Entenda, a gestão é privada, o estado apenas comprou o serviço do hospital. Ele vendeu o serviço porque quis e aceitou os valores do contrato, então deve entregar o contratado. E os valores nem sempre são tão discrepantes. Normalmente os valores da Tabela SUS são menores que os de planos de saúde (lembrando que o estado não necessariamente paga a tabela SUS, muitas vezes paga a mais), porém em alguns casos pode ser maior ou similares:
http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2010/anais/arquivos/RE_0868_1096_01.pdf (na fisioterapia, comparando a tabela do conselho, Unimed e SUS).
Então, novamente, porque o usuário do SUS deve ser discriminado no hospital privado se está pagando também?
Imagino que o SUS deve ter feito um planejamento com previsão de demanda e capacidade de cada hospital ao invés de simplesmente dizer "te pago tanto por cliente".
E claro que ao fazer esse planejamento, avaliando cenários, etc.. ele viu que os hospitais não dariam conta e que simplesmente acreditar que existe oferta infinita é absurdo.. aí ele viu como aumentar a oferta junto à iniciativa privada baseado em um cronograma de investimentos e projetos bem definidos.
Não sei. Não sei como é feito o planejamento de Porto Alegre ou do RS. Esse hospital que o Gaúcho citou é conveniado com Porto Alegre ou RS? De qualquer forma, no caso da demanda aberta, provavelmente foi contratado por procedimento realizado. O planejamento é feito para 4 anos, no plano municipal de saúde, que você pode encontrar no site da secretaria de lá, considerando as bases epidemiológicas. Esse plano de 4 anos é feito de tal forma que pegue a metade de uma gestão e a metade seguinte, para que não seja algo de um governo, mas uma política de estado. Além disso existem os planos plurianuais, ppa, que são feitos a cada ano. Porém, o município não atende apenas a sua demanda, mas também municípios vizinhos (ou do estado todo) e isso é definido na programação pactuada integrada (ppi), que acaba sendo executada, na prática de uma de duas formas: pela demanda (o que seria o ideal, jámque se sabe, epidemiologicamente, o que seria esperado no ano para cada agravo ou procedimento) ou pela oferta, onde acaba sendo utilizada a oferta de serviços pelo prestador (e é onde o prestador ganha mais). Não sei como se dá o processo em Porto Alegre.
Só que não.. fizeram nas coxas porque não sabem planejar, e na verdade arrumaram um sócio privado para tentar apagar seu incêndio. É claro que o hospital vai priorizar.
O problema da demanda hospitalar não é tão simples assim de equacionar, já que, se a Atenção Básica do município estivesse funcionando adequadamente essa demanda deveria estar reduzida. Para se ter uma ideia do que se trata, em um município daqui havia uma média de 100 atendimentos mês de um território, depois que um médico cubano do Mais Médicos foi lotado lá, a média foi reduzida para 8/mês.
Para se ter uma ideia da AB no RS, a título de comparação, o estado possui 1417 equipes da ESF, 52 NASF e 9207 Agentes Comunitários de saúde. O RN possui 960 equipes da ESF, 152 NASF e 5768 Agentes Comunitários de saúde. A população do RS, contudo, é 10.770.703 contra 3.228.198 no RN. Claro que a atenção envolve muito mais que apenas o quantitativo, mas isso já dá para se ter uma ideia dos problemas com a AB no RS.
Grande parte desses hospitais são conveniados há mais tempo que a existência do SUS e é prevista a atuação de hospitais conveniados no sistema (não é um sócio, mas um prestador de serviços).