Tentado a entrar para o crime justamente por saber que as penas são irrisórias não por culpa da sociedade que o cerca, funciona assim:
Para arrumar um emprego digno preciso passar alguns anos na escola, em certos casos estudar no período noturno para poder trabalhar durante o dia, levantar cedo, chegar tarde, perder meus fins de semana.... no fim o salário médio da maioria da população brasileira não passa dos três salários mínimos.
Então o garoto vê, desde bem jovem, que aquele traficante da esquina tem o dia livre para vagabundar e está com roupa de marca, moto, carro novo e um bando de piranhas dando em cima para levar vantagem, vê tb que o cara aprontou mil e uma mas sempre sai pela porta de frente depois de cumprir uma pena ridícula, isso quando cumpre uma pena.
Mas Arcanjo, esse seu cenário ainda é bom comparado àquele que eu e o Vento nos referimos. Nos referimos àquelas situações onde as crianças não têm acesso à educação pública de qualquer qualidade, que tem pais que não têm condições de lhe prover sustento (afirmações minhas). Essas situações ocorrem em locais com aplicação mais ou menos severa na lei, daí que podemos considerar o seu critério acerca da punição e em situações mais abrangentes as afirmações do DDV das causas gerais vindas da omissão estatal.
As causas somadas são três: falta de educação, falta de punição, omissão estatal. A questão que escolhe a mais relevante é "qual a causa"?
A falta de punição é um motivador para o crime? Sim, sem dúvida indivíduos terão muito maior confiança em sair da lei sabendo que a punição é improvável, porém, considerando a necessidade de sobreviver do indivíduo e a falta de oportunidades para uma vida correta perante a lei, nenhuma punição será forte o suficiente para manter o indivíduo na lei, ainda mais se ele teve uma educação precária. Veja, é uma construção lógica, em cenários extremos o indivíduo fará o necessário para sobreviver, e isso possívelmente incluirá a prática criminosa.
Já em um cenário onde há educação básica o jovem não entrará para o crime com tanta facilidade. Os pais terão maiores oportunidades de emprego e de direcionar os filhos ao bom caminho mesmo em uma situação crítica, darão um modo de empregar o filho do melhor modo possível para obter a melhor satisfação familiar lhe ensinando um ofício ou o levando para o trabalho (informal, no caso, como é comum). Com o tempo isso tornará todo o micro sistema da periferia mais próspero, com pequenos empreendimentos destes mesmos pais e mães que já têm alguma instrução. É isso o que ocorre na atualidade, compare as favelas de SP nos anos 80 com as favelas da atualidade que, com uma punição mais frouxa, vêm registrando cada vez menores índices de crimes.
Então, vc acha que ele verá o primeiro caso, depois verá o segundo e pensará "É melhor passar 12 horas por dia estudando e trabalhando para ganhar três salários mínimos ou não fazer merda nenhuma, ter o dia livre, fazer uns assaltos e ganhar 10 vêzes esse valor?
É assim que funciona, principalmente em uma República Bananense onde o presidente é chefe de quadrilha e sempre sai impune para dar o exemplo.
Nesse caso o indivíduo tem a possibilidade de trabalhar e prefere o crime. Não é falta de oportunidade, é falta de outras coisas.