Autor Tópico: The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?  (Lida 31744 vezes)

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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #175 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 09:03:41 »

Li e reli o trecho, não achei NADA que mostre alguma forma de repúdio ou algo do tipo a Popper. Pelo contrário, ele assevera que a evolução é falseável ao invés de "confirmável". Acho que você interpretou errado o texto.

Leia os outros posts. Coloquei um trecho em que o repúdio a Popper fica bem claro.  Mas no trecho acima interpreto que o Dawkins está sendo jocoso, debochando do popperiano. Bem, reproduzo novamente para você não ter que procurar, o trecho em questão:

Ao contrário de alguns dos seus colegas de teoloia, o bispo Montefiore não teme declarar que a questão da existência de Deus é uma questão de facto definida. Não tem nada a ver com evasivas astutas no estilo de O cristianismo é uma forma de vida. A questão da existência de Deus é eliminada: é uma miragem criada pelas ilusões de realismo. Há partes do seu livro sobre física e cosmologia e, não sendo competente para as comentar, apenas quero notar que ele parece ter utilizado físicos genuínos nas suas citações. Quem dera que tivesse feito o mesmo nas partes biológicas. Infelizmente, preferiu, neste caso, consultar as obras de Arthur Koestler, Fred Hoyle, Gorgon Rattray-Taylor e Karl Popper! O bispo acredita na evolução, mas não consegue acreditar que a selecção natural seja uma explicação adequada para o rumo tomado pela evolução (em parte porque, como muitos outros, entende, triste e erradamente, que a selecção natural é casual" e sem significado,).


Concluo que certamente você não sabe em que consiste o falsificacionismo. Qualquer um que ler esse trecho seu verá. Recomendo urgente que leia sobre o mesmo antes de prosseguirmos debatendo.

Eu acho que você continuou não entendo o que eu disse. E já li bastante sobre o falseacionismo. O Capítulo 3 do livro "Metodologia e Filosofia da Ciência" do Ricardo Feijó trata justamente disso:

"O método consiste em mostrar que as teorias são falsas por contradizerem resultados empíricos. O que se tornou conhecido como falseacionismo. As teorias resistentes a tentativas de refutá-las são tidas como corroboradas, mas nunca como verificadas ou mesmo confirmadas. Note que o falseacionismo não é um simples critério de testabilidade, mas um amplo conjunto de procedimentos metodológicos com o qual, acredita-se, o erro é minimizado nas teorias científicas."

O que eu fiz foi justamente mostrar uma maneira - a análise comparada de proteínas - de mostrar que a T.E. é falsa, mas o teste acabou corroborando-a. Aqui vai um trecho da obra de Richard Dawkins. Vejamos:


As informações moleculares são tão ricas que podemos fazer nossa taxonomia separadamente, vezes sem conta, para diferentes proteínas. Podemos então usar nossas conclusões, extraídos do estudo de uma molécula, como um controle para nossas conclusões baseadas no estudo de outra molécula. Se estamos preocupados com a possibilidade de a história contada por uma molécula de proteína ser confundida pela convergência, podemos imediatamente fazer uma verificação, examinando outra molécula de proteína. A evolução convergente é, de fato, um tipo de coincidência especial. E uma característica das coincidências é que, mesmo aconteceram uma vez, têm probabilidade muito menor de acontecer duas. E menos ainda de acontecer três. Examinando cada vez mais moléculas de proteínas separadas, podemos praticamente eliminar a coincidência.

Por exemplo, em um estudo de um grupo de biólogos da Nova Zelândia, foram classificados onze animais, não uma, mas cinco vezes independentemente, usando cinco tipos diferentes de moléculas de proteína. Esse onze animais foram: carneiro, macaco reso, cavalo, canguru, cão, porco, homem, vaca e chimpanzé. A idéia inicialmente era encontrar uma árvore de relações entre os onze animais usando proteínas, para ver se seria obtida a mesma árvore de relações usando uma proteína diferente. Em seguida, fazer o mesmo para uma terceira, uma quarta e uma quinta proteína. Teoricamente, se a evolução não fosse verdade, por exemplo, seria possível que cada uma das cinco proteínas fornecesse uma árvore de “relações” completamente diferente.

As cinco seqüências de proteína estavam todas disponíveis para procura na biblioteca, para todos os onze animais. Para onze animais, existem 654 729 075 possíveis árvores de relações a ser consideradas, e foi preciso recorrer aos métodos de atalho usuais. Para cada uma das cinco moléculas de proteína, o computador imprimiu a árvore de relações mais parcimoniosa. Isso permite cinco melhores suposições quanto à verdadeira árvore de relações entre esses onze animais. O resultado mais inequívoco que poderíamos esperar é o de que todas as cinco árvores estimadas se mostrassem idênticas. A probabilidade de obter esse resultado por pura sorte é ínfima: o número que a representa tem 31 zeros após o ponto decimal. Não nos deveríamos surpreender se não obtivéssemos uma concordância tão perfeita quanto essa: uma certa quantidade de evolução convergente e coincidência é mesmo esperada. Mas deveríamos nos preocupar se não houvesse um grau considerável de concordância entre as diferentes árvores. De fato, as cinco árvores revelaram-se não idênticas, mas muito semelhantes. Todas as cinco moléculas concordam em situar homem, chimpanzé e macaco reso próximos uns dos outros, mas há algumas discordâncias quanto a que animal é o mais próximo desse trio: a hemoglobina B diz que é o cão, o fibrinopeptídeo B diz que é o rato, o fibrinopeptídeo A diz que é um grupo composto do rato e do coelho, a hemoglobina A diz que é um grupo composto de rato, coelho e cão.

Temos decididamente um ancestral comum com o cão, e decididamente outro ancestral comum com o rato. Esses dois ancestrais de fato existiram, em um momento específico da história. Um deles tem de ser mais recente do que o outro, portanto ou a hemoglobina B ou o fibrinopeptídeo B tem de estar errado em sua estimativa das relações evolutivas. Não devemos nos preocupar com essas discrepâncias secundárias, como eu já disse. Esperamos um certo grau de convergência e coincidência. Se realmente somos mais próximos do cão, isto significa que nós e o rato convergimos um para o outro no que se concerne à nossa hemoglobina B. Podemos ter uma idéia de qual dessas duas possibilidades é a mais provável examinando outras moléculas. Mas não me alongarei nesse tema; o que eu queria mostrar foi mostrado.


Esse método aparenta ser seguro e eficaz. A teoria prevê parentesco entre espécies consideradas próximas.

Por exemplo: se os resultados de análise entre homem e chimpanzé forem diferentes, refutar-se-ia o postulado de que o homem tem ancestral comum com o mesmo.

É um método que permite a refutação da TE. O teste fora realizado, e no entanto, em vez de refutar a teoria, a mesma foi corroborada.

É uma boa proposta de refutação da TE. Dawkins, assim, toca em um dos cernes da teoria: ancestralidade. Se os resultados fossem diferentes, a TE poderia ter sido abalada.

Esse trecho nada mais é do que uma defesa dos Programas de Pesquisa de Imre Lakatos. Leia essa postagem minha onde eu resumo as refutações à essa tese que abundam nos livros de filosofia da ciência:

../forum/topic=16394.0.html#msg330186

Sei perfeitamente dos problemas com Lakatos. E o seu texto é muito bom. Mas independente disso, a T. E. tem certas premissas não falseáveis. A questão do gradualismo é uma. O seu próprio link faz questão de dizer que não trata desse assunto. O livro "A Ciência como Atividade Humana" é explícito nisso. E tem gente que acha que o gradualismo só será testável no dia que inventarmos uma máquina do tempo! :biglol:

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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #176 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 09:04:42 »
Citação de: sergiomgbr
Diga-me, qual é o "pacote completo de Feyerabend"?

Um exemplo: a ciência não é em nada melhor do que o mito ou as crendices tribais, eles têm a mesma validade.

Outro exemplo: o objetivo da ciência não é a verdade, mas "a felicidade da humanidade".

Eu acredito que você não defende o pacote completo de Feyerabend, e que se em algum momento disse defender, foi por ignorância.


 


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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #177 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 09:12:05 »
Você está pensando no chamado "falsificacionismo ingênuo", que é a idéia de que tod teoria deve ser imediatamente abandonada se algum experimento a refutar.

Não, não estou, e o texto não tem absolutamente nada a ver com isso. Leia novamente. Em nenhum momento cita-se qualquer coisa semelhante a isso, nem há qualquer coisa que possa dar essa ideia. Não sei nem como você pensou nisso, mas sei perfeitamente que Kuhn e Lakatos foram dois patetas em suas críticas a Popper. O Feyerabend também.

Por favor, leia com calma e verá que em nenhum momento há qualquer defesa a um "falsificacionismo ingênuo". O que o texto trata é das dificuldades da aplicação do falseacionismo em certos campos de estudo, e a busca por outros critérios mais adequados.
 
« Última modificação: 17 de Fevereiro de 2012, 09:18:30 por Enfant Terrible »

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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #178 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 09:18:00 »

Li e reli o trecho, não achei NADA que mostre alguma forma de repúdio ou algo do tipo a Popper. Pelo contrário, ele assevera que a evolução é falseável ao invés de "confirmável". Acho que você interpretou errado o texto.

Leia os outros posts. Coloquei um trecho em que o repúdio a Popper fica bem claro.  Mas no trecho acima interpreto que o Dawkins está sendo jocoso, debochando do popperiano. Bem, reproduzo novamente para você não ter que procurar, o trecho em questão:

Ao contrário de alguns dos seus colegas de teoloia, o bispo Montefiore não teme declarar que a questão da existência de Deus é uma questão de facto definida. Não tem nada a ver com evasivas astutas no estilo de O cristianismo é uma forma de vida. A questão da existência de Deus é eliminada: é uma miragem criada pelas ilusões de realismo. Há partes do seu livro sobre física e cosmologia e, não sendo competente para as comentar, apenas quero notar que ele parece ter utilizado físicos genuínos nas suas citações. Quem dera que tivesse feito o mesmo nas partes biológicas. Infelizmente, preferiu, neste caso, consultar as obras de Arthur Koestler, Fred Hoyle, Gorgon Rattray-Taylor e Karl Popper! O bispo acredita na evolução, mas não consegue acreditar que a selecção natural seja uma explicação adequada para o rumo tomado pela evolução (em parte porque, como muitos outros, entende, triste e erradamente, que a selecção natural é casual" e sem significado,).

Isso não é repúdio a nenhum dos autores citados, o Dawkins apenas disse uma trivialidade: que quem quiser saber de físca, deve ler obras de físicos e não de filósofos da ciência. Não faz sentido você querer saber sobre o Big Bang ou a Teoria da Relatividade consultado obras de Karl Popper ou Richard Dawkins. As obras de Popper tratam apenas de método e lógica da ciência.


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É um método que permite a refutação da TE. O teste fora realizado, e no entanto, em vez de refutar a teoria, a mesma foi corroborada.

É uma boa proposta de refutação da TE. Dawkins, assim, toca em um dos cernes da teoria: ancestralidade. Se os resultados fossem diferentes, a TE poderia ter sido abalada.

É que você fala de uma forma como se a corroboração de uma teoria, ao invés do falseamento, fosse uma coisa ruim ou imprevista pelo falsificaionismo popperiano. Pareceu que na sua visão, ser falseável (ou seja, poder ser falseada) é ser efetivamente falseada e que se o experimento corroborar a teoria, logo ela não seria falseável.


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Esse trecho nada mais é do que uma defesa dos Programas de Pesquisa de Imre Lakatos. Leia essa postagem minha onde eu resumo as refutações à essa tese que abundam nos livros de filosofia da ciência:

../forum/topic=16394.0.html#msg330186

Sei perfeitamente dos problemas com Lakatos. E o seu texto é muito bom. Mas independente disso, a T. E. tem certas premissas não falseáveis. A questão do gradualismo é uma. O seu próprio link faz questão de dizer que não trata desse assunto.


O link que eu postei fala apenas da ancestralidade comum universal, que é a parte mais contestada por criacionistas. Mas no site há outros locais onde ele trata do gradualismo, eu até postei outro link sobre isso depois.


Citar
O livro "A Ciência como Atividade Humana" é explícito nisso. E tem gente que acha que o gradualismo só será testável no dia que inventarmos uma máquina do tempo! :biglol:

Não é necessário ver diretamente, basta apenas extraírmos as suas consequências lógicas, elaborando assim sua classe de falseadores potenciais.
« Última modificação: 17 de Fevereiro de 2012, 09:21:07 por DDV »
Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

"O maior vício do capitalismo é a distribuição desigual das benesses. A maior virtude do socialismo é a distribuição igual da miséria." (W. Churchill)

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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #179 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 10:11:10 »
Isso não é repúdio a nenhum dos autores citados, o Dawkins apenas disse uma trivialidade: que quem quiser saber de físca, deve ler obras de físicos e não de filósofos da ciência.

Para mim isso é desprezo. Não é porque o sujeito é filósofo da ciência que ele vai falar besteira sobre o assunto. Chega até a ser um preconceito. Vários filósofos da ciência são cientistas.

Não faz sentido você querer saber sobre o Big Bang ou a Teoria da Relatividade consultado obras de Karl Popper ou Richard Dawkins. As obras de Popper tratam apenas de método e lógica da ciência.

Eu não diria que as obras de Popper tratam "apenas" de método e lógica da ciência. Ele até escreveu com o neurocientista Nobel John C. Eccles um livro chamado "The self and its brain" que aborda a visão da relação mente e corpo. Sobre mecânica quântica, em particular, Popper difundiu alguns mal-entendidos matemáticos e físicos indubitavelmente graves.

É que você fala de uma forma como se a corroboração de uma teoria, ao invés do falseamento, fosse uma coisa ruim ou imprevista pelo falsificaionismo popperiano.

De forma alguma pretendi dar tal visão.

O link que eu postei fala apenas da ancestralidade comum universal, que é a parte mais contestada por criacionistas. Mas no site há outros locais onde ele trata do gradualismo, eu até postei outro link sobre isso depois.

Que eu lembre apenas falava sobre o gradualismo e o equilíbrio pontuado não serem excludentes. Mas formas de testar, zero.

Não é necessário ver diretamente, basta apenas extraírmos as suas consequências lógicas, elaborando assim sua classe de falseadores potenciais.

Veja bem, é como disse: algumas premissas são testáveis, outras não. Afinal, as mudanças no organismo, como seriam? Aleatórias? Lamarckianas? Cegas? Darwin pensava que elas eram...lamarckianas. Bem, depois surgiu a teoria neo-darwinista da evolução. Nesta teoria surgiu a idéia de mutações cegas, mutações aleatórias, como a fonte de mudança nos organismos. Mas para James Shapiro as mutações não são aleatórias, não do jeito que a maioria das pessoas pensa. Shapiro introduz a noção de 'inteligência bioquímica'. (Seus artigos podem ser consultados em http://bostonreview.net/BR22.1/shapiro.html). Ele apresenta uma alternativa a Dawkins (neodarwinismo) e a Behe (design inteligente). O problema é testar isso tudo...

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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #180 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 11:20:05 »
Isso não é repúdio a nenhum dos autores citados, o Dawkins apenas disse uma trivialidade: que quem quiser saber de físca, deve ler obras de físicos e não de filósofos da ciência.

Para mim isso é desprezo. Não é porque o sujeito é filósofo da ciência que ele vai falar besteira sobre o assunto. Chega até a ser um preconceito. Vários filósofos da ciência são cientistas.

Concordo, mas um filósofo da ciência não é uma referência sobre assuntos brutos de física ou biologia quando se escreve um artigo. Ele pode ser referência nas polêmicas epistemológicas que (ainda) existirem naquela área, mas não sobre o que está definido ou sobre detalhes técnicos. 

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Não faz sentido você querer saber sobre o Big Bang ou a Teoria da Relatividade consultado obras de Karl Popper ou Richard Dawkins. As obras de Popper tratam apenas de método e lógica da ciência.

Eu não diria que as obras de Popper tratam "apenas" de método e lógica da ciência. Ele até escreveu com o neurocientista Nobel John C. Eccles um livro chamado "The self and its brain" que aborda a visão da relação mente e corpo. Sobre mecânica quântica, em particular, Popper difundiu alguns mal-entendidos matemáticos e físicos indubitavelmente graves.

Eu não deixei claro: quando eu falei sobre "as obras de Popper", eu me referia às obras dele referidas no debate, que são as obras sobre epistemologia. É claro que Popper escreveu sobre diversos outros assuntos, como política, física quântica, etc.

Quanto às opiniões de Popper sobre Mecanica Quântica: http://en.wikipedia.org/wiki/Popper's_experiment


 
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O link que eu postei fala apenas da ancestralidade comum universal, que é a parte mais contestada por criacionistas. Mas no site há outros locais onde ele trata do gradualismo, eu até postei outro link sobre isso depois.

Que eu lembre apenas falava sobre o gradualismo e o equilíbrio pontuado não serem excludentes. Mas formas de testar, zero.

Isso foi apenas o trecho que eu citei, não o link todo. Mas sozinhos você e eu já conseguimos imaginar falseadores potenciais do gradualismo. Não é algo tão difícil assim como você coloca.


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Não é necessário ver diretamente, basta apenas extraírmos as suas consequências lógicas, elaborando assim sua classe de falseadores potenciais.

Veja bem, é como disse: algumas premissas são testáveis, outras não. Afinal, as mudanças no organismo, como seriam? Aleatórias? Lamarckianas? Cegas? Darwin pensava que elas eram...lamarckianas. Bem, depois surgiu a teoria neo-darwinista da evolução. Nesta teoria surgiu a idéia de mutações cegas, mutações aleatórias, como a fonte de mudança nos organismos. Mas para James Shapiro as mutações não são aleatórias, não do jeito que a maioria das pessoas pensa. Shapiro introduz a noção de 'inteligência bioquímica'. (Seus artigos podem ser consultados em http://bostonreview.net/BR22.1/shapiro.html). Ele apresenta uma alternativa a Dawkins (neodarwinismo) e a Behe (design inteligente). O problema é testar isso tudo...

Isso é testável em laboratório pela Biologia Molecular e Genética. Ao que eu saiba, são falseáveis.
Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

"O maior vício do capitalismo é a distribuição desigual das benesses. A maior virtude do socialismo é a distribuição igual da miséria." (W. Churchill)

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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #181 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 11:35:17 »
Oi, DDV

vou reproduzir aqui as críticas ao falseacionismo que contam no livro "Understanding Philosophy of Science" (2002), de James Ladyman:

Problems with falsificationism

There are several problems with Popper’s account of falsificationism. Some of these are specific to the details of the theory Popper first elaborated and so may be avoided by a more careful formulation or by revising some of the details. However, some are quite general and challenge the fundamental idea that it is possible to give an account of the scientific method without endorsing any kind of inductive inference. Below, some of the main criticisms of falsificationism are briefly explained.

(1) Some legitimate parts of science seem not to be falsifiable

(a) Probabilistic statements

Science often seems to issue statements about the probability of some occurrence. For example, modern physics tells us that the half life of uranium 235 is 710,000,000 years, which means that the probability of one atom of uranium decaying in 710,000,000 years is one-half or that it is highly probable that if one starts with 1 kg of uranium then in 710,000,000 years 500 g of it will have decayed. However, such statements cannot be falsified because an experiment may produce an improbable outcome and that is consistent with the original statement – improbable things are bound to happen sometimes. Any statement about the probability of a single event is not falsifiable, so, for example, the probability that a particular coin toss will land heads is 1/2, but we cannot falsify that hypothesis by tossing the coin because the fact that the probability is 1/2 is consistent with the coin landing heads or tails on that occasion. This problem does not arise for probabilities that are defined over large populations; hence, the statement that the probability that a particular coin will land heads 50 per cent of the time during a million tosses would be considered refuted if the coin landed tails 90 per cent of the time. I won’t say any more about probabilistic statements and theories except to point out that probability is a bit of a philosophical minefield for anyone, and that Popper did develop a detailed theory of probability whose merits we cannot assess here.

(b) Existential statements

Although Popper is right that a universal generalisation can be falsified by just one negative instance, many statements in science are not of this form. For example, scientific theories assert the existence of things like black holes, atoms, viruses, DNA and so on. Statements that assert the existence of something cannot be falsified by one’s failure to find them. Of course, if a theory asserts the existence of something that we repeatedly fail to find in various circumstances then one has inductive grounds for thinking it won’t be found in the future; however, falsificationism is supposed to allow us to do without inductive grounds for beliefs completely. This raises the question of the relationship between falsificationism and scientific realism. Popper is clear that belief in unobservable entities has often been an important influence on the ideas of scientists and has helped them generate highly falsifiable theories, such as the atomic theory of the elements that are central within physical science. However, his views on induction imply that one can never have positive grounds for believing in theoretical entities no matter how empirically successful the theories that posit them are. This contradicts the idea many people have that we have good reasons to believe that the entities to which our best current scientific theories seem to refer do in fact exist. We shall return to this issue later.

(c) Unfalsifiable scientific principles

It is arguable that some unfalsifiable principles may nonetheless be rightly considered part of scientific knowledge. So, for example, the status of the principle of conservation of energy, which states that energy can take different forms but cannot be created or destroyed, is such that it is inconceivable to most scientists that an experiment could falsify it; rather, an apparent violation of the principle would be interpreted as revealing that something is wrong with the rest of science and it is likely that a new source, sink or form of energy would be posited. It has also been argued that the second law of thermodynamics, which states that the entropy of any closed system always increases, is of such generality that it is beyond falsification.

(d) Hypothesis of natural selection

At one time, Popper was critical of the theory of evolution because he thought the hypothesis that the fittest species survive was tautological, that is to say true by definition, and therefore not falsifiable, yet evolutionary theory is widely thought to be a prime example of a good scientific theory. Most philosophers of biology would argue that the real content of evolutionary theory lies not in the phrase ‘the fittest survive’, but in the idea of organisms passing on characteristics, subject to mutation and variation, which either increase or decrease the chances of their offspring surviving long enough to reproduce themselves, and so pass on those characteristics. This is supposed to account for the existence of the great diversity of species and their adaptation to the environment, and also to the similarities of form and structure that exist between them. This theory may be indirectly falsifiable but the status of evolutionary explanations is too large a subject for us to enter into here.


« Última modificação: 17 de Fevereiro de 2012, 11:37:34 por Enfant Terrible »

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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #182 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 11:46:24 »
Oi, DDV

outras passagem, de outro livro:

Uma das primeiras características a serem propostas foi a testabilidade, denominada falseabilidade por seu criador, Popper, que exacerbou seu alcance. Mas, de um modo geral, o critério da falseabilidade pode ser adequadamente empregado ao estabelecer que se uma proposição é científica, deve ser sujeita à testabilidade, com vistas ao seu falseamento. Assim, uma teoria é científica se puder ser submetida a questionamentos, demonstrações ou experimentações. Se futuramente vier a mostrar falhas e conseqüentemente ser abandonada e substituída por outras, não perderá seu status de científica, apesar de não servir para nada.

[...]

Por outro lado, é verdade que certas hipóteses científicas, por serem primitivas ou primordiais (se situam num ponto básico de uma escala de conhecimentos), nunca podem ser falseadas, e deste modo, criam limitações à idéia de Popper. Assim sendo, o critério da falseabilidade não pode ser empregado isoladamente como critério de identificação de modelos científicos. É o caso da lei da conservação de energia. Se, por alguma razão, o balanço energético num sistema natural não for obedecido, pode-se facilmente aventar a existência de uma nova forma de energia, ainda não conhecida, que se introduz no processo. É verdade que é preciso muitos e muitos testes para que, num caso como este, seja eliminada a possibilidade de erro de medida, interpretação, cálculos etc. No entanto, a anti-matéria e outras partículas sub-atômicas foram descobertas exatamente assim, para ‘fechar’ o balanço de energia.

O leitor perceba que as coisas não são muito simples como parecem em princípio. Há muitos fatores eminentemente subjetivos ainda na alçada da ciência.


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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #183 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 12:37:26 »
Outro erro grotesco, será que o cara não se deu ao trabalho de ler "A Lógica da Pesquisa Científica"? Enunciados existenciais não são faseáveis, a regra com eles é o oposto.. Veja essa postagem que fiz explicando esse erro:

 
Citação de: uilinilli
não é baseada no método científico, não se pode fazer experimentos que confirmem a teoria de que não existem e nunca existiram grandes primatas na América do Norte

Enunciados existenciais (Ex: existe A; não existe B) não podem ser refutados*, apenas confirmados.

Já os enunciados universais (Ex: Todo A é B) não podem ser confirmados*, apenas refutados.


A quase totalidade do que conhecemos como "teoria científica" são enunciados do tipo universal.




*Exceto se for definido um local ou parâmetro que torne finito o espaço-tempo onde o enunciado se aplica: Ex: "Não existem elefantes na América do Sul" ou "Todo cisne dessa fazenda é branco".

Mas mesmo nesses casos, a assimetria entre confirmação e falseamento persiste: basta apenas 1 caso para refutar um enunciado universal ou confirmar um enunciado existencial. Para confirmar o EU ou refutar o EE, é necessário que se vasculhe TUDO. E se o espaço amostral for o universo, torna-se IMPOSSÍVEL.




 É por isso que o método popperiano prescreve que se busque refutar as teorias de cunho universal e confirmar as de cunho existencial.

Como corolário, os enunciados universais não falseáveis e os enunciados existenciais não confirmáveis são descartados como "não científicos".


Comentarei depois ous outros casos.

Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #184 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 12:45:17 »
Outro erro grotesco, será que o cara não se deu ao trabalho de ler "A Lógica da Pesquisa Científica"? Enunciados existenciais não são faseáveis, a regra com eles é o oposto.. Veja essa postagem que fiz explicando esse erro:

Mas a meu ver você está concordando com o autor ao dizer que não são falseáveis, não? É um limite à ideia de Popper. O autor apenas quis traçar seus limites de aplicação.


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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #185 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 12:51:40 »

(1) Some legitimate parts of science seem not to be falsifiable

(a) Probabilistic statements

Science often seems to issue statements about the probability of some occurrence. For example, modern physics tells us that the half life of uranium 235 is 710,000,000 years, which means that the probability of one atom of uranium decaying in 710,000,000 years is one-half or that it is highly probable that if one starts with 1 kg of uranium then in 710,000,000 years 500 g of it will have decayed. However, such statements cannot be falsified because an experiment may produce an improbable outcome and that is consistent with the original statement – improbable things are bound to happen sometimes.

Popper trata exaustivamente disso no seu livro inicial. Enunciados probabilísticos possuem sim falseadores potenciais, porém eles nã se referem a um ÚNICO evento, mas a um conjunto de eventos.

Citar
Any statement about the probability of a single event is not falsifiable, so, for example, the probability that a particular coin toss will land heads is 1/2, but we cannot falsify that hypothesis by tossing the coin because the fact that the probability is 1/2 is consistent with the coin landing heads or tails on that occasion.

E...?

Probabilidades não se referem a eventos únicos, mas a um conjunto de eventos.

Citar
This problem does not arise for probabilities that are defined over large populations; hence, the statement that the probability that a particular coin will land heads 50 per cent of the time during a million tosses would be considered refuted if the coin landed tails 90 per cent of the time.

Ok.

Citar
I won’t say any more about probabilistic statements and theories except to point out that probability is a bit of a philosophical minefield for anyone, and that Popper did develop a detailed theory of probability whose merits we cannot assess here.

Hehe, aqui ele confessa que sabe da existência de textos de Popper tratando do assunto, mas que não analisou ou não quis discutir.  :)


Citar
(b) Existential statements

Although Popper is right that a universal generalisation can be falsified by just one negative instance, many statements in science are not of this form. For example, scientific theories assert the existence of things like black holes, atoms, viruses, DNA and so on. Statements that assert the existence of something cannot be falsified by one’s failure to find them. Of course, if a theory asserts the existence of something that we repeatedly fail to find in various circumstances then one has inductive grounds for thinking it won’t be found in the future; however, falsificationism is supposed to allow us to do without inductive grounds for beliefs completely. This raises the question of the relationship between falsificationism and scientific realism. Popper is clear that belief in unobservable entities has often been an important influence on the ideas of scientists and has helped them generate highly falsifiable theories, such as the atomic theory of the elements that are central within physical science. However, his views on induction imply that one can never have positive grounds for believing in theoretical entities no matter how empirically successful the theories that posit them are. This contradicts the idea many people have that we have good reasons to believe that the entities to which our best current scientific theories seem to refer do in fact exist. We shall return to this issue later.


Erro grave por desconhecimento. Enunciados existenciais (pela lógica) não podem ser falseados*, apenas confirmados. A regra com os mesmos é a oposta.


*Exceto se definirem um espaço-tempo finito, mas mesmo assim continua sendo mais "praticável" confirmar do que falsear, ou seja, a ciência progredirá mais se buscarem a confirmação ao invés do falseamento (o oposto dos enunciados universais, que são a maioria das teorias científicas).

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(c) Unfalsifiable scientific principles

It is arguable that some unfalsifiable principles may nonetheless be rightly considered part of scientific knowledge. So, for example, the status of the principle of conservation of energy, which states that energy can take different forms but cannot be created or destroyed, is such that it is inconceivable to most scientists that an experiment could falsify it; rather, an apparent violation of the principle would be interpreted as revealing that something is wrong with the rest of science and it is likely that a new source, sink or form of energy would be posited. It has also been argued that the second law of thermodynamics, which states that the entropy of any closed system always increases, is of such generality that it is beyond falsification.

Quando experimentos mostram resultados não-previstos, os cientistas não os ignoram: eles sempre buscam o "culpado" (conforme prescrito pelo falsificacionismo). Até hoje, obtiveram sucesso em explicar os resultados recorrendo a hipóteses auxiliares não-ad hoc (Ex: nêutrons e neutrinos). Se isso prosseguirá indefinidadmene, não sabemos.



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(d) Hypothesis of natural selection

At one time, Popper was critical of the theory of evolution because he thought the hypothesis that the fittest species survive was tautological, that is to say true by definition, and therefore not falsifiable, yet evolutionary theory is widely thought to be a prime example of a good scientific theory. Most philosophers of biology would argue that the real content of evolutionary theory lies not in the phrase ‘the fittest survive’, but in the idea of organisms passing on characteristics, subject to mutation and variation, which either increase or decrease the chances of their offspring surviving long enough to reproduce themselves, and so pass on those characteristics. This is supposed to account for the existence of the great diversity of species and their adaptation to the environment, and also to the similarities of form and structure that exist between them. This theory may be indirectly falsifiable but the status of evolutionary explanations is too large a subject for us to enter into here.[/color]

Já comentado. O próprio Popper voltou atrás em sua opinião: ele considera a seleção natural falseável sim.
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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #186 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 12:55:02 »
Outro erro grotesco, será que o cara não se deu ao trabalho de ler "A Lógica da Pesquisa Científica"? Enunciados existenciais não são faseáveis, a regra com eles é o oposto.. Veja essa postagem que fiz explicando esse erro:

Mas a meu ver você está concordando com o autor ao dizer que não são falseáveis, não? É um limite à ideia de Popper. O autor apenas quis traçar seus limites de aplicação.



Mas isso é colocado pelo próprio Popper no seu livro "A Lógica da Pesquisa Científica"!  :o  Enunciados existenciais são confirmáveis ao invés de refutáveis.

A questão é que a esmagadora maioria do que conhecemos como "teoria científica" são enunciados universais, por isso a ênfase no falseamento. Os enunciados existenciais fazem parte de uma minoria de ciências, geralmente as que lidam com eventos históricos ou singulares (Ex: astronomia, cosmologia, geologia, biologia evolutiva, história, etc). Nos enunciados existenciais, a regra oposta é a válida, conforme colocado pelo próprio Popper.



« Última modificação: 17 de Fevereiro de 2012, 13:01:50 por DDV »
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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #187 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 13:41:42 »


A propósito.. O que estaria re-encarnando? A consciência ou o "espírito" ou a "alma"?

Memórias (de diversos tipos). E geralmente, a grosso modo, eu trato consciência, espírito e alma tudo como sinônimo. Não costumo fazer diferenciações (embora há gente que faça).
Concordo, a princípio. Analogamente a uma pedra, que após o impacto na superfície de um lago, produz ondas em sua superfície, as ações humanas ficariam registradas indefinidamente sob a forma de ondas de toda natureza pelo tecido do espaço tempo, memórias como ações humanas também entram nessa assertiva. Ainda que a hipotese que corrobore a reencarnação da memória seja totalmente diversa, em gênese, mesmo assim, talvez haja alguma correspondência com a analogia da pedra quanto a sua possibilidade.
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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #188 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 13:54:50 »
Mas isso é colocado pelo próprio Popper no seu livro "A Lógica da Pesquisa Científica"!  :o  Enunciados existenciais são confirmáveis ao invés de refutáveis.

Certo, mas o que o autor não está criticando Popper! A intenção dele é mostrar que aquele papo de "ah, se não dá para falsear, não é Ciência!" é problemático. Não dá para aplicar o falseamento em tudo, a Ciência não pode se basear apenas nesse critério de demarcação, ou perderíamos muito do que chamamos de conhecimento científico. Você mesmo concorda com isso abaixo, estamos em sintonia :lol::

A questão é que a esmagadora maioria do que conhecemos como "teoria científica" são enunciados universais, por isso a ênfase no falseamento. Os enunciados existenciais fazem parte de uma minoria de ciências, geralmente as que lidam com eventos históricos ou singulares (Ex: astronomia, cosmologia, geologia, biologia evolutiva, história, etc). Nos enunciados existenciais, a regra oposta é a válida, conforme colocado pelo próprio Popper.

O livro "A Impostura Científica em Dez Lições" trata justamente desses exemplos de ciências não-popperianas, e faz até uma defesa da psicanálise, tão criticada:

À parte teorias recentes, existem outras áreas da ciência, ou em todo caso do saber, que não respondem ao critério de Popper. A história, por exemplo, não é regida por leis preditivas que permitiriam antecipar de maneira segura tal ou tal acontecimento. E como se poderia testar, de maneira experimental, a exatidão de uma predição histórica?

Karl Popper via na psicanálise freudiana o exemplo exato de uma teoria não refutável. Os biólogos reducionistas criticam na teoria de Freud sua falta de objetividade científica, suas estruturas conceituais inverificáveis de maneira rigorosa. Seja qual for a maneira de considerar a teoria freudiana, não se vê absolutamente como testá-la por um procedimento calcado sobre o modelo da refutabilidade das teorias físicas. Que experiência “objetiva” permitiria, por exemplo, testar a existência do inconsciente no sentido freudiano?

Frequentemente se esquece que o próprio Freud tinha consciência do problema. Primeiramente médico e anatomista, ele inventou uma técnica para isolar as células nervosas e passou longas horas estudando no microscópio os gânglios e a medula espinhal do petromizonte, peixe próximo da enguia.

Sua ambição inicial era compreender as bases fisiológicas do psiquismo, como tentam os pesquisadores de hoje, dos quais em certo sentido ele é o predecessor. A impossibilidade de levar a cabo essa tarefa com os meios disponíveis no fim do século XIX, ao mesmo tempo que razões pessoais o levaram a abandonar seus trabalhos de laboratório em 1885.

Que a psicanálise não seja uma teoria científica como a física quântica ou a relatividade não significa que ela não tenha nenhuma utilidade para compreender o cérebro, ao contrário. A neurobiologia contemporânea trabalha com uma eficácia indiscutível sobre sistemas muito limitados: tal tipo de neurônios, tal neurotransmissor, tal canal iônico etc. Esses sistemas não dizem muita coisa da paisagem de conjunto. Ora, não aprece que seja possível compreender a consciência ou o cérebro sem ressituar os sistemas locais na sua paisagem global. Saber, por exemplo, que a depressão é acompanhada de uma baixa da serotonina não diz grande coisa do indivíduo deprimido.

Sem aprofundar muito essa discussão, queria sublinhar que o modelo das ciências da natureza não se aplica a todas as formas de conhecimento e de teorias. Podemos sustentar que a teoria psicanalítica é uma teoria interpretativa, que permite dar sentido a comportamentos subjetivos. A experiência mostra que encontrar um sentido para os acontecimentos da vida pode ajudar a viver melhor, ou menos mal. De certa maneira, ela valida assim as teorias de Freud. Mas aqui se trata de experiência clínica, subjetiva, não de experiência científica no sentido das ciências físicas. O que se pode esperar da psicanálise não é da mesma ordem daquilo que se aprende da física, da química ou da biologia.

De resto, é revelador observar que a oposição entre neurobiologia e psicanálise parece pouco a pouco sair de moda. Pesquisadores como Olivier Sachs, Jean-Didier Vincent ou Antonio Damásio reabilitam o estudo das emoções, das paixões ou da personalidade em seu conjunto, que o reducionismo dominante tinha rejeitado como pouco suscetível de investigação científica. O grande interesse do pensamento freudiano no universo atual das ciências do espírito é talvez mostrar que não se explicará o todo do homem com um único tipo de teoria. Que as ações, os comportamentos, os acontecimentos que afetam um indivíduo e dos quais ele participa não se reduzem a uma série de mecanismos.


Que eu me lembre o Carl Sagan também citava como exemplo de ciência não-popperiana a Antropologia, só não estou lembrando a fonte. 

Offline DDV

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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #189 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 14:22:24 »
O livro "A Impostura Científica em Dez Lições" trata justamente desses exemplos de ciências não-popperianas, e faz até uma defesa da psicanálise, tão criticada:

Mas a psicanálise não é uma ciência histórica, que trata de acontecimentos singulares, ela se propõe a ser uma teoria científica de caráter universal, com um conjunto de postulados que explicariam o comportamento humano. Portanto, ela é sim uma teoria que deveria ser falseável se tivesse conteúdo empírico.



Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #190 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 14:33:54 »
Não sei nem como você pensou nisso, mas sei perfeitamente que Kuhn e Lakatos foram dois patetas em suas críticas a Popper. O Feyerabend também.
Não foram patetas em suas críticas( a não ser que considere o próprio Popper o pateta-mor! ::), afinal há alguma grandeza que não pode ser associada a patetices naqueles que pensam o mundo...Sempre se há de achar pontos em seus raciocínios em que há alguma boa contribuição. Aquí respondendo a DDV quanto ao que considerar de Feyerabend, também.
Até onde eu sei eu não sei.

Offline Enfant Terrible

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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #191 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 14:42:39 »
Não sei nem como você pensou nisso, mas sei perfeitamente que Kuhn e Lakatos foram dois patetas em suas críticas a Popper. O Feyerabend também.
Não foram patetas em suas críticas( a não ser que considere o próprio Popper o pateta-mor! ::), afinal há alguma grandeza que não pode ser associada a patetices naqueles que pensam o mundo...Sempre se há de achar pontos em seus raciocínios em que há alguma boa contribuição. Aquí respondendo a DDV quanto ao que considerar de Feyerabend, também.

Olha, há muitas críticas a Kuhn, a Lakatos, e MUITAS para o outro pateta: Feyerabend. O livro que vou recomendar é:

- O método nas ciências naturais e sociais - pesquisa quantitativa e qualitativa. de: ALDA JUDITH ALVES-MAZZOTTI (Ph.D) E FERNANDO GEWANDSZNAJD.

Nesse livro você verá críticas feias para algumas idéias de Lakatos, como a idéia de que é simples na comunidade científica criar ad hocs para salvar teorias. Também verá críticas a Kuhn para com sua tese da incomensurabilidade. Você verá como esses autores acertaram em uma análise histórica da ciência, mas verá como várias idéias são infantis. Também verá que, Lakatos, Kuhn e Feyerabend foram alunos de Popper, e o interpretaram errado várias vezes!

Criaram um mito de que DEVEMOS ABANDONAR A TEORIA (de acordo com Popper) CASO ELA NÃO ESTEJA DE ACORDO COM A REALIDADE. Isso é um mito, e certamente foi criado pelo fato Popper não ter dito isso várias vezes em suas obras. Ele disse poucas vezes mas DISSE.

Quem divulgou esse mito foram os 3 patetas: Kuhn, Feyerabend e Lakatos, todos seus alunos (e má alunos).

É uma pena pois vemos VÁRIOS sites na internet divulgando esse mito (TOTALMENTE ERRADO).

Offline Enfant Terrible

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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #192 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 14:57:03 »
Mas a psicanálise não é uma ciência histórica, que trata de acontecimentos singulares, ela se propõe a ser uma teoria científica de caráter universal, com um conjunto de postulados que explicariam o comportamento humano. Portanto, ela é sim uma teoria que deveria ser falseável se tivesse conteúdo empírico.

Olha, DDV, isso aí dá uma discussão enorme. Eu fico por aqui, mas recomendo o texto abaixo apenas para uma reflexão e não exatamente uma defesa da psicanálise como ciência, ok? (embora o autor vá por esse lado de defender a psicanálise, no fim ele diz: "Curiosamente, os aspectos do legado psicanalítico corroborados até o momento pela biologia e pela psicologia experimental são observações marginais de Freud e Jung, discretas menções en passant às funções biológicas do teatro dos sonhos. O cerne das suas obras trata não do substrato material deste teatro, mas sim dos enredos subjetivos ali encenados. Neste sentido, apenas um entendimento mais profundo das bases neuronais da representação simbólica68,69 poderá dizer se Freud e Jung acertaram no detalhe e erraram no principal, ou se, ao contrário, anteviram a estrutura mesma da mente e de suas funções primordiais."

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-44462003000600013&script=sci_arttext

Offline Geotecton

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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #193 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 15:10:47 »
Sim, estaríamos falando dele,
Não, não estaríamos, uma vez que neste caso seriam "raros os livros de Geologia ou de divulgação científica que cita[ria]m Wegener ou suas ideias" devido ao policiamento ideológico.

Desculpe mas Vossa Senhoria está enganado, provavelmente porque não é da área de Geociências e está subestimando a relevância da "figura da autoridade" no ambiente histórico do início do século XX, para aquilo que Vossa Senhoria chamou de um "policiamento ideológico".

Wegener continuaria sendo citado assim como Hutton é citado por seus trabalhos como o Princípio do Uniformitarismo e pelo Plutonismo, sendo que o primeiro deles foi redefinido e o segundo já é obsoleto há muito tempo.


É possível. Mas a maioria das ideias retidas no filtro do conservadorismo científico são simplesmente sandices que posteriormente se revelam comprovadamente como tolices.
Mas "é melhor ter nove de suas idéias sendo completamente desmentidas, e a décima colocar em movimento uma revolução, do que ter todas as dez corretas mas serem descobertas sem importância que satisfazem os céticos" (Francis Crick)

Então pode-se utilizar esta premissa para hipotetizar sobre qualquer coisa sob o principal argumento de que o mainstream está atrasado?


Voce está fazendo um 'juízo de valor' na confortável posição de observador histórico com todas as informações disponíveis.
Foi injusta até considerando-se a velocidade em que as demais revoluções científicas da época foram aceitas.

A TE teve (e tem) muitos ferrenhos opositores no final do século XIX e alvorecer do século XX. A hipótese de um Universo em expansão foi recebida com sérias reservas por boa parte da comunidade astronômica do primeiro quartil do século XX.

E, apenas para lembrar a Vossa Senhoria, a quantificação em larga escala na Geologia Estrutural e Geotectônica começou apenas no findar do primeiro meado do século XX, e ela foi fundamental para consolidar o conhecimento naquilo que veio a ser chamada de 'Teoria da Tectônica de Placas'. Wegener não possuía este ferramental e conhecimento no início do século XX.


Assim como ele, aconteceu com Galileu e com Eratóstenes.
Está bem enganado, o trabalho de Galileu foi reconhecido à época, inclusive por membros do clero. A situação depois se voltou contra ele mais por culpa dele próprio.

É mesmo? Então a obliteração do Sistema Geocêntrico Ptolomaico pelo Sistema Heliocêntrico (que foi o principal impacto científico e epistemológico de Galieli) foi alegremente aceito por toda a comunidade científica da época e pela Igreja?

Em parte sim, mas esta aceitação durou menos de um ano, porque o clero percebeu que a nova concepção cosmogônica poderia por em dúvida a interpretação teológica tradicional. No campo científico foi o inverso, com Magini liderando a objeção mas, por fim, concordando com as observações de Galilei.
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Offline Enfant Terrible

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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #194 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 15:45:39 »
Desculpe mas Vossa Senhoria está enganado, provavelmente porque não é da área de Geociências e está subestimando a relevância da "figura da autoridade" no ambiente histórico do início do século XX, para aquilo que Vossa Senhoria chamou de um "policiamento ideológico".

Wegener continuaria sendo citado assim como Hutton é citado por seus trabalhos como o Princípio do Uniformitarismo e pelo Plutonismo, sendo que o primeiro deles foi redefinido e o segundo já é obsoleto há muito tempo.

Quem deu o nome de "policiamento ideológico" foi o próprio Ernesto Luiz Lavina em seu artigo. E a não citação de Wegener nos livros é dito por ele também: "São raros os livros de Geologia ou de divulgação
científica que citam Wegener ou suas ideias." Sugiro que você releia o artigo.

É possível. Mas a maioria das ideias retidas no filtro do conservadorismo científico são simplesmente sandices que posteriormente se revelam comprovadamente como tolices.
Mas "é melhor ter nove de suas idéias sendo completamente desmentidas, e a décima colocar em movimento uma revolução, do que ter todas as dez corretas mas serem descobertas sem importância que satisfazem os céticos" (Francis Crick)

Então pode-se utilizar esta premissa para hipotetizar sobre qualquer coisa sob o principal argumento de que o mainstream está atrasado?

Desde que essa hipótese seja baseada em diversas evidências, como Wegener fez, sim.

A TE teve (e tem) muitos ferrenhos opositores no final do século XIX e alvorecer do século XX. A hipótese de um Universo em expansão foi recebida com sérias reservas por boa parte da comunidade astronômica do primeiro quartil do século XX.

In spite of the lack of a mechanism for the preservation of traits, Darwin's theory quickly came to dominate. Within 5 years, Oxford University was using a biology textbook that discussed biology in the context of evolution by natural selection. The textbook stated, "Though evidence might be required to show that natural selection accounts for everything ascribed to it, yet no evidence is required to show that natural selection has always been going on, is going on now, and must ever continue to go on. Recognizing this is an a priori certainty, let us contemplate it under its two distinct aspects." At Oxford, evolution by natural selection had gone from hypothesis to a priori certainty in the space of 5 years. In this case the scientific community (excepting a minority of skeptics) chose to ignore the lack of mechanism. Wegener had no such luck with his Continental Drift Theory.

http://www.scientus.org/Wegener-Continental-Drift.html

E, apenas para lembrar a Vossa Senhoria, a quantificação em larga escala na Geologia Estrutural e Geotectônica começou apenas no findar do primeiro meado do século XX, e ela foi fundamental para consolidar o conhecimento naquilo que veio a ser chamada de 'Teoria da Tectônica de Placas'. Wegener não possuía este ferramental e conhecimento no início do século XX.

Mesmo a teoria de Darwin, embora superior à de Lamarck, continha sérias lacunas e somente a moderna teoria da evolução – o neodarwinismo – conseguiu explicar satisfatoriamente (através de mutações) o aparecimento de novidades genéticas.

É mesmo? Então a obliteração do Sistema Geocêntrico Ptolomaico pelo Sistema Heliocêntrico (que foi o principal impacto científico e epistemológico de Galieli) foi alegremente aceito por toda a comunidade científica da época e pela Igreja?
Em parte sim, mas esta aceitação durou menos de um ano, porque o clero percebeu que a nova concepção cosmogônica poderia por em dúvida a interpretação teológica tradicional. No campo científico foi o inverso, com Magini liderando a objeção mas, por fim, concordando com as observações de Galilei.

A aceitação durou menos de um ano? Daonde você tirou isso? Ele publicou suas ideias em 1612 e só em 1633 foi acusado de suspeita de heresia, e mais por culpa dele próprio!

Segue um extrato da obra de Woods Jr.:

A controvérsia de Galileu centrou-se em torno do trabalho do astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543).  Alguns estudiosos modernos de Copérnico afirmam que ele era padre, mas não existe nenhuma evidência direta de que tivesse chegado a receber as ordens maiores, embora tivesse sido nomeado cônego do cabido de Frauenburg no final da década de 1490 [portanto, devia ter, ao menos, as ordens menores, um diaconato].  Fosse qual fosse o seu estado clerical, porém, o certo é que nasceu e se criou numa família profundamente religiosa, na qual todos pertenciam à Ordem Terceira de São Domingos, a associação de fiéis vinculados à Ordem que estendera aos leigos a oportunidade de participar da espiritualidade e da tradição dominicanas.
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Como cientista, Copérnico era uma figura de renome nos meios eclesiásticos, tendo sido consultado pelo Quinto Concílio de Latrão (1512-1517) sobre a reforma do calendário [que haveria de se concretizar apenas em 1582!].  A pedido dos amigos, de colegas acadêmicos e de vários prelados, que o instavam a publicar o seu trabalho, Copérnico acabou por ceder e publicou os “Seis Livros Sobre os Movimentos das Órbitas Celestes”, que dedicou apo papa Paulo III, em 1543.  Antes ainda, em 1531, tinha redigido para os amigos um sumário do seu sistema heliocêntrico, que viria a atrair as atenções até do papa Clemente VII; este convidara o humanista e advogado Johann Albert Widmanstadt a dar uma conferência pública no Vaticano sobre o tema, ficando muito bem impressionado com o que ouviu.
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No seu trabalho, Copérnico conservou muito da astronomia convencional da sua época, a qual se devia quase por completo a Aristóteles [em termos de princípios] e, acima de tudo, a Ptolomeu (87-150 dC) [em termos do aparato matemático e do sistema de órbitas, epiciclos e equantes], um brilhante astrônomo grego para quem o Universo era geocêntrico.  A astronomia copernicana partilhou com a dos seus precursores gregos alguns aspectos, tais como a perfeita esfericidade dos corpos celestes, as órbitas circulares e a velocidade constante dos planetas.  Mas introduziu uma diferença significativa ao situar o Sol, ao invés da Terra, no centro do sistema; no seu modelo, a Terra e os outros planetas moviam-se em torno do Sol.
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Apesar do feroz ataque dos protestantes, que viam no sistema copernicano uma frontal oposição à Sagrada Escritura, esse sistema não foi objeto de uma censura católica formal até que surgiu o caso Galileu.
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Galileu Galilei (1546-1642), além dos seus trabalhos no campo da Física, fez com o seu telescópio algumas observações astronômicas importantes, que contribuíram para abalar o sistema ptolemaico.  Observou montanhas na Lua, com o que derrubou a velha certeza de que os corpos celestes eram perfeitamente esféricos.  Descobriu as quatro luas que orbitam em torno de Júpiter, demonstrando não só a presença de fenômenos celestes que Ptolomeu e os antecessores não haviam percebido, mas também que um planeta, movendo-se na sua órbita, não deixa para trás os seus satélites [uma das objeções teóricas ao fato de a Terra se mover – se ela se movesse, “deixaria para trás” a Lua...].  A descoberta das fases de Vênus foi outra peça de evidência em favor do sistema copernicano.
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Inicialmente, Galileu e sua obra foram bem acolhidos e festejados por eminentes eclesiásticos.  Em fins de 1610, o padre jesuíta Cristóvão Clavius (1538-1612, um os grandes matemáticos de seu tempo; havia chefiado a comissão encarregada de elaborar o calendário gregoriano, que entrou em vigor me 1582, eliminando as imprecisões que afetavam o antigo calendário juliano.  Os seus cálculos em relação à duração do ano solar e ao número de dias necessários para manter o calendário ajustado ao ano solar – saltar 97 dias a cada 400 anos – foram de tal precisão que até hoje os estudiosos não sabem como conseguiu realizá-las, cf. Joseph E. MacDonnel, “Jesuit Geometers”, pág. 19) comunicava por carta a Galileu que os seus amigos astrônomos jesuítas haviam confirmado as suas descobertas. Quando foi a Roma no ano seguinte, o astrônomo foi saudado com entusiasmo tanto pelos religiosos como por personalidades leigas.  Escreveu a um amigo: “Tenho sido recebido e favorecido por muitos cardeais ilustres, prelados e príncipes desta cidade”.  O papa Paulo V concedeu-lhe uma longa audiência, e os jesuítas do Colégio Romano organizaram um dia de atividades em homenagem às suas descobertas.
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Galileu estava encantado: perante uma audiência de cardeais, matemáticos e líderes civis, alguns alunos dos padres Grienberger e Clavius (o padre Cristóvão Grienberger, 1531-1636, comprovou pessoalmente a descoberta das luas de Júpiter por Galileu; era um competente astrônomo, inventor da montagem equatorial, que fazia girar um telescópio sobre um eixo paralelo ao da Terra; também contribuiu para o desenvolvimento do telescópio de refração, que s utiliza hoje em dia, cf. Joseph E. MacDonnel, op. cit.) discorreram sobre as descobertas do astrônomo.  Tudo parecia favorecê-lo.  Quando, em 1612, publicou o seu “História e Demonstrações em torno das Manchas Solares e dos seus Acidentes”, e onde pela primeira vez aderia publicamente ao sistema copernicano, uma das muitas e entusiásticas cartas de congratulações que recebeu veio de ninguém menos que o cardeal Mateus Barberini, futuro papa Urbano VIII (cf. Jerome J. Langford, “Galileo, Science and the Church”, págs. 43-52).
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A Igreja não fazia objeção ao uso do sistema copernicano como um modelo teórico, como uma hipótese cuja verdade literal não tinha sido comprovada (e era o que ocorria precisamente na época; a rotação da Terra e o Heliocentrismo somente vieram a ser comprovados experimentalmente em 1851, com o pêndulo que Léon Foucault pendurou no ápice do domo do Panteão de Paris), pois efetivamente explicava os fenômenos celestes de maneira mais elegante e precisa do que o sistema ptolemaico.  Pensava-se que não havia nenhum mal em apresentá-lo e usá-lo como um sistema hipotético.
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Galileu, porém, acreditava que o sistema copernicano era literalmente verdadeiro, e não uma simples hipótese que fornecesse previsões precisas, mas não dispunha de evidências adequadas que respaldassem a sua crença. Assim, por exemplo, argumentava que o movimento das marés constituía uma prova do movimento da Terra, argumento que hoje, curiosamente, os cientistas consideram ridículo.  Não era capaz de responder à objeção dos geocentristas (que vinha de Aristóteles) de que, se a Terra se movia, então deveria ser possível observar uma mudança de paralaxe quando observássemos as estrelas, coisa que não acontecia (paralaxe é o deslocamento aparente que se deveria observar na posição de umas estrelas em relação às outras, por causa da mudança da posição do observador; o argumento diz que, se a Terra se move em torno do Sol, as estrelas, não os planetas, deveriam aparecer em posições diferentes ao longo do ano, à medida que o nosso ponto de observação delas mudasse com o deslocamento da Terra, e isso não acontece.  Na realidade, até à época de Galileu, não se podia observar nenhuma mudança de paralaxe porque os instrumentos de que se dispunha, ou o olho humano, não eram precisos o suficiente; além disso, a distância das estrelas mais próximas é enorme, de maneira que a paralaxe é extremamente pequena).  No entanto, apesar da falta de provas estritamente científicas, Galileu insistiu na verdade literal do sistema copernicano e recusou-se a aceitar um compromisso, pelo qual o copernicanismo deveria ser ensinado como hipótese até que pudesse apoiar-se em evidências conclusivas.  Quando foi mais longe ainda, e sugeriu que, pelo contrário, eram os versículos da Sagrada Escritura que deviam ser reinterpretados, passou a ser visto como alguém que usurpara a autoridade dos teólogos.
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Jerome Langford, um dos mais judiciosos estudiosos modernos deste assunto, fornece-nos um sumário muito útil da posição de Galileu: “Galileu estava convencido de possuir a verdade, mas não tinha provas objetivas suficientes para convencer os homens de mente aberta.   É uma completa injustiça afirmar, como fazem alguns historiadores, que ninguém ouvia os seus argumentos, e que [ele] nunca teve uma oportunidade.  Os astrônomos jesuítas tinham confirmado as suas descobertas, e esperavam ansiosamente por provas ulteriores para poderem abandonar o sistema de Tycho Brahe (1546-1601, que propôs um sistema astronômico que se situava mais ou menos entre o geocentrismo ptolemaico e o heliocentrismo copernicano.  Nesse sistema, todos os planetas, com exceção da Terra, giravam em torno do Sol, mas o Sol girava me tonro da Terra, que permanecia estacionária), e passarem a apoiar com segurança o copernicanismo.  Muitos eclesiásticos influentes acreditavam que Galileu devia estar certo, mas tinham que esperar por mais provas”. […] “Como é evidente, não é inteiramente correto pintar Galileu como uma vítima inocente do preconceito e da ignorância do mundo”, acrescenta Langford.  “Parte da culpa dos acontecimentos subseqüentes deve ser atribuída ao próprio Galileu, que recusou qualquer ressalva e, sem provas suficientes, fez derivar o debate [do terreno estritamente científico] para o terreno próprio dos teólogos” (cf. Jerome J. Langford, “Galileo, Science and the Church”, pág.s 68-69).
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Foi, portanto, a insistência de Galileu sobre a verdade literal do copernicanismo que causou a dificuldade, uma vez que, aparentemente, o modelo heliocêntrico parecia contradizer certas passagens da Escritura.  A Igreja, sensível às acusações dos protestantes de que os católicos não faziam muito caso da Bíblia, hesitou em acolher a sugestão de que se pusesse de lado o sentido literal da Escritura – que, às vezes, parecia implicar na ausência de movimento da Terra – para acomodar uma teoria científica sem provas (cf. Jacques Barzun, “From Dawn to Decadence”, Harper Collins, Nova York, 2001, pág. 40; um bom resumo desse assunto aparece em H. W. Crocker III, “Triumph”, Prima, Roseville, Califórnia, 2001, pág. 309-11).  Mesmo assim, aqui a Igreja não foi inflexível.  Como comentou na época o célebre cardeal Roberto Belarmino [a citação aqui fornecida é mais longa do que a de Woods Jr, e cobre toda a primeira parte do pronunciamento de Belarmino, em forma de carta ao provincial dos Carmelitas da Calábria]:
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“Li com prazer a carta em italiano e o escrito em latim que Vossa Paternidade me enviou.  Agradeço-lhe por uma e por outro, e confesso que ambos estão plenos de engenho e de doutrina.  Mas, já que o senhor pede o meu parecer, dar-lho-ei de modo muito breve, pois o senhor tem agora pouco tempo de ler, e eu tenho pouco tempo de escrever.
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Primeiro: digo que me parece que Vossa Paternidade e o Senhor Galileu ajam prudentemente, contentando-se me falar “por suposição” [i.e., hipoteticamente], e não de modo absoluto, como eu sempre cri que tenha falado Copérnico [um sutil aviso a Galileu no sentido de considerar suas idéias geocentristas como hipótese].  Porque dizer que, suposto que a Terra se move e o Sol está parado, salvam-se todas as aparências melhor [i.e., conseguem-se previsões melhores e mais precisas] do que com a afirmação dos excêntricos e epiciclos, está dito muitíssimo bem, e nisso não há perigo algum; e tal constatação basta para o matemático.  Mas querer afirmar que realmente o Sol está no centro do Mundo e gira apenas sobre si mesmo, sem correr do Oriente ao Ocidente, e que a Terra está no terceiro Céu e gira com grande velocidade em volta do Sol é coisa muito perigosa, não só de irritar todos os filósofos e teólogos escolásticos, mas também de prejudicar a Santa Fé, ao tornar falsas as Sagradas Escrituras.  Porque Vossa Paternidade mostrou bem muitos modos de explicar as Sagradas Escrituras, mas não os aplicou em particular, pois, sem dúvida, haveria de encontrar muitas dificuldades se tivesse tentado explicar todas as passagens que o senhor mesmo citou.
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Segundo: digo que, como o senhor sabe, o Concílio [de Trento] proíbe explicar as Escrituras contra o consenso comum dos Santos Padres.  Se Vossa Paternidade quiser ler, não digo apenas os Santos Padres, mas os comentários modernos sobre o Gênesis, sobre os Salmos, sobre o Eclesiastes, sobre Josué, verá que todos concordam em explicar literalmente que o Sol está no Céu e gira em torno da Terra com grande velocidade, e que a Terra está muitíssimo distante do Céu, e está imóvel no centro do Mundo.  Considere agora o senhor, com sua prudência, se a Igreja pode tolerar que se dê às Escrituras um sentido contrário aos Santos Padres e a todos os expositores, gregos ou latinos.  Nem se pode responder que esta não é matéria de Fé, porque, se não é matéria de Fé ‘por parte do objeto’, o é ‘por parte de quem fala’.  Assim, seria herético quem dissesse que Abraão não teve dois filhos e Jacó doze, como quem dissesse que Cristo não nasceu de uma Virgem, porque um e outro o diz o Espírito Santo pela boca dos Profetas e dos Apóstolos.
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Terceiro: digo que, se houvesse uma verdadeira prova de que o Sol é o centro do Mundo, de que a Terra está no terceiro Céu e de que o Sol não gira em torno da Terra, mas a Terra em torno do Sol, então seria necessário agir com grande circunspecção ao explicar passagens da Escritura que parecem dizer o contrário, e admitir que não as havíamos entendido, em vez de declarar como falsa uma opinião que se prova verdadeira.  Mas eu mesmo não devo acreditar que existam tais provas, enquanto não me sejam mostradas.  Nem é o mesmo demonstrar que, suposto que o Sol esteja no centro e a Terra no Céu, salvam-se [melhor] as aparências, e [por outro lado] demonstrar que, na verdade, o Sol esteja no centro e a Terra no Céu.  Porque a primeira demonstração creio que possa haver, mas da segunda tenho dúvida muitíssimo grande, e, em caso de dúvida, não se deve abandonar a Escritura Sagrada, explicada pelos Santos Padres” [...]  [Trecho inicial da carta do Cardeal Roberto Belarmino endereçada ao frei Paulo Antônio Foscarini, Provincial dos Carmelitas da Calábria, dada em Roma aos 12 de abril de 1615).
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A abertura de princípio do cardeal Belarmino a novas interpretações da Escritura à luz dos acréscimos feitos ao universo do conhecimento humano não era na da de novo.  Santo Alberto Magno era do mesmo parecer: “Acontece com freqüência”, escreveu certa vez, “que surge alguma questão sobre a Terra, o Céu ou outros elementos deste mundo, a respeito da qual um não-cristão possui conhecimentos derivados dos mais acurados raciocínios ou observações.  Neste caso, deve-se evitar cuidadosamente, porque seria muito desonroso e prejudicial para a fé, que um cristão, ao falar dessas matérias de acordo com o que pensa que dizem as Sagradas Escrituras, seja ouvido por um não-crente a dizer tais tolices que esse não-crente, percebendo que o outro está tão afastado da realidade como o leste do oeste, quase não conseguisse conter o riso” (cf. James J. Walsh, “The Popes and Science”, Fordham University Press, Nova York ,1911, págs. 29-97).  Também São Tomás de Aquino advertiu sobre as conseqüências de se querer sustentar uma determinada interpretação da Sagrada Escritura a respeito da qual tivessem surgido sérios motivos para pensar que não era correta: “Primeiro, é preciso crer que a verdade da Escritura é inviolável.  Segundo, quando há diferentes maneiras de explicar um texto da Escritura, nenhuma das interpretações particulares deve ser sustentada com tanta rigidez que, se argumentos convincentes mostrarem que é falsa, alguém ouse insistir em que, mesmo assim, esse ainda é o sentido correto do texto.  Caso contrário, os não-crentes desprezarão a Sagrada Escritura, e o caminho da fé fechar-se-lhes-á” (citado por Edward Grant, “Science and Theology in the Middle Ages”, em David C. Lindberg e Ronald L. Numbers, editores, “God and Nature: Historical Essays on the Encounter Between Christianity and Science”, University of California Press, Berkeley, 1986, pág.63).
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Em 1616, depois de ter ensinado pública e insistentemente a teoria copernicana, Galileu foi avisado pelas autoridades da Igreja de que devia parar de sustentá-la como verdade, embora fosse livre para apresentá-la como hipótese.  Galileu concordou, e prosseguiu com seus trabalhos.
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Em 1624, fez outra viagem a Roma, onde foi novamente recebido com grande entusiasmo e procurado por influentes cardeais, desejosos de discutir com ele questões científicas.  O papa Urbano VIII deu-lhe muitos presentes valiosos, e emitiu um breve de recomendação ao Grão-Duque da Toscana, em que o reconhecia como um homem “cuja fama brilha no Céu e se espalha por todo o Mundo”.  Comentou com ele, em particular, que a Igreja não tinha declarado herético o copernicanismo, e que nunca o faria.
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No entanto, o “Diálogo sobre os Dois Grandes Sistemas do Mundo”, que Galileu publicou em 1632, e fora escrito a pedido do papa, ignorou a instrução de que o copernicanismo devia ser tratado como hipótese, e não como verdade estabelecida (anos mais tarde, o padre Griemberger comentou que, se Galileu tivesse tratado as suas conclusões como hipóteses, poderia ter escrito qualquer coisa que quisesse, cf. Jospeh MacDonnell, “Jesuit Geometers”, apêndice I, págs. 6-7).  Para sua infelicidade, em 1633 o astrônomo foi declarado suspeito de heresia, e proibido de publicar escritos sobre o tema.  Continuou a produzir outras obras, aliás ainda melhores e mais importantes, particularmente os seus “Discursos e Demonstrações Matemáticas em Torno de Duas Novas Ciências” (1635).  Mas essa censura insensata manchou por muito tempo a reputação da Igreja.
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É importante, porém, não exagerar o que aconteceu.  Como explica J. J. Heilbron: “Os contemporâneos bem informados foram da opinião de que a alusão à heresia no caso de Galileu ou Copérnico não tinha nenhum alcance geral ou teológico.  Em 1642, Gassendi observou que a decisão dos cardeais, embora importante para os fiéis, não teve a categoria de um artigo de fé; em 1651, Riccioli afirmou que o heliocentrismo não era fé; em 1675, Mengoli declarou que as interpretações da Escritura só podiam obrigar os católicos se fossem aprovadas num concílio geral; e em 1678, Baldigiani acrescentou que não havia ninguém que não soubesse disso” (cf, J. L. Heilbron, “The Sun in the Church”, pág. 203).
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O certo é que os cientistas católicos, muitos deles jesuítas, ou membros de outras Ordens religiosas, continuaram a fazer as suas pesquisas sem nenhum tipo de entrave, cuidando apenas de tratar como hipótese o movimento da Terra, como aliás já o tinha recomendado o decreto da Santa Sé de 1616.  Um decreto de 1633, pouco posterior ao processo, excluiu das discussões acadêmicas qualquer menção ao movimento da Terra; no entanto, cientistas como o padre jesuíta Rogério Boscovich continuaram a usar em suas obras a idéia duma Terra em movimento, e por isso os historiadores especulam que se tratava apenas de um reforço da censura original, e era “dirigido a Galileu Galilei pessoalmente”, não aos cientistas católicos como um todo (cf. Zdenek Kopal, “The Contribution of Boscovich to Astronomy and Geodesy”, em Lancelot Law White, editor, “Roger Joseph Boscovich, SJ, FRS, 1711-1787”, Fordham University Press, Nova York, 1961, pág. 175).
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De qualquer modo, a condenação de Galileu, mesmo que enquadrada no seu contexto, tão distante da colocação exagerada e sensacionalista da mídia, criou embaraços à Igreja, e deu origem ao mito d eque ela seria hostil à ciência.

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Até aqui, o texto de Woods Jr.
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A questão toda, portanto, “viciou-se” a partir do instante em que o próprio Galileu, abandonando uma postura eminentemente científica, deslocou a questão para o plano teológico e exegético – especialmente na carta que Galileu endereçou a Cristina, Grã-Duquesa da Toscana (esposa do Grão-Duque Fernando I de Médici, e mãe de Cosme II de Médici, o Grão-Duque à época, e grande protetor de Galileu), em meados de 1615.  A partir do instante em que a disputa deixou o terreno científico e enveredou pelo teológico, estava aberta a via para uma série de equívocos e de más interpretações, de parte a parte (claro, em todo esse “imbroglio” ninguém foi totalmente inocente), mas, principalmente, convém enfatizar, por parte do próprio Galileu, que conseguiu transformar a boa-vontade (e mesmo o apoio) inicial de que gozava, inclusive por parte dos jesuítas, em irritação e má-vontade, que lhe seriam desvantajosas quando a maré se voltou contra o astrônomo.

Offline Geotecton

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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #195 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 17:29:04 »
Passe as referências.
a) A Record of Observations of Certain Phenomena of Trance (1889-1890) Proceedings of the Society for Psychical Research, 1889-1890, 6, 436-659. Frederic W. H. Myers, Oliver J. Lodge, Walter Leaf e William James.

b) A Record of Observations of Certain Phenomena of Trance (1892) Proceedings of the Society for Psychical Research, 1892, 8, pp.1-167 Richard Hodgson

c) A Further Record of Observations of Certain Phenomena of Trance (1898) Proceedings of the Society for Psychical Research, 1897-8, 13, pp.284-582 Richard Hodgson

d) A Further Record of Observations of Certain Phenomena of Trance – Part II (1898-9) Proceedings of the Society for Psychical Research, 1898-9, 14, pp.6-49 Professor W. Romaine Newbold

e) Discussion of the Trance Phenomena of Mrs. Piper (1898-9) Proceedings of the Society for Psychical Research, 1898-9, 14, pp.50-78 Frank Podmore

f) Discussion of the Trance Phenomena of Mrs. Piper (1900-1) Proceedings of the Society for Psychical Research, 1900-1, 15, pp. 16-38 Mrs. Henry Sidgwick

g) Discussion of the Trance Phenomena of Mrs. Piper - Reflections on Mrs. Piper and Telepathy (1900-1)
Proceedings of the Society for Psychical Research, 1900-1, 15, pp. 39-52 Lang, A.

h) A Further Record of Observations of Certain Phenomena of Trance (1901) Proceedings of the Society for Psychical Research, 1901, 16, pp. 1-649 James Hervey Hyslop

i) On Professor Hyslop’s report on his sittings with Mrs. Piper. (1901) Proceedings of the Society for Psychical Research, 17, 374-388 Frank Podmore

j) Report on Mrs. Piper Hodgson Control (1910) Proceedings of the Society for Psychical Research’, 1910, 23, pp.2-121 James,W

k) Report on the Junot Sittings with Mrs. Piper (1910) Proceedings of the Society for Psychical Research, 1910, 24, pp.351-664 Verrall, H. de G. (Mrs. W. H. Salter).

l) Prof. G. Stanley Hall and Dr. Amy Tanner's Studies in Spiritism (1911) J.A.S.P.R 5 (1), pp. 1-98 J. H. Hyslop

Bem, há outras, mas achei melhor parar por aqui... :biglol:

Os primeiros números entre parêntesis representam os anos em que foram publicados?

Se a resposta for "sim", Vossa Senhoria está me considerando um tolo?

É este o meu entendimento, por apresentar-me referências com mais de 100 anos e que devem estar totalmente obsoletas.


Por favor. Não é sequer um artigo. É um short communication e que não traz nenhuma comprovação sobre a reencarnação. Apenas mostra que há algo que merece ser melhor estudado (para o autor, é claro). E só.
Aí você precisaria entender um pouquinho mais - na verdade, bem mais - de publicação científica para não correr o risco de ficar dizendo nonsenses.

Obrigado pela sugestão. Vou desconsiderar todos os artigos que publiquei e vou atualizar o meu conhecimento na área.


Sugiro para você a leitura do livro "Pérolas da Redação Científica", de Gilson Volpato (2010). Veja o que ele diz sobre as Short Communications:

No caso da Short Communication, publica-se um trabalho científico pelos mesmos crivos de um Full Paper. A dificuldade talvez até seja maior, pois na Short Communication, pela limitação de espaço, a demonstração de uma idéia interessante e inovadora pode ser dificultada. Como em qualquer artigo científico, a qualidade da novidade é grandemente considerada e isso deve ser conseguido com poucos dados e poucas palavras. Num Full Paper, espera-se a demonstração completa, ou quase, de um fenômeno (por ex., se é um estudo de causa e efeito, espera-se que se elucide também o mecanismo; se de associação, que se dê uma boa explicação de sua ocorrência ou ausência; se descritivo de algum fenômeno, que seja a mais completa possível). Na Short Communication, no entanto, espera-se a apresentação de alguma grande novidade, mas ainda sem que se tenha elucidado boa parte do fenômeno. Ao mostrar uma descrição, ou uma associação, ou ainda uma associação de causa e efeito, na Short Communication espera-se a demonstração desse achado, mas não necessariamente de seus detalhes. Por isso, pode ser mais curto que os artigos convencionais. Ao receber um manuscrito, alguns editores podem sugerir o formato de Short Communication, não por achar que se trata de pesquisa mais simples, mas por perceber que há novidade, mas que a mesma não está detalhadamente elucidada (não justifica um Full Paper) e que pode ser adequadamente mostrada num texto curto (Short Communication). O que ocorre, muitas vezes, é que o autor possui vários dados e tenta falar mais do que pode sobre o fenômeno. Nesse caso, fica patente que é preferível tirar dali o que é fraco e restringir-se ao mais restrito, porém melhor fundamentado, surgindo daí a indicação para uma Short Communication.

Agora observe que eu ressaltei as partes que sustentam a minha crítica e que estava mais voltada para a apresentação da short communication como argumento do que a própria existência deste tipo de apresentação de dados científicos.

Feito isto, permita-me apresentar-lhe o seguinte comentário sobre short communication provindo da mesma fonte que Vossa Senhoria recomendou para leitura e cujo autor é omesmo que Vossa Senhoria supra apresentou:

Citação de: Obras Psicografadas
Três Novos Casos do Tipo Reencarnação no Sri Lanka Com Registros Escritos Feitos Antes das Verificações (1988)

O artigo a seguir é de extrema importância por pelo menos 3 motivos: 1. Foi publicado em duas revistas, sendo uma delas do mainstream científico, o Journal of Nervous and Mental Diseases (JNMD); 2. A publicação no JNMD foi no formato de Short Communication ou Brief Communication ou ainda Brief Report (artigo curto). Segundo Volpato em seu livro “Publicação Científica” (2008), isso quer dizer que o artigo defende uma ideia original, porém sem se aprofundar no fenômeno. Pode reportar algum efeito, sem que consiga mostrar os mecanismos determinantes. É uma publicação mais rápida, mas cujo grau de novidade deve ser grande. Como o próprio nome diz, a idéia básica é a de uma comunicação curta, mas de algo muito interessante; 3. Os autores são taxativos em afirmar que as crianças dos casos relatados só poderiam ter obtido as informações sobre as pessoas falecidas por algum processo paranormal. Apresentarei o artigo completo como foi publicado no Journal of Scientific Exploration (JSE). Para ter acesso à publicação no JNMD no formato de Brief Report, basta clicar aqui.

Agora mostre em que medida eu desmereci a short communication de per si. Causa-me estranheza que Vossa Senhoria não tenha percebido em que contexto eu "menosprezei" a short communication.


E o próprio Volpato chama a Short Communication de "artigo curto". Assim, dizer que "não é sequer um artigo" mostra o quanto que você entende do assunto...

Certo. A sua ácida crítica foi anotada.


ah, ele também disse que quem acredita que a short communication seja uma publicação inferior provavelmente nunca publicou uma short communication. É o seu caso?

Aqui Vossa Senhoria acertou com precisão. Os meus principais trabalhos estão publicados como artigos completos.

E os seus?


A propósito.. O que estaria re-encarnando? A consciência ou o "espírito" ou a "alma"?
Memórias (de diversos tipos). E geralmente, a grosso modo, eu trato consciência, espírito e alma tudo como sinônimo. Não costumo fazer diferenciações (embora há gente que faça).

Vossa Senhoria não faz diferenciação entre consciência e espírito/alma?
« Última modificação: 17 de Fevereiro de 2012, 18:22:21 por Geotecton »
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Offline Luiz F.

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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #196 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 17:45:10 »
Lendo o tópico todo serelepe eu me deparo com alguém dizendo que reencarnação, telepatia e sei lá mais o que haviam sido provadas. Ai eu penso WTF?!?!?!? :o

Mas depois de uma rápida pesquisa vejo que o mundo continua o mesmo. Ufa!!!
"Você realmente não entende algo se não consegue explicá-lo para sua avó."
Albert Einstein

Offline DDV

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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #197 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 17:58:04 »
Lendo o tópico todo serelepe eu me deparo com alguém dizendo que reencarnação, telepatia e sei lá mais o que haviam sido provadas. Ai eu penso WTF?!?!?!? :o

Mas depois de uma rápida pesquisa vejo que o mundo continua o mesmo. Ufa!!!

Eu só respondi às postagens referentes ao falsificacionismo popperiano (me avisaram via MP). Eu não li nenhum outro post além desses.  :D
Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

"O maior vício do capitalismo é a distribuição desigual das benesses. A maior virtude do socialismo é a distribuição igual da miséria." (W. Churchill)

Offline Moro

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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #198 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 18:09:56 »
Eu que pedi ao DDV. Estava com cara de groselha e ele era o cara mais indicado para refutar :-)
“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

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"To claim that someone is not motivated by what they say is motivating them, means you know what motivates them better than they do."

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Offline Moro

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Re:The rise of anomalistic psychology – and the fall of parapsychology?
« Resposta #199 Online: 17 de Fevereiro de 2012, 18:19:06 »
Geo, todos, deixe eu dizer o que faz o Vitor.

O que o Vitor faz é um flood de casos ruins para dar a entender que são artigos científicos. Lembra como ele começou discutindo sobre a EQM? Que era super duper e foi facilmente refutado pelo Francisco, um médico que já foi engajado especificamente no tipo de assunto que ele estava tratando?  Ao final, o próprio Vitor (e parabéns a ele) reconheceu que o caso não se sustenta como evidência.

Então, todo o caso que ele postar aqui é ruim. A estratégia dele é essa:

Vitor: Mostra o caso A que corrobora 1,2,3,4
Cético: Apresenta falhas que desabona 2,3
Vitor: Mostra caso B,C,D,E,F que tem 1,2,3,4,5
Cético: Todos tem falhas
Vitor:  Mostra mais 100 casos
Cético: Se perde, impossível ler
Vitor: Tenta afirmar que ao todo, os casos sustentam a parapsicologia. Yes.. mostrei um monte de casos científicos.. chupem essa céticos

A estratégia para debater é simples: Exigir apenas UM caso forte que pode ser analisado pelo critério científico e não aceitar que 10000 casos ruins provam algo por meta-análise

Outro ponto: Ele afirmou em algum lugar que Piper é replicável. Caraca.. todo mundo morreu há uns 80 anos.. tem que replicar com outras pessoas.
E o caso é risível. A explicação dada muda conforme o humor: espíritos, leitura mental, visão do futuro, e PQP.

Resumindo: temos que debater UM caso bom. O resto é flood e estratégia diversionista.
“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

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