Lendo todo o tópico pude perceber a reprodução de alguns mitos sobre 64.
Principal Mito: Em 64 os militares deram um golpe de estado.
Fato: Contrarrevolução não é golpe.
Depuseram o presidente, editado um Ato Institucional que determinava eleição indireta para residente da república, cassação de direitos políticos por 10 anos e suspensão das garantias consitucionais por 6 meses - tudo em nome da Revolução (Redentora). O presidente eleito foi oficialmente deposto a posteriori pelo congresso pois se ausentou do país sem autorização - detalhe que estava no rio grande do sul, o que no fundo dá no mesmo

Em 64 o Brasil já vinha de um longo processo de vilipendiação das instituições democráticas (como existe ainda hoje com casos como mensalão, tentativas de leis de censura, etc...), mas diferente de hoje, na época as instituições do pais não tinham a mesma força que tem hoje. Ou seja, por pior que nos pareça nossa democracia hoje, na época ela era ainda mais frágil.
As instituições são bem mais fortes hoje, e as tentativas bem mais amenas e não encontram muito eco justamente pelo amadurecimento da sociedade como um tudo.
Grande parte da "vilipendiação" se deu por ação dos militares, como demostrarei abaixo
Na época éramos uma nação populista dada aos mesmos problemas de paisecos como Venezuela e Bolívia, onde basta balançar a democracia para converte-la em uma ditadura populista.
Conforme dito acima
A esquerda, que já tinha condecorado o assassino Ernesto Che Guevara, lutava pela transformação do Brasil em uma ditadura comunista.
Quem condecorou foi o então presidente Jânio Quadros, que foi muita coisa, menos esquerdista - a não ser que se utilize uma definição beeeeem ampla de esquerda. O motivo da condecoração foi o atendimento do governo cubano de um pleito pessoal do Jânio - liberar ns religiosos, que foram para a Espanha. Na época estava instituído a tal NPE (Nova Política Externa) pelo San Thiago Dantas, que hoje em diz seria considerada uma terceira via - ja que não era alinhada nem com os EEUU nem com URSS.
Nesse episódio militares se insubordinaram como comandante em chefe das forças armadas e seus superiores decididos a não perfilhar perante o hino e a bandeira dos dois países, mas acabaram sendo "dissuadidos", abortando uma possível crise.
Muito embora já existisse guerrilha comunista no Brasil antes de 64,
Que eu me recorde apenas o Partidão tinha uns militantes indo para o Araguaia, não lembro de atos terroristas antes de 64. Os próprios defensores da ditadura marcam como o início do movimento terrorista o atentado de Guararapes em 66.
a luta na época era principalmente política, na tentativa de tomar as instituições democráticas e implantar o comunismo mais ou menos como fez Salvador Allende no Chile, ao mesmo tempo em que conclamavam o apoio popular tentando levar o povo a querer uma revolução e a apoia-los, na tentativa de criar e fomentar um exercito revolucionário.
Brizola e seu exercito popular de "libertação" (grupo dos onze) é um bom exemplo disso.
Então na época existiam esses dois lados, luta política de enfraquecimento da democracia e fomento para a radicalização e luta armada.
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O Luis Souto escreveu um bom texto sobre o posicionamento da esquerda da época, suas divisões de estratégia e tal. Apesar de apoia as dias reformas de base a esquerda ou achava que o Jango estava fazendo pouco (daí o lema "manda brasa presidente") ou achava que a conquista do poder se daria por uma revolução nos moldes de Cuba, sendo esses quadros as vanguarda da revolução.
Brizola é um caso a parte, não era um Marxista apesar d ser um revolucionário (contando que não mexessem nos boizinhos dele)
Não me recordo de já ter naquela epoca um planejamento gramsciniano de tomada do poder por infiltração progressiva das estruturas estatais e para-estatais.
Quando Jango se tornou presidente após a renuncia de Jânio Quadros, ele estava na China comunista, fazia o que visitando aquela ditadura genocida a qual toda essa gente tinha tanta simpatia?
Fazendo uma visita de Estado já que era vice-presidente da república?
Voltou querendo implantar na marra o comunismo no Brasil, através das chamadas reformas de base, que na pratica aboliam a propriedade privada.
Ao voltar sofreu um golpe militar branco os militares não aceitavam sua posse ameaçando prende-lo no seu retorno ao pais. Foi parar no Uruguai, onde esperava uma solução para o impasse, nesse interregno Brizola capitaneou a tal corrente da legalidade via ra´dio e a mobilização do RS. Foi achada uma solução transformando o regime em parlamentarismo, esvaziando os poderes do presidente - o primeiro ministro foi o Tancredo. Só depois quando um plebiscito confirmou o regime presidencialista é que ele retornou ao seu poder total.
Sim, as reformas de base na pratica iam contra a propriedade privada e na pratica eram um grande passo em direção ao comunismo.
Basicamente a reforma agrária promovia a democratização do acesso a terra, formando propriedades privadas menores e não tomando a posse de todas as terras pelo estado. Aliás o grande emecilho e que o Jango queria pagar usndo títulos e não com gana, coisa que só conseguiria mudando a consituição.
E essa gente fez o que na época? Radicalizaram o discurso na central do Brasil dizendo que iriam implantar tais reformas mesmo que fosse na marra, enquanto fomentavam a formação de exércitos populares e enquanto o próprio Jango incentivava a insubordinação e quebra de hierarquia entre os militares.
Qual o resultado que esperavam de tais atos?
Impossível discorrer em poucas linhas sobre todos os acontecimentos que culminaram no discurso na Central do Brasil.
A maioria dos historiadores coloca Jango como um sujeito hesitante, que nessa época se equilibrava ente as pressões da esquerda e da direita por conta das reformas de base - uns achavam muito, outros pouco.
A situação estava tão terrível que o povo clamou para que o exercito fizesse algo para impedir os governantes de transformarem o Brasil em uma ditadura comunista. (marcha da família)
É claro que a esquerda sempre nega tudo, quando falam dos 300 mil na central do Brasil, dizem que era o "povo", mas quando citam os mais de 1 milhão da marcha da família, dizem que eram "setores conservadores".
Nem um nem outro, vários setores eram contra ou a favor, mas a grossa maioria do povo não participava do processo político como os dois lados advogam ate hoje.
Também negam o fato de que iriam implantar uma ditadura comunista aqui, tentam fazer isso parecer uma "desculpa" dos militares para tomar o poder, ou teoria da conspiração da época. Papo furado que ignora que na época o mesmo problema ocorreu em diversas nações ao redor do mundo e também por toda a america latina. (ou seja, foi conspiração de direita em toda parte?)
Se fosse só "mentira" então como argentina, Chile e outros também tiveram o mesmo problema que o Brasil?
Qual a razão da ditadura comunista de Cuba financiar a guerrilha no Brasil? Queriam nos ajudar a "democratizar" a nossa nação?
Já havia movimentação nos dois lados do espectro político, a direita já conspirava inclusive com militares (apelidados de fritadores de bolinho) e já produzia aos de insubordinação e golpismo
O fato é: Quem derrubou a democracia foi a esquerda.
Quem derrubou a democracia, não tem direito de reclamar da ausência de democracia e do resultado dessa ausência.
O que os militares fizeram foi interferir no golpe e fazer a contrarrevolução, impedindo a implantação de uma ditadura comunista aqui.
Os dois lados não tinham muito apego pela democracia, coisa comum tanto na apoca quanto agora, uns por acharem ser uma ditadura da burguesia e outros por ser um regime fraco para guiar a nação para o prosperidade (longe do comunismo)
Uma vez derrubadas as instituições democráticas (feito da esquerda), os militares não tinham simplesmente como realizar eleições e fazer tudo voltar a normalidade, ou eles assumiam o poder e governavam como queria o povo, ou eles deixavam nas mãos dos comunistas que eram os governantes na época.
Inverdade, Jango não era comunista, seu governo tinha flertes e interesses comuns em alguns pontos com o Partido mas não era por ele instrumentado (pressionado sim).
Outro mito é a definição da ditadura militar como sendo uma ditadura de "direita".
Quem tinha uma bandeira e queria implantar um sistema aqui era a esquerda, os militares não eram ideólogos querendo implantar um sistema neoliberal, somente reagiram ao golpe dos ideólogos de esquerda.
Alias segundo definições modernas que colocam o PSDB como "direita" só por ter feito privatizações, o governo militar poderia ser acusado de ser "esquerda anti-comunista" por ter feito estatizações e governando não através de praticas liberais, mas através de economia planificada.
É óbvio que chama-los de "esquerda" seria tão tolo quanto é chama-los de "direita", o fato é que nenhum dos dois termos cabe a eles, que de liberais não tinham nada, nem chegaram lá em pró de uma bandeira ideológica, mas pelo clamor popular e pelo temor de virarmos uma ditadura comunista como Cuba, China, etc...
Isso é brincadeira não? Você acha que o governo militar brasileiro não era de direita? Sério? Ate acho pertinente hoje a dificuldade de definirmos direita e esquerda, mas na época da guerra fria essas diferenças eram bem marcantes.
Quanto a tortura, os dois lados torturaram, uma comissão que diz buscar a "verdade", mas que só investiga um lado e é organizada por torturadores e terroristas de esquerda, já começa com a mentira, o que mostra que não existe ai interesse por verdade nenhuma e sim puro revanchismo de comunistas sem um pingo de vergonha na cara que ainda hoje se orgulham da luta pela implantação de uma ditadura comunista, luta que continuam até hoje apoiando a ditadura Cubana e tentando seguir o mesmo caminho rescente da Venezuela, Argentina e Bolívia.
A tortura foi um instrumento usado como política de estado; mesmo sendo praticada de maneira sistematica e mesmo os comandantes militares sabendo dos fatos e mesmo sendo proibidas mesmo pelas leis da epoca
Essa ferramenta foi utilizada contra todos, não só os militantes da esquerda armada