Putz...o cara não entende mesmo...
Voltando às evidências...
1) Estampido ouvido na rua.
2) Homem saindo da casa
3) Características físicas de (2) descritas por várias pessoas (homem branco, cabelos longos, camisa marrom e calça jeans)
Eis o fato, e a quantidade de testemunhas independentes aumenta a probabilidade de o fato ter ocorrido.
Que fato?
As evidências acima são insuficientes para concluir e afirmar que aconteceu um crime na casa e incriminar o homem que saiu.
Putz digo eu... Você leu o que eu escrevi? O que você escreveu acima foi exatamente o que eu disse. O fato é que, com o depoimento das testemunhas, tem-se uma probabilidade de praticamente 100% de um homem ter saído da casa logo após ouvir-se o tiro, e que tinha as tais características relatadas. E só! Esse é que é o fato. E quanto mais testemunhas independentes relatando a mesma coisa, mais a probabilidade se aproxima de 100% de um homem realmente ter deixado logo após o tiro.
Um parágrafo mais embaixo eu escrevi que mesmo as 10 testemunhas tendo opinado no sentido de que teria sido o mesmo homem que disparou o tiro, não se pode concluir pela culpa. Você choveu no molhado, meu caro.
No caso de Morzine é a mesma coisa. As testemunhas são suficientes para evidenciar que existiam meninas na comuna com comportamento fora do normal. Mas as testemunhas não são suficientes para provar que se tratava de uma verdadeira possessão por espíritos. Você continua misturando as coisas. Será que entendeu dessa vez? Estamos na primeira parte ainda, em que, baseado nos relatos de Morzine, eu posso ter uma boa probabilidade de certeza que havia uma moça que latia durante as crises, que havia outra que sentia como se animais andassem pelo seu rosto, quase todas apresentavam uma insolência e um furor fora do comum e ódio a tudo o que lembrava religião, que a violência das crises aumentava quando havia a presença de um padre, que elas praticamente não tinham pulso e as extremidades ficavam geladas durante as crises, que aparentavam não sentirem dor, que as doentes não se acidentavam gravemente e nem tentavam se suicidar, e outras características peculiares. Esses são os fatos testemunhados, e quanto mais testemunhas do fenômeno, mais probabilidade de certeza eu tenho de que realmente aconteceram. Não estamos tratando aqui da explicação para o que ocorreu, aonde todas as hipóteses são válidas, desde possessão por espíritos malignos até simples fingimento. Essa é a segunda parte da minha resposta.
Com o conhecimento de fatos a posteriori você elaborou uma "teoria" baseada naquilo que você acredita que possa ter acontecido mas é impossível a priori, com essas evidências afirmar qualquer coisa. Não faz sentido falar em probabilidade. Com essas evidências, simplesmente não sabemos, também, da mesma forma, as pessoas na rua não teriam como saber o que aconteceu na casa até serem informadas que houve um assassinato.
Na lógica espíritóide:
1) Houve um estampido e se trata com certeza de um tiro.
2) O tiro só pode ter sido disparado pelo homem que saiu da casa.
3) Logo esse homem matou alguém porque existe uma quantidade de testemunhas independentes que aumenta a probabilidade deste fato ter ocorrido.
No caso Morzine, AK não citou suas próprias observações porque já tinha uma "teoria" (DE) pronta ou em construção para explicar toda a xaropada. Não precisava. As evidências que ele dispunha, como no caso acima eram INSUFICIENTES para concluir qualquer coisa, a menos que fossem tiradas do colete algumas alegações com origem no "além-túmulo", que até hoje NINGUÉM conseguiu provar como verdades científicas e, portanto, verdadeiras.
Com posse de todos os dados, relatados principalmente pelo Dr. Constant e pelo Dr. Chiara, como eu já disse, são possíveis todas as conjecturas para explicar o que acontecia. Mas não pode ser qualquer hipótese. A hipótese elaborada deve poder explicar tudo o que foi relatado. Foi isso justamente que Allan Kardec criticou no relatório do Dr. Constant, ou seja, que a hipótese que ele formulou não era capaz de explicar todos os fatos por ele mesmo relatados. Veja:
Aplicando este método aos fatos de Morzine, é fácil ver que a causa única admitida pelo Dr. Constant está longe de tudo explicar. Ele constata, por exemplo, que em geral as crises cessam tão logo os doentes deixam o território da comuna. Se, pois, o mal é devido à constituição linfática e à má nutrição dos habitantes, como a causa deixa de agir quando eles transpõem a ponte que os separa da comuna vizinha? Se as crises nervosas não fossem acompanhadas de nenhum outro sintoma, ninguém duvidaria que se pudesse, conforme tudo indica, atribui-los a um estado constitucional; mas há fenômenos que não podem ser explicados somente por esse estado.Para bom entendedor, isso significa que qualquer que seja a explicação para o mal de Morzine, ela não coincidirá com a causa dada pelo Dr. Constant, porque ele não explica tudo.
A possessão por espíritos é capaz de explicar tudo, mas há pessoas que não acreditam em espíritos. É fácil então! Que elaborem outra hipótese que se abstenha de citar os espíritos. Mas essa hipótese deve ser igualmente capaz de explicar tudo o que foi visto, sem sobrar nada. Não adianta explicar metade e ignorar a outra metade, porque isso é cometer desonestidade intelectual, entende?
O Eremita sugeriu explicações mais "mundanas", segundo ele mesmo disse. Essas explicações são coerentes com todos os sintomas apresentados? Eu não creio, mas daí também eu não posso impor essa opinião, donde eu disse que isso era um problema que não me cabia. O Dr. Constant também devia se sentir satisfeito com as explicações que ele ofereceu, mas Allan Kardec não se sentiu e eu também não me sentiria. Aliás, alguém aqui se sentiu satisfeito com as conclusões do Dr. Constant relatadas no artigo?
As opiniões minha, de Kardec, do Eremita, dos Drs. Constant e Chiara, e dos padres, tendem a divergir e não se há a obrigatoriedade absoluta de se professar nenhuma delas. Mas essas opiniões têm poder persuasivo. Ora, eu não posso impor a minha opinião, mas eu posso formar a minha própria opinião e, ao expor as razões que me levam a opinar de tal ou qual maneira, na realidade eu posso persuadir outros a, de livre vontade, compartilharem da minha opinião. Entendeu o sentido da discussão sobre Morzine?
Allan Kardec não usou os seus próprios relatos porque era mais vantajoso usar os do opositor. Se os relatos tivessem vindo de Kardec não faltaria quem dissesse que ele deu uma "forçada de barra" para fazer parecer haver uma influência espiritual. Ele escreveu isso no artigo:
Se déssemos conta dos fatos segundo o que vimos, poderiam dizer que vimos o que quisemos ver. Aliás, chegamos no declínio da doença e ali não ficamos o bastante para tudo observar. Citando as observações alheias, não nos acusarão de somente ver pelos próprios olhos.Mas ninguém poderia dizer que os Drs. Constant e Chiara deram essa "forçadinha de barra", justamente porque eles eram refratários ao Espiritismo e ao Espiritualismo de uma forma geral. Por isso Allan Kardec fez questão de publicar uma dura crítica que o Dr. Constant fazia ao Espiritismo, chamando-o de "fábrica de loucos", justamente para mostrar que aqueles relatos não vieram de um apologista espírita, mas antes de um dos opositores do Espiritismo. E Kardec foi absolutamente brilhante ao fazer isso, porque afastou toda e qualquer suspeita de manipulação de dados em favor da causa espírita.
Espero que tenha ficado claro dessa vez. Se não ficou, releia por favor a resposta umas duas ou três vezes a fim de entender bem a questão antes de me interpelar novamente.
Um abraço.