Não entendi porque você meteu política e partidos no meio. O meu comentário é que é simplesmente muito comum usar qualquer estatística simples pra tentar provar alguma coisa hoje em dia, sem considerar que precisam estar controlados para isolar fenômenos.
E é por isso que você confia nas estatísticas do Bené Barbosa, que tem as campanhas financiadas pela Taurus e Colt?
Foi porque você falou em "rodeios estatísticos", o que passa uma ideia clara de intencionalidade. Fiz notar que, na época da pesquisa, ainda não havia nenhum grupo político que tivesse fazendo do tema bandeira. Além disso o IBCCrim é um instituto especializado em estudos de criminalística, existe para isso, a princípio não tem interesse em volteios estatísticos. Muito menos é provável que tenha cometido os erros metodológicos grosseiros que você está querendo enxergar.
Non sequitur aonde?
Non sequitur. Você levantou uma objeção que é irrelevante e que mais se parece com uma tentativa inconsciente de criar um rodeio estatístico. A exigência de se saber a autoria de um latrocínio para se concluir que houve um latrocínio é tão forçada quanto imaginar que a polícia só pode saber que está lidando com um caso de sequestro depois de prender o sequestrador.
É claro que em casos EXCEPCIONAIS um suposto sequestro pode acabar se revelando um falso sequestro, mas, dentro de uma abordagem estatística, casos excepcionais são praticamente irrelevantes. Igualmente casos de latrocínio são muito fáceis de caracterizar, e mesmo podendo haver um equívoco ou outro, numa população consistindo de todos os BOs registrados em 98 na "pequena" cidade de São Paulo, estes poucos possíveis equívocos serão percentualmente insignificantes.
Primeiro de tudo, não é dito na matéria que as pessoas estavam armadas na hora do latrocínio. Até porque, por razões óbvias, não é a vítima de latrocínio que faz o B.O. A matéria diz que 28,4% das pessoas que morreram por latrocínio POSSUIAM armas de fogo. Não diz que a vítima estava armada, leia o texto de novo.
Ok, vamos ler o texto de novo. Porque primeiro de tudo você está enganado sobre isso.
Para isso, a pesquisa levou em consideração a população da cidade de São Paulo, de 1998, o número de armas registradas, estatísticas sobre apreensão de armas e boletins de ocorrência de todos os latrocínios (roubo seguido de morte) cometidos na cidade de São Paulo, no mesmo ano.
A intenção foi estimar o número de pessoas andando armadas na cidade de São Paulo. E não, como você está querendo supor, que as vítimas simplesmente possuíam arma de fogo. Isso é óbvio porque, em primeiro lugar, o dado de que a vítima era proprietária de arma de fogo é irrelevante para o tipo de inferência pretendida. Você está imaginando que os técnicos do IBCCrim são imbecis completos, porque isto seria uma imbecilidade total. Se fulano foi vítima de latrocínio na Pça. da Sé e possuía uma arma em casa, escondida em cima do armário, isso foi totalmente irrelevante para concluir se estar portando uma arma contribuiu ou não para que ele tenha sido vítima deste latrocínio.
Além disso o texto que estamos lendo (de novo!) diz claramente que se procurou cruzar dados para fazer esta estimativa. O que é desnecessário se você quer saber apenas o número de proprietários registrados de armas de fogo. Para isso não seria necessária nenhuma estimativa, bastaria consultar os registros.
E ainda tem mais uma coisa, Entropia: você está caindo em contradição. Está dizendo que "um B.O. não é suficiente para estabelecer motivo" (no caso de latrocínio, um crime com características tão evidentes?), e ainda acha que o B.O. não é suficiente para se saber se a vítima estava ou não armada (quando não parece difícil ver se um presunto está ou não com uma arma na mão), mas contraditoriamente está considerando que um B.O. seria confiável para estabelecer que o presunto era proprietário de arma de fogo.
Alguns outros trechos da matéria para reler:
Segundo o sociólogo e consultor da pesquisa Renato Lima, essa taxa de 18,2% da população armada funciona como uma espécie de "nota de corte". A partir dela, se estabelece a probabilidade de morrer ou sobreviver em um latrocínio. As taxas acima de 18,2% representam maior risco de morte. Já as taxas inferiores, chance menor de morrer em um confronto.
"Confronto". O que você está entendendo que a pesquisa procurou estimar?
Para cada crime de latrocínio consumado com a vítima armada[/u], foram geradas 2,2 vítimas. Já, quando se considera o total de casos de latrocínio consumados (vítimas armadas ou não), essa proporção é reduzida: 1,5 vítima para cada crime.
Vítima armada. Não vítima proprietária de arma de fogo. E ainda tem mais um dado interessante que lhe passou desapercebido: a MÉDIA de vítimas que aparecem registradas nestes B.Os (em que a vítima do latrocínio estava armada) é superior a média de vítimas nos casos de latrocínio com vítima desarmada. O que caracteriza perfeitamente o confronto: a vítima reagiu, foi tiro pra todo lado, e em vez de morrer apenas a vítima mais pessoas foram atingidas. O que caracteriza também esse risco adicional quanto se tem pessoas armadas reagindo a assaltos.
Se as vítimas não estavam necessariamente armadas, como você quer supor, de que maneira você explicaria essa estranha coincidência de a média de vítimas nestes B.Os ser bastante superior a média nos B.Os considerando apenas vítimas desarmadas?
Segundo o levantamento, 18,2% da população da capital porta arma de fogo legal ou ilegal.
Porta. Portar arma de fogo não é o mesmo que apenas TER arma de fogo. A estimativa foi de que 18% das pessoas em São Paulo portavam arma em 1998. E como observei anteriormente, esta foi uma estimativa "por cima", com o cuidado de não superdimensionar o risco. Uma vez que esse número parece até claramente exagerado, tornando provável que o risco real fosse superior até aos 56% a mais estimado.
Se você quiser pode até duvidar da competência ou idoneidade de quem fez o estudo, mas eu li o que estava escrito na matéria. Já você parece que inconscientemente tentou interpretar de uma maneira que lhe parecesse mais conveniente.
Você tem que lembrar que um crime não é resolvido apenas quando se chega no autor. Meu comentário vai no sentido de que muitas pessoas são encontradas mortas e nem se sabe porquê morreram, ou pessoas que se sabe quem matou, mas não sabe porque. Um B.O não é suficiente para estabelecer motivo, terceiros fazem o registro e supõem que motivo foi X ou Y, mas o que determinará o motivo do crime será a investigação.
Importa se são 100% ou 1% porque a amostra precisa ter determinado tamanho para se inferir resultados com certa certeza. E se seus dados tem 50% dos dados deles vindo de apenas um bairro, há problemas de representação da amostra em relação ao total da população. Se os latrocínios estão sobre-representados em um local específico, há mais do que simplesmente "ter arma de fogo" que é relevante para a situação. E outra coisa, B.O é vulnerável a viés de auto-seleção, pega dados apenas de pessoas que se voluntariaram em realizar a denúncia. Novamente, o que garante que a amostra é representativa?
Porque não é uma amostra, é uma
população. População em estatística é o nome que se dá ao conjunto de todos os dados.
Quando se pega todos os B.Os de latrocínio registrados, tecnicamente não se trata de uma amostra.
Muito do comentado acima nem faz sentido... sobre os registros virem de um determinado bairro, etc. Atente para o fato que a pesquisa não se debruçou sobre nenhuma amostra, mas sim sobre uma "população".
Transcrevendo-se de PESTANA e VELOSA (2010), página 53
“Chamamos população ao conjunto de todos os valores que descrevem um fenômeno que interessa ao investigador.”E nos casos de latrocínio, que produzem CADÁVERES, ninguém precisa se voluntariar para apresentar denúncia. Há um cadáver, um presunto, o rabecão tem que vir e recolher. Necessariamente gera um B.O.: testemunhas são ouvidas, os parentes da vítima, amigos, é levantado se a vítima tinha passagem pela polícia, sua ficha criminal se houver, etc... É muita forçação de barra achar que para a polícia é difícil entender se foi ou não latrocínio, ou seja, uma tentativa de roubo seguida de morte. Porque nos casos em que a causa do crime é desconhecida não se registra como latrocínio no B.O.
Eu entendi a metodologia, você é que está fazendo saltos em relação a ela. Primeiro que os seus exemplos supõem uma amostra representativa. Se, no seu caso, os 80% das vítimas canhotas estiverem vindo de um bairro perigoso, que possui a maior parte da sua população canhota por qualquer motivo que seja, você tem uma amostra enviesada. E, além do mais, isso é apenas um dado estatístico que não estabelece causalidade. Vejamos que 80% das vítimas são canhotas, LOGO existem razões genéticas para o maior risco de canhotos, pois ser canhoto é algo genético, certo? Errado! Afirmação do consequente.
Todos os B.O.s de latrocínio não é amostra. E se há uma incidência 56% maior em vítimas fatais quando se trata de assaltos a pessoas armadas, que causalidade você acharia razoável supor? A correlação é inquestionável, mas você consegue ver outro motivo?
Tipo: talvez pessoas azaradas, por serem muito azaradas, acabam resolvendo se proteger andando armadas. E por serem azaradas levaram chumbo do assaltante. Teríamos aí uma correlação sem causalidade.
Você levantou outras hipóteses que vale a pena examinar:
1 - Policiais andam armados. Morrem em assaltos não por estarem armados e reagirem, mas por serem policiais.
- Será que o número de policiais vítimas de latrocínio pode ser tão grande a ponto de distorcer a inferência? Não.
- Se policiais reagem a assaltos e morrem por isso, então reagiram antes ou depois de serem identificados pelo assaltante como policiais? Provavelmente reagem antes de serem identificados, portanto morreram por terem reagido. A ação de reagir implicou no mesmo tipo de risco que teria qualquer um, policial ou não.
2 - Poderiam ser bandidos armados que, ao serem assaltados, foram identificados como pertencendo a facções rivais.
- Hipótese especulando sobre uma situação completamente excepcional. Nas periferias e favelas do Brasil, controladas por facções, não se assalta. O ladrão para ser assaltado por outro assaltante, tem que ter saído para assaltar em algum lugar e topou com outro ladrão que o assaltou. Uma situação cômica e improvável. Por isso falei: ladrão não é vítima de latrocínio, é autor.
Honestamente, o que está se parecendo mais com tentativas de "rodeios estatísticos"?
Usando seu outro exemplo, viu-se que pessoas que fumam possuem mais incidências de cancer de pulmão. Ora, cigarro possui nicotina, logo, nicotina aumenta as chances de câncer de pulmão, certo? Falso! Percebe a questão? A pesquisa afirma que o que causou maior risco pra essas pessoas foi ter uma arma, sendo que isso está incorreto ou incompleto. Existem outros fatores a se considerar, que citem no post anterior.
Não, não consigo perceber a questão.
A metodologia é análoga a de um estudo sobre os riscos de fumar. Você pega um grupo de mil fumantes e um grupo de controle de mil não fumantes. Ambos os grupos sendo estatisticamente homogêneos, tendo como única característica diferenciadora o fato de todos fumarem em um grupo e todos não serem fumantes no outro grupo. Acompanha ambos os grupos por 30 anos e verifica a incidência de câncer em ambos os grupos encontrando significativa discrepância.
Não acha que é cientificamente válido inferir que o hábito de fumar aumenta as chances de desenvolver certos tipos de câncer?
Se é por causa da nicotina, se é por causa do alcatrão... isso não é determinado nesse tipo de estudo, mas a relação de causalidade entre fumo e certas doenças fica bastante reforçada pelas evidências. Essa É a QUESTÃO.
Ah, e minha pergunta de novo, mulheres cometem a maior parte dos infanticídios, sendo que são 50% da população. Logo, crianças que moram com mulheres tem mais chances de morrer, verdadeiro ou falso?
A pergunta não tem relação com o que está em discussão. E a resposta seria SIM, se a ÚNICA causa de morte de crianças fosse o infanticídio.
Vítima armada não é a única causa de morte em assalto. Mesmo uma vítima armada pode ter morrido em um assalto por outro motivo além de estar armada. Mas nada disso explicaria uma distorção de 56% a mais de casos de latrocínio em assaltos onde a vítima portava arma. Os que questionam esse tipo de dado, geralmente o fazem se valendo do mesmo tipo de retórica que durante anos a indústria do tabaco usou contra pesquisas que mostravam evidente relação de causalidade entre fumo e determinadas doenças.
Além do mais, volto a lembrar que nos B.O.s que indicavam vítima armada de latrocínio, a média de vítimas envolvida se verificou bastante superior. O que claramente comprova como causa, a infeliz ocorrência de um confronto armado.
Não. Estatisticamente a afirmação está correta. Mas tem que levar em consideração que não é em qualquer amostra que homens comentem 19 vezes mais homicídios que mulheres. Isso não é verdade se você só considerar os bairros nobres de Rio, São Paulo, Curitiba ou Recife. Mas se você tomar uma amostra correta, a tendência é encontrar ao acaso nessa amostra esta mesma proporção.
Não, não. O que o dado diz é que, dado um homicídio, existe 95% de chance do autor ser homem, ponto. Não que homens possuem tantas vezes mais chances de cometer homicídios. Até porque, como é sabido, grande parte dos homicídios tem a ver com tráfico de drogas e crime, que envolve uma minoria da população. Ou seja, uma minoria está em grande parte nos dados, o que torna a análise incorreta para generalização para o resto da população. Homicídio não é evento aleatório.
Você não entendeu. Estatisticamente a afirmação estaria correta.
Mas não se poderia, como observei, usar esta inferência para estimar esta proporção em bairros nobres de grandes cidades, por exemplo. Isto seria como esperar que de cada 7 transeuntes na Av. Paulista, um fosse chinês só porque de cada 7 habitantes do planeta um é chinês. Mas continua sendo verdadeiro que um sétimo da população mundial é chinesa.
É o seguinte: se 95% dos homicídios são praticados por homens no Brasil, e se tomarmos uma amostra (atente para o significado estatístico de amostra) desta população, deve-se esperar (caso a amostra tenha sido selecionada corretamente) que para cada mulher que foi ou será homicida na amostra, existam 19 homens nesta amostra que foram ou serão homicidas. Aproximadamente, caso contrário não seria uma boa amostra.
Não estou dizendo nenhuma novidade, é assim que pesquisas eleitorais são feitas e podem inferir que 35% dos votos irão para o candidato X, enquanto 15% para o candidato Y. Considerando-se o total de votos, mesmo existindo grande variação em relação a esta previsão se observarmos zonas eleitorais individuais.
'Já aumenta o seu risco" como você sabe? Se fosse algo tão óbvio assim, não existiram pesquisas que indicassem o contrário ou que não faz diferença, como já foram postadas várias e vários tópicos daqui.
E não é óbvio?
Em 2016 fui assaltado pela 1 vez na vida. Nas circunstâncias em que se deu o assalto, eu teria tido enorme desvantagem caso estivesse armado e tentasse reagir. Mas como não reagi o bandido apertando uma pistola contra o meu peito exigiu: "telefone, telefone..." Cara, eu não estava com celular, dá pra acreditar? Então ele apalpou os bolsos da minha bermuda, encontrou a carteira e foi embora na garupa da moto levando minha habilitação, um bilhete único de transporte e 10 reais. Por sorte nem olhou pra ver o que tinha na carteira.
Mas se em vez de carteira, ele tivesse encontrado uma arma... o que você acha? Meu risco ali teria sido maior, igual ou menor?
Quer um contra ponto? Armas podem ser utilizadas para se defender de um assalto ou evitá-lo. Como saber se armas realmente trazem mais riscos sem os dados de crimes que foram EVITADOS por estas armas? Qual a proporção de pessoas que foram assaltadas tem arma de fogo? Se for menor que a média, pode-se concluir que quem está armado tem menos chance de ser assaltado?
A proporção de pessoas assaltadas portando armas de fogo consta como dado nos boletins de ocorrência. Já a proporção de pessoas circulando com armas de fogo em 1998 na cidade de São Paulo, o estudo tentou estimar, conforme já demonstrado. Essa proporção é que tem que ser confrontada com o dado objetivo obtido nos B.Os para se inferir o grau de risco.
As outras perguntas a gente responde com um pouquinho de matemática e estatística: se você sabe que 10% da população CIRCULA armada e encontra, examinando uma população de B.Os de assaltos, uma taxa bem menor que 10% podemos inferir que de alguma forma portar arma atuou como fator dissuasor. E creio que tenha sido isto que você realmente quis dizer com "menor que a média", mas o curioso e revelador, é que este raciocínio é o mesmo utilizado pela metodologia do estudo que você está questionando. Um raciocínio que pra você só parece fazer sentido se corroborar as conclusões de sua preferência...