O problema das cotas serem apenas sociais;
"As desvantagens dos negros no mercado de trabalho (inserção,
informalidade, etc.) decorrem, em parte, de diferenças em atributos
pessoais, como a educação, pois os negros obtêm níveis de escolari-
dade consistentemente inferiores aos brancos de mesma origem
social (Hasenbalg e Silva, 1999)"
Eu desconfio muito dessas estatísticas.
Primeiro porque estes tipos de debates são tão ideologizados que muitas vezes as pesquisas não tem a necessária isenção.
Segundo porque eu acredito que, metodologicamente, seja um tanto difícil determinar isso. Por exemplo, quem é negro na favela da Rocinha? Quem é pardo? Quem é não-negro? Só pode ser determinado por critérios subjetivos que ficam a cargo de quem está fazendo o estudo e obviamente influenciado por sua posição ideológica. Também deve ser difícil determinar estatisticamente ( dada as características de nossa população e sua distribuição espacial ) que não-negros estão obtendo índices de escolaridade maiores que seus vizinhos não-brancos de mesmo padrão econômico.
Terceiro porque não faz muito sentido. A ser que acreditemos em teorias racistas. Por quê um não-branco oriundo do Complexo do Alemão teria mais chance de se tornar um traficante do que um não-negro? Duas pessoas que vivem no mesmo lugar,mesma faixa etária, mesmo nível sócio-econômico, mesmas influências sócio-culturais, etc, cuja única diferença estatística observável seria coisas como tom pele e tipo de cabelo...
Ora, sabemos que dados semelhantes são verdadeiros nos Estados Unidos. Negros e brancos de mesmo padrão econômico apresentam índices diferentes de escolaridade.( E essas diferenças são registradas até em testes de QI ).
Mas lá é possível fazer este tipo de pesquisa e também é possível apresentar explicações lógicas para isso. A linha de separação entre negros e brancos na América sempre foi muito mais demarcada do que aqui. Tanto social e culturalmente, como até espacialmente. A ocupação do espaço. Até em uma cidade que sempre foi cosmopolita como Nova York existe e existiu essa coisa de "bairro negro". É um país onde o modelo de segregação criou duas culturas, uma negra e outra caucasiana.
De forma que as diferenças entre negros e brancos nos EUA não são apenas de fenótipos, mas também de ambientes, diferenças de valoração culturais. Essas dissimilaridades explicam muito melhor determinados resultados estatísticos.
Mas não é o caso no Brasil. Em qualquer favela de uma periferia de São Paulo, caótica como é, as diferenças entre características consideradas raciais dificilmente teriam algum peso registrável nas expectativas de oportunidades sociais das pessoas.
A não ser que se compare pessoas de mesmo padrão econômico, porém de lugares diferentes. Por exemplo, se uma pesquisa englobar não-negros do Rio de Janeiro e não-negros de Santa Catarina. Aí seria lógico que estas disparidades ocorressem, não como decorrência de diferença racial mas cultural. Só que, nesse caso, não seria uma pesquisa honesta. E existe muito espaço para uma infinidades de manipulações deste tipo em pesquisas desta natureza.
Principalmente em questões muito politizadas e ideologizadas.