Caros Agnóstico e Derfel
O meu comentário (aparentemente) "anti-França" foi feito essencialmente para discordar da afirmação de que ela é um pais mais pacífico que outros. O tom irônico, jocoso mesmo, inclusive com o uso de palavras mais contundentes ('covarde'), pode ser observado pela minha última frase. Acrescentem a isto o fato de que fiz menções a conflitos sem uma maior preocupação em especificar os intervalos que ocorreram, mas apenas com uma simples citação de um ano histórico como referência, e de memória, que em função da minha idade já não funciona tão bem.
Mas a resposta do Derfel denota uma maior preocupação com a qualidade da informação nos seus comentários. Em respeito a isto, permita-me apresentar algumas considerações a respeito das duas postagens a mim dirigidas, ainda que de forma indireta.
Foi bem pacífica na independência do Marrocos...
Concordo com você, mas não acho que foi por benemérito intrínseco da França, e isto por dois motivos. O primeiro é que Sidi Muhammad, o verdadeiro "homem forte" marroquino, manteve e até aumentou as estreitas relações com a França, ou seja, não houve um afastamento da linha mestra da política externa francesa. O segundo motivo é que não havia (e pelo que sei, não há) depósitos petrolíferos conhecidos no Marrocos. Se não estiver enganado, o único bem mineral que este país africano produz em escala significativa é o fosfato.
O caso da Argélia é diametralmente oposto, pois esta contava com grandes reservas de petróleo.
E em 1812 dominavam quase toda a Europa e em 1776 foi decisiva para a Revolução Americana (o que foi péssimo financeiramente para os franceses)...
Concordo. Eles dominaram boa parte da Europa e seu expansionismo foi barrado por um conjunto de países, principalmente a Inglaterra. Aliás foi a última vez que os franceses levaram vantagem como principais atores em um cenário militar.
A Revolução Americana foi apoiada pelos franceses por causa de seu confronto com os ingleses e não por altruísmo. A situação financeira da França já vinha debilitada pelos péssimos reinados de então, de tal modo que o custo financeiro do apoio ao país americano foi apenas mais uma "gota".
Na WWI a França conseguiu barrar a investida alemã (o que acabou levando às guerras de trincheira). Os ingleses lutaram no lado francês (por conta dos tratados da época e para impedir o aumento da influência alemã), mas ficaram também presos nas trincheiras. Foi a invenção do tanque e a exaustão de recursos da Alemanha por lutar em duas frentes que levou ao armistício.Os EUA fizeram pouca diferença na WWI, entrando já no final da guerra.
Concordo. E nisto a WWI foi apenas o primeiro movimento da WWII. Mas ainda assim a França somente resistiu por causa do apoio inglês no flanco ocidental, do italiano no sul e do russo no leste.
Já os estadunidenses não foram decisivos em termos de combate e sim em termos financeiros e logísticos.
Na WWII praticamente toda a Europa continental caiu sob fogo alemão. A França foi libertada no Dia D por forças inglesas, canadenses, americanas e francesas do exílio, mas a história poderia ser outra se, novamente, a Alemanha não lutasse em duas frentes e não houvesse tido uma série de erros (e azares) por parte dos alemães no Dia D.
O principal "front" sempre foi o oriental, pois quem efetivamente segurou a Alemanha Hitlerista foi a URSS. Não houve no Ocidente nenhum combate que se aproximasse dos confrontos orientais, tais como as batalhas de Stalingrado e Kursk.
As causas históricas da derrota Nazista são várias, inclusive o péssimo planajemanto estratégico que dispersou as forças alemãs em 3 principais frentes: França/Inglaterra; Itália/Norte da África/Balcãs e a URSS.
Ainda assim a atuação francesa foi pífia e não são poucos os historiadores que consideraram a atitude dos franceses, particularmente os de Paris, excessivamente passiva frente aos Nazis. Claro que há de se reconhecer e contextualizar a situação então vivida, mas fica a observação.
Na Indochina, lembre-se, depois os EUA que tomaram um pau.
Sem dúvida. Mas para manter a coerência de análise, se deve ressaltar o fato que a França atuou e perdeu em um cenário militar de muito menor escala que os EUA, embora para este o resultado tenha sido o mesmo. Não houve o apoio soviético ou chinês aos vietnamitas contra os franceses na mesma medida que houve contra os estadunidenses, desde 1962 até 1973.
Na Guerra Franco-Prussiana os franceses não estavam preparados para uma guerra contra a Prússia, que possuiam um exército maior, mais bem preparado e com armamento melhor (como os canhões Krupp contra os franceses que eram carregados pela boca).
Outra atuação pífia da França contra um conjunto de estados em fase de agrupamento para o nascimento da Alemanha. Não é culpa desta se os seus adversários não se prepararam, em um tempo histórico (segunda metade do século XIX) em que guerras de grande escala entre Estados eram frequentes.
Outra coisa a se considerar é a localização geográfica da França, em uma área de constantes conflitos na história até a segunda metade do século XX. Já a Inglaterra se encontra com uma proteção natural, já que se trata de uma ilha. A última invasão bem sucedida que a Inglaterra sofreu foi em 1066 pelo Duque Guilherme da Normandia. E antes disso só houve as invasôes dos romanos e de dinamarqueses. Em outras três ocasiões em que a Inglaterra esteve em risco de invasão, em uma (1588) só não ocorreu por um golpe de sorte, onde a Invencível Armada foi destruída por um temporal.
Perfeito! Concordo. Mas você há de concordar comigo que seja o aproveitamento das vantagens naturais, seja a superação das mesmas desvantagens, ambas fazem parte do contingenciamento dos planos militares de cada nação.
Quanto aos EUA, da mesma forma estão isolados por uma defesa natural, no caso o oceano. Nas poucas vezes em que enfrentaram guerra em seu território em uma foram salvos pelos franceses (1776), em outra perderam para os canadenses (1812), em outra foi fraticida (1861-1865), e outras foi contra inimigos bem inferiores (guerras indígenas de 1778 a 1890 e a mexicano-americana de 1846).
Sim, os EUA tem hoje uma grande vantagem por estarem isolados por dois oceanos, a leste e a oeste, e mesmo por uma grande massa continental a norte. Mas quando da guerra pela independência eles mal passavam de um grupo de insurgentes milicianos. Assim não acho justo insinuar que eles tiveram um desempenho razoável apenas porque receberam a ajuda da França, mas antes tiveram um desempenho satisfatório tendo em vista o equipamento e o pessoal disponível.
Quanto à guerra expansionista contra o Canadá eu concordo, apenas acrescentando que neste conflito os canadenses foram amplamente apoiados tanto por britânicos como por franceses, que anteviram o despertar do imperialismo estadunidense já no alvorecer do século XIX.
Quanto aos confrontos internos; seja a guerra de Secessão, seja contra os povos nativos; ambos são lamentáveis, principalmente contra os nativos, pois neste caso as palavras que melhor definem o comportamento dos estadunidenses brancos e cristãos é "massacre" e "genocídio".
Por fim o conflito com os mexicanos, embora vitorioso, é uma vergonha pois foi feito visando essencialmente o expansionismo territorial.
Queria acrescentar apenas um conflito estadunidense, que certamente não foi citado por você porque não ocorreu no território deles, e que se desenvolveu no final do século XIX contra a Espanha. Com isto eles anexaram Porto Rico e as Filipinas e tornaram Cuba um protetorado. Esta guerra foi planejada e começou com um mero pretexto.
É isto.