A equipe econômica de Lula foi competente, mantendo a MESMA política econômica de FHC (e isso é incontestável).
Há quem discorde.
Sim.
Assim como ainda existem pessoas que acham que a Terra é oca.
"Incontestável" é meio perigoso. Eu, particularmente, não tenho como negar; mas minha intuição diz que é duvidável que Lula tenha seguido às cegas o modelo "tripé" de política econômica.
Seguiu completamente, ao ponto de manter o mesmo presidente do Banco Central de FHC.
Já que você apenas aceita teses de cientistas, fica aqui um artigo interessante:
“Nos últimos meses, intensificou-se na imprensa a tese segundo a qual o governo Lula teve êxito econômico 'graças à manutenção intocada da política herdada de FHC/PSDB'. Mais preocupado com a disputa eleitoral do que com a análise isenta, o objetivo desse argumento é conferir todo o mérito e indiscutível prestígio do Presidente Lula ao governo de Fernando Henrique – que hoje não consegue se eleger sequer para síndico de condomínio.
Um cientista não escreveria da forma como a que está destacado em negrito.
Ao que parece é mais uma análise feita por um militante.
Segundo o argumento, a partir da assinatura da “Carta ao Povo Brasileiro”, ainda na campanha de 2002, Lula teria se convertido à luz da 'sabedoria econômica' fernandista. Quando assumiu o governo, em janeiro de 2003, garantiu seu sucesso ao preservar o “tripé” da política econômica, consistente em câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário.
Agora temos um parágrafo com sinais claros de um petista com duplipensar e negação do óbvio.
Acontece que nem a Carta representou uma aceitação da política econômica de FHC, nem é fato que a manutenção do tal “tripé” signifique a continuidade da política econômica anterior.
Continua...
Escrito por Rafael Dubeux, mestre e doutorando em Relações Internacionais pela UnB e bacharel em Direito pela FDR/UFPE; é atualmente pesquisador visitante na Universidade da Califórnia, Berkeley. Integra a carreira de Advogado da União e já trabalhou na Controladoria-Geral da União, na Secretaria de Relações Institucionais e na Casa Civil da Presidência da República. Artigo publicado no “Jornal GGN” (http://jornalggn.com.br/noticia/o-mito-da-continuidade-da-politica-economica-por-rafael-dubeux).
Não, é claro que não.

O articulista ignora (ou é mau-caratismo mesmo?) que o programa político original do PT era tipicamente socialista, ou seja, praticamente o oposto do que eles aplicaram desde 2003. Além disto o PT foi visceralmente contra, entre outras coisas, a Constituição Federal de 1988, o Plano Real (o mesmo que permitiu tudo de positivo que foi conseguido nos últimos 20 anos), contra a Lei de Responsabilidade Fiscal (que conteve, até certo ponto, a voracidade 'gastadora' dos governos) e que agora foi infringida 'na prática' pela senhora Roussef, contra o Proer (que criou o conjunto de condições de boa saúde do sistema financeiro, que permitiu passar pela crise de 2008 com pouco estrago) e contra as agências reguladoras (que ajudaram a normatizar diversos segmentos da economia).
Se os petistas tivessem aplicado o seu plano econômico original hoje seríamos uma 'grande Albânia'.
Por isso acho errado compará-los diretamente. É esperado que o poder de compra melhore, que a taxa de analfabetismo caia, que o IDH aumente, etc, pois o Brasil estava quebrado logo antes de Itamar/FHC.
A questão, Lorentz, é que você antes havia negado o aumento do poder de compra.
Sim, é meio perigoso compará-los diretamente.
Seria uma temeridade se assim não tivesse ocorrido porque entre o final de 2001 e 2008 houve um crescimento grande do PIB mundial, capitaneado pela importação de
commodities e produtos manufaturados por parte da China.
E ainda assim a Dilma conseguiu o feito de piorar alguns desses índices, mesmo maquiando alguns valores e alterando a metodologia de maneira favorável.
Sim, ela piorou; mas não chegou aos índices do governo FHC no final de 2002.
Sim, efeito "Lula". Mas já explico...*
Eu acho que já conheço a 'explicação petista'.
Vejamos adiante...
Eu concordo que o governo FHC não foi perfeito, e nem o governo Lula, mas não dar nenhum mérito a um dos dois é desonesto.
Dar uma chance ao PSDB seria uma forma de dar mérito? Complicado...
Não entendi mas aqui não é uma questão de 'dar chance ou não'.
O PSDB não conseguiu mostrar e ou convencer, ainda que por pouco, para a maioria do eleitorado que o conjunto de ações tomadas por ele foram a base do "sucesso" do atual partido governista. E nem, tampouco, que a sua proposta de governo poderia ser melhor do que o atual modelo.
Agora, não há como eu admirar este governo atual com a quantidade crescente de casos de corrupção e falta de capacidade de formação de equipes técnicas.
Lorentz, "a privataria tucana" de Amaury Ribeiro Jr. é a prova de que "casos de corrupção e falta de capacidade de formação de equipes técnicas" não é exclusivo do PT.
Aquilo lá não é "prova nenhuma" e sim 'conclusões ideológicas' baseadas em alguns indícios e muita ilação.
É no mínimo muito estranho que, tendo todas aquelas "provas" em mãos, os governos petistas não tenham aberto investigações amplas sobre toda aquela (suposta) corrupção.
E entre ter um PT corrupto que controla a inflação adequadamente, e um PSDB corrupto com propostas de privatização neoliberais radicais que podem causar instabilidade econômica, eu escolho o primeiro. É preciso entender que o Brasil não é um EUA.
O PT não controla a inflação mas manipula os índices. Assim como fez para 'redefinir as faixas sócio-econômicas', a nova metodologia de cálculo do PIB e, a mais recente, para transformar déficit primário em... superávit primário (sic).
E a privatização talvez seja a única maneira de tirar os 'parasitas' das empresas ditas "estatais".
* Como prometido, explico através de um
Artigo:
Eu não “esqueci de mencionar que a inflação de 2001 foi alta por causa do dolar”. Simplesmente não era o objetivo do post analisar os motivos para a inflação de cada ano – mas, sim, mostrar com evidências fortes que a inflação não estava sob controle sob FHC. Como disse, o mérito de FHC foi ter derrotado a hiperinflação – e não a inflação, que seguiu alta e crescente no seu segundo mandato.
Você precisa aprender a diferenciar causalidades: existem causas imediatas e causas últimas. A causa imediata é aquilo que está aparente, é o senso comum. Por exemplo, a causa primeira da 1ª Guerra Mundial foi o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando. Mas a causa última, mais profunda, foi uma disputa neocolonial entre potências europeias. As duas causas são verdadeiras, mas a mais importante é a causa última.
Voltando para o caso da alta inflação sob FHC: o “fator Lula” é a causa imediata, aparente, a do senso comum. Mas a causa última foi a grande vulnerabilidade externa que o país esteve sob todo o Plano Real (até 2004). O Brasil enfrentou seguidas crises (1999, 2000 e 2002), sendo que a mais forte foi a de 1999. Como gostam de dizer os economistas que fazem análises “ricas” os fundamentos econômicos eram ruins. Se duvidar, veja por você mesmo o saldo das transações correntes até 1999 e verá que o modelo era insustentável e sujeito a todo tipo de perturbação (externa, como em 1999, ou interna, como em 2000). Ou seja, a causa ÚLTIMA da crise e da inflação de 2002 era a própria VULNERABILIDADE da economia brasileira.

A inflação alta do primeiro ano do FHC é um resquício da hiperinflação do período entre 1979 e 1993, sendo também conhecida como 'inflação inercial'.
A inflação do final de 2001 e de 2002 decorreu principalmente do medo do mercado por uma vitória do PT, sendo também conhecida como 'inflação de expectativa'. Não teve nenhuma relação com o dólar alto, sendo justamente o contrário, o dólar subiu por causa deste receio, no qual os agentes econômicos procuraram se proteger da melhor maneira possível. E foi por isto que o senhor Silva (e o seu partido) escreveu aquela "carta".
Para finalizar um comentário sobre a imagem supra. Observem que não há nenhuma menção sobre a variação de inflação entre 1995 e 1998, mesmo que fosse para informar que entre 1995 e 1998 ainda não havia sido estabelecida um dos pilares do Plano Real, que é a estratégia de 'faixas de variação aceitáveis de inflação' ou 'metas de inflação'.