Autor Tópico: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência  (Lida 133241 vezes)

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Offline Adriano

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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #225 Online: 13 de Fevereiro de 2011, 17:20:00 »


O cérebro não é essa central de processamento, ele é o ferramental que permite emoções, consciência, tudo... é um sistema, não dá para separar a consciência do cérebro e dizer que interagem, não é o caso.

Isso é importante porque paramos de falar algo como " imagine então que eu tenho essa central de processamento, porque não posso ter consciência?? "

btw, temos uma definição de consciência girando por aí.. eu mesmo a dei, não sei se mais alguém havia dado, mas ví que foi completada por algumas pessoas.

Esses três componentes resultam na emergência de forma que o primeiro faz tchan, o segundo faz tchun, e a terceira [...]. Removendo um desses elementos, gradual ou totalmente, se pode perceber que então não se tem o sufiicente para a experiência subjetiva, o que vai de acordo com achados empíricos em [pessoas apáticas/organismos com sistema nervoso não centralizado/pessoas e seres inconscientes de forma que não seja petição de princípio].

Já disse isso algumas vezes..

Consciência é uma característica do nosso cérebro.. para termos experiências precisamos dele, logo computadores não tem experiências porque não tem consciência.
Os computadores não tem experiência por não terem cérebros. Eles não são sujeitos da vida biológica e portanto não são passíveis de comparação.

Agora imagina o pálido ponto azul, a famosa fotografia da terra, tirada do espaço sideral. Foi uma máquina que fotografou o nosso planeta, numa perspectiva visual muito mais ampliada para o ser humano. Este é mais ou menos o conceito de fenótipo estendido, semelhante a teia de aranha e o ninho do joão de barrro. Os castore também são exemplos utilizados.

É muito fácil falar do indivíduo e se perder no meio da imensidão da espécie humana. Este é o erro comum ao se analizar a consciência, seja do ponto de vista individual, seja do ponto de vista cerebral, e portanto biológico. A internet hoje cumpre um papel de extensão cerebral dos indivíduos, e esta é uma farta experiência que muito utilizamos em nossa interação neste ambiente virtual. Porém nem todos fazem isto, a maior parte do uso da tecnologia de informação é de maneira não tão proveitosa, em termos de aprendizagem.

Esta é a perspectiva antropológica da internet, que serve tanto como parâmetro subjetivo e individual, no nosso caso, quanto de parâmetro de atividade coletiva da espécie humana. A maneira que nós processamos a informação está sendo mudada pelas chamadas tecnologias de informação.
Princípio da descrença.        Nem o idealismo de Goswami e nem o relativismo de Vieira. Realismo monista.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #226 Online: 13 de Fevereiro de 2011, 17:43:01 »
Não Buck, nada a ver com gosto.

Eu tenho uma experiência (E1, E2), conhecimento (C1,C2) e vejo O ocorrer e interpreto da maneira Y
Voce tem uma experiencia (E1, E5) conhecimento (C3, C5) e quando vê o interpreta da maneira Z.

quer dizer, não importa o quão semelhante seja o olho de uma câmera ou do olho de um macaco, as experiências serão distintas porque a base que o cérebro usa para fazer a interpretação muda.

E como se pode verificar isso? São ambos cérebros, muito similares, recebendo estímulos similares, da mesma natureza. Por que/como a especificidade dos estímulos produziria essa diferença nos resultados? Em que diferiria a experiência subjetiva de um chimpanzé da de uma pessoa? Um chimpanzé que fosse criado na cidade, tendo experiências mais próximas às de uma criança, teria seus qualia mais parecidos com os de uma criança do que um que viveu só na selva?


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No caso do Robo, não há a base para ele ter experiência alguma.

Por que? Você consegue explicar isso sem ser dessa forma simplesmente axiomática, "não tem cérebro, logo não tem consciência/experiência". Quais diferenças nos substratos, fazendo essencialmente o mesmo processo, são determinantes para que um sistema tenha experiência subjetiva, enquanto que o outro tenha as mesmas faculdades, sem no entanto ter uma "vida interior"?


Offline Buckaroo Banzai

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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #227 Online: 13 de Fevereiro de 2011, 17:48:10 »
Há uma importância da experiência na "formação" das representações mentais/qualia. Por exemplo, realmente pessoas que viveram em ambientes mais fechados tem problemas com perspectiva. Houve o caso de um cara que parece que pensou que pessoas distantes no horizonte eram mini-pessoas próximas e tentou as apanhar apenas estendendo o braço. Mas tirados esses casos mais excepcionais, me parece mais parcimonioso assumir que os mesmos estímulos sensoriais em um mesmo aparato sensorial e nervoso devem conduzir às mesmas experiências subjetivas. Com alguma variação de grau coisas menores, mas não comumente algo como pessoas experimentarem cores com a sensação de sabores ou sons (sem no entanto serem sinestetes), ou que tenham alucinações visuais daquilo que lhes é narrado ao ler ou ouvir uma narração, ou qualquer coisa do tipo -- ainda que esquizofrenia talvez se aproxime disso, acho que se enquadra na condição de uma situação mais particular, não ainda dentro do espectro normal de desenvolvimento.

Offline Adriano

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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #228 Online: 13 de Fevereiro de 2011, 17:55:17 »
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No caso do Robo, não há a base para ele ter experiência alguma.

Por que? Você consegue explicar isso sem ser dessa forma simplesmente axiomática, "não tem cérebro, logo não tem consciência/experiência". Quais diferenças nos substratos, fazendo essencialmente o mesmo processo, são determinantes para que um sistema tenha experiência subjetiva, enquanto que o outro tenha as mesmas faculdades, sem no entanto ter uma "vida interior"?
Eu sou Dennettiano, se esqueceu? Nós somos máquinas gênicas e mesmo as máquinas artificiais são programadas para funcionar com base no funcionamento da estrutura cultural da espécie humana.

Quando o Agnóstico tentou refutar a idéia de que robos podem ter consciência, fui eu quem lançou esta idéia, e que é muito mais exemplificada na dissertação que apresentei no tópico. É a refutação ao argumento do conhecimento, da cientísta Mary. Ele propõe uma Mary robô, na forma de um experimento mental, para refutar esse que é o mais elaborado argumento a favor da existência de qualia.
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Offline Buckaroo Banzai

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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #229 Online: 13 de Fevereiro de 2011, 18:53:03 »
Para mim toda essa questão de hard problem, de vermelhidão, qualia, etc.. é bullshit filosófico, no mais puro sentido "pós moderno" de bullshit filosófico

Pare com o suspense e esclareça o mundo então. O que é necessário, sem bullshits filosóficos sobre "como se poderia saber" (epistemologia, mais bullshit...), para um sistema ter a experiência que temos de algo como a vermelhidão da luz vermelha ao observar essa freqüência de luz e etc.

Você chama o que de sistema, um software mais um hardware?

O que quer que seja necessário, eu não sei o que é. Talvez fosse necessário um dado hardware, mas ainda podendo existir numa ampla variação de software (como podem haver vários "sistemas operacionais" ou aplicativos para a mesma função), ou talvez a especificidade de hardware tenha importância muito maior.


OK, se for isso, simplesmente não há nada que indique que vamos chegar a uma consciência nas máquinas. É jogar conversa fora...  com o que temos hoje, máquinas não têm experiênica.

Eu não disse que tem. Apenas que, de forma bem resumida, não sabemos bem "que diabo é isso".

Cérebros não são nada de "especial" a não ser em sua complexidade. São super-computadores com certas especializações e feitos de proteínas, gordura e etc, em vez de silício, metais e resina. E não é claro nem quanto e qual parte desse processamento é necessária para que o cérebro ou outro sistema tenha a experiência subjetiva que temos, nem o papel do substrato, se o processamento de informações com biomoléculas é o único substrato capaz de produzir esse estranho e inexplicado efeito.



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Se for isso ele precisa de um cérebro (não isso não é uma petição de principio lei ate o final) , ter emoções, ter consciência, etc.. Nossa experiência existe porque temos essa carcateristica.

Aqui seriam talvez úteis definições desses termos e o por que de sua relevância. Como:

Cérebro - sistema nervoso central; uma unidade espacialmente centralizada de processamento de dados (necessariamente composta de neurônios?), e isso é necessário porque essa centralização permite mais interações entre as células, e assim a velocidade de processamento necessária para a emergência da experiência porque [...?]

Emoções - na acepção adotada pelo neurologista Antonio Damásio, isso é, a contraparte fisiológica do sentimento (mental, qualia). Isso é importante porque [...] e seu papel na relação causal se dá [...].

Consciência - [???]

Então, essa segmentação é tão aleatória quanto possível... não tem o super-ego, o ego, o ID.. isso é apenas uma taxonomia arbitrária que levada ao pé da letra atrapalha a conversa.

?


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O cérebro não é essa central de processamento, ele é o ferramental que permite emoções, consciência, tudo... é um sistema, não dá para separar a consciência do cérebro e dizer que interagem, não é o caso.

Eu não estou dizendo que "interagem", eu não sei o suficiente sobre o que é a experiência subjetiva para dizer que possa interagir com o resto do processamento em oposição a ser um mero efeito colateral, algo meio análogo a calor por perda de energia.

Que o cérebro é o que "nos permite emoções, consciência, tudo", é perfeitamente sabido e aceitável. O problema é o como. São só neurônios disparando, algo a partir do qual não poderíamos de forma alguma prever o que se passa "dentro de nossas cabeças", a experiência produzida por esses neurônios disparando. Da mesma forma que não é claro que ocorra algo assim num circuito integrado, embora não possamos de maneira alguma dizer que algo assim ocorre, mas tampouco excluir de maneira não dogmática/axiomática essa ocorrência. Até agora (e talvez para sempre) só podemos observar a nossa própria experiência subjetiva, e supor que seres suficientemente parecidos têm algo parecido, mas não há como confirmar se é o caso ou não. Podemos também supor que há algo de inerente ao substrato nervoso ou a organização cerebral (inclusive pós-aquisição de idioma...) que produz esse efeito resultante de certos fluxo de informações, e que fluxos de informações análogos em outros substratos não têm nada parecido. Mas não sabemos realmente, não podemos testar.



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Isso é importante porque paramos de falar algo como " imagine então que eu tenho essa central de processamento, porque não posso ter consciência?? "

Você parece praticamente "definir" o cérebro como aquilo que produz consciência, como se isso encerrasse qualquer questão. Como se fosse uma coisa meio "irredutível", sem causa, uma propriedade "essencial". Como disse, o problema é que o cérebro não é só "o cérebro" e ponto final, não é um elemento fundamental da física, mas um aparelho, um monte de proteínas, água, gordura e outras moléculas. E "dentro" disso, no entanto, é criada essa representação fantástica da realidade, sem que tenhamos a menor idéia de como isso ocorre, a não ser, obviamente, que tem algo a ver com informação, que o sistema sensorial é estimulado pelo ambiente e produz sinais análogos. Mas como disse, esse tipo de coisa, ter um fluxo de informações, não é exclusividade do cérebro, enquanto costumamos supor que a experiência subjetiva dessa informação na forma que temos seja, de maneira mais ou menos restrita. E apenas dizer que o cérebro não é 100% igual não basta, a menso que se saiba apontar quais são as diferenças relevantes. Pode-se ter pet theories sobre o assunto, mas não se tem ainda como confirmar qualquer coisa.


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btw, temos uma definição de consciência girando por aí.. eu mesmo a dei, não sei se mais alguém havia dado, mas ví que foi completada por algumas pessoas.

Btw, dois dos elementos que citou como necessários para qualia beiram o sinônimo. Consciência é frequentemente usado como sinônimo, e emoção, ao menos como sinônimo também de sentimento (diferentemente da acepção do Antonio Damásio que eu coloquei), é um subconjunto de qualia. E que o cérebro tem "seu papel" também não é algo que realmente acrescenta muito no esclarecimento do problema.





Esses três componentes resultam na emergência de forma que o primeiro faz tchan, o segundo faz tchun, e a terceira [...]. Removendo um desses elementos, gradual ou totalmente, se pode perceber que então não se tem o sufiicente para a experiência subjetiva, o que vai de acordo com achados empíricos em [pessoas apáticas/organismos com sistema nervoso não centralizado/pessoas e seres inconscientes de forma que não seja petição de princípio].

Já disse isso algumas vezes..

Consciência é uma característica do nosso cérebro.. para termos experiências precisamos dele, logo computadores não tem experiências porque não tem consciência.

...e o que falta neles? O substrato correto, ou determinados processamentos? Qual é a importância disso que falta, como é que, tirando isso, "some" o mundo interior de um sistema, enquanto que inserindo esse componente ou processo, ela emerge, uma "alma" encarna nela, e ela deixa de ser algo "inanimado", que processa as coisas de forma não mais "vivenciada" do que uma peneira a peneirar?




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E claro que os mecanismos que promovem isso no nosso cérebro são complexos e pouco mapeados, há todo um caminho para conhece-lo ainda.

Com isso concordo totalmente. Mesmo a pesquisa de correlatos neuronais da consciência está apenas engatinhando, mesmo e depois que se tiver percorrido um longo caminho, e até se decifrado o código neuronal, acho que ainda sobrará a questão de como é que essas atividades e códigos dão origem àquilo que experienciamos "de dentro", em vez de ser apenas como se julga ser um computador ou um robô não praticamente idêntico a uma pessoa em todo fluxo de processamento -- se mesmo isso for suficiente.

Lembra aquele aviso que dei lá tras que iria deixar confuso, então, aconteceu aqui. Essa questão "de dentro" é o que define o cérebro.

...



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Uma criança antes de aprender a falar experiencia a visão da mesma forma que experienciamos? Um gato? Um rato? Um robô poderia? O que ele precisaria ter? Então tome a coisa mais simples que pode ter uma experiência idêntica a nossa, e gradualmente a simplifique até que não seja mais o caso, e nos explique como é que esse(s) elemento(s) retirado(s) fazem isso.
Muito simples buck. Como uma criança pode ter a mesma experiência que você se ela
Não tem as mesmas coisas que você em mente? Um rato também.. Você leu a analogia do lago que fiz, porque não começamos de lá?  Sobre um robô já disse, não sei o futuro mas não há nada hoje que pressuponha que ele possa a ter consciência e qualquer interpretação da realidade.
Vou procurar essa analogia.

Essa questão de tome algo mais simples que pode ter u
A experiência igual a nossa sequer faz sentido como pergunta

Faz sim. Tome por exemplo a visão. É algo bastante seguro, a princípio, que a visão de um chimpanzé seja muito similar a nossa. Ele tem um cérebro e todo o sistema visual homólogo, muito similar. Se a nossa experiência visual é produto/efeito da atividade desse sistema, as chances são de ser mesmo o caso.

Não, Buck, quem vê é o cérebro não o olho, e aí estão incluidas as experiências das pessoas, o que afeta o que a pessoa interpreta. Até a linguagem utilizada afeta o que pode ser compreendido.

Não é óbvio?

Não tem problema difícil algum...

O problema difícil é tão difícil que é até difícil de ser visto, pelo jeito, ou difícil de se aceitar.

E, ainda que eu simplesmente não tenha dito que "o olho" é o que enxerga, e não o cérebro, isso também não é livre de controvérsias. Existe a posição "internalista", mais tradicional, de que a nossa experiência é produto da ação neuronal, mas também há o externalismo, que postula algo mais esquisito. Eu acho que há também meio-termos (enactivismo), que são a única coisa que imagino ser cogitável. Por exemplo, o olho em si, ou as suas enervações, seriam constituintes de alguma forma da experiência visual, não uma parte dispensável. Eu até acho um tanto interessante essa visão mais "extendida" do cérebro porque talvez ajude um pouco a explicar as diferenças qualitativas entre os qualia, embora talvez isso seja atrapalhado por coisas como sinestesia, ou mesmo sonhos -- onde parece que vemos com os mesmos qualia, sem que no entanto os olhos possam ter uma participação muito fundamental nisso. Mas é complicado. Parece que pode-se cogitar que na verdade a nossa visão nos sonhos não tem a mesma "qualidade" da visão de quando estamos despertos, mas apenas o suficiente para nos tapear. Mas isso que disse talvez seja uma versão ainda bem mais internalista da coisa, eu acho que se fugir muito disso cai rapidamente na birutice.

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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #230 Online: 13 de Fevereiro de 2011, 20:58:49 »
Porque vocês estão superestimando o computador e subestimando o cérebro.
Neste momento, eu não "estimo" mais um que o outro. Vejo-os como, basicamente, duas máquinas de processamento de dados e operações lógicas. Já cheguei a superestimar o cérebro, não como você está fazendo, achando-o transcendente pelo "humor consciência" que "habita" nele e só nele. Mas... considere, por um instante, a possibilidade de você estar subestimando o computador e superestimando o cérebro. O que você diz?



Veja, essa história de fazer um programa que reaja como um bebe aos problemas e que vá se auto-desenvolvendo é uma saída elegante, não haveria outra maneira...
Não acho que seja uma "saída" elegante; acho uma alternativa mais prática. Claro que há outra maneira, como frisei entre parêntesis para o Gigaview, mas criar quantidades enormes de padrões de reconhecimento "do nada" numa programação seria um trabalho, a priori, desnecessário.



MAS É VELHA a até agora há poucos resultados práticos na questão da inteligência e nenhum na questão da consciência (como foi definida por mim.. se têm outra que não seja forçada exatamente para encaixar possibilidade de máquinas serem inseridas, por favor me digam)
Normalmente, é assim que o desenvolvimento científico-tecnológico ocorre: antes, não há resultados; depois, resultados aparecem, em algum momento. É assim mesmo que acontece.

Não vi nenhuma definição dada, por você, de consciência. Vi você *descrever* consciência. Se perdi alguma coisa, por favor, peço que me redirecione.

Eu dei uma definição de consciência fundamentando-a no processo ilusório, ou seja, na distorção linguística da realidade que ocorre por meio de representações simbólicas de objetos da realidade e de representações simbólicas de representações simbólicas. Lembra? Considero o modelo do Gilberto como uma redefinição *aplicável* disso. Se você acha "forçado", ainda penso que você não entendeu direito. Peço, então, que esclareça melhor.



Porque disse que não vi nada... porque o paper me pareceu filosofia, mais filosofia. Esse problema não será resolvido com filosofia, mas com técnicas e propostas hard de algorítimos que me mostrem onde raios o computador vai ter consciência.
É claro que nenhum problema é resolvido com filosofia e folgo em saber que você pensa assim agora. O engraçado é que já tivemos até um pequeno "atrito" (que eu preferi não levar adiante) por sua defesa intransigente de Popper, um simples filósofo. Mas não vejo filosofia alguma na proposta do Gilberto, de tanta objetividade que há nela.

Não é *onde* "raios" o computador vai ter consciência. Você parece estar com a mesma dificuldade do Buckaroo. A consciência não está num lugar para ser apontada, até porque é produto de uma ilusão. Ela não existe como algo real, objetivo. É só um processo que dimana do funcionamento de uma máquina.



Lógica fuzzy é bem poderosa para resolver problemas mas não tem nada a ver com consciência, pode sim dar a sensação de inteligência sobre perspectiva de terceiros, mas não tem nada de mais.
Aqui, você está aproximadamente certo.

Offline Cientista

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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #231 Online: 13 de Fevereiro de 2011, 21:31:10 »
Para mim toda essa questão de hard problem, de vermelhidão, qualia, etc.. é bullshit filosófico, no mais puro sentido "pós moderno" de bullshit filosófico
Seria até crível que você realmente pensasse assim se não transcendentalizasse o cérebro como faz.



O cérebro não é essa central de processamento, ele é o ferramental que permite emoções, consciência, tudo... é um sistema, não dá para separar a consciência do cérebro e dizer que interagem, não é o caso.
Qual seria a diferença objetiva, aqui, entre "central de processamento" e "ferramental"?



Isso é importante porque paramos de falar algo como " imagine então que eu tenho essa central de processamento, porque não posso ter consciência?? "
Qual o sentido disso que você disse aqui dentro do contexto da pergunta que fiz acima?



btw, temos uma definição de consciência girando por aí.. eu mesmo a dei, não sei se mais alguém havia dado, mas ví que foi completada por algumas pessoas.
A única definição de consciência que vi dada aqui foi por mim. Vi você descrever consciência com conceitos indefinidos que não são novidade para ninguém. Volto a pedir: se eu tiver perdido alguma coisa, por favor, mostre-me onde.



Já disse isso algumas vezes..

Consciência é uma característica do nosso cérebro.. para termos experiências precisamos dele, logo computadores não tem experiências porque não tem consciência.
Essa seria uma definição clássica na era medieval. "Consciência é uma característica do nosso cérebro"? Seria o que? Uma propriedade física única da gelatina encefálica? Ou um humor etéreo que só existiria nele? Ou o fantasma na máquina?...



E claro que os mecanismos que promovem isso no nosso cérebro são complexos e pouco mapeados, há todo um caminho para conhece-lo ainda.
Essa é a sua perspectiva, ou melhor, uma delas. Parece que você ainda não conseguiu se focar bem na questão. Ainda parece meio confuso.

Offline Cientista

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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #232 Online: 13 de Fevereiro de 2011, 21:53:44 »
O problema difícil é tão difícil que é até difícil de ser visto, pelo jeito, ou difícil de se aceitar.

E, ainda que eu simplesmente não tenha dito que "o olho" é o que enxerga, e não o cérebro, isso também não é livre de controvérsias. Existe a posição "internalista", mais tradicional, de que a nossa experiência é produto da ação neuronal, mas também há o externalismo, que postula algo mais esquisito. Eu acho que há também meio-termos (enactivismo), que são a única coisa que imagino ser cogitável. Por exemplo, o olho em si, ou as suas enervações, seriam constituintes de alguma forma da experiência visual, não uma parte dispensável. Eu até acho um tanto interessante essa visão mais "extendida" do cérebro porque talvez ajude um pouco a explicar as diferenças qualitativas entre os qualia, embora talvez isso seja atrapalhado por coisas como sinestesia, ou mesmo sonhos -- onde parece que vemos com os mesmos qualia, sem que no entanto os olhos possam ter uma participação muito fundamental nisso. Mas é complicado. Parece que pode-se cogitar que na verdade a nossa visão nos sonhos não tem a mesma "qualidade" da visão de quando estamos despertos, mas apenas o suficiente para nos tapear. Mas isso que disse talvez seja uma versão ainda bem mais internalista da coisa, eu acho que se fugir muito disso cai rapidamente na birutice.
O que eu vejo mais difícil aqui é você aceitar a simplicidade do problema difícil. Você não quer aceitá-la e, para resistir a ela, vale-se, unicamente, de sua experiência pessoal.

Aqui está bem explícito, como em diversos outros posts, que você mesmo procura evidências objetivas que demonstrem a insustentabilidade do conceito de qualia e as acha aos montes. Mas sempre, no fim, você opta pela única "evidência" favorável ao conceito -- a experiência pessoal. Não dá para "lutar" contra isso, Buckaroo. Você não aceita e até se sente ofendido mas isso que você exercita é crença. Ou você acha que experiências místicas, epifânicas, religiosas... não se mostram "tão reais" para quem as têm quanto qualia? Você vai dizer que não são todos que experimetam tais outras experiências mas que todos experimentam qualia para dizer que é diferente. Mas não é esse o problema. O problema é entender que uma experiência "real", simplesmente, pode não ser real. Qualia são experiências tão irreais quanto todas as outra, não importa quantas pessoas experimentem.

Offline Moro

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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #233 Online: 13 de Fevereiro de 2011, 23:18:44 »
Não Buck, nada a ver com gosto.

Eu tenho uma experiência (E1, E2), conhecimento (C1,C2) e vejo O ocorrer e interpreto da maneira Y
Voce tem uma experiencia (E1, E5) conhecimento (C3, C5) e quando vê o interpreta da maneira Z.

quer dizer, não importa o quão semelhante seja o olho de uma câmera ou do olho de um macaco, as experiências serão distintas porque a base que o cérebro usa para fazer a interpretação muda.

E como se pode verificar isso? São ambos cérebros, muito similares, recebendo estímulos similares, da mesma natureza. Por que/como a especificidade dos estímulos produziria essa diferença nos resultados? Em que diferiria a experiência subjetiva de um chimpanzé da de uma pessoa? Um chimpanzé que fosse criado na cidade, tendo experiências mais próximas às de uma criança, teria seus qualia mais parecidos com os de uma criança do que um que viveu só na selva?

Buck, você não entendeu?

Para e pensa..  No momento Y, o cérebro está recebendo o mesmo estímulo, mas esse estímulo recebido no momento Y encontra uma massa de conhecimento/humor completamente distintas nos dois cérebros, daí a diferença entre as experiências de ambos os cérebros.

Como te disse, muito simples, não tem hard problem algum.

“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

Faisal Saeed Al Mutar


"To claim that someone is not motivated by what they say is motivating them, means you know what motivates them better than they do."

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Offline Moro

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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #234 Online: 13 de Fevereiro de 2011, 23:24:27 »
Para mim toda essa questão de hard problem, de vermelhidão, qualia, etc.. é bullshit filosófico, no mais puro sentido "pós moderno" de bullshit filosófico
Seria até crível que você realmente pensasse assim se não transcendentalizasse o cérebro como faz.


Bullshit
Não vejo nada de transcendatal.. só tenho certeza, por conhecimento, que o estado atual das máquinas e técnicas de programação não suportam a criação de consciência. O futuro, ninguém sabe.

O cérebro não é essa central de processamento, ele é o ferramental que permite emoções, consciência, tudo... é um sistema, não dá para separar a consciência do cérebro e dizer que interagem, não é o caso.
Qual seria a diferença objetiva, aqui, entre "central de processamento" e "ferramental"?

Leia no escopo do texto. Estava argumentando que não faz sentido separar o cérebro em camadas que fazem sentido apenas para nós... é um sistema, essa divisão entre processamento, consciência, memória, etc.. é arbitrária e está apenas causando confusão em quem a usa.

Mas não usei o melhor dos termos..



Isso é importante porque paramos de falar algo como " imagine então que eu tenho essa central de processamento, porque não posso ter consciência?? "
Qual o sentido disso que você disse aqui dentro do contexto da pergunta que fiz acima?

igual ao anterior


btw, temos uma definição de consciência girando por aí.. eu mesmo a dei, não sei se mais alguém havia dado, mas ví que foi completada por algumas pessoas.
A única definição de consciência que vi dada aqui foi por mim. Vi você descrever consciência com conceitos indefinidos que não são novidade para ninguém. Volto a pedir: se eu tiver perdido alguma coisa, por favor, mostre-me onde.


leia de novo...


Já disse isso algumas vezes..

Consciência é uma característica do nosso cérebro.. para termos experiências precisamos dele, logo computadores não tem experiências porque não tem consciência.
Essa seria uma definição clássica na era medieval. "Consciência é uma característica do nosso cérebro"? Seria o que? Uma propriedade física única da gelatina encefálica? Ou um humor etéreo que só existiria nele? Ou o fantasma na máquina?...


Mais uma vez.. leia sobre o contexto de "não divida o cérebro em camadas que fazem sentido apenas para nós mas não tem correlato com a realidade da constituição do cérebro"

E claro que os mecanismos que promovem isso no nosso cérebro são complexos e pouco mapeados, há todo um caminho para conhece-lo ainda.
Essa é a sua perspectiva, ou melhor, uma delas. Parece que você ainda não conseguiu se focar bem na questão. Ainda parece meio confuso.

Acho que você está confuso.
“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

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"To claim that someone is not motivated by what they say is motivating them, means you know what motivates them better than they do."

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Offline Moro

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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #235 Online: 13 de Fevereiro de 2011, 23:26:13 »
Porque vocês estão superestimando o computador e subestimando o cérebro.
Neste momento, eu não "estimo" mais um que o outro. Vejo-os como, basicamente, duas máquinas de processamento de dados e operações lógicas. Já cheguei a superestimar o cérebro, não como você está fazendo, achando-o transcendente pelo "humor consciência" que "habita" nele e só nele. Mas... considere, por um instante, a possibilidade de você estar subestimando o computador e superestimando o cérebro. O que você diz?



Veja, essa história de fazer um programa que reaja como um bebe aos problemas e que vá se auto-desenvolvendo é uma saída elegante, não haveria outra maneira...
Não acho que seja uma "saída" elegante; acho uma alternativa mais prática. Claro que há outra maneira, como frisei entre parêntesis para o Gigaview, mas criar quantidades enormes de padrões de reconhecimento "do nada" numa programação seria um trabalho, a priori, desnecessário.



MAS É VELHA a até agora há poucos resultados práticos na questão da inteligência e nenhum na questão da consciência (como foi definida por mim.. se têm outra que não seja forçada exatamente para encaixar possibilidade de máquinas serem inseridas, por favor me digam)
Normalmente, é assim que o desenvolvimento científico-tecnológico ocorre: antes, não há resultados; depois, resultados aparecem, em algum momento. É assim mesmo que acontece.

Não vi nenhuma definição dada, por você, de consciência. Vi você *descrever* consciência. Se perdi alguma coisa, por favor, peço que me redirecione.

Eu dei uma definição de consciência fundamentando-a no processo ilusório, ou seja, na distorção linguística da realidade que ocorre por meio de representações simbólicas de objetos da realidade e de representações simbólicas de representações simbólicas. Lembra? Considero o modelo do Gilberto como uma redefinição *aplicável* disso. Se você acha "forçado", ainda penso que você não entendeu direito. Peço, então, que esclareça melhor.



Porque disse que não vi nada... porque o paper me pareceu filosofia, mais filosofia. Esse problema não será resolvido com filosofia, mas com técnicas e propostas hard de algorítimos que me mostrem onde raios o computador vai ter consciência.
É claro que nenhum problema é resolvido com filosofia e folgo em saber que você pensa assim agora. O engraçado é que já tivemos até um pequeno "atrito" (que eu preferi não levar adiante) por sua defesa intransigente de Popper, um simples filósofo. Mas não vejo filosofia alguma na proposta do Gilberto, de tanta objetividade que há nela.

Não é *onde* "raios" o computador vai ter consciência. Você parece estar com a mesma dificuldade do Buckaroo. A consciência não está num lugar para ser apontada, até porque é produto de uma ilusão. Ela não existe como algo real, objetivo. É só um processo que dimana do funcionamento de uma máquina.



Lógica fuzzy é bem poderosa para resolver problemas mas não tem nada a ver com consciência, pode sim dar a sensação de inteligência sobre perspectiva de terceiros, mas não tem nada de mais.
Aqui, você está aproximadamente certo.

cara, sendo bem prático, não há nada no paper que mude nada.. só filosofia.
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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #236 Online: 13 de Fevereiro de 2011, 23:35:15 »
Eu compreendo que só tenha te restado isso a dizer.

Offline Moro

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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #237 Online: 13 de Fevereiro de 2011, 23:41:44 »
então faz o seguinte. Coloca aqui o trecho que mostra como vai ser implementado o código que dá suporte à consciência.

Veja, dizer que vai usar a estratégia de aprender como um bebe é filosofia.

Mostrar um algorítimo funcional não é filosofia, entendeu?

vamos lá, aguardando você me explicar como vai funcionar a consciência em um computador.
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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #238 Online: 13 de Fevereiro de 2011, 23:51:43 »
O problema difícil é tão difícil que é até difícil de ser visto, pelo jeito, ou difícil de se aceitar.

E, ainda que eu simplesmente não tenha dito que "o olho" é o que enxerga, e não o cérebro, isso também não é livre de controvérsias. Existe a posição "internalista", mais tradicional, de que a nossa experiência é produto da ação neuronal, mas também há o externalismo, que postula algo mais esquisito. Eu acho que há também meio-termos (enactivismo), que são a única coisa que imagino ser cogitável. Por exemplo, o olho em si, ou as suas enervações, seriam constituintes de alguma forma da experiência visual, não uma parte dispensável. Eu até acho um tanto interessante essa visão mais "extendida" do cérebro porque talvez ajude um pouco a explicar as diferenças qualitativas entre os qualia, embora talvez isso seja atrapalhado por coisas como sinestesia, ou mesmo sonhos -- onde parece que vemos com os mesmos qualia, sem que no entanto os olhos possam ter uma participação muito fundamental nisso. Mas é complicado. Parece que pode-se cogitar que na verdade a nossa visão nos sonhos não tem a mesma "qualidade" da visão de quando estamos despertos, mas apenas o suficiente para nos tapear. Mas isso que disse talvez seja uma versão ainda bem mais internalista da coisa, eu acho que se fugir muito disso cai rapidamente na birutice.
O que eu vejo mais difícil aqui é você aceitar a simplicidade do problema difícil. Você não quer aceitá-la e, para resistir a ela, vale-se, unicamente, de sua experiência pessoal.

Mas é praticamente disso que se trata o problema :D



Citar
Aqui está bem explícito, como em diversos outros posts, que você mesmo procura evidências objetivas que demonstrem a insustentabilidade do conceito de qualia e as acha aos montes.

Não sei se "procuro evidências que mostrem a insustentabilidade do conceito de qualia", muito menos, "acho aos montes".

O mais próximo disso que ocorre é encontrar erros, problemas, ou mesmo coisas ridículas dentro de algumas definições, de alguns atributos que uns supõem. Mas isso não "some" com qualia, apenas com essas "versões", da mesma forma que lamarckismo ou geração espontânea estarem errados não some com evolução ou reprodução biológica, ou o problema da origem da vida.

Qualia, na definição mais minimalista -- que não pressupõe nada de mágico -- praticamente não pode não existir. É isso que você chama de linguagem do cérebro, ou, como ela se "manifesta" como experiência subjetiva "paralela" a atividade neuronal tal como vista externamente. Não é possível afirmar que isso não existe com mais sentido do que se poderia então afirmar que nem nós existimos. Pois se tudo que percebemos é ilusão, não vale mais o "penso, logo existo". Tudo é um tipo de ilusão. Mas em vez de mergulhar mais fundo nesse solipsismo, o que parece ser o caso, no caso de uma eliminação mesmo desse conceito minimalista de qualia, é a bizarramente incompatível postura de que sim, conhecemos o mundo, ele existe, a realidade nos é acessível. Contudo, se esquecendo que isso se dá pela "interface" da experiência subjetiva, não através de uma experiência "direta" da realidade, sem representações mentais.







Mas sempre, no fim, você opta pela única "evidência" favorável ao conceito -- a experiência pessoal. Não dá para "lutar" contra isso, Buckaroo. Você não aceita e até se sente ofendido mas isso que você exercita é crença. Ou você acha que experiências místicas, epifânicas, religiosas... não se mostram "tão reais" para quem as têm quanto qualia?

O que você está dizendo é equivalente a "'visão' não existe, isso é religioso; sabemos disso porque pessoas relatam ter 'visões' de aparições fantasmagóricas de pessoas, anjos, ou santos". Ou, "'palavras' não existem, é religioso crer em palavras ou linguagem, veja: jflsjfasdjfasdj s sljflsjlfjsld eiewedfs".

Talvez você não tenha lido a parte que eu disse que o qualia vermelho não é, por exemplo, algo que está lá na maçã, a três metros de distância. Nem na luz dela refletida e que chega a nossos olhos. É somente algo mental. É uma representação. Meio como, um arquivo de vídeo ou de imagem no computador. Uma ilusão é apenas uma representação de algo que não é real, e não algo que prova que não existem representações.



Você vai dizer que não são todos que experimetam tais outras experiências mas que todos experimentam qualia para dizer que é diferente. Mas não é esse o problema. O problema é entender que uma experiência "real", simplesmente, pode não ser real. Qualia são experiências tão irreais quanto todas as outra, não importa quantas pessoas experimentem.

Elas só são "irreais" no sentido já mencionado, não são propriedades "reais" do que se observa (como a casca da maçã) ou de um "meio" (a luz refletida), mas algo criado por nossa mente -- e absolutamente real nesse aspecto. É como os dados gravados na memória de uma câmera digital ao fotografar um objeto, apenas informação análoga. Ou, algo mais simples ainda, e na linha de algo que você há havia dito, como um número que se obtivesse de um colorímetro ou espectrometro. O problema (difícil) é apenas o como experienciamos essa codificação de informação pelos neurônios da forma que ocorre, diferente do que imaginamos se passar com um computador manejando cartões furados, que é experiência nenhuma, apenas a informação fluindo em substratos materiais de forma totalmente "banal", de onde não emerge nada "mais"*. Ou ao menos essa é a "minha" versão do problema difícil, e como sempre o entendi.



* sendo que esse "mais" não é necessariamente qualquer coisa místico-religiosa, mas podendo ser algo análogo a como surge "algo mais" de eletricidade percorrendo uma bobina em torno de um pino de metal. (Não que eu esteja sugerindo que seja um fenômeno eletromagnético, embora hajam hipóteses eletromagnéticas da consciência). http://en.wikipedia.org/wiki/Electromagnetic_theories_of_consciousness

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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #239 Online: 13 de Fevereiro de 2011, 23:55:41 »
Não vejo nada de transcendatal.. só tenho certeza, por conhecimento, que o estado atual das máquinas e técnicas de programação não suportam a criação de consciência. O futuro, ninguém sabe.
Você poderia explicitar um pouco esse "conhecimento" que te permite tanta "certeza" do que afirma? Sem filosofar, por favor, porque, até agora, seus "embasamentos" estiveram mais para a filosofia. Explique detalhes específicos e objetivos das máquinas atuais que não permitiriam que, de modo algum, fosse replicada a ilusão da consciência humana nelas.



O cérebro não é essa central de processamento, ele é o ferramental que permite emoções, consciência, tudo... é um sistema, não dá para separar a consciência do cérebro e dizer que interagem, não é o caso.
Qual seria a diferença objetiva, aqui, entre "central de processamento" e "ferramental"?

Leia no escopo do texto. Estava argumentando que não faz sentido separar o cérebro em camadas que fazem sentido apenas para nós... é um sistema, essa divisão entre processamento, consciência, memória, etc.. é arbitrária e está apenas causando confusão em quem a usa.
Eu li. Mas quem é que está "separando o cérebro em camadas" aqui. Eu nem sou chegado a miolo na chapa...

Quanto à tal divisão arbitrária que você mencionou, que causa confusão em quem a usa. Quem a está fezendo?



Mas não usei o melhor dos termos..
Nisso eu concordo.



btw, temos uma definição de consciência girando por aí.. eu mesmo a dei, não sei se mais alguém havia dado, mas ví que foi completada por algumas pessoas.
A única definição de consciência que vi dada aqui foi por mim. Vi você descrever consciência com conceitos indefinidos que não são novidade para ninguém. Volto a pedir: se eu tiver perdido alguma coisa, por favor, mostre-me onde.


leia de novo...
Já li todos os seus posts e só vi você *descrever* consciência. Você poderia, por obséquio, dar a sua *definição* novamente aqui. Não deve ser muito trabalhoso. Definições, normalmente, são, pela própria 'definição' do termo, sucintas.





Já disse isso algumas vezes..

Consciência é uma característica do nosso cérebro.. para termos experiências precisamos dele, logo computadores não tem experiências porque não tem consciência.
Essa seria uma definição clássica na era medieval. "Consciência é uma característica do nosso cérebro"? Seria o que? Uma propriedade física única da gelatina encefálica? Ou um humor etéreo que só existiria nele? Ou o fantasma na máquina?...


Mais uma vez.. leia sobre o contexto de "não divida o cérebro em camadas que fazem sentido apenas para nós mas não tem correlato com a realidade da constituição do cérebro"
Mais uma vez... você falando em "fatiação de cérebros". Não entendo o ponto aonde quer chegar.



E claro que os mecanismos que promovem isso no nosso cérebro são complexos e pouco mapeados, há todo um caminho para conhece-lo ainda.
Essa é a sua perspectiva, ou melhor, uma delas. Parece que você ainda não conseguiu se focar bem na questão. Ainda parece meio confuso.

Acho que você está confuso.
Acho que estou mesmo. E você não está contribuindo para clarear as coisas para mim.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #240 Online: 14 de Fevereiro de 2011, 00:00:39 »
Não Buck, nada a ver com gosto.

Eu tenho uma experiência (E1, E2), conhecimento (C1,C2) e vejo O ocorrer e interpreto da maneira Y
Voce tem uma experiencia (E1, E5) conhecimento (C3, C5) e quando vê o interpreta da maneira Z.

quer dizer, não importa o quão semelhante seja o olho de uma câmera ou do olho de um macaco, as experiências serão distintas porque a base que o cérebro usa para fazer a interpretação muda.

E como se pode verificar isso? São ambos cérebros, muito similares, recebendo estímulos similares, da mesma natureza. Por que/como a especificidade dos estímulos produziria essa diferença nos resultados? Em que diferiria a experiência subjetiva de um chimpanzé da de uma pessoa? Um chimpanzé que fosse criado na cidade, tendo experiências mais próximas às de uma criança, teria seus qualia mais parecidos com os de uma criança do que um que viveu só na selva?

Buck, você não entendeu?

Para e pensa..  No momento Y, o cérebro está recebendo o mesmo estímulo, mas esse estímulo recebido no momento Y encontra uma massa de conhecimento/humor completamente distintas nos dois cérebros, daí a diferença entre as experiências de ambos os cérebros.

Como te disse, muito simples, não tem hard problem algum.



E como se pode verificar isso? Como você sabe que um chimpanzé olha para uma banana e vê algo diferente do que uma pessoa vê ao olhar para a mesma banana, e outra por sua vez vê ainda outra coisa? (Ou, cada um, bananas diferentes, pessoais)

Você tem ao menos qualquer coisa sobre como um artigo mostrando padrões muito distintos de ativação neuronal quando diferentes pessoas olham para o mesmo objeto? Porque ao menos segundo umas notícias recentes, é o contrário. A atividade neuronal segue um padrão relativamene constante de forma que possa se saber o que uma pessoa está vendo ao observar o imageamento cerebral. Você supõe que, apesar de haver um mesmo padrão de ativação, elas ainda vêem as mesmas coisas de forma diferente? E poderia elaborar mais sobre essas diferenças, descrever o tipo de coisa que pode variar?

Offline Moro

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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #241 Online: 14 de Fevereiro de 2011, 00:08:19 »
Não vejo nada de transcendatal.. só tenho certeza, por conhecimento, que o estado atual das máquinas e técnicas de programação não suportam a criação de consciência. O futuro, ninguém sabe.
Você poderia explicitar um pouco esse "conhecimento" que te permite tanta "certeza" do que afirma? Sem filosofar, por favor, porque, até agora, seus "embasamentos" estiveram mais para a filosofia. Explique detalhes específicos e objetivos das máquinas atuais que não permitiriam que, de modo algum, fosse replicada a ilusão da consciência humana nelas.

não inverta o ônus, isso não é honesto. Se você acha que o computador pode ter consciência coloque aqui sua evidência.

E eu não conheço nenhuma técnica de programação que permite gerar consciência, se você conhece, coloque aqui.

O cérebro não é essa central de processamento, ele é o ferramental que permite emoções, consciência, tudo... é um sistema, não dá para separar a consciência do cérebro e dizer que interagem, não é o caso.
Qual seria a diferença objetiva, aqui, entre "central de processamento" e "ferramental"?

Leia no escopo do texto. Estava argumentando que não faz sentido separar o cérebro em camadas que fazem sentido apenas para nós... é um sistema, essa divisão entre processamento, consciência, memória, etc.. é arbitrária e está apenas causando confusão em quem a usa.
Eu li. Mas quem é que está "separando o cérebro em camadas" aqui. Eu nem sou chegado a miolo na chapa...

Quanto à tal divisão arbitrária que você mencionou, que causa confusão em quem a usa. Quem a está fezendo?

Não foi você, foi o Buck.

Mas não usei o melhor dos termos..
Nisso eu concordo.

Ao menos em algo concordamos..

btw, temos uma definição de consciência girando por aí.. eu mesmo a dei, não sei se mais alguém havia dado, mas ví que foi completada por algumas pessoas.
A única definição de consciência que vi dada aqui foi por mim. Vi você descrever consciência com conceitos indefinidos que não são novidade para ninguém. Volto a pedir: se eu tiver perdido alguma coisa, por favor, mostre-me onde.


leia de novo...
Já li todos os seus posts e só vi você *descrever* consciência. Você poderia, por obséquio, dar a sua *definição* novamente aqui. Não deve ser muito trabalhoso. Definições, normalmente, são, pela própria 'definição' do termo, sucintas.

Sim, descrevi a consciência..  Mas posso reescrever dizendo que consciência é o nome dado ao conjunto de características ....
Qual a sua definição?



Já disse isso algumas vezes..

Consciência é uma característica do nosso cérebro.. para termos experiências precisamos dele, logo computadores não tem experiências porque não tem consciência.
Essa seria uma definição clássica na era medieval. "Consciência é uma característica do nosso cérebro"? Seria o que? Uma propriedade física única da gelatina encefálica? Ou um humor etéreo que só existiria nele? Ou o fantasma na máquina?...


Mais uma vez.. leia sobre o contexto de "não divida o cérebro em camadas que fazem sentido apenas para nós mas não tem correlato com a realidade da constituição do cérebro"
Mais uma vez... você falando em "fatiação de cérebros". Não entendo o ponto aonde quer chegar.

Não foi você que o fatiou..


E claro que os mecanismos que promovem isso no nosso cérebro são complexos e pouco mapeados, há todo um caminho para conhece-lo ainda.
Essa é a sua perspectiva, ou melhor, uma delas. Parece que você ainda não conseguiu se focar bem na questão. Ainda parece meio confuso.

Acho que você está confuso.
Acho que estou mesmo. E você não está contribuindo para clarear as coisas para mim.

Ok, vamos recomeçar, acho que nessa questão nem pensamos tão distintamente assim

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Offline Moro

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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #242 Online: 14 de Fevereiro de 2011, 00:12:02 »
Não Buck, nada a ver com gosto.

Eu tenho uma experiência (E1, E2), conhecimento (C1,C2) e vejo O ocorrer e interpreto da maneira Y
Voce tem uma experiencia (E1, E5) conhecimento (C3, C5) e quando vê o interpreta da maneira Z.

quer dizer, não importa o quão semelhante seja o olho de uma câmera ou do olho de um macaco, as experiências serão distintas porque a base que o cérebro usa para fazer a interpretação muda.

E como se pode verificar isso? São ambos cérebros, muito similares, recebendo estímulos similares, da mesma natureza. Por que/como a especificidade dos estímulos produziria essa diferença nos resultados? Em que diferiria a experiência subjetiva de um chimpanzé da de uma pessoa? Um chimpanzé que fosse criado na cidade, tendo experiências mais próximas às de uma criança, teria seus qualia mais parecidos com os de uma criança do que um que viveu só na selva?

Buck, você não entendeu?

Para e pensa..  No momento Y, o cérebro está recebendo o mesmo estímulo, mas esse estímulo recebido no momento Y encontra uma massa de conhecimento/humor completamente distintas nos dois cérebros, daí a diferença entre as experiências de ambos os cérebros.

Como te disse, muito simples, não tem hard problem algum.



E como se pode verificar isso? Como você sabe que um chimpanzé olha para uma banana e vê algo diferente do que uma pessoa vê ao olhar para a mesma banana, e outra por sua vez vê ainda outra coisa? (Ou, cada um, bananas diferentes, pessoais)ble

Buck, meu amigo, tendo problemas com o hard problem?? Seus problemas acabaram.. :D

Sério, só trocar a banana por um carro e ver "a experiência que o macaco tem ao olhar o carro e você tem ao olhar o carro" e perceber porque existe essa diferença..


Você tem ao menos qualquer coisa sobre como um artigo mostrando padrões muito distintos de ativação neuronal quando diferentes pessoas olham para o mesmo objeto? Porque ao menos segundo umas notícias recentes, é o contrário.

Cara, o fato de ver luzinhas brilhando de maneira semelhante em dois cérebros em um equipamento e achar que ela é similar é incorreto .. . é o mesmo que olhar uma foto pixalada tirara a 5 mil metros e tentar encontar o quadro da monalisa por ele.
Não confunda nossa dificuldade em fazer um mapeamento decente com a constatação de que estamos em posse de todos os dados para a análise.

Não complique o que é simples..

Alterado
« Última modificação: 14 de Fevereiro de 2011, 00:15:41 por Agnóstico »
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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #243 Online: 14 de Fevereiro de 2011, 00:12:07 »
Não é *onde* "raios" o computador vai ter consciência. Você parece estar com a mesma dificuldade do Buckaroo. A consciência não está num lugar para ser apontada, até porque é produto de uma ilusão. Ela não existe como algo real, objetivo. É só um processo que dimana do funcionamento de uma máquina.

Ah, isso "explica tudo" então.

De quebra entendi simplesmente TUDO sobre física, química, biologia. Tudo são processos e reações que resultam de interações físicas. Que incrível!

Por que os cientistas ainda trabalham, se já sabemos tudo?

Offline Moro

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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #244 Online: 14 de Fevereiro de 2011, 00:13:56 »
aí concordo com o Buck. Existe algumas características humanas que podemos por "na conta" da consciência ainda que não saibamos as áreas do cérebro que são envolvidas para o seu funcionamento.
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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #245 Online: 14 de Fevereiro de 2011, 00:23:25 »
então faz o seguinte. Coloca aqui o trecho que mostra como vai ser implementado o código que dá suporte à consciência.
O paper do Gilberto está bem dividido em seções e pode-se achar, facilmente, a parte específica em que ele trata do chamado "problema difícil" da consciência. Se você não percebeu que as definições que ele apresenta lá são diretrizes para a escrita de códigos, o problema não é comigo.



Veja, dizer que vai usar a estratégia de aprender como um bebe é filosofia.
Não sei em que você se fundamenta para dizer algo assim. Mas essa "estratégia" é a mesma que acontece com todas as mentes humanas do mundo. Fazer assim é, justamente, uma simplificação na escrita do código. Achei que você entenderia isso.



Mostrar um algorítimo funcional não é filosofia, entendeu?
Claro que não. Isso seria a finalização da coisa. Acho que você entende que ainda estamos apenas nas definições, não é? E que a escrita desse algorítmo é um trabalho... digamos... "colossal", como eu já deixei subentender em outro post (é o maior "obstáculo", o fator mais oneroso do projeto, talvez). Eu cheguei a ter a vã (agora vejo) expectativa de que você até poderia contribuir para isso, um pouco que fosse.



vamos lá, aguardando você me explicar como vai funcionar a consciência em um computador.
De novo? Acho que estou mais para desistir. Ou, já que você expressou muito mais certeza na impossibilidade do que eu na possibilidade, prefiro esperar que você me explique como não vai funcionar.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #246 Online: 14 de Fevereiro de 2011, 00:24:24 »
Não Buck, nada a ver com gosto.

Eu tenho uma experiência (E1, E2), conhecimento (C1,C2) e vejo O ocorrer e interpreto da maneira Y
Voce tem uma experiencia (E1, E5) conhecimento (C3, C5) e quando vê o interpreta da maneira Z.

quer dizer, não importa o quão semelhante seja o olho de uma câmera ou do olho de um macaco, as experiências serão distintas porque a base que o cérebro usa para fazer a interpretação muda.

E como se pode verificar isso? São ambos cérebros, muito similares, recebendo estímulos similares, da mesma natureza. Por que/como a especificidade dos estímulos produziria essa diferença nos resultados? Em que diferiria a experiência subjetiva de um chimpanzé da de uma pessoa? Um chimpanzé que fosse criado na cidade, tendo experiências mais próximas às de uma criança, teria seus qualia mais parecidos com os de uma criança do que um que viveu só na selva?

Buck, você não entendeu?

Para e pensa..  No momento Y, o cérebro está recebendo o mesmo estímulo, mas esse estímulo recebido no momento Y encontra uma massa de conhecimento/humor completamente distintas nos dois cérebros, daí a diferença entre as experiências de ambos os cérebros.

Como te disse, muito simples, não tem hard problem algum.



E como se pode verificar isso? Como você sabe que um chimpanzé olha para uma banana e vê algo diferente do que uma pessoa vê ao olhar para a mesma banana, e outra por sua vez vê ainda outra coisa? (Ou, cada um, bananas diferentes, pessoais)ble

Buck, meu amigo, tendo problemas com o hard problem?? Seus problemas acabaram.. :D

Sério, só trocar a banana por um carro e ver "a experiência que o macaco tem ao olhar o carro e você tem ao olhar o carro" e perceber porque existe essa diferença..

A diferença é apenas o que eu sei sobre o carro. Não vejo como isso poderia afetar a imagem que eu vejo quando olho para ele, e fazer que seja a diferente do que veria um chimpanzé.




Citar

Você tem ao menos qualquer coisa sobre como um artigo mostrando padrões muito distintos de ativação neuronal quando diferentes pessoas olham para o mesmo objeto? Porque ao menos segundo umas notícias recentes, é o contrário.

Cara, o fato de ver uma luzinha brilhando em um equipamento e achar que ela é semelhante não quer dizer nada.. é o mesmo que olhar uma foto pixalada tirara a 5 mil metros e tentar encontar o quadro da monalisa por ele.
Não confunda nossa dificuldade em fazer um mapeamento decente com a constatação de que estamos em posse de todos os dados para a análise.

Não complique o que é simples..

Não simplifique algo extremamente complexo, o tema mais complexo sobre o órgão mais complexo que se conhece em todo o universo.

De fato só se observa através do imageamento a irrigação de áreas do cérebro. e neurônios individuais têm um pequeno poder computacional, não é como se só funcionassem do mesmo modo.

Mas ainda assim, me parece mais parcimonioso que as representações mentais criados por cérebros individuais, porém expostos a um desenvolvimento suficientemente parecido, são experienciadas de forma bastante aproximada. Não acho que cada cérebro crie sua própria linguagem interna significativamente distinta de um outro cérebro da mesma espécie ou de espécies próximas.

Se você conhecer algum artigo ou livro que argumente ou mostre evidências disso, acharia interessantíssimo.



... mas independentemente disso, o "problema difícil" permanece essencialmente intocado, e até levemente mais complexo por essa individualização dos qualia, em vez de se supor algo mais comum a todos.

Offline Gigaview

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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #247 Online: 14 de Fevereiro de 2011, 00:33:36 »
Entendo uma máquina poderá um dia nos convencer que tem consciência, não porque ela tenha consciência de fato mas porque ela foi programada para evidenciar aquilo que os programadores consideram uma evidência de consciência numa máquina. Essa consciência sempre vai ser uma consciência simulada, cujo mérito será atribuído à qualidade do sistema e dos programadores. A única forma que percebo ser possível a manifestação de uma consciência de fato é a capacidade da própria maquina se auto-programar e evoluir a ponto de um dia desenvolver uma linguagem própria que  imagino que nada tem a ver com a linguagem humana. Nesse caso, o mérito inicial também é a qualidade do sistema e dos programadores, mas a capacidade de evoluir por sí mesma seria mérito da própria máquina. Isso é ficção, pelo menos no estado atual da tecnologia.

Outra ponto: Para ter consciência é preciso pensar? Ou o pensamento em sí já é uma manifestação da consciência? O que é pensar?

Quando um computador joga xadrez ele está pensando? Se pensa, tem consciência do jogo? A resposta a essas perguntas pode nos conduzir ao que realmente esperamos de um computador com consciência.
Brandolini's Bullshit Asymmetry Principle: "The amount of effort necessary to refute bullshit is an order of magnitude bigger than to produce it".

Pavlov probably thought about feeding his dogs every time someone rang a bell.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #248 Online: 14 de Fevereiro de 2011, 00:35:34 »
aí concordo com o Buck. Existe algumas características humanas que podemos por "na conta" da consciência ainda que não saibamos as áreas do cérebro que são envolvidas para o seu funcionamento.

Mas o problema que vejo realmente não é tanto em saber de uma "área", mas sim o "como" -- embora não se possa simplesmente dissociar também de qualquer estudo mais aprofundado sobre áreas e tudo mais geralmente rotulado de problemas "simples".

Tudo bem que é "um processo que dimana do funcionamento de uma máquina", mas isso não é tão esclarecedor quanto falar a mesma coisa para "endotermia". Obviamente a endotermia não "está" em um lugar para ser apontado, mas como ela "emerge" é infinitamente mais fácil de ser compreendido do que a percepção subjetiva, só calor, produzido pelo organismo. Para a consciência, não há o análogo ao "calor" da homotermia, a menos que "por decreto". Não se trata de uma propriedade que podemos observar em qualquer outra instância, e chamar apenas de "ilusão" só tem sentido se for contra essas hipóteses meio mágicas sobre o problema. Do contrário, é emergência, não ilusão, mas ainda não sabemos exatamente emergência "do que", além de "disso que experienciamos".

Offline Moro

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Re: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #249 Online: 14 de Fevereiro de 2011, 00:40:46 »
Não Buck, nada a ver com gosto.

Eu tenho uma experiência (E1, E2), conhecimento (C1,C2) e vejo O ocorrer e interpreto da maneira Y
Voce tem uma experiencia (E1, E5) conhecimento (C3, C5) e quando vê o interpreta da maneira Z.

quer dizer, não importa o quão semelhante seja o olho de uma câmera ou do olho de um macaco, as experiências serão distintas porque a base que o cérebro usa para fazer a interpretação muda.

E como se pode verificar isso? São ambos cérebros, muito similares, recebendo estímulos similares, da mesma natureza. Por que/como a especificidade dos estímulos produziria essa diferença nos resultados? Em que diferiria a experiência subjetiva de um chimpanzé da de uma pessoa? Um chimpanzé que fosse criado na cidade, tendo experiências mais próximas às de uma criança, teria seus qualia mais parecidos com os de uma criança do que um que viveu só na selva?

Buck, você não entendeu?

Para e pensa..  No momento Y, o cérebro está recebendo o mesmo estímulo, mas esse estímulo recebido no momento Y encontra uma massa de conhecimento/humor completamente distintas nos dois cérebros, daí a diferença entre as experiências de ambos os cérebros.

Como te disse, muito simples, não tem hard problem algum.



E como se pode verificar isso? Como você sabe que um chimpanzé olha para uma banana e vê algo diferente do que uma pessoa vê ao olhar para a mesma banana, e outra por sua vez vê ainda outra coisa? (Ou, cada um, bananas diferentes, pessoais)ble

Buck, meu amigo, tendo problemas com o hard problem?? Seus problemas acabaram.. :D

Sério, só trocar a banana por um carro e ver "a experiência que o macaco tem ao olhar o carro e você tem ao olhar o carro" e perceber porque existe essa diferença..

A diferença é apenas o que eu sei sobre o carro. Não vejo como isso poderia afetar a imagem que eu vejo quando olho para ele, e fazer que seja a diferente do que veria um chimpanzé.


Que confusão Buck... por isso que você ainda não pegou...

Não tem essa de olhar um carro e ter uma imagem do carro com zero inferência sobre isso. Isso que eu estou te dizendo de separar o cérebro em partes e querer que ele funcione de acordo com essas partes que você criou..

O macaco vai olhar um carro amarelo e ver algo amarelo.. um homem vai ver um carro, vai ter desejo ou não por ele, vai pensar quantas garotas ele pode pegar a mais ou não, vai pensar que não pode comprar ou não..

São experiências completamente distintas.

Citar

Você tem ao menos qualquer coisa sobre como um artigo mostrando padrões muito distintos de ativação neuronal quando diferentes pessoas olham para o mesmo objeto? Porque ao menos segundo umas notícias recentes, é o contrário.

Cara, o fato de ver uma luzinha brilhando em um equipamento e achar que ela é semelhante não quer dizer nada.. é o mesmo que olhar uma foto pixalada tirara a 5 mil metros e tentar encontar o quadro da monalisa por ele.
Não confunda nossa dificuldade em fazer um mapeamento decente com a constatação de que estamos em posse de todos os dados para a análise.

Não complique o que é simples..

Não simplifique algo extremamente complexo, o tema mais complexo sobre o órgão mais complexo que se conhece em todo o universo.

Tema muito simples sobre o órgão mais complexo. A complexidade do tema está só na sua cabeça.



De fato só se observa através do imageamento a irrigação de áreas do cérebro. e neurônios individuais têm um pequeno poder computacional, não é como se só funcionassem do mesmo modo.

Mas ainda assim, me parece mais parcimonioso que as representações mentais criados por cérebros individuais, porém expostos a um desenvolvimento suficientemente parecido, são experienciadas de forma bastante aproximada. Não acho que cada cérebro crie sua própria linguagem interna significativamente distinta de um outro cérebro da mesma espécie ou de espécies próximas.

Se você conhecer algum artigo ou livro que argumente ou mostre evidências disso, acharia interessantíssimo.

Se as imagens mostram que as experiências sobre o ponto de vista do cérebro são as mesmas, elas estão erradas, fruto da complexidade do cérebro, bem simples.
Toda esse seu assombro se deve a um problema de instrumental...



... mas independentemente disso, o "problema difícil" permanece essencialmente intocado, e até levemente mais complexo por essa individualização dos qualia, em vez de se supor algo mais comum a todos.

Problema bem simples...
“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

Faisal Saeed Al Mutar


"To claim that someone is not motivated by what they say is motivating them, means you know what motivates them better than they do."

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I'm not convinced that faith can move mountains, but I've seen what it can do to skyscrapers."  --William Gascoyne

 

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