Já foi discutido por aqui o corte de 30% das verbas de universidades públicas?
Imagino que os bolsominions do fórum irão dizer que tem que cortar tudo mesmo porque só tem maconheiro nas faculdades, enquanto os petistas vão se ater a dizer que faz parte do desmonte da educação promovido pelo ditador-presidente (assim como tem acontecido nas demais mídias sociais). Porém, como ainda acredito que reside seres pensantes no Clube Cético, insistirei no assunto.
Minha visão é que a medida é positiva, mas foi adotada de maneira completamente estúpida e inapropriada. Elencarei primeiro alguns motivos que mostram o que todos já sabem:
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Brasil está entre os que menos gastam com ensino primário, mas tem investimento ‘europeu’ em universidade, diz OCDE-
País investe em universitários mais que o triplo do que é gasto com estudantes do ensino fundamental e médio, revela estudo que analisou sistemas de ensino de 45 países-
Estudante de Universidade Pública custa 90% mais do que de ensino privado-
Seis em cada dez estudantes de universidades públicas no Brasil pertencem à camada mais rica da população, segundo IBGEEm resumo, o óbvio: Brasil investe muito, e mal, no ensino superior. Além da precarização do ensino e partidarismo presente nas universidades, o retorno social e econômico não é tão relevante ao país quanto investimentos em educação básica. Outro ponto é que o
percentual de pessoas com graduação aumentou significativamente nos últimos anos, seja por conta de programas de financiamento estudantil (FIES) e assistencialistas (ProUni), ou devido à criação de novas universidades - públicas e privadas.
No entanto, por que aumentar o n° de pessoas com graduação seria negativo? A meu ver, não seria, exceto se:
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Após sair da faculdade, recém-formados enfrentam desemprego e subemprego-
Desemprego entre mestres e doutores no Brasil chega a 25%Em outras palavras, a oferta de profissionais com ensino superior já não atende mais a demanda de mercado. Claro que isso se deve em partes à recessão econômica recente que teve como consequência o desemprego generalizado, porém não há como negar que o aumento de oferta dos profissionais com qualificação superior contribuiu e muito para isso.
A partir do momento que o governo passa por dificuldades orçamentárias e o investimento em ensino superior não mais justifica o retorno, já passou da hora de repensar a verba que seria destinada ao setor.
Mencionarei agora o porquê de eu achar que a medida foi adotada de forma estúpida, inapropriada, e não preciso nem dizer que, ideológica.
Primeiro que não se corta orçamento de um setor sem nenhum plano. Não faz nenhum sentido o governo incitar guerra às universidades sendo que a imagem das mesmas a partir de agora refletem a imagem do próprio governo, e este passa também a assumir a responsabilidade, onde cada vez menos conseguirá jogar todo o fardo às gestões anteriores.
O governo não tem nenhuma estratégia e muito menos interesse em reverter a precarização do ensino, sequer apresentou um projeto para diminuir gastos nas universidades de forma a manter, ou mesmo melhorar a qualidade do ensino, mesmo com verbas menores. Logo, ao que tudo indica, o que era péssimo, apenas será pior ainda.
As alegações do Ministro da Economia que os cortes de verbas em 30% dos cursos de humanas eram para puni-las por 'balbúrdia' e na sequência a decisão de estender o corte a todas universidades, sem explicações técnicas a respeito da medida, apenas reforçam a inabilidade e desorganização da pasta. Foi afirmado ainda que a medida pode ser repensada em caso de aprovação da reforma da previdência. Este último argumento, que tem a intenção de obter apoio à reforma, acaba por ter o efeito contrário, uma vez que o governo já recuou em diversas outras medidas que gerariam uma economia muito maior - subsídios para vários setores, intervenção estatal, falta de reforma para militares e privilégios a grupos beneficiados. A economia gerada pelo corte de verbas ao ensino é na verdade ínfima diante do déficit do orçamento, e ainda menor diante de tantos outros gastos desnecessários no governo.
Portanto, uma medida que poderia ser facilmente justificada e adotada de modo inteligente, pra variar, cai nas mãos do populismo e falta de capacidade técnica vinda de incompetentes gerindo cargos públicos. O atual Ministro da Educação difere muito pouco do antigo.