Ainda sobre o suposto reencarnacionismo professado por Orígenes, no site “Falhas do Espiritismo” há boas orientações a respeito dessa confusão. Veja trechos.
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“- Orígenes ( 182? - 252?) É um dos mais controversos teólogos pré-nicênicos, utilizado, equivocadamente, por grupos esotéricos e espiritualistas para reforçar suas teses. No “Analisando as Traduções Bíblicas”, cap. XVI, de Severino C. da Silva, 4ª ed., Idéia; aparece a seguinte alusão a Orígenes:
“O teólogo cristão primitivo, Orígenes de Alexandria, sugere uma versão diferente. Ele defendia que haveria duas ressurreições, uma no final dos tempos e outra “do espírito, da vontade e da fé”, que poderia ocorrer durante a vida. Este conceito apresenta a ressurreição como sinônimo de Reencarnação. Orígenes também achava que o corpo da ressurreição era um corpo espiritual que não tinha nenhuma relação com o corpo mortal.”
Severino C. da Silva dá como embasamento desta opinião a obra “Reencarnação: O Elo perdido do Cristianismo”, de Elizabeth Clare Prophet; portanto não se baseou no original de Orígenes. Sugiro uma leitura do tópico Os pais da Igreja para saber a verdadeira opinião de Orígenes quanto a “transmigração de almas”. Por hora, deixemos o próprio Orígenes contar suas idéias quanto à ressurreição: na obra De Principiis, livro II, cap X; ele também disserta sobre o enfoque de Paulo:
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O que então? Se é certo que devemos fazer uso de corpos, e se os corpos caídos são declarados ter de erguer-se novamente (pois apenas o que caiu antes pode ter a adequada capacidade de se reerguer), não pode ser matéria de dúvida a ninguém que eles se erguem de novo para que sejamos revestidos com eles uma segunda vez na ressurreição. Uma coisa está estreitamente relacionada com a outra. Pois se corpos são erguido outra vez, sem dúvida eles se erguem para nos revestir; e se nos é necessários ser investidos de corpos, como é certamente necessário, não devemos ser investidos com nenhum outro senão o nosso próprio.
“Mas se é verdade que eles se reerguem e que ressuscitam como corpos “espirituais”, não pode haver dúvida que eles vêm do morto, após se livrarem da corrupção e posto de lado a mortalidade; de outra forma pareceria vão e inútil a qualquer um ressuscitar dos mortos para morrer uma segunda vez. E finalmente isto deve ser mais distintamente compreendido desta forma, se cuidadosamente se considerar quais são as qualidades de um corpo animal, que, quando semeado na terra, recupera as de um corpo espiritual. Pois é de um corpo animal que o próprio poder e graça da ressurreição extraem o corpo espiritual, quando ele transmuta de uma condição indigna para uma de glória.”
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Pois é... não seria um novo corpo ou apenas o perispírito, mas o mesmo corpo transformado.”
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Noutro trecho, vê-se Orígenes explicitamente condenando a reencarnação professada pelo grupo dos basilidianos:
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“Por fim, encerando o Novo testamento, encontra-se a Revelação de João de Patmos, um apocalipse cristão por excelência. Mas, afinal, o que tem a ver o enquadramento dos primeiros cristãos com uma seita apocalíptica e a reencarnação? Simples: ambos são mutuamente excludentes. Não faz sentido falar em um longo processo depurativo se justamente o que falta é tempo para isso. O que não significa a inexistência de “cristianismos” reencarnacionistas no passado. Havia seitas gnósticas, por exemplo, acreditavam em reencarnação. Os basilidianos criam até em metempsicose, conforme o próprio Orígenes relata:
“Agora Basílides, falhando em observar que essas coisas devem compreendidas a partir de lei natural, rebaixa o discurso do Apóstolo para fábulas insensatas e profanas [cf. I Tm 4:7] e tenta produzir a partir dessa fala do Apóstolo a doutrina chamada de μετενσωματωσις, i.e., que as almas são transferidas para dentro de um corpo após outro. Pois ele diz que Paulo diz: “outrora vivia sem a lei” [Rm 7:8-9], que significa: Antes de vir para dentro deste corpo, vivi numa forma corporal que não estava sob a lei, ou seja, a de uma vaca ou de um pássaro. Mas ele falha em olhar o que se segue, a saber: ”Mas quando o mandamento veio, reviveu o pecado” (Rm 7:9). Pois Paulo não diz que ele veio para o mandamento, mas o mandamento lhe veio; e não diz que o pecado não existia nele, mas que estava morto e reviveu. Por essas declarações ele está garantidamente mostrando que dizia ambas as coisas a respeito da mesma e única vida sua. Mas que Basílides e os que partilham de suas percepções sejam deixados a sua própria impiedade. Voltemo-nos, porém, para o sentido do Apóstolo em conformidade com pia reverência para doutrina eclesiástica.”
(Comentário sobre a Epístola aos Romanos, Livro V, cap. I, parágrafo XXVII)
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Então, meu caro Spencer, como Orígenes poderia apregoar a reencarnação se a condenava?