Azumi,
Primeiramente, você não disse, absolutamente, nada para além de citar dois 'fragmentos' de explanações,
da
Kmile, e categorizá-los como sendo: expressões machistas. Não se deu ao trabalho de ler o contexto. Isso nas
duas vezes em que o fez. Oras, da primeira vez você até comentou a expressão 'nascer no pecado', como ousa vir
aqui dizer ter sido uma eventual gafe, e que a pretensão, desde o princípio, era esse trecho de agora? Isso
não tem o menor sentido, será possível que não perceba?
Que não perceba o quê ? Na verdade encontrei um tom machista em TODO o texto da Kmile, só destaquei um ponto
equivocado, onde além de machista acreditei ler reminiscências cristãs. Eu explanei mais do que simplesmente
categorizar e a sua resposta abaixo é prova disso.
Por favor, combinemos o seguinte, não é por que o
Diego é policial, você é pai e eu fui vítima de abuso sexual, que estamos mais credenciados para a discussão
que ninguém. Não disse isso e nem concordo com quem o disser. Estamos tratando de um problema social, e deve
ser encarado como tal. É certo que, por muitas vezes, por termos uma relação, digamos assim, um pouco mais
estreita com o tema, nos envolvemos mais. Mas isso não nos garante maiores direitos a discutir, estamos
entendidos?
Ok. Mas então fiz mais do que só categorizar.
Toda a vida humana parece está condicionada a essa disputa, esse 'vencer'. E, infelizmente, isso foi trazido
para o campo do conhecimento, lugar que deveria está isento dessas 'vaidades'. Eu jamais entraria em um
debate, já sabendo de antemão, que posso ganhar com armas espúrias, por meios escusos e desonestos. Isso tudo
implica em pontos fracos e fortes da argumentação, apenas. Da coerência de tal argumento... O quão de
benefício que isso traz para nós? Eu não sei. Concordo que tudo seja questionável. Mas há de se usar da
boa-filosofia para tanto.
Não entendi onde quer chegar. Você acha que quero ganhar a discussão com armas espúrias ? Ou não sou coerente
?
Sei lá...
Afinal, a resposta é exata; não há duas ou mais respostas, e sim respostas que se
confundem com a 'verdadeira'. Devemos persegui-la - essa resposta, a verdadeira -, de modo perene...
Obviamente que o mais comum são as respostas erradas, as que nem se confundem, pois não têm nada a ver com a
questão.
Podemos ser tão deterministas em questões de atitudes de um ser humano, ou pior, de uma sociedade ?
Não creio. Não existe uma verdade, porque existem diversos pontos de vista numa mesma questão.
Provavelmente o Conselho Tutelar ou assistentes sociais que vejam o caso poderão dizer até que ponto
a mãe era conivente.
E veja, eu sei que existem muitos casos em que a mãe é conivente. Uma imensa maioria, aliás.
Existem também casos em que a mãe não tem a estrutura psicológica para se dar conta do que acontece,
e tomar uma atitude. Além de ter sido criada num ambiente repressivo e de obediência ao homem,
seja pai, irmão ou marido. Então pode desconfiar (o que já é de por si perigoso), mas
confrontar esse homem é algo mais difícil do que pode parecer para mim ou para você.
E esse é o centro da questão ao meu ver, isto é, numa sociedade que sabemos ser machista e
de acontecerem abusos que vemos, utilizar argumentos machistas para condenar a mãe, é o que mais me espanta.
Kmile não está equivocada. No princípio da civilização, na civilização arcaica, antes do cristianismo
vir a
existir, quando as religiões pagãs eram absolutas, a sociedade era matriarcal. E ela assim o era por pura
impossibilidade de uma sociedade patriarcal nesse determinado período da história. Os homens caçavam, iam para
a guerra... As mulheres ficavam nos seus lares, tomando conta dos filhos e controlando os bens... Por uma
questão lógica, os homens morriam com bem mais frequência que as mulheres. Elas tinham o controle social por
esse motivo. Mas o que determinava isso? - Pergunto eu e, por conseguinte, vos respondo - Por puro instinto de
sobrevivência, no seu sentido mais amplo, que é a perpetuação da espécie. Se as mulheres fossem para guerra,
morreriam com mais frequência. Logo, a espécie humana entraria em extinção.
Leia: A origem da família, da sociedade privada e do Estado, Friedrich Engels.
Engels era antropólogo ? Para mim isso é novidade.
Engels provavelmente se baseava em teorias antropológicas do seu tempo que tem sido largamente
discutidas um século inteiro depois (também está The Golden Bough de Sir James Fraser para falar sobre
sociedades e
ritos pré-indoeuropeus na Europa), e acontece que, embora em vários momentos seja verdade, há evidências
de que houve sociedades matriarcais e patriarcais também entre caçadores e coletores. Aliás, os reminiscentes
dessas civilizações de antes da Idade do Ferro também são patriarcais.
Mas digamos que seja verdade. Mesmo assim essa sociedade paleolítica acabou com as primeiras cidades.
Isso há uns 5 mil anos atrás. Temos reminiscências paleolíticas ? Sim, com certeza, mas não ao ponto de
justificar que a mãe teria que ter zelado pelas filhas porque 'seu dever é procriar'.
Sim, com a acepção moderna do que venha ser uma família, a responsabilidade é de quem estiver com a tutela do
projeto de cidadão. (Se se desse ao trabalho de averiguar, de ler o contexto da discussão, perceberia que já
havíamos discutido isso, posteres antes...). No entanto, por natureza, a mãe é quem amamenta, e isso se supõe
outros cuidados mais... Além de que a mãe, instintivamente, tem ligações afetivas com a prole, bem mais
intensas que o pai. Não seria a toa que a justiça priorizaria a mãe, nas questões de guarda da criança.
Mãe é mãe, seja na civilização arcaica, na medieval ou na moderna, e seja aonde for... Agora se há anomalias
decorrentes de outros fatores? São outros quinhentos... O que não justifica a penalização da criança.
Está me acusando de não ter lido algo que li e que não vem ao caso ?
Estamos fugindo do assunto 'machismo'.
Repito: o que me chamou a atenção e quis destacar é que ainda 'Womem is the nigger of the world',
como disse John Lennon. A mãe é que vai apanhar, em todo caso. Que fardo !