O estado do cérebro humano é o critério para vida humana, daí existir o termo "morte cerebral".
Com isso, todos concordamos. Ou penso que sim.
Não temos um conceito exato de vida. E a história de "morte cerebral" já foi refutado no tópico diversas vezes.
Pois bem, estou dando o conceito de "vida humana" comumente utilizado, não de vida celular, ou de outros níveis, em que, de modo geral, não contam como vida, no caso dos seres humanos, se o indivíduo em questão não tiver um cérebro funcionando mais.
E não creio que morte cerebral tenha sido "refutada", que em anos recentes pessoas que tenham sofrido morte cerebral tenham "ressuscitado", como seria um caso possível com parada cardíaca e outras coisas mais.
Alguém aqui é a favor do direito de se matar pessoas com cérebros formados e perfeitamente funcionais a não ser em situações bem peculiares e especiais (como legítima defesa)?
Primeiro que isso é questão social, a biologia não descreve quando há ou não direitos, direitos de matar ou a vida.
Segundo que, mesmo que fosse, mais correto não seria a questão "então podemos matar quando há cérebro" e sim "então não podemos matar quando não há cérebro". Em termos biológicos, não há como justificar uma pessoa valer mais que um cavalo, porque a ciência não tem visões antropocentristas ou egocêntricas.
Ninguém está dizendo algo como "essa é a prova biológica de que o aborto é correto" ou "essa é a prova biológica de que a menstruação é correta", etc. A biologia realmente não lida com questões morais, é só uma descrição dos sistemas vivos. Pode-se discutir questões morais e se utilizar de dados biológicos para embasá-los.
Como eu disse no decorrer da mensagem, discutir porque o ser humano vale mais que um peixe ou um arbusto nos levaria desnecessaria e inutilmente longe, uma vez que, quaisquer que sejam os motivos, todos defendemos a vida humana mais ou menos nos padrões de "vida cerebral", com uma pequena aberração da situação de zigoto até embrião tardio ou feto prematuro.
Não? Ótimo, então acho que podemos prosseguir sem a analogia com cérebros de insetos que matamos sem que seja uma grande questão moral, ou coisas parecidas. Porque eles não tem cérebros humanos.
Se então não é uma questão moral o extermínio de cérebros de insetos, então porque no final você afirma que o valor vem de "cérebro humano"?
Isso se baseia na premissa de um partido de toda a discussão, que é sobre o valor do cérebro quanto a vida.
Argh... como disse antes, porque é um cérebro
humano e vivo, não simplesmente porque é um cérebro. (ainda que universalmente também seja preferível matar seres sem cérebro).
Você está com dois pesos e duas medidas de argumentação constantemente. Para o lado da defesa do aborto você quer saber até porque valemos mais do que bactérias, mas não aplica o mesmo julgamento niilista de valor para a menstruação ou polução. Que saco.
Fora isso, como já disse, parte-se do ponto de comum acordo de que a vida humana especificamente, deve ser protegida. As perguntas são quando exatamente e por que, sendo o porque relativo apenas ao quando, não ao porque dos seres humanos e não aspargos, ou porque vida e não quartzo ou aparelhos de TV.
Só daí, do fato de que se fala de "morte cerebral", já se poderia deduzir logicamente o "inverso", a "vida cerebral", e tomar quando ela começa como parâmetro.
A morte é declarada certa quando o cérebro morre porque a medicina atual não tem capacidade de reviver uma pessoa nesse estado, mas caso houvesse um método para crescer um cérebro a partir do restante do corpo, como é em fetos, entraria a questão se pode ser definido como "morte" isso. Aliás, não poderia dizer que é por intervenção da medicina que sobrevive, porque senão todas as pessoas que dependem da medicina deveriam então ser declaradas como mortas.
Caso houvesse um meio de fazer crescer um novo cérebro, consideraria-se essa uma outra pessoa, mesmo que com um cérebro construido a partir do mesmo genótipo (como no caso dos gêmeos). A menos que se sustentasse existir uma alma imaterial que ficou "desabrigada" com a morte do cérebro e que "entrou" de novo quando cresceu outro.
E eu não dei nenhum critério como "são consideradas vivas as pessoas que podem viver sem auxílio médico".
Foi somente uma falácia o método de inverter o termo "morte cerebral".
Você por acaso sabe o que é falácia? Poderia explicar porque aplicar a mesma lógica em duas situações parecidas é falácia? Seria falácia dizer que o coração começa a bater quando o coração começa a bater porque é uma inversão da constatação que ele pára de bater quando pára de bater?
Para somar pontos a favor dessa posição: abortos espontâneos já não são popularmente considerados homicídios culposos nem mesmo "abortos culposos" (e nem aborto é legalmente homicídio, diga-se de passagem), e boa parte das pessoas não é contrária ao aborto de fetos anencefálicos. Por que? Porque não têm cérebro, não tem "vida cerebral".
Falácia ad populum?
Não, demonstração de uma das incoerências da posição sustentada por muitos "pró-vida".
Mesmo abortos "dolosos" não são comumente tratados como abortos se forem, por exemplo, realizados através de "pílula do dia seguinte" ou outros métodos que são técnicamente abortivos (impedem o implante do embrião no útero, se não estou enganado) que são meio que assimilados pelas pessoas como anticoncepcionais, dado o estágio extremamente prematuro do aborto.
E daí?
Alguns acham normal pílula do dia seguinte, e outros cirurgia dos 8 mêses seguintes (aborto). Não adiciona nada, é só uma falácia que fala da crença popular.
Novamente, estou apontando incoerências.
Os pró-vida, para os quais supostamente a vida do embrião deveriam protestar não só para evitar e punir abortos propositais, mas também quanto aos espontâneos, que poderiam ser prevenidos no mínimo não tentando-se engravidar para não gerar esse ser humano só para morrer em seguida. Uma lógica similar à do planejamento familiar, não ter filhos para depois deixá-los morrerem de fome.
Também deveriam ser contrários à pílula do dia seguinte e procedimentos abortivos-contraceptivos (o que é até o caso com alguns mais radicais, de qualquer forma)
Durante alguns estágios de desenvolvimento embrionário e talvez fetal (nunca me lembro quando começa a ser chamado de feto exatamente), não há "vida cerebral", e é bem coerente que se pudesse aplicar a mesma lógica.
Eu concordo, não há justificativa para abortar até X e não até Y se não há nenhuma base.
O problema é que isso não justifica nada quando a limitar o aborto até o cérebro, pois não é argumento direcionado para a questão da relação entre cérebro e vida.
Eu não entendi a sintaxe da última frase. De qualquer forma, é como já disse: se de um lado o parâmetro é a morte cerebral, faz sentido que do outro seja a "vida cerebral", até porque no caso do aborto de anencefálicos, é. (ainda que hajam os que sejam contrários a esses também... será que há os contrários ao "aborto" de teratomas? Não me surpreenderia se houvesse.)
Eu vejo como incomparavelmente mais lógico que a confusão argumentativa de todas variantes de pró-vidas, com malabarismos e contorcionismos do tipo que o zigoto deve ser protegido enquanto o óvulo não porque o último é apenas haplóide, mas as outras células diplóides diversas não precisam ser igualmente defendidas porque não tem o mesmo potencial que o zigoto; ou que pode-se usar camisinha e matar espermatozóides mas não DIU porque não se pode matar os espermatozóides que já foram liberados na vagina e etc.
Eu não, por mim em ambos estão se esforçando para por uma "barreira mágica" entre um e outro, estão fazendo a mesma coisa.
Em ambos os pontos, a biologia que é aquilo que se tenta usar como argumento para, não justifica nada. Na biologia simplesmente células simples se multiplicam até virar um ser humano completo. Nem ao menos dá definição própria de vida, essa questão nem ainda foi resolvida.
Você é, no entanto, indiferente quanto à morte de espermatozóides e óvulos, não? Mas isso deixa para lá...

Sim, é um tipo de "vertebradocentrismo" e "desenvolvimentocentrismo", mas ao mesmo tempo é bastante lógico, de acordo com os preceitos morais e filosóficos mais comuns no ocidente. Para discutir isso acabariamos indo muito fora do tópico e tendo que se filosofar muito além do necessário, passando por coisas de niilismo, kantianismo, utilitarismo e muito mais provavelmente. Mas como eu já disse, é bem inútil já que é unânime que as pessoas com atividade cerebral devem ter suas vidas protegidas.
Primeiro você diz que é só uma atitude egocêntrica e puro resto cultural, e em seguida afirma que é uma questão inútil.
Cuma?
Segundo que nem unânime é, e mesmo se fosse, é uma falácia que só se baseia no popular.
Mas claro que é, pelamor de Vênus. A menos que se seja um tipo de niilista extremista, extremista religioso, ou duma tribo selvagem qualquer que veja com naturalidade o assassinato de outras pessoas...
Fora essas situações, todos (ou seja, a área de concordância) defendem a vida humana
no mínimo com cérebros funcionais. Os pró vida,
além disso, com o qual também concordam*, defendem
adicionalmente a vida de estágios celulares ou de gametas masculinos lançados na vagina.
* na virtual totalidade dos casos. Não lembro de casos em que defendessem o livre direito de matar qualquer um com cérebro funcional sem que fosse uma situação excepcional como defesa pessoal ou pena de morte, e também, em menor número mais ainda bem grande, dão por morta uma pessoa com morte cerebral, em vez de quererem manter os órgãos vivos para sempre, por máquinas. Ainda que seja difícil de aceitar e etc, podem esperar por um milagre e tudo mais.