Geotecton, como notei alguma afetação em sua resposta (espero estar errado) quero esclarecer que, ao sugerir que pensasse bem e ao fazer minha pergunta, levei em conta sua transparente formação científica. Parece óbvio concluir, por seu nick e seus posts, que é um geólogo. E devo dizer que reconheço seu domínio no seu campo. Não pressuponho que você seja um total leigo e foi, justamente, com relação ao que você já sabe, que pedi que pensasse. A armadilha do ceticismo está sempre naquilo que nós "já" sabemos. Sua resposta foi mais ou menos o que eu esperava mas tenho a impressão de que você não ponderou bem "tudo" que eu expus.
O que o levou a pensar que fiquei "afetado"? Apenas porque comecei a frase com a palavra "Caro"?
Talvez eu não tenha entendido a sua solicitação de "pensar nelhor". Por isto explique.
Se você leu, integralmente, todo o conjunto dos Principia, eu o parabenizo. Nunca o fiz. Apenas trechos isolados e pela curiosidade de conhecer os métodos e experimentos utilizados por Newton para alcançar os resultados.
Sim, Cientista. Eu li esta obra há mais de 25 anos conforme mencionado anteriormente. Na época eu fiz uma síntese da história da Ciência do Ocidente, como mera curiosidade.
Não, você não está enganado, Geotecton. A partir da segunda edição dos Principia, Newton introduziu o Escólio Geral para acalmar os ânimos de Leibnitz que o acusava de excessivo "materialismo" e "falta de religiosidade" em sua obra. Mas, ainda mais curioso que isso, incluiu (como um gesto à la Galileu -- "e, no entanto, ela gira") também as famosas regras para pensar em filosofia natural, talvez para que as pessoas não esquecessem que toda aquela baboseira teísta não resolvia os problemas da física.
Este é o ponto de que discordo de você Cientista. O fato de Newton ter colocado em seu texto, um "guia" para se pensar a Natureza em termos de leis sem a presença divina não o descarateriza como um teísta. Abaixo eu faço algumas considerações a repeito.
Respondendo sua primeira pergunta, não, nunca li o escrito que mencionou. Mas não precisa mencionar este documento. Tenho plena consciência da imensa quantidade de estudos bíblicos e místicos e da propalada apologia religiosa feitos por Newton.
Voce está insinuando que Newton era ateu, ou pelo menos agnóstico, e só produziu um material de estudo religioso, místico e esotérico como forma de dissimular esta condição?
Respondendo à sua segunda pergunta, não, não são suficientes para mim. Há muito mais que se considerar. O contexto social e a personalidade de Newton são essenciais. A conjuntura social de sua época não precisa ser descrita aqui, mas ela, associada à natureza pessoal de Newton (arredio, sensibilíssimo, avesso a rejeições, beirando à misantropia, nunca teve um relacionamento amoroso que se saiba) pode ter produzido efeitos que só ele, no seu íntimo, conhecia.
Precisamente.
Os cientistas dos séculos XVII e XVIII viveram e trabalharam em um contexto social, político e histórico sob forte influência cristã, tanto católica como protestante. E Newton não estava fora do sistema. Ele cresceu em um ambiente cristão presbiteriano.
Mas, simultaneamente, a Europa começava a ser 'varrida' pelo Iluminismo. E um dos pilares deste movimento foi o de combater o misticismo e a religiosidade monoteísta. E isto também influenciou Newton.
Por fim, Newton teve contato com a filosofia escolástica, e esta pressupunha que a deidade cristã era a responsável pela criação do Universo, mas que este seria regido autonomamente por lei físicas próprias, na maior parte da sua existência. E isto veio de encontro com o que Newton pensava.
Lembro-me de já ter lido que ele liderou um movimento contra a determinação do rei de tornar a universidade de Cambridge católica. Não me lembro de detalhes mas será que isso indicaria uma posição, ao menos, laicista? Alega-se que existem religiosos laicistas o que me parece roda quadrada e uma traição à própria crença.
A Universidade de Cambridge começou católica, fundada por frades franciscanos e dominicanos. Se tornou protestante em 1.511 e exclusivamente anglicana em 1.662 (
http://www.divinity.cam.ac.uk/history.html). Newton era protestante. Então foi natural esta reação.
Não vejo nenhum problema em um religioso ser laicista, desde que não seja fundamentalista.
Não estou conseguindo encontrar, aqui comigo, um documento atribuído a Einstein que, lido, deixa o vislumbre de uma religiosidade não arraigada, mas nítida. No entanto, uma carta recentemente descoberta (também atribuída a Einstein) que teria sido enviada por ele a um amigo deixa claro seu total "ateísmo".
Einstein certamente não era teísta. Talvez deísta. Mas sinceramente eu acho que Einstein mencionava a palavra deus mais em termos metafóricos do que como crença pessoal.
O que fica evidente para mim é o que a sociedade é capaz de fazer com o que deveria ser o direito de um homem ser e expressar-se da maneira como ele é. Não penso que seja fácil fazer essa pesquisa (não somente com relação a Newton). Tenho levado anos de minha vida nela para tentar entender o "fenômeno científico" na história.
A sociedade sempre interferiu nos indivíduos e vice-versa.
O "fenômeno científico" não é algo que apareceu isolado no tempo e no espaço histórico. Suas bases provém do conhecimento não científico, principalmente a filosofia. Se você não admitir isto, você realmente não conseguirá entender a Ciência sob a perspectiva histórica.