Mas todavia pergunto - apesar de você provar - segundo a sua óptica pessoal, a personalidade racista de Kardec, supõe sinceramente como plausível, que isso é o suficiente, para o levar a acreditar piamente, que desse modo demonstra em definitivo, a inexistência do espírito, dentro duma especulação metafísica?
Caro lusitano, não se pode provar uma negação, ainda mais em definitivo. O que se pode fazer é elaborar hipóteses e verificar qual é mais consistente com os fatos, analisados friamente, imparcialmente e sem "malabarismos".
Desse modo, dadas duas hipóteses, "a obra de Kardec é fruto de conhecimento de espíritos mais evoluídos que os humanos encarnados" e "a obra de Kardec é fruto do conhecimento dos humanos (mais especificamente dos europeus) do século XIX", verifica-se por meio da análise da sua obra qual hipótese é mais consistente. Os textos de Kardec mostram um pensamento racista, eurocentrista, uma moral tipicamente cristã e muitos erros científicos, principalmente naquilo que ainda era controvérsia na época, como a questão da geração espontânea ou da origem do homem. Mesmo naquilo que já era conhecido, como aplicação da mecânica newtoniana, há erros grosseiros. Ou seja, a análise da obra descarta a primeira hipótese e coloca os textos como obra bem humana.
Isso é tudo o que se pode fazer nesse caso. Mas perceba que o ônus da prova no caso da existência dos espíritos pertence a quem afirma a sua existência. Quando analisado o conjunto de tudo o que já foi produzido pelo espiritismo em termos de "provas e evidências", que não passam de fraudes grosseiras em grande parte dos casos, fica claro que, ou espíritos não existem ou eles não se comportam como o espiritismo afirma. Em ambos os casos o espiritismo não tem nada a dizer sobre o assunto. E como também não foi produzida até hoje qualquer evidência palpável e unívoca da existência de espíritos por qualquer outra explicação alternativa ao espiritismo, uso a navalha de Ockham e fico com a primeira explicação - a de que não existem espíritos - até que apareça um conjunto de evidências realmente sólido mostrando o contrário.
Recomendo que leia o texto do "dragão na garagem" do Carl Sagan. Ele é bem elucidativo sobre o assunto.
Ora se efectivamente, como disse o camarada Fabrício, a discussão fundamental, é se de facto existe o espírito, como algo passível de se evidenciar como uma realidade persistente, num nível mental ou psíquico dos fenómenos naturais, que hipoteticamente pode perdurar muito para além da decomposição física de um corpo biológico… Em que ponto é que ficamos?
Como disse acima, ficamos (pelo menos eu fico) com a hipótese da não existência de espíritos até prova em contrário.
A “evidência anedótica” - experienciada por pessoas como eu – não tem qualquer valor em termos de conhecimento pragmático e filosófico, já que cientificamente parece não ter…?
Eu diria que tem um valor pessoal. Mas veja bem que mesmo fenômenos objetivos podem ser interpretados de formas diferentes por diferentes pessoas, as quais nem sempre correspondem aos simples fatos. Tome a descrição de uma discussão seguida de um briga, por exemplo. Os testemunhos podem variar grandemente em relação ao que ocorreu, quem começou, quem estava com a razão na discussão e quem ganhou a briga, principalmente se algumas das testemunhas tem alguma ligação emocional (ou é amigo, conhecido, odeia ou simplesmente não gosta de um dos envolvidos).
Da mesma forma a sua experiência pessoal é influenciada e "interpretada" pelo seu conjunto de crenças. Usá-la para confirmar esse mesmo conjunto não passa de uma forma de "raciocínio circular". Cuidado portanto para não construir um "castelo de cartas" baseado nas suas "evidências anedóticas".
Acha que perante estes factos pessoais, a melhor coisa a fazer, é considerar todas as pessoas que investigam esta realidade “ilusória”, como destituídas de senso lógico ou “espírito crítico”? Pior ainda desconhecedoras ou desprezadoras do método científico? Ou até mesmo no limite, atrasadas mentais ou simplesmente psicóticas?
A questão não é o que você investiga, mas como investiga. Alguém que faça uma pesquisa parcial, cheia de erros e omissões ou é incompetente ou desonesto, independente de estar pesquisando espíritos ou o bóson de Higgs.
Eu pelo meu lado, confesso-me não espírita kardecista; mas a análise dos meus sonhos, em termos de neurologia, psiquiatria e paralogismo comparados – levam-me a admitir como plausível - que o espírito, como algo de espécie mais ou menos mística, é uma tentação fantasticamente sedutora, que eu de boa vontade, não posso facilmente desdenhar ou descartar…
Tentação sedutora não posso negar que é. A questão é que a realidade quase nunca corresponde aos nossos mais profundos desejos. Eu, por exemplo, adoraria ser milionário e viver permanentemente em festa em uma mansão rodeado de beldades. Mas como não me chamo Hugh Hefner, sei que a realidade é bem diferente...
Mas já que você gosta do assunto, recomendo ler algumas obras de neurologia, como os livros do Kandel, eles podem lhe dar uma outra visão sobre o assunto.
Principalmente, quando existe na internet - um clube de “esquizofrénicos” - mais ou menos como eu, que praticam de forma sistemática, investigação onironautica. Entre os quais - “os voadores” - do fórum criado pelos projeccionistas de consciência Lázaro Freire & Wagner Borges, que é corroborado indistintamente, tanto por “t(d)eístas como por ateus”.
http://www.voadores.com.br
Mas até aí, um grupo de pessoas compartilhando suas experiências pessoais de viagem astral não é absolutamente prova nenhuma da realidade dessas experiências. Vários pesquisadores céticos mantêm até hoje papéis com conjunto de números para serem relatados por "viajantes astrais", mas até hoje não foi reportado nenhum caso de sucesso apesar da "desenvoltura" de muitos desses viajantes...