Para mim toda essa questão de hard problem, de vermelhidão, qualia, etc.. é bullshit filosófico, no mais puro sentido "pós moderno" de bullshit filosófico
Pare com o suspense e esclareça o mundo então. O que é necessário, sem bullshits filosóficos sobre "como se poderia saber" (epistemologia, mais bullshit...), para um sistema ter a experiência que temos de algo como a vermelhidão da luz vermelha ao observar essa freqüência de luz e etc.
Você chama o que de sistema, um software mais um hardware?
O que quer que seja necessário, eu não sei o que é. Talvez fosse necessário um dado hardware, mas ainda podendo existir numa ampla variação de software (como podem haver vários "sistemas operacionais" ou aplicativos para a mesma função), ou talvez a especificidade de hardware tenha importância muito maior.
Se for isso ele precisa de um cérebro (não isso não é uma petição de principio lei ate o final) , ter emoções, ter consciência, etc.. Nossa experiência existe porque temos essa carcateristica.
Aqui seriam talvez úteis definições desses termos e o por que de sua relevância. Como:
Cérebro - sistema nervoso central; uma unidade espacialmente centralizada de processamento de dados (necessariamente composta de neurônios?), e isso é necessário porque essa centralização permite mais interações entre as células, e assim a velocidade de processamento necessária para a emergência da experiência porque [...?]
Emoções - na acepção adotada pelo neurologista Antonio Damásio, isso é, a contraparte fisiológica do sentimento (mental, qualia). Isso é importante porque [...] e seu papel na relação causal se dá [...].
Consciência - [???]
Esses três componentes resultam na emergência de forma que o primeiro faz tchan, o segundo faz tchun, e a terceira [...]. Removendo um desses elementos, gradual ou totalmente, se pode perceber que então não se tem o sufiicente para a experiência subjetiva, o que vai de acordo com achados empíricos em [pessoas apáticas/organismos com sistema nervoso não centralizado/pessoas e seres inconscientes de forma que não seja petição de princípio].
E claro que os mecanismos que promovem isso no nosso cérebro são complexos e pouco mapeados, há todo um caminho para conhece-lo ainda.
Com isso concordo totalmente. Mesmo a pesquisa de correlatos neuronais da consciência está apenas engatinhando, mesmo e depois que se tiver percorrido um longo caminho, e até se decifrado o código neuronal, acho que ainda sobrará a questão de como é que essas atividades e códigos dão origem àquilo que experienciamos "de dentro", em vez de ser apenas como se julga ser um computador ou um robô não praticamente idêntico a uma pessoa em todo fluxo de processamento -- se mesmo isso for suficiente.
Uma criança antes de aprender a falar experiencia a visão da mesma forma que experienciamos? Um gato? Um rato? Um robô poderia? O que ele precisaria ter? Então tome a coisa mais simples que pode ter uma experiência idêntica a nossa, e gradualmente a simplifique até que não seja mais o caso, e nos explique como é que esse(s) elemento(s) retirado(s) fazem isso.
Muito simples buck. Como uma criança pode ter a mesma experiência que você se ela
Não tem as mesmas coisas que você em mente? Um rato também.. Você leu a analogia do lago que fiz, porque não começamos de lá? Sobre um robô já disse, não sei o futuro mas não há nada hoje que pressuponha que ele possa a ter consciência e qualquer interpretação da realidade.
Vou procurar essa analogia.
Essa questão de tome algo mais simples que pode ter u
A experiência igual a nossa sequer faz sentido como pergunta
Faz sim. Tome por exemplo a visão. É algo bastante seguro, a princípio, que a visão de um chimpanzé seja muito similar a nossa. Ele tem um cérebro e todo o sistema visual homólogo, muito similar. Se a nossa experiência visual é produto/efeito da atividade desse sistema, as chances são de ser mesmo o caso. Por outro lado, nosso cérebro não é exatamente igual ao de um chimpanzé. Ele se desenvolve por um tempo muito mais longo, e temos habilidades que eles só podem desenvolver precariamente, como a linguagem. Talvez então, como aparenta ser o que o neurologista (não filósofo) Ramachandran supõe, apenas nesse interim é que evoluiu aquilo que experienciamos através de nossos sentidos e de nossa mente, em vez de sermos apenas um autômato sem uma "vida interior" -- como talvez sejam desde os chimpanzés, até mesmo crianças antes de adquirirem a linguagem.
Por outro lado, poderia ser que a linguagem e o pensamento mais complexo são coisas independentes da nossa experiência subjetiva. Acho que foi o Carl Sagan em "Dragões do Éden" que deu como exemplo o nosso estado mental durante os sonhos. Sonhando, somos extremamente burros. Boa parte das capacidades que nos fazem humanos não estão bem lá, qualquer pessoa "consciente" saberia que a maior parte dos sonhos são sonhos, não realidade. E no entanto, mesmo nos sonhos, experienciamos cores, sons, e até linguagem. Então talvez os animais menos complexos (e crianças antes de adquirirem linguagem) poderiam ter uma experiência do mundo similar a nossa nessa parte sensorial, apenas não tendo a mesma elaboração de raciocínio sobre qualquer coisa. Ser um cão ou um gato seria um pouco parecido com sermos nós mesmos, andando por aí de quatro, e com um "mute" na nossa voz interna, agindo de forma mais impulsiva -- em vez de "não ser nada", de um cão ou gato ter a mesma experiência subjetiva que uma pedra, nenhuma.
A mim essa perspectiva da origem puramente sensorial de qualia tem mais apelo intuitivo -- o que não quer dizer realmente nada. Apenas me parece estranhíssimo imaginar que um cão ou gato seja "experiencie" o mundo virtualmente da mesma forma que um boneco de corda. O mesmo vale para crianças e pessoas que não tenham adquirido linguagem. Parece simplesmente absurdo ser algo diferente disso.
E o problema é que não temos mesmo como saber, como disse, é uma experiência "interna", não dá para plugar um cabo na nuca de uma pessoa e pegar o seu "vídeo" e o seu "áudio", ou outros sentidos.
É uma intuição que parece bastante razoável (ao menos a mim) mas as coisas se complicam conforme vamos regredindo na complexidade do sistema nervoso, tanto mais taxonômica/filogeneticamente do que embriologicamente, ainda que hajam ambas as complicações.
Por exemplo, uma água-viva. Ela não tem cérebro, mas tem um sistema nervoso. E não tem um olho como o nosso, mas tem uma espécie de olho:
É algo que não é capaz de criar uma imagem, foco é muito "míope", mas dá alguma orientação quanto a luminosidade do ambiente. Então, eu me pergunto. Essas águas vivas "veem a luz", como veria uma pessoa extremamente míope, que só conseguisse dizer se é dia ou noite, se a luz está acesa ou apagada? Ou "dentro" delas não se passa nada mais do que, digamos, um circuitinho besta que só tivesse um LDR que quando ativado, ligasse um led e um motorzinho?
Se a experiência de uma água viva é igual essa (aparentemente nula), então, acrescentando mais e mais complexidade, quando é que ela surge? Se, em vez disso, a experiência de uma cnidaria é como uma pessoa ultra-hiper-mega retardada e míope, então o que temos que tirar para que não reste nada, e por que não é a mesma coisa no circuitinho com o led e o LDR?
Mas isso ainda é só a correlação. Depois esclareça exatamente o como é que isso se dá. Como um padrão de neurônios disparando (ou outro substrato, se for possível) nos proporciona essas experiências, tão aparente qualitativamente distintas, e no entanto, geradas pelo mesmo processo.
Simples. Por que dois cérebros exatamente idênticos olhando um fato X no mesmo momento y acumularam experiências e conhecimentos completamente distintos ate Y de modo que interpretam as coisas diferentemente. É um processo meramente biológico mas esse processo consulta informações armazenadas para interpretar algo. Simples.
Aqui parece que você entende "experiência subjetiva" como, por exemplo, eu gostar de pizza napolitana e você não. Isso é o tipo de coisa mais evidentemente explicada por experiências diferentes, e não porque neurônios disparando num lado do cérebro fazem com que você veja o que está ao seu redor, enquanto outros neurônios fazendo mais ou menos a mesma coisa fazem com que você ouça o que está ao seu redor, e outros ainda fazem com que você sinta o sabor do chiclete que está mascando.