Relacionado:
DIFERENÇAS DE RENDA ASSOCIADAS À COR: BRASIL, 2001*
JULIANA DOMINGUES ZUCCHI
1
RODOLFO HOFFMANN
2
Resumo: Este trabalho analisa quanto das diferenças entre
rendimentos de indivíduos de cores diferentes decorre das ca-
racterísticas dos trabalhadores e quanto pode ser atribuído à
discriminação. No diferencial de rendimentos entre negros e
brancos, dos 43,8% que os negros recebem a menos, de 73,2%
a 78,3% são decorrentes das diferenças na qualificação da mão-
de-obra, e o restante permanece inexplicado, podendo ser as-
sociado à discriminação. Do diferencial de rendimentos de
119,4% a favor dos amarelos, quando comparados aos bran-
cos, de 79,6% a 87,9% são atribuídos à diferença nas dotações
dos trabalhadores.
http://revistas.pucsp.br//rpe/article/view/11943/8648
Esse artigo é citado na tese de doutorado "Os aspectos econômicos da discriminação racial no Brasil".
Acho engraçado e esquisito o uso de "amarelos" para asiáticos. Parece coisa vinda do tempo da segunda guerra...
No abstract diz que os brancos recebem 43,8% a mais do que os negros, e os amarelos recebem 119,4% a mais do que os brancos.
E aí Barata? Os 43,8% a menos que os negros recebem em comparação aos brancos certamente é devido à discriminação racial (só pode ser, tem que ser). E os 119,4% a menos que os brancos recebem em comparação aos amarelos, se deve ao quê? Discriminação contra os brancos?
Well, segundo o estudo, existe sim uma descriminação positiva com o amarelos e relação a brancos e negros. Eles tendem a ser os preferidos. A diferença entre amarelos e brancos ainda é menor que a diferença entre brancos e negros, mas ainda sim existe.
Dados educacionais:
Negros e pardos representam 49,4%, índio 0,3%, amarelos 2,1% e brancos 45,9%.
Em 2003, no censo para revelar a cor dos alunos de graduação da Universidade de São Paulo (USP), verificou-se que, 1,3% dos estudantes matriculados no segundo semestre de 2001 eram negros, 8,34%, pardos, 79,54% brancos, 9,84% amarelos e 0,48% indígenas (Corrêa,2003).
Alguns trechos do estudo:
"As desvantagens dos negros no mercado de trabalho (inserção,
informalidade, etc.) decorrem, em parte, de diferenças em atributos
pessoais, como a educação, pois os negros obtêm níveis de escolari-
dade consistentemente inferiores aos brancos de mesma origem
social (Hasenbalg e Silva, 1999)"
Como mais de um terço do diferencial de rendimentos existentes
entre brancos e negros decorre das diferenças na esfera educacio-
nal, pode-se supor que se as médias do nível de escolaridade não
fossem diferentes entre ambos, o diferencial de rendimentos entre
eles diminuiria cerca de 37,2% a 41,5%. Nesse caso, a política de
cotas para negros terem acesso às universidades pode vir a ser um
instrumento eficaz de diminuição das desigualdades de renda, pois
são ações afirmativas que visam corrigir desigualdades históricas en-
tre pessoas ou grupos quanto ao acesso às oportunidades como a
educação e o emprego
Se a parte “inexplicada” (associada às diferenças nos coeficien-
tes do vetor ) na decomposição de Blinder-Oaxaca (equações 7 ou 8)
for considerada uma medida da discriminação, seríamos levados a
afirmar que no Brasil existe discriminação a favor dos amarelos.
Parece mais razoável admitir que aquela parcela “inexplicada” na
diferença de rendimentos entre amarelos e brancos se deve a carac-
terísticas culturais e pessoais de difícil mensuração (ambição, valo-
rização do ensino e do associativismo, etc.) à imperfeição das medi-
das utilizadas (ausência, por exemplo, de uma medida da qualidade
da escolaridade) e ao fato de a regressão não incluir variáveis relati-
vas ao
background
familiar. É possível, até, que se tivéssemos boas
medidas para tudo isso pudéssemos captar a existência de alguma
discriminação contra os amarelos.
No caso do contraste negros
versus
brancos, a proporção
“inexplicada” na decomposição de Blinder-Oaxaca é substancial-
mente maior, refletindo o fenômeno da discriminação. Mas é muito
provável que parcela substancial dessa parte “inexplicada” da dife-
rença de rendimentos também esteja associada a características
pessoais e culturais, que não foi possível medir, e não a atitudes e
decisões discriminatórias dos brancos contemporâneos. Nesse sen-
tido, aquela parcela “inexplicada” na decomposição de Blinder-
Oaxaca seria uma superestimativa da discriminação
stricto sensu.
Por outro lado, a idéia de discriminação pode incluir as conseqüên-
cias atuais da maneira como os negros participaram da sociedade
brasileira ao longo de toda sua história. Neste caso, a menor escola-
ridade dos negros, em comparação com a dos brancos, também é
resultado da discriminação (histórica), ou seja, considerar apenas a
parte “inexplicada” da decomposição de Blinder-Oaxaca constitui
uma subestimação da discriminação.
A conclusão é que a decomposição de Blinder-Oaxaca é útil como
instrumento de análise, mas nos fornece apenas limites para deter-
minados componentes daquilo que denominamos “discriminação”