Os espíritos, por serem as almas dos homens, não são infalíveis e podem estar imiscuídos das mesmas idéias terrenas. Esse é um preceito básico da doutrina espírita. E é justamente isso que a torna uma doutrina interessante. Lembra daqueles joguinhos lógicos que dizem que Mariazinha só diz a verdade, Joãozinho diz uma verdade e uma mentira e Manoelzinho só fala mentiras, e temos que descobrir as informações verdadeiras dentro dessas verdades e mentiras? A doutrina espírita funciona mais ou menos assim, resguardando-se as devidas proporções. Aos poucos, através da discussão, vamos identificando quem fala a verdade e quem mente, e quando se faz um ou outro.
Nunca ouvi falar nesse joguinho. E, que eu saiba, uma doutrina que tenta passar a idéia de ser “científica” deveria ignorar esses joguetes e falar a verdade. O fato é que as idéias de Kardec e Emmanuel são passadas tal como o original e, se o original está errado, então deveria ser descartado.
A separação dos espíritos superiores e inferiores em planetas diferentes é um fato para nós. Planetas onde reinam o bem não podem admitir em seu seio espíritos egoístas, orgulhosos, assassinos, etc... Estes têm que ser segregados temporariamente até que se emendem para que possam se tornar aptos a habitar planetas superiores. Não fazemos o mesmo em nossa sociedade? Não segregamos aqueles que moralmente não se adaptam às leis e regras da sociedade. Não existem as prisões que são feitas com esse objetivo? Ou você acha injusto que hajam prisões? O nosso planeta (Terra) é considerado pelos espíritas com um desses planetas de reclusão, onde os espíritos rebeldes e criminosos encarnam para expiar e se reformar. E neste caso, todos somos criminosos, não importando a qual raça ou povo pertençamos.
Então você acredita em utopias? Acredita mesmo que todo o mundo, literalmente, é pecador? No que isso difere das religiões cristãs e islâmicas? E, o mais importante, como se sabe se isso é verdade mesmo?
Como uma boa parte da humanidade já se melhorou, o planeta entrou em fase de transição, e a Terra está aos poucos deixando de ser um planeta de provas e expiações. Os avanços morais e tecnológicos do último século não deixam dúvidas de que isto está ocorrendo, segundo a comunicação espírita abaixo, de 1866:
...A Humanidade, entretanto, chegou a um dos períodos de sua transformação e o mundo terreno vai elevar-se na hierarquia dos mundos.
O que se prepara não é, pois, o fim do mundo material, mas o fim do mundo moral. É o velho mundo, o mundo dos preconceitos, do orgulho, do egoísmo e do fanatismo que se esboroa. Cada dia leva consigo alguns destroços. Tudo dele acabará com a geração que se vai e a geração nova erguerá o novo edifício, que as gerações seguintes consolidarão e completarão.
...
Revista Espírita de out. 1866.
Isso pra mim é bastante similar às pregações dos Testemunhas de Jeová ou dos Adventistas do Sétimo Dia. Mas não há nada que indique que o fato do mundo estar evoluíndo tecnologicamente seja um indício de outros mundos espirituais. Pra mim, é tudo fruto da globalização e do avanço escolar que antes estava entravado por causa das — adivinhe — religiões.
Se estamos hoje discutindo o racismo, podemos ver que essa transformação está bastante adiantada. Há bem pouco tempo atrás estávamos discutindo se a escravidão era moralmente lícita ou não.
Isso não é evolução espiritual, é evolução social. Hoje as pessoas se importam mais com o bem estar dos outros e até mesmo dos animais. Sabem que cuidando de todos, todos ganham. Nâo é necessário uma religião para isso.
Entretanto, essa separação em planetas somente ocorre quando as distâncias morais são muito grandes. Quando as distâncias são pequenas, estes espíritos habitam num mesmo globo para evoluirem juntos. É o nosso caso aqui. Embora fale-se em espíritos mais ou menos adiantados, fiquem certos que a distância que nos separa moralmente e intelectualmente é muito pequena, embora ela exista. Não estamos tão longe assim daqueles que chamamos de ladrões, corruptos, assassinos (será!?). Mas também não estamos tão longe moralmente de pessoas como Ghandi, Madre Tereza, etc...
Então dá para descrever como são as pessoas nos mundos melhores e piores que o nosso? Como é alguém que é pior do que Hitler, por exemplo, que matou centenas de milhares de pessoas no holocausto? Ou pior que a Madre Tereza de Calcutá, que desviava verbas da caridade e construía não hospitais, mas galpões onde as pessoas iam para morrer?
Um outra coisa importante é que só as diferenças morais é que fazem que os espíritos sejam segregados. As diferenças intelectuais, não necessariamente. É possível ser ignorante e bom, assim como ser instruído e mau. No caso, a separação é necessariamente feita entre bons e maus (ou menos bons), e não entre sábios e ignorantes. Embora seja também verdade que aquele que não passou pelo primeiro grau não esteja apto a frequentar a academia e, portanto, os mundos muito superiores lhe sejam vetados por este motivo e não por demérito moral.
(…)
Portanto, não entenda a palavra segregação somente no mau sentido. Quando as diferenças morais são muito grandes, a segregação é uma necessidade. Mas quando as diferenças se restringem ao campo intelectual, a segregação não é justificável.
Que voltona você deu para defender a segregação. Mas toda a explicação acima é um
ad hoc gigante. Não passa de uma maneira de explicar a segregação social do seu ponto de vista religioso.
E se eu te dissesse que todo o tipo de segregação é meramente um conceito humano, provavelmente até embutido nos genes, que faz com que pessoas valorizassem mais seus similares? Veja que minha explicação não necessita de outros mundos ou qualquer tipo de evolução espiritual para explicar nada. Tudo não passa de uma psicologia humana.
Tentativas de se usar a religião para se explicar nada mais são do que o resultado da hipocrisia crescente das pessoas em querer se sentir melhores que as outras por ser simplismente uma verdade universal ou factual, ou sem carregar o peso da culpa por “apontar o dedo” para quem é diferente, ou ainda para não ser acusado de racista ou preconceituoso.
Não distorça o que eu disse. Essa análise sobre superioridade ou inferioridade tecnológica tem que ser avaliada separando os critérios. Pode-se prefeitamente ser melhor em uma coisa e pior em outra e eu deixei isso claro desde o início.
Mas no momento em que separa os espíritos em outros mundos, há uma linearidade das possibilidade de ser um espírito melhor ou pior. São vocês que falam em mundos para espíritos mais evoluídos ou menos evoluídos, nunca especificando em quê cada um é melhor.
Eu costumo dizer o seguinte: "a verdade, seja ela qual for, me edifica e me serve de oportunidade de crescimento" e "a mentira não nos atinge e só serve para provar a fraqueza adversária". Nós não nos reservamos o direito de dizer, e não dizemos, que os negros constituem-se de espíritos inferiores. O que Kardec disse é que a raça negra (a que ele conhecia em sua época) poderia não ser capaz de certos tipos de desenvolvimento intelectual. A limitação poderia ser corporal e não espiritual. Entretanto, os dados estatísticos são frios e cruéis, tornando esta uma hipótese válida e ninguém nos tira o direito de refletir sobre ela, embora possa ser proibido que se fale. Kardec refletiu e expôs seu pensamento numa época em que não existiam melindres. Se fosse hoje, penso que talvez ele não o fizesse por causa de problemas legais.
Você viu o que você acabou de dizer? Só por pirraça, agora eu quero esses dados estatísticos publicados aqui neste tópico.
O que vocês não estão entendendo é que essa hipótese pode ser verdadeira ou falsa. E ela é tão factível que incomoda e enfurece. É o mesmo que aconteceu com Galileu na inquisição. Se fosse uma balela o que ele dizia, ninguém se importaria e todos ririam. Se fosse uma hipótese absurda como a de dizer que a Lua é feita de queijo, ninguém estaria levando-a a sério e se ofendendo. Se essas divagações de Kardec e Emmanuel forem verdadeiras, não adianta dizer que lhe repugna a razão. Deus não pediu autorização para ninguém quando fez as suas leis. Se for falsa, por que incomoda? Seria antes uma ajuda à divulgação das idéias verdadeiras do que um mal.
Incomoda pois é
ofensivo. Não se está falando sobre algo engraçado, mas sim taxando as pessoas como melhores ou piores espiritualmente usando unicamente o critério de possuírem cores diferentes.
Pois bem, para que Kardec esteja certo, é necessário provar e mostrar o porquê dos negros serem considerados inferiores, mesmo que sendo só uma possibilidade.
Eu, pessoalmente, considero esses preconceitos como uma maneira instintiva de determinar o parentesco genético das pessoas. Mesmo que essas pessoas se achem melhores do que as outras, é meramente um conceito relativo. Ou seja, mesmo que um branco se ache melhor que um negro, por exemplo, isso não caracteriza a realidade, mas sim seu ponto de vista.
O espiritismo tenta insinuar que os negros são factualmente e definitivamente piores do que os brancos, não importa em que lugar do universo se está. Esse conceito eu acho bem mais condenável.
Para escrever uma asneira dessas é porque você não tem o menor conhecimento da doutrina espírita. Não temos verdades absolutas ou dogmas. Kardec não é pregado como verdade absoluta. Se fosse isso, Roustaing também teria que ser aceito, pois publicou uma obra espírita, na França, contemporânea a Kardec, chamada de Revelação da Revelação. Essa obra é tida pela maioria dos espíritas como uma caricaturização do espiritismo e que quando aceita derrama o ridículo sobre a doutrina. Kardec não é aceito porque alguém disse que lá estava a verdade. Todos que o leram é que concluiram que lá poderia estar a verdade. Kardec disse ainda na Gênese:
"Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará." A Gênese - cap. I.
Quase nenhum espírita hoje nega os erros científicos contidos na Gênese e já tardiamente "denunciados" pelo nosso amigo Angelo Melo. A doutrina não é sequer arranhada com esses erros. Quanto ao objeto do debate atual ocorre o mesmo. Se estiver errado, será simplesmente abandonado algum dia sem prejuízo do restante. Kardec nunca disse que a sua palavra era a verdade absoluta e se dava ao direito de formular hipóteses, como qualquer um, e dizia que poderiam estar certas ou erradas.
Então porque não adimitir que Kardec era racista? Já que ele não era dono da verdade, ele pode muito bem ter cometido esse erro, que continua sendo bastante comum até nos dias de hoje. Ou é porque você também é racista e se esforça em tentar não se passar por um?
Quanto aos espíritos, mais uma vez, confiar na sua infalibilidade é um erro doutrinário básico. A doutrina espírita foi codificada por espíritos superiores e não por espíritos perfeitos. Isso subentende que também podem errar. Já disse que a doutrina espírita não é a doutrina do certo ou errado e sim a doutrina do estudo, da pesquisa, da reflexão, da responsabilidade.
Depois de dito isso, não entendo porquê de não se estudarem espíritos na área científica. Se é a doutrina do estudo, da pesquisa, da reflexão e da responsabilidade, por que então os médiuns não levam suas descobertas para dentro do laboratório científico?
Uma outra coisa que você está equivocado é que a obra de Kardec, Emmanuel ou seja lá de quem for, antes de serem obras espíritas são documentos históricos. Daqui há alguns séculos podem ser utilizados para se determinar as características da população de sua época. Certa ou errada, ela não pode ser alterada ou editada. O que poderia ser feito é uma obra de adaptação, com outro nome. Alterar documentos históricos na minha opinião é um crime. Quanto a notas de rodapé, isto normalmente é feito através das "Notas do Tradutor". Mas eles não mudam o texto original de nada. Quanto aos erros contidos, você está subestimando a capacidade de discernimento das pessoas no futuro?
Estou.
E quando se diz que livros “históricos” são ensinados ás crianças, não se diz que são “históricos”. E por que não consolidar o ensinamento averiguado como realidade e distribuir no lugar dos livros “históricos”, deixando estes nas Bibliotecas para consultas?