se sabe não serem racionais (abelhas) não pode provar nada sobre o que animais racionais como símios e humanos fazem com sua capacidade de raciocínio, Gabriel.  No máximo pode pôr em dúvida se o raciocínio está envolvido em certas atitudes.

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E como expliquei melhor em meu outro post, mesmo quando procuramos sofisticar e sistematizar a moral, seja pela religião ou seja pela filosofia, ainda precisamos partir de alguns axiomas que não podem ser demonstrados racionalmente, nossa moral então é escolhida a priori, a razão vem depois. Veja por exemplo um dilema que nos separa, o vegetarianismo: eu acredito que é errado se matar um ser humano para comer, você acha que é errado matar qualquer animal para comer.

Isso não está completamente correto.  Em circunstâncias típicas, sim, acho errado abater animais para comer.

Ainda temos uma diferença de valores.

Ah, sim, temos com certeza.  Ainda discordo da afirmação de que valores morais são sempre e inevitavelmente arbitrários, no entanto.  É uma idéia intrigante, mas não me convence.

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A escolha entre limitar a aplicação da moralidade ao ser humano ou estendê-la aos animais é arbitrária, tanto eu quanto você escolhemos nossa ética a priori, todos os argumentos racionais vieram depois.

Não penso que seja assim.

E como você pensa?

Acho que valores éticos são em muitos casos herdados em um primeiro momento, mas quando se tem de tomar as decisões e pagar os preços envolvidos, acabamos por raciocinar a respeito e pesar os prós e contras.

Com certeza é possível - e não duvido que seja também necessário ou até mesmo inevitável - raciocinar sobre valores morais ao ponto de revê-los e mudá-los. 

Até porque a razão moral não existe solta no vácuo: ela precisa levar em consideração impactos sociais, econômicos, ecológicos, antropológicos.   Do contrário, não terá muita credibilidade ou utilidade nem como moral nem como razão.  Moral só faz sentido a partir de consequências no mundo real.

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Eu já penso diferente, acho que a sua definição torna a distinção entre religião e filosofia muito vaga.

E de fato, a diferença entre a religião e a filosofia não é nada nítida.  Basicamente, toda filosofia que aborda questões de valores morais e sua conexão com atos concretos é automaticamente uma religião.  Dois bons exemplos são o Estoicismo e o Objetivismo.  Provavelmente o Utilitarismo, também.

Não vejo por que isso seria um problema, porém.
« Última modificação: 14 de Fevereiro de 2009, 02:23:37 por Luis Dantas »
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Offline Moro

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Re: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor
« Resposta #289 Online: 14 de Fevereiro de 2009, 11:53:23 »
A coisa é muito mais prática do que podemos imaginar, como na maioria das vezes.
Não é necessário inventar um conceito para fé e religião, nem discutí-los. O conceito já está, é conhecido, bem definido.


Religião: (Priberam)

culto prestado à divindade;
crença na existência de uma ou mais forças sobrenaturais;
fé;
reverência às coisas sagradas;
observância dos preceitos religiosos;
doutrina, sistema religioso;
ordem religiosa.

Resolvido.

Insistir em uma outra definição que não essa é querer encontrar uma ponte que nos tire da realidade.
E qualquer definição que se encontre, ela terá que levar em consideração o que de fato ocorre com a religião

Estão falando sobre racionalidade? Onde está o racional nos textos colocados?
Estão falando em moral? Onde a religião ajuda a moral a ponto de levar ajudar uma civilização, ou melhorar indicadores de um país?


Vamos cair na real. Já ficou claro o que é religião aqui. Algumas mensagens boas, textos incoerentes, existência de fanatismo, criação de ruído na interpretação dos fatos, e igualdade técnica entre todas elas.

“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

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Re: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor
« Resposta #290 Online: 14 de Fevereiro de 2009, 12:01:46 »
Essa definição é simplista, falha, e mais confunde do que esclarece, Agnóstico.

Por exemplo, pelo segundo item apresentado (crença na existência de uma ou mais forças sobrenaturais) a simples crença em Deus seria religião, o que entra em conflito direto com a existência de muitas pessoas que garantem "não ter religião mas acreditar em Deus".

Estava ontem mesmo discutindo essa postura com um contato meu no MSN.  É uma postura que considero exótica e provavelmente equivocada, em boa parte porque crer em Deus por si só não é mais do que uma preferência estética ou inspiracional.  Mas para muita gente faz sentido, pelo menos é o que me dizem.

Boa sorte com suas pontes de/para a realidade :)
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Offline Fabrício

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Re: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor
« Resposta #291 Online: 14 de Fevereiro de 2009, 12:20:24 »
A simples crença em deus a meu ver já é uma religião, independente do que se diga. Essa afirmação é comum entre cristão não praticantes de religiões "tradicionais". Os que conheço são geralmente católicos "de batismo" que não se sentem bem em abandonar completamente a crença em deus e por isso customizam um deusinho pessoal, que tem as "vantagens" do deus cristão mas não condena a pessoa por aspectos que a religião cristã não aceita, como homossexualismo, anticoncepcionais, etc.

Mas se você conversar um pouco com elas vai ver que ela segue basicamente os conceitos do cristianismo, a não ser onde a afeta negativamente.

Se você acredita em deus, ou esta ligado a uma religião ou esta criando a sua...

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Offline Moro

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Re: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor
« Resposta #292 Online: 14 de Fevereiro de 2009, 12:23:20 »
Falho é tentar uma definição de religião que não leve em consideração o que realmente temos no mundo, nos textos, e nos fatos. Falho é tentar ignorar isso e criar uma definição artificial.

Sobre o seu apontamento da possível falha.  A parte de "Reverência a coisas sagradas" já cobre essa parte. Não tem que ser todos os elementos juntos da definição dada, ao mesmo tempo, claro.

Mas a mensagem é: Os fatos mostram o que é a religião e o que acontece aos religiosos. Podemos tentar desviar o assunto, mas os fatos são teimosos.
« Última modificação: 15 de Fevereiro de 2009, 00:15:41 por Agnóstico »
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Offline Luis Dantas

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Re: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor
« Resposta #293 Online: 14 de Fevereiro de 2009, 12:24:44 »
Isso é uma confissão? :)
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Offline Luis Dantas

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Re: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor
« Resposta #294 Online: 14 de Fevereiro de 2009, 12:35:36 »
A simples crença em deus a meu ver já é uma religião, independente do que se diga.

É uma definição possível de religião, sim.  E serve muito bem para alguns propósitos, mas deixa a desejar para outros.

Se a idéia é ressaltar que crença é crença, ótimo.  Mas igualar crença a religião não ajuda, por exemplo, na hora de argumentar sobre laicismo do Estado, ou de questionar os atos da bancada evangélica no Congresso.

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Essa afirmação é comum entre cristãos não praticantes de religiões "tradicionais". Os que conheço são geralmente católicos "de batismo" que não se sentem bem em abandonar completamente a crença em deus e por isso customizam um deusinho pessoal, que tem as "vantagens" do deus cristão mas não condena a pessoa por aspectos que a religião cristã não aceita, como homossexualismo, anticoncepcionais, etc.

Em pelo menos dois casos que conheço mais de perto, são cristãos que se desapontaram com as Igrejas e estão se concentrando no que consideram realmente importante de suas antigas crenças.

Para mim parece jogar fora o bebê para guarda a água do banho, já que "crer em Deus" por si só não significa praticamente nada, cada crente tem sua própria idéia do que seria Deus, de quão são, humanóide, violento, poderoso, comunicativo ou benevolente ele seria.  Mas sei lá.  Vai ver faz mais sentido do que parece.

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Mas se você conversar um pouco com elas vai ver que ela segue basicamente os conceitos do cristianismo, a não ser onde a afeta negativamente.

O que em si não é má idéia.  O Cristianismo em si faria bem de se abrir mais para esse tipo de postura.


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Se você acredita em deus, ou esta ligado a uma religião ou esta criando a sua...

A não ser, talvez, que não dê muita importância a essa crença ou não veja muitas consequências nela.

Religião não era para ser algo um pouco menos "automático" e menos dependente de um conceito tão fugidio e restrito como Deus, de qualquer forma?  Quem estudou religiões em geral como eu sabe que não há muita relação verdadeira entre "crença em Deus" e "religião".

Até porque "Deus" é um conceito para lá de vago.  Supostamente um panteísta, um deísta e um ateu tem concepções bem distintas do que seria Deus e do seu papel nas nossas vidas.  Na prática isso pode simplesmente não fazer qualquer diferença.  Enquanto isso, mesmo dentro de uma única denominação protestante você pode ter o Deus Dobermann, treinado para atacar os infiéis, ao lado de modelos sensatos e compassivos de divindade.
« Última modificação: 14 de Fevereiro de 2009, 12:47:45 por Luis Dantas »
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Offline Eleitor de Mário Oliveira

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Re: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor
« Resposta #295 Online: 14 de Fevereiro de 2009, 13:24:30 »
Agnóstico, eu não sou budista. Então não adianta apelar para o seu red herring.

Para o agnóstico, alguém que defenda a causa homossexual é necessariamente um deles?

Ok, comecei a achar depois da estatísticas de um homem só, da superioridade dos seres budistas e outras. Se você diz que não é, acredito.

Para você ver como muitas das suas conclusões são falsas.

Offline uiliníli

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Re: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor
« Resposta #296 Online: 14 de Fevereiro de 2009, 14:22:46 »
Hmm? O pacificismo existe.  Modelos beligerantes podem ser transcendidos.  Não é a razão que nos leva a fazê-lo?

Só porque militares geralmente desconsideram o pacifismo, não se segue de forma alguma que ele não seja racional.  Apenas que não é habitual ou natural para a maioria dos militares.

Você não está me entendendo. Estou dizendo que o pacifismo não é a conclusão óbvia de qualquer articulação racional. Ele só é alcançado se você partir de uma série de premissas já pacifistas por princípio. Tanto a guerra quanto a paz são absolutamente racionais se você escolher as premissas certas - e a escolha por uma ou pela outra está além da razão. Puxando um pouco para o Existencialismo aqui, o homem não tem um essência pacífica nem guerreira, isso é uma escolha a priori pela qual devemos nos responsabilizar. "O homem está condenado a ser livre."

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(...) E como é que eu vou provar uma negação? Toma que o ônus é seu :P

Não vai, e por isso, na falta de um bom motivo em contrário, eu tenho o direito de duvidar dela.

Peraí, por falta de evidência negativa você duvida da minha negação da sua afirmação de que os animais são racionais. Em outras palavras, você acredita e pronto, mesmo sem ter evidências positivas que suportem sua crença. Para mim você acaba de admitir que tem fé -- e a fé do primeiro tipo. Você poderia acreditar no Saci-Pererê também, já que eu não tenho provas de que ele não existe.

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Um exemplo com animais que se sabe não serem racionais (abelhas) não pode provar nada sobre o que animais racionais como símios e humanos fazem com sua capacidade de raciocínio, Gabriel.  No máximo pode pôr em dúvida se o raciocínio está envolvido em certas atitudes.

E não era isso que eu estava defendendo desde o princípio? Os fundamentos mais básicos de nossa moral não foram pensados eles são necessidades evolutivas. O "não matarás" é um exemplo. Por mais que possamos elaborar racionalmente uma ética mais elevada, incluindo conceitos bem mais complexos, como "não prestarás falso testemunho do teu próximo", esses conceitos têm que partir de uma premissa mais básica, por exemplo, a premissa de que todo ser humano é igual em valor; ou de que existe um Deus que tudo vê e tem uma lista de dez coisas que ele não quer que você faça; ou de que o que interessa é eu me dar bem e danem-se os outros; etc. Pode até ser que essas premissas não sejam tão básicas assim e possam ser reduzidas a outras, beleza, mas acontece que não podemos reduzir ad infinitum, nós precisamos tirar nossos princípios de um ponto de partida que não é racional - e eu não estou falando nada de absolutamente novo aqui, pergunte para Gödel se não acreditar em mim. Não temos um axioma universalmente válido, temos no máximo as restrições que a evolução nos impôs, mas elas são frouxas o suficiente para podermos elaborar uma miríade de filosofias morais (ou amorais), todas igualmente racionais.

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Ah, sim, temos com certeza.  Ainda discordo da afirmação de que valores morais são sempre e inevitavelmente arbitrários, no entanto.  É uma idéia intrigante, mas não me convence.

Esqueça minha sugestão de ler Pinker. Leia Nietzsche :P

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Acho que valores éticos são em muitos casos herdados em um primeiro momento, mas quando se tem de tomar as decisões e pagar os preços envolvidos, acabamos por raciocinar a respeito e pesar os prós e contras.

O simples fato de haver prós e contras como parâmetros de decisão já implica em uma escolha arbitrária. Quem garante que os seus prós são iguais aos meus prós e os seus contras sejam iguais aos meus contras? E como escolher qual conjunto de valores é melhor? Repetindo o que já disse acima, temos no máximo algumas restrições que nos foram impostas pela evolução - e elas mesmas não são racionais. O resto são outras escolhas a priori que fizemos... e que também não são racionais.

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Com certeza é possível - e não duvido que seja também necessário ou até mesmo inevitável - raciocinar sobre valores morais ao ponto de revê-los e mudá-los. 

Isso será inevitável se você perceber uma contradição de valores, ou um erro de lógica que você cometeu antes, ou reconhecendo que sua premissa é flagrantemente absurda. Mas analisando os seus princípios você não vai encontrar motivo racional para trocar de um conjunto de princípios para outro. O que não quer dizer que não seja possível mudar de maneira nenhuma, só quer dizer que a mudança não será racional.

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Até porque a razão moral não existe solta no vácuo: ela precisa levar em consideração impactos sociais, econômicos, ecológicos, antropológicos.   Do contrário, não terá muita credibilidade ou utilidade nem como moral nem como razão.  Moral só faz sentido a partir de consequências no mundo real.

Ao levar em consideração os impactos você já está supondo fins sociais econômicos, ecológicos e antropológicos que você considera bons e maus. Isso já é uma escolha arbitrária. Por mais que a razão possa ser usada como um meio adequado para prever as consequências que você quer no mundo real, ela não pode definir que consequências você quer em primeiro lugar. Ressuscitando o debate capitalismo x comunismo, para dar um exemplo, você poderia considerar como uma consequência desejável de seu modelo de sociedade a igualdade social; eu poderia preferir a liberdade econômica. Hoje nós já temos boas evidências empíricas de que o comunismo não dá muito certo, mas cem anos atrás esse dilema seria bem mais complicado.

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E de fato, a diferença entre a religião e a filosofia não é nada nítida.  Basicamente, toda filosofia que aborda questões de valores morais e sua conexão com atos concretos é automaticamente uma religião.  Dois bons exemplos são o Estoicismo e o Objetivismo.  Provavelmente o Utilitarismo, também.

Não vejo por que isso seria um problema, porém.

Acho que você será a única pessoa do mundo a considerar o Estoicismo e Objetivismo duas religiões. Se você não vê como isso seria um problema, experimente definir livro como um meio de transporte áereo inventado por Santos Dumont (ou pelos irmãos Wright) no começo do século passado.

Offline Luis Dantas

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Re: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor
« Resposta #297 Online: 14 de Fevereiro de 2009, 16:24:04 »
Você não está me entendendo. Estou dizendo que o pacifismo não é a conclusão óbvia de qualquer articulação racional. Ele só é alcançado se você partir de uma série de premissas já pacifistas por princípio. Tanto a guerra quanto a paz são absolutamente racionais se você escolher as premissas certas - e a escolha por uma ou pela outra está além da razão. Puxando um pouco para o Existencialismo aqui, o homem não tem um essência pacífica nem guerreira, isso é uma escolha a priori pela qual devemos nos responsabilizar. "O homem está condenado a ser livre."

Negativo.  Não se pode realmente justificar a mentalidade belicista de forma racional.  O que pode acontecer, mas é completamente diferente, é ter uma capacidade racional restrita a modelos que não consigam transcender o belicismo.

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(...) E como é que eu vou provar uma negação? Toma que o ônus é seu :P

Não vai, e por isso, na falta de um bom motivo em contrário, eu tenho o direito de duvidar dela.

Peraí, por falta de evidência negativa você duvida da minha negação da sua afirmação de que os animais são racionais. Em outras palavras, você acredita e pronto, mesmo sem ter evidências positivas que suportem sua crença.

Evidências científicas, epistemológicas, realmente não tenho.  Por isso tenho o direito, e talvez a necessidade, de exercitar minha fé e até mesmo fazer escolhar arbitrárias.

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Para mim você acaba de admitir que tem fé -- e a fé do primeiro tipo. Você poderia acreditar no Saci-Pererê também, já que eu não tenho provas de que ele não existe.

É fé, sim.  Fé em que não faz sentido buscar algo que não pode levar a nada de desejável, e portanto devo me dedicar às alternativas que tenham alguma chance de consequências construtivas, mesmo que seja uma chance pequena ou que só possa se consolidar daqui a muitas gerações.

Seria fé supersticiosa?  Até onde percebo, não.  Mas se quiser elaborar...

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Um exemplo com animais que se sabe não serem racionais (abelhas) não pode provar nada sobre o que animais racionais como símios e humanos fazem com sua capacidade de raciocínio, Gabriel.  No máximo pode pôr em dúvida se o raciocínio está envolvido em certas atitudes.

E não era isso que eu estava defendendo desde o princípio?

Não pelo que eu entendi.  Você parecia estar defendendo uma idéia mais ousada e mais radical, de que instintos e razão excluem-se mutuamente.

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Os fundamentos mais básicos de nossa moral não foram pensados eles são necessidades evolutivas.

Os mais primitivos, talvez, mas não necessariamente os mais básicos, ou mesmo os que sobreviveram até hoje.

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O "não matarás" é um exemplo. Por mais que possamos elaborar racionalmente uma ética mais elevada, incluindo conceitos bem mais complexos, como "não prestarás falso testemunho do teu próximo", esses conceitos têm que partir de uma premissa mais básica, por exemplo, a premissa de que todo ser humano é igual em valor; ou de que existe um Deus que tudo vê e tem uma lista de dez coisas que ele não quer que você faça; ou de que o que interessa é eu me dar bem e danem-se os outros; etc. Pode até ser que essas premissas não sejam tão básicas assim e possam ser reduzidas a outras, beleza, mas acontece que não podemos reduzir ad infinitum, nós precisamos tirar nossos princípios de um ponto de partida que não é racional - e eu não estou falando nada de absolutamente novo aqui, pergunte para Gödel se não acreditar em mim. Não temos um axioma universalmente válido, temos no máximo as restrições que a evolução nos impôs, mas elas são frouxas o suficiente para podermos elaborar uma miríade de filosofias morais (ou amorais), todas igualmente racionais.

Se te entendi corretamente, você pode estar confundindo a origem histórica da moral com sua sustentação racional e filosófica.  Só porque o início da moral veio de instintos biológicos e superstições não se segue que ela não possa, não deva ou não tenha sido ainda devidamente estruturada em termos racionais.

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Acho que valores éticos são em muitos casos herdados em um primeiro momento, mas quando se tem de tomar as decisões e pagar os preços envolvidos, acabamos por raciocinar a respeito e pesar os prós e contras.

O simples fato de haver prós e contras como parâmetros de decisão já implica em uma escolha arbitrária.

Arbitrária ou ponderada?

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Quem garante que os seus prós são iguais aos meus prós e os seus contras sejam iguais aos meus contras?

Em muitos casos não serão mesmo.  E por esse motivo, entre outros, é preciso que as escolhas morais sejam bastante ambiciosas e fundamentadas nas compreensões mais amplas possíveis dos quadros globais, bem como das particularidades locais e circunstanciais.

Não vejo como se possa sequer tentar fazer algo assim sem a razão.

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E como escolher qual conjunto de valores é melhor? Repetindo o que já disse acima, temos no máximo algumas restrições que nos foram impostas pela evolução - e elas mesmas não são racionais. O resto são outras escolhas a priori que fizemos... e que também não são racionais.

Não entendi.

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Com certeza é possível - e não duvido que seja também necessário ou até mesmo inevitável - raciocinar sobre valores morais ao ponto de revê-los e mudá-los. 

Isso será inevitável se você perceber uma contradição de valores, ou um erro de lógica que você cometeu antes, ou reconhecendo que sua premissa é flagrantemente absurda.

Ou simplesmente percebendo consequências indesejáveis (e supostamente imprevistas) do exercício da moral até então vigente. 

Afinal, a moral não é um subconjunto da lógica pura, e sim uma disciplina aplicada que tem de ser calibrada pelos fatos concretos.

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Mas analisando os seus princípios você não vai encontrar motivo racional para trocar de um conjunto de princípios para outro. O que não quer dizer que não seja possível mudar de maneira nenhuma, só quer dizer que a mudança não será racional.

Mas a origem dos motivos para mudá-los será sempre e necessariamente externa, já que estamos falando de moral e não de lógica abstrata.  Portanto não importa se há ou não algum motivo interno (contradição ou outro) para mudá-los.

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Até porque a razão moral não existe solta no vácuo: ela precisa levar em consideração impactos sociais, econômicos, ecológicos, antropológicos.   Do contrário, não terá muita credibilidade ou utilidade nem como moral nem como razão.  Moral só faz sentido a partir de consequências no mundo real.

Ao levar em consideração os impactos você já está supondo fins sociais econômicos, ecológicos e antropológicos que você considera bons e maus. Isso já é uma escolha arbitrária.

Arbitrária, talvez.  Mas não aleatória, muito menos irracional.

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Por mais que a razão possa ser usada como um meio adequado para prever as consequências que você quer no mundo real, ela não pode definir que consequências você quer em primeiro lugar.

Sozinha, não pode realmente.  Mas ela pode e deve servir para analisar as circunstâncias concretas e as relações de causa e efeito e avaliá-las.

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Ressuscitando o debate capitalismo x comunismo, para dar um exemplo, você poderia considerar como uma consequência desejável de seu modelo de sociedade a igualdade social; eu poderia preferir a liberdade econômica. Hoje nós já temos boas evidências empíricas de que o comunismo não dá muito certo, mas cem anos atrás esse dilema seria bem mais complicado.

Não sei se cabe uma comparação dessas, mas a solução para o dilema é a mesma nos dois casos: transcender o modelo e refiná-lo a partir do confronto com os fatos reais.

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E de fato, a diferença entre a religião e a filosofia não é nada nítida.  Basicamente, toda filosofia que aborda questões de valores morais e sua conexão com atos concretos é automaticamente uma religião.  Dois bons exemplos são o Estoicismo e o Objetivismo.  Provavelmente o Utilitarismo, também.

Não vejo por que isso seria um problema, porém.

Acho que você será a única pessoa do mundo a considerar o Estoicismo e Objetivismo duas religiões.

No caso do Objetivismo de Ayn Rand, pelo menos, não creio que seja.

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Se você não vê como isso seria um problema, experimente definir livro como um meio de transporte áereo inventado por Santos Dumont (ou pelos irmãos Wright) no começo do século passado.

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The stanza uttered by a teacher is reborn in the scholar who repeats the word

Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

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Re: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor
« Resposta #298 Online: 14 de Fevereiro de 2009, 16:47:44 »
Agnóstico, eu não sou budista. Então não adianta apelar para o seu red herring.

Para o agnóstico, alguém que defenda a causa homossexual é necessariamente um deles?

Ok, comecei a achar depois da estatísticas de um homem só, da superioridade dos seres budistas e outras. Se você diz que não é, acredito.

Para você ver como muitas das suas conclusões são falsas.

Se você quiser debater onde estão essas conclusões, estou a disposição. No que tange a você ser budista, voltei atrás por acreditar em você apenas, é meu dever.

Até agora, só vi nhe nhe nhe de que  minha religião budismo é superior, seres superiores escolhem religiões superiores, estatísticas de amostra única e você evitando responder sobre as groselhas da doutrina...


« Última modificação: 14 de Fevereiro de 2009, 16:57:24 por Agnóstico »
“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

Faisal Saeed Al Mutar


"To claim that someone is not motivated by what they say is motivating them, means you know what motivates them better than they do."

Peter Boghossian

Sacred cows make the best hamburgers

I'm not convinced that faith can move mountains, but I've seen what it can do to skyscrapers."  --William Gascoyne

Offline Moro

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Re: Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor
« Resposta #299 Online: 14 de Fevereiro de 2009, 16:55:37 »
Você não está me entendendo. Estou dizendo que o pacifismo não é a conclusão óbvia de qualquer articulação racional. Ele só é alcançado se você partir de uma série de premissas já pacifistas por princípio. Tanto a guerra quanto a paz são absolutamente racionais se você escolher as premissas certas - e a escolha por uma ou pela outra está além da razão. Puxando um pouco para o Existencialismo aqui, o homem não tem um essência pacífica nem guerreira, isso é uma escolha a priori pela qual devemos nos responsabilizar. "O homem está condenado a ser livre."

Negativo.  Não se pode realmente justificar a mentalidade belicista de forma racional.  O que pode acontecer, mas é completamente diferente, é ter uma capacidade racional restrita a modelos que não consigam transcender o belicismo.


Completamente equivocado e com interferência de uma visão religiosa. A mentalidade belicista é presente na vida do ser humano e possui diversos racionais. Uma reação a uma invasão, uma disputa por fronteiras, luta por supremacia econômica, etc..

Não ser o que você considera certo não quer dizer que não tenha um racional por trás que não tenha sido devidamente estudado. Não vamos entrar naquela questão da verdadeira justiça ou agora a verdadeira racionalidade.

As decisões são tomadas dentro de um contexto e a guerra é apenas uma delas.


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(...) E como é que eu vou provar uma negação? Toma que o ônus é seu :P

Não vai, e por isso, na falta de um bom motivo em contrário, eu tenho o direito de duvidar dela.

Peraí, por falta de evidência negativa você duvida da minha negação da sua afirmação de que os animais são racionais. Em outras palavras, você acredita e pronto, mesmo sem ter evidências positivas que suportem sua crença.

Evidências científicas, epistemológicas, realmente não tenho.  Por isso tenho o direito, e talvez a necessidade, de exercitar minha fé e até mesmo fazer escolhar arbitrárias.

Um bom exemplo para estudarmos... exercer a fé contra os fatos. É o que estamos vendo aqui sem parar.
“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

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