Entendo a posição do Pedro Reis e vou na linha do _Juca_.
Apenas acho que não é maniqueísmo.
É estupidez mesmo.
Isso vai depender do que você considerar como socialista.
Se socialista for uma pessoa com uma preocupação social, que sente que o seu próprio bem estar é afetado pelas condições de vida dos seus semelhantes, então não é maniqueísmo nem estupidez constatar que esta pessoa tem um coração mais generoso que o do individualista.
Seria maniqueísmo e inocência achar que qualquer político com discurso socialista não pode ser até um psicopata inescrupuloso. Ou mesmo acreditar que alguém, por genuinamente defender os interesses dos menos favorecidos, é um santo inatacável. Um ser humano perfeito.
Da mesma forma é maniqueísmo acusar alguém de, por defender ideias econômicas liberais e acreditar na eficiência das dinâmicas do mercado, de não ter nenhuma empatia pelos seus semelhantes.
Maniqueísmo é simplificar o mundo em duas categorias: boas e más. Os homens em bons e maus. Naturalmente não é maniqueísmo considerar que o socialista se preocupa com o social. É redundância, não maniqueísmo.
Nesse sentido, quando o Guedes acredita que o socialista tem um "grande coração" ele não está sendo maniqueísta nem ingênuo, apenas redundante. Porque obviamente está se referindo a alguém que genuinamente foi seduzido pela utopia socialista, não àqueles que se aproveitam dos utópicos.
Mas também seria maniqueísmo ingênuo até mesmo sustentar que os utópicos sejam homens sem falhas morais e desprovidos de qualquer sentimento de egoísmo. Ou que os realistas sejam por esta condição individualistas insensíveis.
Se trata de definição de rótulos e definir "socialista" como alguém preocupado com os problemas sociais não é inadequado. Em contrapartida a polarização ideológica esquerda x direita induz ao maniqueísmo, incluso o maniqueísmo de se aceitar todas as proposições rotuladas como de um lado ou de outro, como um pacote. O maniqueísta ideológico passa a ter dificuldade de enxergar contextos e argumentos individuais, decidindo precipitadamente sobre o valor de uma proposição com base no rótulo ideológico
colado a esta proposição.
Um exemplo típico seria a questão da reforma agrária. Porque é geralmente é percebida como uma bandeira socialista, mas muitos ficariam confusos em saber que um relatório da CIA de 1963 recomendava uma profunda reforma agrária para o Brasil. Que o gen. MacCarthur impôs uma radical reforma agrária ao Japão quando interventor. Que a maioria dos países europeus fez sua reforma
agrária ainda nos sécs. 18 e 19, algo que desempenhou papel importante no desenvolvimento destas economias capitalistas.
"O general Douglas MacArthur (que liderava o Supremo Comando das Forças Aliadas no Japão) foi o grande responsável pela reforma japonesa", diz José Juliano de Carvalho, professor de Economia Agrícola da Faculdade de Economia da USP.
Em apenas 21 meses (entre abril de 1947 e dezembro de 1948), um terço da área agrícola (1,9 milhão de hectares) foi desapropriada; 90% da área agrícola passou a ser cultivada por agricultores-proprietários.
Antes da reforma, metade dos agricultores eram arrendatários -ou seja, não eram os donos das terras, tendo de pagar uma taxa mensal para os proprietários.
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/5/19/brasil/17.htmlDa mesma forma pessoas que se identificam com o pacote ideológico socialista não aceitam os dados que mostram o número de assentamentos abandonados no Brasil, ou números que mostram que a quantidade de pequenos e médios produtores vem diminuindo nos últimos 30 anos.
Esse tipo de maniqueísmo ideológico alimenta até estranhas contradições bastante irracionais. Vemos pessoas que apregoam que a cúpula do PT é composta por uma mera quadrilha que se refastelou na corrupção mas ao mesmo tempo acham que essa gente é movida por antigos ideais de justiça social, que querem mesmo é destruir o capitalismo e construir a URSAL.
Ou uma coisa, ou outra: ou o cara é comunista ou um corrupto que pega o dinheiro do povo e dá para uma empresa americana em um negócio fez todos os envolvidos ricos. Pasadena custou $1,3 bilhões, o bastante para a reforma agrária.
Mas os rotulados (até auto-rotulados) socialistas não quiseram saber de reforma. Até porque são pragmáticos o suficiente para reconhecerem que hoje em dia são muito difíceis as condições de sobrevivência para o pequeno agricultor.