Mas e então, Pasteur? Já conseguiu achar alguma coisa?
O que? As partes negativas da Bíblia? Tô esperando você me dar umas aulas de catequese... 
Gostei de como você interpreta a Bíblia, tô pensando até em virar Cristão, vai que a história é real mesmo e me salvo do inferno... 
Você não respondeu se acha que os outros tem a mesma interpretação bonitinha que a sua.
Abraços bombásticos... 
Partes da bíblia que incitam a violência:
Números 15:32
Estando, pois, os filhos de Israel no deserto, acharam um homem apanhando lenha no dia de sábado. Os que o acharam apanhando lenha o trouxeram a Moisés, e a Arão, e a toda a congregação. Meteram-no em guarda, porquanto ainda não estava declarado o que se lhe devia fazer. Então, disse o SENHOR a Moisés: Tal homem será morto; toda a congregação o apedrejará fora do arraial. Levou-o, pois, toda a congregação para fora do arraial, e o apedrejaram; e ele morreu, como o SENHOR ordenara a Moisés
Aqui Deus manda matar um homem pelo crime de estar recolhendo gravetos para fazer fogo no dia de sábado. Bastante radical, mas deus não manda matar qualquer um que pegue lenha aos sábados, como alguns dizem, esse foi um caso específico. AQUELE homem tinha que morrer! Por alguma razão deus não foi com a cara dele.
Mas sem dúvida foi uma ocasião em que deus incitou à violência. Pelo menos é assim que eu defino quando alguém ordena que se apedreje um homem até a morte.
Porém há várias partes da bíblia em que a violência é estipulada em forma de lei. É fácil encontrar alguns exemplos:
Deuteronômio 21:18
"Quando alguém tiver um filho contumaz e rebelde, que não obedecer à voz de seu pai e à voz de sua mãe, e, castigando-o eles, lhes não der ouvidos,
Então seu pai e sua mãe pegarão nele, e o levarão aos anciãos da sua cidade, e à porta do seu lugar; E dirão aos anciãos da cidade: Este nosso filho é rebelde e contumaz, não dá ouvidos à nossa voz; é um comilão e um beberrão. Então todos os homens da sua cidade o apedrejarão, até que morra; e tirarás o mal do meio de ti, e todo o Israel ouvirá e temerá.
Novamente a lapidação. Um dos castigos bíblicos preferidos para crimes graves como trair o marido, masturbação, pegar lenha no sábado ou desobedecer aos pais.
Para quem só conhece os famosos "dez", o mandamento acima teria sido ditado pessoalmente por Deus a Moisés, juntamente com várias outras leis. Foi no mesmo dia em que Ele teria dito para "amar ao próximo".
É uma lei, um mandamento, uma regra geral sem prazo de validade estipulado. Filho desobediente? É o que se deve fazer!
O próximo é interessante.
Êxodo 21:20-21
Se alguém ferir a seu servo ou a sua serva com pau, e este morrer debaixo da sua mão, certamente será castigado, mas se sobreviver um ou dois dias, não será castigado; afinal é dinheiro seu mesmo.
Servo aqui quer dizer escravo mesmo. Note que este também é um mandamento dado pessoalmente por Deus a Moisés.
A bíblia não só aceita a escravidão ( e não é a escravidão uma das maiores violências? ), como ainda dá instruções detalhadas sobre como punir corretamente um escravo.
O interessante é que, para o contexto da época, o bárbaro ditame acima, é bastante humano. Diria até piedoso.
Deus está dizendo que se alguém espancar seu escravo e ele morrer na hora, então isso é algo passível de punição. Que tipo de punição não fica estipulado... se seria uma reprimenda, um puxão de orelhas...
No entanto se o proprietário de um escravo encher o seu servo de porrada e este agonizar ainda uns dois dias antes de passar desta para melhor, aí, nesse caso, tá tudo bem.
Mas como assim?! Tudo bem?! Deus é sádico, está recomendando que se você está planejando dar uma surra no seu escravo, o faça de modo em que o pobre padeça uns dois dias antes de bater as botas?
Não é isso. Acontece que se o infeliz morreu na hora então fica evidente que a intenção da agressão era matar mesmo. E a bíblia não aprova isso. De uma forma malufiana a bíblia está dizendo: "Tá certo, tenha escravo, mas não mate."
Porém se o servo agonizou horrivelmente durante três dias antes de morrer, então fica claro que foi um acidente. A intenção não era matar, era só dar uma lição naquele escravo preguiçoso. Daí Moisés conclui: " Azar o dele, foi descuidado e ficou no prejuízo. Perdeu o escravo, perdeu dinheiro."
Mas tem aí uma preocupação em impor limites: pode ter escravo, pode acorrentar, pode espancar... mas vê se não mata, né!
Há muitas passagens desse tipo e nesse tom. Encontrar não é difícil, mas certamente, para cada uma delas, existe uma daquelas justificações tortuosas e ridículas, aquelas empulhações da teologia, que só engole quem tem mesmo muita ânsia de engolir.
Já o Corão eu não conheço muito, mas sei que, apesar de escrito séculos depois, foi em um contexto não muito diferente em que os textos acima teriam sido gravados na pedra. Por e para um povo nômade, vivendo a vida dura e bárbara do deserto.
E certamente também, os teólogos islâmicos podem ser tão criativos quanto os católicos na hora de justificar o injustificável.
Quando convém.
Porque muitas vezes o conveniente foi interpretar ao pé da letra ( que é o certo mesmo, os textos são bem claros ), e aí a bíblia sim, incitou a violência.
Como um cristianismo que prega o amor e o perdão pôde coexistir com as práticas de tortura dos tribunais da inquisição, com caça as bruxas, pessoas sendo queimadas vivas em nome de Deus?
Como a civilização cristã pôde conviver durante séculos com a escravidão, sem questionamentos, sem peso na consciência?
A resposta está ( ou foi buscada ) em textos bíblicos como estes. A bíblia pode ser usada para mostrar que deus é amor, mas que às vezes também é necessário ser brutal e impiedoso.
Há o sermão da montanha, mas não se esqueçam que Deus também mandou duas ursas estraçalharem 40 crianças só porque chamaram o profeta Eliseu de careca. Que filho desobediente e mulher adúltera devem ser apedrejados até a morte.
Enfim, a coisa pode ser muito ao gosto de freguês. Numa hora é amor, é justiça, é fraternidade, é perdão... em outras é fogueira, tortura, cruzadas e inquisição.
Não vejo porque o islamismo tenha que ser fundamentalmente diferente. Se centenas de milhões de pessoas em todo o mundo sequem esta religião, ela não deve trazer só jihad e vingança, mas aquelas coisas que os homens buscam existencialmente nas religiões.
Contudo jihad e vingança também! As pessoas pegam o que quiserem, de acordo com a necessidade e os desejos, com a capacidade aparentemente infinita que o homem tem para ser contraditório.